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Conheça “canção do amor distante”, novo cd de Ana Salvagni e Eduardo Lobo

Canção do amor distante, de Ana Salvagni


A maestrina e cantora Ana Salvagni venceu a categoria regional do Prêmio da Música Brasileira com o disco “Alma Cabocla”, em 2010, enquanto o violonista Eduardo Lobo conquistou o segundo lugar na sétima edição Prêmio Visa Instrumental em 2004. Formados pelo Instituto de Artes da Unicamp, há cinco anos, eles iniciaram um projeto cujo resultado é o CD Canção do Amor Distante, com um dos shows de lançamento acontecendo na Cia. Sarau, em Campinas. O espetáculo contou com a participação especial do instrumentista Paulo Freire, um dos convidados para a gravação do disco distribuído pela Tratore. O álbum conta com 12 arranjos para violão e voz, onde Ana e Lobo interpretam o amor ausente em diferentes ritmos, gêneros, épocas e culturas. Com peças como Canção I, Contrato de Separação, Apaga o Fogo Mané e Cantiga de Amigo, a obra promete surpreender os ouvintes. O projeto, segundo os artistas, nasceu da vontade de executar canções com maior densidade e contou com a participação de diversos músicos na sua produção em Campinas.

A Canção do Amor Distante apresenta a união entre o canto e o violão, reunindo algumas das mais belas canções brasileiras, ainda que pouco divulgadas, e importantes autores, como Tom Jobim, Dominguinhos, Carlos Lyra e Sinhô, além de canções estrangeiras. O álbum, com arranjos e direção musical de Eduardo Lobo, valoriza a precisão e as sutilezas da voz e do violão. A produção de Ana Salvagni contou com a participação de músicos como Matteo Ricciadi, Chico Santana, Paulo Freire, Fernanda Vieira, Carlinhos Antunes e Thibault Delor. O projeto foi viabilizado por uma campanha de financiamento coletivo bem sucedida, com mais de 250 apoiadores na plataforma Benfeitoria.


Em seu quarto CD, Ana Salvagni une-se ao violonista Eduardo Lobo, que assina os arranjos e a direção musical. As canções têm estilos variados e conservam o mesmo tema do amor ausente. Grandes compositores da MPB, como Guinga, Dominguinhos e Tom Jobim são combinados ao italiano Vinicio Capossela, ao venezuelano Manuel Yánez e a um trovador do século XIII. Participações de Matteo Ricciardi, Paulo Freire e Thibault Delor, entre outros.


Foto: CD canção do amor distante / Arquivo Pessoal


Ana Salvagni é uma cantora, poetisa e regente, formada em Regência pela Unicamp em 1994. Em parceria com o Trio Bem Temperado, lançou os CDs Ana Salvagni (1999), Avarandado (2005) e Alma Cabocla (2009) e possui dois livros de poesia publicados, Janela Sem Tranca e Fotos do Espelho. Além disso, é regente dos corais Açucena, Avis Rara e Da Quinta, de Campinas-SP, e integra o espetáculo Janelas do Tempo com o grupo Choro da Mata. Também se apresenta ao lado do violeiro Paulo Freire e em duo com o violonista Eduardo Lobo.


Eduardo Lobo, aluno de doutorado em música na Unicamp, tem vários CDs gravados, incluindo Choro Elétrico (Prêmio Visa), Porta Aberta (2008), Alegria (2010), Abrideira (com o grupo Fina Estampa) e Ideia de Antes (2013).


(C) 2016 Ana Salvagni e Eduardo Lobo [dist. Tratore] (P) 2016 Ana Salvagni e Eduardo Lobo [dist. Tratore]


Ouça 'Canção do amor distante':

Apple Music: https://music.apple.com/br/album/can%C3%A7%C3%A3o-do-amor-distante/1168205298

Youtubehttps://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_ld0gBvoxcb6fY15C8LGiEsLFu3Wb6pfVY

Spotifyhttps://open.spotify.com/intl-pt/album/5F5TAQ7feymu0dN3ibDDb4

Resenha: Oratório, de Ana Salvagni

Foto: Oratório, novo livro de Ana Salvagni / Arte digital

Falar sobre este livro requer um cuidado meticuloso, pois não se trata apenas de uma obra poética, mas de uma análise profunda e espiritual de uma artista com múltiplas carreiras e talentos que se desenvolvem sob o fino tecido da vida. Ana Salvagni é poetisa, cantora, regente, artista, vivente, sobrevivente, aclamada, única, visceral, apaixonada e sobretudo, dotada de grandes talentos em todos os níveis esféricos do ser humano. Publicado pela editora Laranja Editorial, oratório, é o terceiro livro escrito pela autora, que, como se nota, se desdobrou a se reescrever o sentimentalismo espiritual inerente ao ser humano com o cuidado a quem se desdobra a viver a vida entendendo sua finitude e expondo-a ao âmago das relações de vida e da existência. 


Tendo como inspirações grandes nomes da literatura como Hilda Hilst, Vinícius de Moraes, Manoel de Barros, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, Ana se mostra prolífica em desvendar o ser humano por meio de suas reflexões poéticas acerca da espiritualidade e vida, como expresso também em sua música 'era aquilo só': Eu via a vida tão diferente, tão diferente do que ela é Tinha saudade de tanta coisa, não sei de quê. [...] Mas uma noite, veio um tufão e carregou [...] E eu vi que a vida não é mais nada, era aquilo só. A poetisa expressa, de forma acalentadora e tranquila a descrição de uma vida baseada em sentimentos de nostalgia e saudade profunda doutros momentos e da destruição de suas idealizações acerca da vida com a chegada do inesperado, essa característica expressa com maestria em sua música, leva-nos a compreender a finitude e brevidade da vida, sobretudo, de nossas preces diárias caminho à morte iminente em meio à travessia da vida, como em PRECE II: anjo nosso da noite de ninguém / guarda os olhos do dia / enquanto nos perdemos em funda travessia / canta e silencia incanssável indagação / enquanto, traje de plumas e espada em punho, dançamos e perpassamos camadas / defende nosa predestinação à morte / enquanto, irreais, existimos. 

Já no poema, casulo, a autora descreve em metáfora análoga à casa e ao conforto provocado pelo conhecido, a autora reflete acerca dos momentos de transformação em meio a reclusão, refletindo sobre sua vida e emoções em meio à um estado de introspecção, através do fortalecimento através de seu caminho de autocuidado: 


CASULO

caso descaso 

refaço a teia sem perceber

há sete dias no vão

na casa que me alimenta

no casulo que é morte e é vida também

que é luto e é aprumar-se 

lavo os panos alívio gavetas

recolho-me aos incômodos

às inconclusas preces me deito

sou eu mesma a minha rede

e ainda que eu saia e olhe o mundo

ainda que eu encontre alguém pelo caminho

durmo ainda, pupa

mais sete dias e deixo a estufa 

meu asilo meu exílio

a casa que me devolve 

as asas


A obra, um emaranhado de preces elaboradas em relação a necessidade constante de transformação interna e dos afagos inexistentes em meio a caminhada da vida, Ana, em sua prolífica sutileza com a voz e escrita transcende as reflexões acerca da vida e da vivência. A obra que se abre em Prece I: sagrado altar das belezas / dos impossíveis propósitos, dos importantes abraços / diante de ti, humanamente, peço / não me deixe mais padecer do medo / e do arremedo / porque assim foi / e que eu, vicejante, seja. Refletindo acerca dos impossíveis e inalcançáveis propósitos da vida, a autora, humanamente, pede em oração: não me deixe mais padecer de medo e do arremedo, encontrando-se em síntese versa, com sua força interior no espiritual e na sua conexão paulatinamente frenética e constante com a autorrealização um sinal de que tudo ficará bem. Uma prece, um pedido.

Já em partilha, (p.26), há uma oração em prol do humano, da vida. 
aos filhos o amor em corpo, palavra e fotografias / o sublime silêncio depois da história / a contemplação / o doce-amargo lavrar da memória, expõe uma reflexão acerca do amor enraizado nos filhos em relação ao poder existente na vida que se esvai rapidamente, como a saudade de momentos simples e complexos de uma saudade latente, como a de um momento de histórias à cama entre pais e filhos no 'doce [momento] amargo [passageiro] da vida. Segue sua prece em 'a ninguém a armadura de dores maciças / a ser arremessada de alguma altura / ou dissolvida com um pranto qualquer', retrata e ressignifica o pedido de não mais a quem possa sentir a dor não passageira, frequente e latente, que ninguém experiencie a tristeza imposta pelo pranto por motivos quaisquer que sejam, que todos possam, em síntese, experienciar os momentos sem se sentirem atingidos de forma tão direta no sentimento e na experiência. Desdobra-se aos momentos simples da vida, como 'aos vizinhos a minha música [da vida], não a que se canta [...] mas a que sai da boca da torneira, no tanger dos prendedores no varal [...], aos pais, o ardor de mais uma vida de um filho, aos irmãos, as lembranças que para sempre permanecem, aos netos, os poemas e jabotis [memórias, lembranças] que carregam consigo por todos os tempos.

Em suma, o livro "Oratório" de Ana Salvagni é uma obra que transcende as barreiras da poesia e se torna uma profunda reflexão sobre a espiritualidade e a vida. Com inspirações em grandes nomes da literatura, a autora demonstra sua habilidade em desvendar os mistérios da existência e nos leva a refletir sobre nossas próprias jornadas. As preces e reflexões presentes nas páginas do livro nos desafiam a olhar para dentro de nós mesmos e a buscar a transformação interna necessária para enfrentar os desafios da vida. Com uma linguagem poética e envolvente, Ana Salvagni nos convida a repensar nossas relações com o mundo e a viver de forma mais plena e consciente. Uma leitura que com certeza tocará o coração e a alma de todos que se permitirem mergulhar nas profundezas de suas páginas.

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