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10 Razões Para Ler "Forte como a Morte", de Otto Leopoldo Winck


1. Narrativa Complexa e Envolvente: "Forte como a Morte" é um romance que tece de forma magistral três histórias distintas, criando uma trama fascinante que prende a atenção do leitor.

2. Riqueza de Referências: A obra está repleta de referências teológicas, filosóficas e literárias, oferecendo uma experiência intelectualmente estimulante para o leitor.

3. Abordagem da Teologia da Libertação: O romance explora com profundidade os temas da teologia da libertação, trazendo à tona questões de justiça social e opção preferencial pelos pobres.

4. Diálogo com a Mística Cristã: Winck mergulha nas noções de sofrimento, sacrifício e transcendência presentes na tradição mística cristã, conferindo à narrativa uma dimensão espiritual.

5. Questionamento da Fé e da Razão: A obra convida o leitor a refletir sobre a relação entre fé, razão e mistério, explorando as limitações da linguagem e do conhecimento racional.

6. Influências Filosóficas: O romance dialoga com o pensamento de filósofos como Wittgenstein e Kierkegaard, trazendo à tona questões fundamentais sobre a condição humana.

7. Estrutura Não Linear: A organização não linear da narrativa, com suas intercalações e justaposições, cria uma experiência de leitura desafiadora e enriquecedora.

8. Riqueza Linguística: A escrita de Winck é marcada por um cuidado estilístico e uma riqueza lexical que convidam o leitor a uma imersão na língua portuguesa.

9. Temas Universais: Apesar de suas referências eruditas, a obra aborda questões fundamentais da existência humana, como a busca de sentido, o sofrimento e a solidão.

10. Convite à Reflexão: "Forte como a Morte" é um romance que não se limita a entreter, mas desafia o leitor a mergulhar em uma jornada de reflexão e interpretação, estimulando o pensamento crítico.

Não deixe de explorar essa obra excepcional de Otto Leopoldo Winck, que une profundidade intelectual e sensibilidade narrativa em uma experiência de leitura inesquecível.

Resenha: Forte como a Morte de Otto Leopoldo Winck


A obra "Forte como a Morte" de Otto Leopoldo Winck é uma narrativa complexa e multifacetada que entrelaça três histórias distintas em uma trama. O romance se destaca pela riqueza de suas referências teológicas, filosóficas e literárias, tecendo uma intrincada rede de significados que convida o leitor a uma jornada de reflexão e interpretação. O livro é estruturado de forma não linear, com as três narrativas principais - a de Rosália menina, a de Rosália mãe e a do reencontro do narrador com a personagem Betina - intercaladas em doze partes. Essa estrutura fragmentada, à primeira vista, pode parecer desafiadora, mas revela-se uma escolha narrativa deliberada, que evoca a imagem de uma rosácea, com seus padrões complexos e significados multifacetados.

A narrativa principal acompanha a jovem Rosália Klossosky, uma adolescente que apresenta estigmas semelhantes aos de Cristo, em uma pequena comunidade rural no sul do Brasil. Essa história é permeada por referências à teologia da libertação, à mística cristã e a questões sociais e políticas, como a luta pela reforma agrária. Paralelamente, a narrativa do narrador-padre, que reencontra uma antiga conhecida, Betina, no último Natal, traz à tona reflexões sobre a crise de fé, o papel do sacerdócio e a solidão do indivíduo.

Um dos aspectos mais notáveis da obra é sua abordagem teológica. Winck demonstra profundo conhecimento da tradição cristã, explorando conceitos como a kênosis (esvaziamento divino), a Shekinah (presença divina no mundo) e a relação entre fé, razão e mistério. A narrativa evoca a teologia da libertação, com sua ênfase na opção preferencial pelos pobres e na luta por justiça social, bem como a mística cristã, com suas noções de sofrimento, sacrifício e transcendência.

Além disso, o romance dialoga com a filosofia, especialmente com as ideias de Wittgenstein e Kierkegaard, que questionam a capacidade da linguagem e da razão de apreender plenamente a realidade. Essa abordagem filosófica contribui para a construção de uma narrativa que se recusa a fornecer respostas definitivas, deixando espaço para a ambiguidade e o mistério.

"Forte como a Morte" é uma obra de grande riqueza e complexidade, que desafia o leitor a mergulhar em uma trama intrincada de referências teológicas, filosóficas e literárias. Winck habilmente tece uma narrativa que questiona noções de fé, razão e mistério, convidando o leitor a uma jornada de reflexão e interpretação. Trata-se de um romance que se destaca pela sua abordagem erudita e pela sua capacidade de suscitar profundas indagações sobre a condição humana.

[RESENHA #985] Forte como a morte, de Otto Leopoldo Winck

Foto: Colagem digital 

Uma criança alçada a santa, um padre em crise com a própria fé e uma investigação sobre a doutrina de kenosis. Um tríptico narrado a várias vozes, o novo romance de Otto Leopoldo Winck pincela uma história a partir da manhã na qual Rosália Klossosky acorda com misteriosas manchas vermelhas em ambas as mãos.

Costurando passado e presente com ecos do futuro, o autor cria uma trama que continua atual apesar de ter sido escrita há quase duas décadas. A luta por terra e moradia, os conflitos religiosos e os dramas particulares dos personagens ainda têm a mesma relevância que tinham no começo do milênio. O Brasil de ontem não é tão diferente do Brasil de hoje, afinal.


RESENHA


Na zona rural do Paraná, vivia uma família simples de origem polonesa. A filha única, que havia acabado de entrar na puberdade, acorda subitamente com os estigmas da Paixão de Cristo. Rosália, assim chamada, é levada ao centro de uma acalorada polêmica: algumas pessoas acreditam que ela é uma santa, um instrumento nas mãos de Deus; enquanto outros a veem como uma fraude ou mera superstição.


Quando certa manhã Rosália Klossosky se levantou, depois de sonhos inquietos - que sonhos, meu Deus! -, percebeu que havia uma mancha levemente rosada na palma de cada mão.


Uma hora a mãe entrou com uma terrina de sopa de beterraba, e depois de depositar o vasilhame fumegante fumegante sobre a cômoda, puxou as cobertas para acordar a filha. Foi então que viu: Rosália sangrava, nas mãos e nos pés. O lençol, a camisola, o acolchoado de penas de ganso, tudo, tudo estava empapado; até no piso de pinho sem lustro se formava uma pequena poça vermelha (p.28)


Após o ocorrido, dona Florentina, mãe de Rosália, chamara o doutor José Idelfonso Gûnther para analisar a filha. O médico cético receitou uma dieta em beterraba, cenoura e repolho, seguido de muito repouso e compressas de água nas partes. O médico era cético, mas aconselhou aos pais da garota - Florentina e Boleslau - a buscar auxílio do padre da paroquia local, padre Estanislau. 


Eu não sou católico, vocês sabem, não acredito nessas coisas. Mas, penso que seria conveniente chamar o padre para dar uma olhada (p.34).


O padre, após relutar freneticamente, decide ir até Rosália. O padre então analisou as feridas e com quem traçava uma absoluta certeza, comparou as feridas no tórax de Rosália com as causadas por uma lança ao corpo de Jesus por um soldado romano. O soldado feriu-lhe um lado com a lança / eles olharão para aqueles que o transpassaram. (p.46)


Um longo período de tempo se passa e acontecem muitas transformações nas vidas das personagens. Rosália, agora uma mulher casada e mãe de três filhos, deixou para trás os estigmas que desapareceram. Ela se encontra em um acampamento de trabalhadores rurais sem-terra em uma fazenda ocupada, onde há uma tensão no ar devido a uma liminar de reintegração de posse impetrada por um juiz. A polícia pode aparecer a qualquer momento para cumprir o mandado. Durante a confusão causada pela ação policial, ocorre uma tragédia, testemunhada por Rosália e um padre que estava assessorando o acampamento.


A história é uma descrição da desilusão da vida do padre, que o narra freneticamente. A obra então contempla três períodos distintos na narrativa: Os estigmas de Rosália, a vida de Rosália anos após o ocorrido, e claro, a vida do padre Estanislau. A forma abordada pelo autor para trabalhar as linhas temporais e as narrativas é algo singular e explicitamente enriquecedor. Forte como a morte é, como seu nome propriamente anuncia, forte e imponente.



A narrativa da obra, elaborada em terceira pessoa, ecoa entre as vozes de diversos personagens que descrevem os acontecimentos que se desenvolvem sob forte tensão e suspense. A narrativa desenvolvida por Otto trabalha as nuances de diversos personagens ao passo que narra a vida, o crescimento e os demais acontecimentos que se entrelaçam com a vida de Rosália. A obra que possui um cunho filosófico e teológico forte, traz a tona a história das observações e vivências de um Padre que observa todo o desenvolvimento da vida de Rosália, logo, ela torna-se apenas uma peça para o desenvolvimento das especulações acerca do ocorrido e de sua vida adulta sem os estigmas, que, como parece, desaparecem por completo com a mesma proporção e rapidez com a qual surgiram a primeira vez.


O AUTOR

Doutor e mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Otto Leopoldo Winck nasceu no Rio de Janeiro, capital. Depois de uma passagem por Porto Alegre, radicou-se em Curitiba. Em 2005 foi vencedor do prêmio da Academia de Letras da Bahia, com o romance Jaboc, publicado no ano seguinte pela editora Garamond. Em 2017 lançou pela Editora Appris o ensaio Minha pátria é minha língua: identidade e sistema literário na Galiza, resultado de sua pesquisa de doutorado, e no ano seguinte publicou um volume de versos, Cosmogonias, pela Kotter Editorial. Seu último romance, Que fim levaram todas as flores, saiu em 2019, numa parceria da Kotter com a Patuá. Leciona atualmente na PUCPR e no programa de pós-graduação stricto sensu da Uniandrade.

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