APRESENTAÇÃO
Livro sobre a arqueóloga Niéde Guidon, guardiã de um dos maiores sítios de pinturas rupestres do mundo, o Parque Nacional Serra da Capivara, patrimônio cultural da humanidade.
Neste perfil da arqueóloga Niéde Guidon, a jornalista Adriana Abujamra revela a bravura e a doçura daquela que dedicou sua vida a proteger o maior tesouro arqueológico brasileiro, a despeito das opressões estruturais e da falta de apoio do Estado.
Desde a década de 1970, Niéde reúne recursos para proteger o Parque Nacional Serra da Capivara – declarado patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. Ainda sem o devido reconhecimento no Brasil, Niéde é célebre internacionalmente por empreender uma revolução no sertão do Piauí, levando educação, arte e melhores condições de vida para toda a região. Nestas páginas, leitores e leitoras poderão se aprofundar não apenas na vida dessa mulher à frente do seu tempo, mas também no cotidiano de amigos e sertanejos que convivem com Niéde e são responsáveis por seu legado.
Niéde Guidon: uma arqueóloga no sertão, publicado no ano em que Niéde comemora seu 90º aniversário, inaugura a Coleção Brasileiras. Como Joselia Aguiar, organizadora da coleção, afirma, “A aventura de Niéde é a de quem faz ciência no Brasil, num campo onde o investimento é ínfimo, quando não inexistente, e numa região nordestina vista como extremamente remota por aqueles que estão no centro de poder.”
RESENHA
A arqueóloga Niéde Guidon passou mais de meio século estudando vestígios dos primeiros povos das Américas. A ele se atribui a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, uma área de proteção, pesquisa e turismo. Além do patrimônio cultural da humanidade.
Niéde Guidon, na década de 1970, iniciou a maior das batalhas dos campos arqueológicos conhecidos pela humanidade: a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara. hoje, patrimônio da humanidade pela UNESCO. A luta não serviu apenas para alertar os moradores e as autoridades sobre todos os tesouros escondidos, mas também para impulsionar a vida das mulheres locais que viam em Niéde uma mulher guerreira, dotada de poderes e autoridades em um campo de atuação específico, o que tirou das mulheres a visão e ideia de que a imagem de resistência e poder cabiam unicamente aos homens, o que acabou fortificando a identidade feminina na busca por reconhecimento, poder e atuação.
O livro é uma homenagem da autora à arqueóloga, sua publicação marca os 90 anos de Niéde, que sempre se empenhou na busca pela proteção e preservação ambiental e histórica. A obra também constitui parte do projeto da editora Rosa dos Tempos, coleção brasileiras, destinado à publicar livros que enaltecessem grandes mulheres em seus mais variados campos de atuação.
A obra divide-se nos capítulos:
1. Niéde no inverno
2. Pedras no caminho
3. Primeiras expedições
4. Parque de papel
5. Pedra rachada
6. Deus e o diabo na terra do sol
7. Um lugar no mapa
8. Davignon n Sertão
9. Ninguém mexe com elas
10. Lusco-fusco
Até a presença de Niéde, todo 'rabisco' na paredes era apenas isso: rabiscos. Não se tinha uma noção clara da importância dos relatos impostos na parede, nem dos vestígios encontrados em escavações, todo aparato era banalizado, até que Guidon conseguiu convencer o governo francês e brasileiro de que a área merecia ser explorada e estudada com maior afinco, tornando o ponto inicial de partida dos trabalhos que revolucionariam a escavação e a arqueologia mundial. A criação do parque Nacional foi crucial para o desenvolvimento daquela região, uma vez que começara a gerar capital com visitas e excursões, tendo sido o primeiro parque nacional de preservação histórica à receber milhares de visitantes, se comparado à de outros países.
As pinturas rupestres e os escritos encontrados forneciam subsídios necessários para o entendimento da vida humana nos períodos pré-históricos, estabelecidos em grau de importância através da iniciativa de Guidon em explorar uma região assolada pelo sol e pela vastidão de matas, como em suas palavras: era como ler histórias em quadrinhos nas paredes. A conversa inicial foi de que talvez, homens estivessem interessados em procurar ouro naquela região, uma vez que os recursos de comunicação naquela região eram inexistentes, deixando apenas conversas cotidianas aflorarem entre os habitantes no famoso 'disse me disse', o que abria porta para diversas interpretações. A moradia era mantida através da caça e comércio em feiras por parte dos maridos, enquanto as mulheres, dificilmente exerciam tarefas além das domésticas, sua participação pública era mínima.
Para que houvesse uma preservação das escavações encontradas, Niéde cuidou para que o seu acesso fosse facilitado, assim, todos pudessem ver e interpretar as pinturas com maior afinco e interesse através de escadas, o que acabaria com a necessidade de intervir no meio natural para deslocamento das pedras e dos achados para museus e exposições fora do parque, o que preservou toda integridade histórica local. As visitações começaram em 1992, mesmo após a intervenção e estudos da arqueóloga, que se iniciaram em 1979.
A tese era de que há pelo menos 32.000 anos as terras eram habitadas pelos primeiros homo sapiens, o que trouxe a tona uma série de debates, uma vez que a ideia propriamente aceita naquele período era de apenas 13.000 anos, o que trouxe luz às descobertas e a valoração de todo tesouro encontrado nas escavações. Niéde criou a Fundação Museu do homem Americano (Fumdham) para preservação dos patrimônios encontrados.
Com sua atuação, Guidon estabeleceu naquela região longe dos grandes centros econômicos, uma potência financeira que abriu as portas e o leque de oportunidades para os moradores locais, abrindo uma universidade e um aeroporto, hoje, considerado um dos mais bonitos do nordeste brasileiro.
Em suma, Guidon é a grande precursora do desenvolvimento da cultura por trás das escavações, seus mais de cinquenta anos dedicados à preservação do parque nacional lhe acendeu uma fama mundial por seu trabalho e dedicação. Um livro lindo para quem ama biografias, bons livros e histórias fascinantes de grandes mulheres.
A AUTORA
Niède Guidon é uma arqueóloga franco-brasileira conhecida mundialmente pela defesa de sua hipótese sobre o processo de povoamento das Américas e por sua luta pela preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí