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[RESENHA #764] Cartas, de Caio Fernando Abreu

Devolvemos ao público este volume de correspondência de Caio Fernando Abreu, esgotado havia vários anos, depois da pioneira edição pela editora Aeroplano, de 2002, uma iniciativa de Heloisa Buarque de Hollanda, composta por cartas enviadas por Caio a Maria Adelaide Amaral, Hilda Hilst, Flora Süssekind, Cida Moreira, Gilberto Gawronski, Jacqueline Cantore, João Silvério Trevisan, Mario Prata, entre outros. A presente edição das cartas de Caio marca os vinte anos de sua morte, ocorrida em 1996, e vem atualizada e enriquecida pelo acréscimo de cartas e cartões.

RESENHA

Cartas, de Caio Fernando Abreu, é uma coletânea de correspondências do escritor gaúcho com diversos amigos, colegas, familiares e amores, entre os anos de 1968 e 1995. O livro, organizado por Italo Moriconi, foi lançado em 2016, vinte anos após a morte de Caio, e traz uma visão íntima e reveladora de sua personalidade, de sua trajetória literária e de sua época.

Caio Fernando Abreu é considerado um dos principais representantes da literatura brasileira contemporânea, com uma obra marcada pela temática LGBT, pela abordagem da vida urbana, pela angústia existencial e pela busca de sentido em um mundo fragmentado e hostil. Seu estilo é econômico, direto, poético e confessional, misturando ficção e realidade, sonho e pesadelo, humor e melancolia.

Nas cartas, o leitor pode acompanhar as diferentes fases da vida e da carreira de Caio, desde sua estreia como contista na revista Cláudia, em 1966, até sua consagração como autor premiado e admirado pelo público e pela crítica. As cartas também revelam seus conflitos pessoais, como sua homossexualidade, sua relação com a família, sua perseguição pela ditadura militar, seu exílio na Europa, sua descoberta do HIV e sua luta contra a AIDS.

As cartas são endereçadas a nomes importantes da cultura brasileira, como Hilda Hilst, Maria Adelaide Amaral, João Gilberto Noll, Mário Prata, João Silvério Trevisan, Gilberto Gawronski, Cida Moreira, Flora Süssekind, entre outros. Nessas correspondências, Caio demonstra sua admiração, sua amizade, seu afeto, sua generosidade, sua sinceridade, sua ironia, sua crítica, sua solidariedade e sua saudade. Ele também comenta sobre seus projetos literários, suas leituras, suas influências, suas opiniões, seus desejos, seus medos, suas dores e suas esperanças.

As cartas são documentos valiosos para entender a obra e a vida de Caio Fernando Abreu, bem como o contexto histórico, social e cultural em que ele estava inserido. Elas são testemunhos de uma época marcada por transformações, conflitos, repressão, resistência, liberação, diversidade, violência, epidemia, morte e amor. Elas são, sobretudo, expressões de uma sensibilidade única, de uma voz autêntica, de uma escrita que emociona e provoca.

Cartas, de Caio Fernando Abreu, é um livro indispensável para os fãs do escritor, para os estudiosos da literatura e para os leitores que apreciam uma boa prosa. É um livro que nos aproxima de um dos maiores nomes da nossa literatura, que nos faz rir, chorar, pensar e sentir. É um livro que nos mostra que as cartas, além de serem uma forma de comunicação, são também uma forma de arte.


[RESENHA #763] Contos completos, de Caio Fernando Abreu


Pela primeira vez, a reunião de todos os contos de um dos autores mais viscerais da contracultura brasileira.

Publicados entre as décadas de 1970 e 1990, os contos de Caio Fernando Abreu são o retrato de uma geração. Os tempos autoritários e sombrios dos anos de chumbo aparecem nesta reunião não apenas como pano de fundo, mas como parte constituinte de uma prosa que se consagrou pelo estilo combativo e radical. Vida e obra, aqui, se misturam a ponto de biografia se transformar em literatura e vice-versa.

Em Contos completos, o leitor tem a chance de percorrer toda a produção do autor no gênero da prosa breve. O volume abarca seis títulos ― Inventário do ir-remediável (1970), O ovo apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), Morangos mofados (1982), Os dragões não conhecem o paraíso (1988) e Ovelhas negras (1995) ―, além de dez contos avulsos, sendo três deles inéditos em livro. O livro inclui, por fim, textos de Italo Moriconi, Alexandre Vidal Porto e Heloisa Buarque de Hollanda, que jogam luz sobre a atualidade de Caio Fernando Abreu.

Ao escrever sobre amor, morte, medo, sexualidade, solidão e alegria, o autor de Onde andará Dulce Veiga? constrói personagens complexos e absolutamente profundos em cada detalhe. Com verve e sensibilidade, o “escritor da paixão”, na alcunha de Lygia Fagundes Telles, soube como ninguém combinar delírio e lucidez, euforia e angústia, luz e sombra.

RESENHA

Contos completos é uma obra que reúne toda a produção do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu no gênero da prosa breve. Publicados entre as décadas de 1970 e 1990, os contos refletem a visão de uma geração marcada pelos tempos autoritários e sombrios da ditadura militar, pela contracultura, pela diversidade sexual e pela angústia existencial.

O estilo de Caio Fernando Abreu é econômico, direto e poético, misturando realidade e fantasia, delírio e lucidez, euforia e angústia. Suas histórias são repletas de personagens complexos, que vivem à margem da sociedade, em busca de amor, sentido e liberdade. O autor aborda temas como sexo, drogas, morte, solidão, violência, medo e alegria, sem medo de chocar ou emocionar o leitor.

O livro contém seis coletâneas de contos: Inventário do irremediável (1970), O ovo apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), Morangos mofados (1982), Os dragões não conhecem o paraíso (1988) e Ovelhas negras (1995), além de dez contos avulsos, sendo três deles inéditos em livro. Cada coletânea tem sua própria identidade e atmosfera, mas todas revelam a sensibilidade e a originalidade do autor.

Alguns dos contos mais famosos e impactantes são: "Sargento Garcia", que narra o encontro entre um jovem militante e um torturador; "Dama da noite", que apresenta o monólogo de uma travesti solitária; "Os sobreviventes", que mostra a vida de um grupo de amigos em meio à epidemia da AIDS; "O amor, essa palavra", que conta a história de um casal de lésbicas que se separa; e "Aqueles dois", que descreve a relação entre dois homens que trabalham no mesmo escritório.

Os contos de Caio Fernando Abreu são ricos em simbologia e referências culturais, que vão desde a mitologia grega até a música pop, passando pela religião afro-brasileira, pelo cinema, pela literatura e pela astrologia. O autor também explora a linguagem de forma criativa, usando neologismos, estrangeirismos, gírias e coloquialismos.

A importância e a relevância cultural de Caio Fernando Abreu são inegáveis. Ele foi um dos expoentes da literatura brasileira contemporânea, que soube retratar com maestria o seu tempo e o seu espaço, além de expressar os sentimentos e os conflitos de uma geração. Sua obra influenciou e continua influenciando diversos escritores, artistas e leitores, que se identificam com a sua voz e a sua visão de mundo.

Caio Fernando Abreu nasceu em Santiago, no Rio Grande do Sul, em 1948. Desde cedo, demonstrou interesse pela literatura, publicando seu primeiro conto aos 18 anos. Estudou letras e artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não concluiu os cursos. Trabalhou como jornalista em diversas revistas e jornais, como Veja, Manchete, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. Em 1973, exilou-se na Europa, fugindo da repressão da ditadura militar. Voltou ao Brasil em 1974 e retomou sua carreira literária. Morou em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, onde participou ativamente da cena cultural. Em 1994, descobriu ser portador do vírus HIV e voltou a morar com os pais em Porto Alegre. Morreu em 1996, aos 47 anos, vítima de complicações decorrentes da AIDS.

Contos completos é um livro essencial para quem quer conhecer a obra e a personalidade de Caio Fernando Abreu, um dos maiores nomes da literatura brasileira. É uma obra que emociona, provoca, surpreende e encanta, pela sua força, pela sua beleza e pela sua autenticidade. É um livro que merece ser lido, relido e compartilhado, pois é um testemunho vivo de uma época, de uma cultura e de uma arte.

[RESENHA #762] Triângulo das águas, de Caio Fernando Abreu


"Triângulo das águas", publicado originalmente em 1983 e há anos fora de catálogo, é um dos melhores livros de Caio Fernando Abreu (1948-1996). Reconhecido com o Prêmio Jabuti – a naior honraria literária brasileira –, Triângulo é também um título exemplar do ponto de vista do estilo do autor: nas linhas das novelas que o compõem – "Dodecaedro", "O marinheiro" e "Pela noite" – encontram-se cristalizadas algumas constantes na obra de Caio. A alma perdida em busca de alguma coisa (às vezes afeto), a verborragia e as referências que, longe de afetadas, exalam sinceridadee aproximam os leitores, a vida sob o signo da madrugada, as boas-vindas aos mistérios da existência, concretizados, neste livro, pela presença da astrologia (inclusive no título), e o tom confessional-desesperado.

RESENHA

Triângulo das águas é um livro de Caio Fernando Abreu, escritor, jornalista e dramaturgo brasileiro, considerado um dos expoentes da literatura brasileira dos anos 80. Publicado originalmente em 1983, o livro reúne três novelas que têm como elemento comum a água, simbolizando as emoções, as transformações e as memórias dos personagens. As novelas são: Dodecaedro, O marinheiro e Pela noite.

Dodecaedro narra a história de um homem que, após uma decepção amorosa, se isola em um apartamento e passa a receber cartas misteriosas de uma mulher que diz ser sua amante. A cada carta, ele recebe um fragmento de um dodecaedro, um sólido geométrico de doze faces, que representa o universo e a complexidade humana. A narrativa é marcada pela angústia, pela solidão e pelo erotismo, em um clima de suspense e mistério.

O marinheiro conta a trajetória de um jovem que embarca em um navio rumo à Europa, em busca de aventura e liberdade. No entanto, ele se depara com uma realidade hostil e violenta, que o faz questionar seus sonhos e sua identidade. O mar é o cenário e o símbolo da viagem existencial do protagonista, que enfrenta o medo, a morte e o amor.

Pela noite é a novela mais autobiográfica do livro, na qual o autor relata suas experiências durante o exílio na Europa, nos anos 70, fugindo da ditadura militar brasileira. O narrador é um escritor que vive em Paris, mas que sente saudades de sua terra natal e de seu passado. A noite é o tempo e o espaço da nostalgia, da reflexão e da criação, em que o narrador se comunica com seus fantasmas e seus desejos.

O estilo de Caio Fernando Abreu é caracterizado pela economia de palavras, pela fluência e pela musicalidade. O autor utiliza recursos como a metáfora, a aliteração, a repetição e a intertextualidade, criando textos densos e poéticos. Além disso, o autor explora temas como a homossexualidade, a marginalidade, a violência, a política e a espiritualidade, retratando a sociedade e a cultura de sua época.

Algumas citações marcantes do livro são:

  • "A vida é um dodecaedro, pensei. Doze faces, doze vértices, trinta arestas. E cada face é um mistério." (Dodecaedro)
  • "O mar é o meu lugar. O mar é o meu destino. O mar é o meu amor." (O marinheiro)
  • "Pela noite, eu me lembro. Pela noite, eu escrevo. Pela noite, eu existo." (Pela noite)

Triângulo das águas é uma obra que revela a sensibilidade, a criatividade e a originalidade de Caio Fernando Abreu, um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea. O livro é uma leitura envolvente, emocionante e instigante, que convida o leitor a mergulhar nas águas profundas da alma humana.

[RESENHA #761] Os dragões não conhecem o paraíso, de Caio Fernando Abreu


Numa espécie de boas-vindas a Os dragões não conhecem o paraíso, Caio Fernando Abreu nos fornece um leque de possibilidades de leitura para este livro vencedor do prêmio Jabuti em 1988: “Se o leitor quiser, este pode ser um livro de contos. Um livro com 13 histórias independentes, girando sempre em torno de um mesmo tema: amor. Amor e sexo, amor e morte, amor e abandono, amor e alegria, amor e memória, amor e medo, amor e loucura. Mas se o leitor também quiser, este pode ser uma espécie de romance-móbile. Um romance desmontável, onde essas 13 peças talvez possam completar-se, esclarecer-se, ampliar-se ou remeter-se de muitas maneiras umas às outras, para formarem uma espécie de todo. Aparentemente fragmentado, mas de algum modo ― suponho ― completo.”

RESENHA

Os dragões não conhecem o paraíso é um livro de contos do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, publicado em 1988 e vencedor do prêmio Jabuti no mesmo an¹. O livro reúne treze histórias que giram em torno do tema do amor, em suas diversas formas e manifestações: amor e sexo, amor e morte, amor e abandono, amor e alegria, amor e memória, amor e medo, amor e loucura. Os contos são narrados em primeira ou terceira pessoa, com um estilo marcado pela linguagem coloquial, pela ironia, pelo lirismo e pela sensibilidade do autor, que explora as angústias, os desejos, as frustrações e as esperanças dos personagens.

Os personagens de Caio Fernando Abreu são, em sua maioria, pessoas comuns, que vivem em grandes cidades, que sofrem com a solidão, a violência, a falta de sentido, a busca por si mesmos. São homens e mulheres, jovens e adultos, heterossexuais e homossexuais, que se relacionam de forma intensa, conflituosa, apaixonada, desesperada ou resignada com o outro e consigo mesmos. Alguns dos personagens são recorrentes em outros livros do autor, como o jornalista Pedro, o escritor Caio, o fotógrafo Júlio, o poeta João, o ator Marcelo, entre outros. Eles formam uma espécie de rede afetiva, que se entrelaça e se desfaz ao longo das histórias.

Os contos de Os dragões não conhecem o paraíso se alimentam do que está presente em nossos cotidianos, isto é, a fragmentação da realidade, com suas ambiguidades, em que os indivíduos representam o seu papel sem muitas preocupações com o texto, a identidade se perde e os personagens se assemelham a embalagens vazias. No entanto, o autor também recorre a elementos fantásticos, míticos, simbólicos, que conferem uma dimensão poética e metafórica às narrativas. Assim, os dragões, que dão título ao livro, são uma metáfora para os seres humanos, que não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia. Outros símbolos que aparecem nos contos são os anjos, as borboletas, as flores, os espelhos, os sonhos, os fantasmas, os vampiros, os lobisomens, os unicórnios, que revelam aspectos da alma humana, como a inocência, a beleza, a fragilidade, a duplicidade, o desejo, o medo, a morte, a transcendência.

O livro é um retrato da sociedade brasileira dos anos 1980, marcada pela redemocratização, pela epidemia da AIDS, pela violência urbana, pelo consumismo, pela crise de valores, pela busca de novas formas de expressão e de identidade. O autor, que viveu nessa época, foi um dos expoentes da chamada literatura marginal, que se caracterizou pela ruptura com os padrões estéticos e ideológicos vigentes, pela experimentação formal e temática, pela abordagem de questões existenciais, sociais e políticas, pela valorização da subjetividade, da diversidade, da marginalidade. Caio Fernando Abreu nasceu em 1948, em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul, e morreu em 1996, em Porto Alegre, vítima de complicações decorrentes da AIDS. Foi jornalista, dramaturgo, tradutor e escritor, autor de romances, novelas, contos, crônicas, cartas e poemas. Sua obra é considerada uma das mais importantes e influentes da literatura brasileira contemporânea, tendo sido traduzida para vários idiomas e adaptada para o cinema, o teatro, a televisão e a música.

Os dragões não conhecem o paraíso é um livro que nos convida a mergulhar no universo de Caio Fernando Abreu, um universo de intensidade, de contradição, de beleza, de dor, de amor. Um universo que nos faz refletir sobre a nossa própria condição humana, sobre os nossos sentimentos, sobre as nossas escolhas, sobre os nossos limites, sobre os nossos sonhos. Um universo que nos faz sentir, que nos faz viver, que nos faz voar. Um universo que nos faz conhecer os dragões que habitam em nós.

[RESENHA #759] Limite branco, de Caio Fernando Abreu


O romance de estreia de um dos autores mais marcantes da literatura brasileira.

Escrito quando Caio Fernando Abreu tinha apenas dezenove anos e publicado poucos tempo depois, em 1971, Limite branco inaugura a trajetória de uma das vozes mais apaixonantes da nossa literatura. Ao longo da trama, acompanhamos as descobertas, os anseios e os temores de Maurício num período intenso e angustiante, quando a infância fica para trás e o caminho que leva à vida adulta não passa de uma incógnita.

Para a escritora Natalia Borges Polesso, que assina o posfácio da presente edição, neste livro “há um limite branco, que uma pessoa cruza para amadurecer, no qual as emoções se borram e se sobrepõem e não se tem muito uma ideia de onde começa um sentimento e o outro termina.”

RESENHA

Limite branco é o primeiro romance do escritor brasileiro Caio Fernando Abreu, publicado em 1970. A obra narra as angústias e os questionamentos de Maurício, um jovem que se muda do interior para a capital e se depara com as dificuldades e as tentações da vida adulta. O livro é dividido em três partes: Alfa, Beta e Gama, que correspondem às fases de transformação do protagonista.

O estilo de Caio Fernando Abreu é marcado pela economia de palavras, pela linguagem coloquial e pela intensidade emocional. O autor explora temas como sexo, drogas, violência, solidão, morte e existencialismo, retratando a geração que viveu sob a ditadura militar no Brasil. O livro também apresenta elementos autobiográficos, já que o autor escreveu a obra quando tinha apenas 19 anos e passou por experiências semelhantes às de Maurício.


Os principais personagens do livro são:

- Maurício: o protagonista, um rapaz sensível e inquieto que busca seu lugar no mundo e se envolve em situações de risco e de prazer.

- Ana: a namorada de Maurício, uma moça bonita e inteligente que o ama, mas não consegue compreender sua angústia e sua rebeldia.

- Pedro: o melhor amigo de Maurício, um rapaz extrovertido e aventureiro que o acompanha em suas viagens e escapadas.

- Mãe: a mãe de Maurício, uma mulher religiosa e conservadora que se preocupa com o filho, mas não consegue se comunicar com ele.

- Pai: o pai de Maurício, um homem ausente e autoritário que exige que o filho siga seus passos e se torne um advogado.

O livro também aborda e ensina sobre:

- A importância de se conhecer a si mesmo e de buscar o seu próprio caminho, sem se deixar levar pelas imposições da sociedade ou pelas expectativas dos outros.

- A necessidade de se enfrentar os medos e as incertezas da vida, sem se entregar ao desespero ou à alienação.

- A valorização da amizade, do amor e da arte como formas de expressão e de resistência diante das adversidades e das injustiças.

Algumas citações marcantes do livro são:

- "Eu não quero ser igual a todo mundo. Eu quero ser eu mesmo." (Maurício, p. 23)

- "A vida é uma coisa muito estranha. Às vezes, a gente pensa que está tudo bem, que está tudo certo, e de repente tudo muda, tudo vira do avesso." (Ana, p. 47)

- "O que é que você quer da vida, afinal? Você quer viver ou morrer? Você quer ser feliz ou infeliz? Você quer ser livre ou escravo?" (Pedro, p. 72)

- "Eu sei que Deus existe, meu filho. Mas Ele não pode fazer tudo por nós. Nós também temos que fazer a nossa parte. Nós também temos que lutar." (Mãe, p. 95)

- "Você tem que ser forte, Maurício. Você tem que ser um homem. Você tem que seguir a tradição da família. Você tem que ser um advogado." (Pai, p. 118)

A simbologia do livro está relacionada ao título, que remete à ideia de um limite entre a infância e a maturidade, entre a inocência e a experiência, entre o sonho e a realidade. O branco é uma cor que representa a pureza, mas também a ausência, a indiferença, a frieza. O limite branco é, portanto, um espaço de transição, de conflito, de indefinição, de desafio.

A importância e a relevância cultural do livro se devem ao fato de que ele retrata uma época marcante da história do Brasil, em que a juventude enfrentava a repressão, a censura, a violência e a falta de perspectivas. O livro também se destaca por abordar temas universais, como a busca de identidade, a descoberta do amor, a rebelião contra o sistema, a crise existencial, a morte. O livro é considerado um clássico da literatura brasileira contemporânea e uma obra-prima de Caio Fernando Abreu.

Caio Fernando Abreu nasceu em Santiago, no Rio Grande do Sul, em 1948. Desde pequeno, demonstrou interesse pela literatura e publicou seu primeiro conto aos 18 anos. Estudou letras e artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não concluiu os cursos. Trabalhou como jornalista em diversas revistas e jornais, como Veja, Manchete, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. Foi perseguido pela ditadura militar e se exilou na Europa por um ano. Voltou ao Brasil em 1974 e recomeçou sua carreira literária. Escreveu contos, romances, peças de teatro e crônicas. Recebeu três vezes o Prêmio Jabuti e uma vez o Prêmio Molière. Foi um dos principais representantes da geração que marcou a cena cultural brasileira nos anos 80. Era homossexual assumido e abordou em sua obra temas como sexo, drogas, violência, solidão, morte e existencialismo. Descobriu-se portador de HIV em 1994 e voltou a morar com seus pais em Porto Alegre. Morreu em 1996, aos 47 anos, vítima de complicações decorrentes da AIDS.

Limite branco é um livro que impressiona pela força e pela beleza de sua escrita. Caio Fernando Abreu consegue captar com sensibilidade e talento as emoções e os dilemas de uma geração que viveu em um período turbulento e desafiador da história do Brasil. O livro é um retrato fiel e ao mesmo tempo poético da juventude que buscou sua identidade, seu espaço, seu sentido, sua liberdade. O livro é uma obra que merece ser lida e relida, pois toca o leitor em sua essência, em sua humanidade, em sua fragilidade. O livro é um convite à reflexão, à emoção, à arte. O livro é um limite branco que se abre em um universo de cores.

[RESENHA #758] Ovelhas negras, de Caio Fernando Abreu

"Nunca pertenci àquele tipo histérico de escritor que rasga e joga fora. Ao contrário, guardo sempre as várias versões de um texto, da frase em guardanapo de bar à impressão no computador. Será falta de rigor? Pouco me importa. Graças a essa obsessão foi que nasceu 'Ovelhas negras', livro que se fez por si durante 33 anos. (...) Uma espécie de autobiografia ficcional, uma seleta de textos que acabaram ficando fora de livros individuais. Eram e são textos marginais, bastardos, deserdados. (...) Afinal, como Rita Lee, sempre dediquei um carinho todo especial pelas mais negras das ovelhas."

RESENHA

Ovelhas negras é um livro de contos do escritor e jornalista brasileiro Caio Fernando Abreu, publicado em 1995. O livro reúne 25 textos que o autor considerava marginais, bastardos ou deserdados, por terem ficado fora de suas obras anteriores ou por terem sido censurados pela ditadura militar. São contos que revelam a trajetória literária de Caio, desde sua infância até sua maturidade, passando por diferentes lugares, épocas e estilos.

O estilo de Caio Fernando Abreu é marcado pela economia de palavras, pela linguagem coloquial, pela ironia, pelo erotismo e pela angústia existencial. Seus personagens são, em sua maioria, jovens urbanos, marginalizados, solitários, que vivem à procura de amor, sentido e identidade. Eles refletem as inquietações, os medos, as esperanças e as frustrações de uma geração que testemunhou as transformações políticas, sociais e culturais do Brasil e do mundo nas décadas de 70, 80 e 90.

O livro é dividido em três partes: Alfa, Beta e Gama. Cada parte é precedida por uma introdução do autor, que conta a história por trás de cada conto, revelando aspectos autobiográficos, curiosidades, influências e referências. Alguns dos contos mais conhecidos são: "O príncipe sapo", "O amor de Pedro por João", "Aqueles dois", "Sargento Garcia", "Dama da noite" e "Ovelhas negras".

O livro é uma obra que ensina sobre a diversidade, a tolerância, a solidariedade e a resistência. Caio Fernando Abreu aborda temas como a homossexualidade, a AIDS, a violência, a ditadura, a droga, a morte, o amor, a amizade, a arte e a literatura, com sensibilidade, humor e coragem. Suas histórias são como retratos de uma época, mas também são atemporais, pois tocam em questões universais da condição humana.

Algumas citações marcantes do livro são:

- "Eu queria que você me amasse como eu te amo. Mas isso é impossível. Porque eu te amo demais. E você não me ama. Você só me quer." ("O príncipe sapo")

- "Eles não sabiam muito bem o que fazer com aquilo. Não era exatamente amor. Talvez porque amor fosse uma palavra gasta, e o que eles sentiam não estava gasto. Era novo e brilhante como uma moeda que tivesse acabado de ser cunhada." ("O amor de Pedro por João")

- "Eles eram muitos, mas não sabiam. No quartel, na repartição, no escritório, na escola, na fábrica, eles estavam lá, mas não se conheciam. Eram invisíveis. Eram ovelhas negras, mas não sabiam." ("Ovelhas negras")

A simbologia do livro está relacionada ao título, que remete à ideia de exclusão, rebeldia, diferença e transgressão. As ovelhas negras são aqueles que não se encaixam nos padrões impostos pela sociedade, que são discriminados, perseguidos, silenciados ou ignorados. Mas são também aqueles que têm algo de especial, de único, de original, de criativo, de surpreendente. São aqueles que, apesar de tudo, não desistem de buscar sua própria voz, seu próprio caminho, sua própria felicidade.

A importância e a relevância cultural do livro estão ligadas à sua capacidade de retratar e questionar a realidade brasileira, de dialogar com outras obras e autores, de influenciar e inspirar novos escritores e leitores, de provocar reflexão e emoção, de contribuir para a formação de uma literatura nacional de qualidade, de valorizar a diversidade e a liberdade de expressão.

A biografia do autor pode ser resumida da seguinte forma: Caio Fernando Abreu nasceu em Santiago, no Rio Grande do Sul, em 1948. Desde pequeno já demonstrava interesse pela literatura. Estudou letras e artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não se formou. Trabalhou como jornalista em diversas revistas e jornais. Foi perseguido pela ditadura militar e se exilou na Europa por um ano. Voltou ao Brasil e publicou vários livros de contos, romances e peças de teatro. Recebeu três vezes o Prêmio Jabuti e uma vez o Prêmio Molière. Descobriu ser portador do vírus HIV em 1994 e voltou a morar com seus pais em Porto Alegre. Morreu em 1996, aos 47 anos.

A crítica positiva acerca da obra pode ser expressa da seguinte forma: Ovelhas negras é um livro que merece ser lido, relido e apreciado por todos aqueles que gostam de literatura de qualidade, que se interessam pela história e pela cultura brasileiras, que se identificam com os personagens e os temas abordados pelo autor, que se emocionam com as histórias e as palavras de Caio Fernando Abreu. É um livro que mostra a genialidade, a originalidade, a sensibilidade e a coragem de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. É um livro que não deixa ninguém indiferente. É um livro que faz a diferença.

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