APRESENTAÇÃO
Em Esfarrapados, Cesar Calejon destrincha em detalhes os mecanismos culturais e históricos que explicam como as elites se formaram, como atuam para dominar a sociedade e como conseguem manter sua posição de comando e ampliar seus ganhos econômicos exponencialmente. Para que se compreenda como essas dinâmicas de exploração se dão, o autor nos apresenta o conceito “elitismo histórico-cultural”. Trata-se de uma força social que organiza os arranjos sociais com base em categorias de distinção, de forma a criar uma gramática da desigualdade e, em última instância, uma hierarquia moral que rege o funcionamento sociopolítico e socioeconômico de uma comunidade.
Cesar Calejon defende que as raízes do elitismo histórico-cultural estão presente nas sociedades humanas desde os tempos remotos, anteriores mesmo à Revolução Agrícola. O autor nos conduz ao longo do tempo e demonstra como seu conceito se aplica às diferentes sociedades em diferentes momentos históricos, indicando as Grandes Navegações e o advento da Revolução Industrial como trampolins que intensificaram radicalmente a sanha elitista. Assim, chegamos até o Brasil contemporâneo, onde as expressões do elitismo histórico-cultural – racismo, machismo, misoginia, LGBTQIA+fobia, capacitismo, viralatismo, entre outras – se consolidam como formas permanentes de dominação cultural e alicerçam nossa tradição em segregar, excluir e estigmatizar as minorias, tal é feito pelas ideologias brasileiras autoritárias, como o bolsonarismo.
Por fim, o autor explica como os debates sobre determinação natural e os estudos culturais nos ajudam a entender de que maneira essas construções ideológicas da superioridade são disseminadas. E, principalmente, como essas estruturas de poder bem estabelecidas podem ser desmontadas, de modo a se distinguir quais são os problemas reais que devem ser superados para que a desigualdade social seja extinta de uma vez por todas.
RESENHA
Cada aspecto do privilégio extremo, não apenas nacional, mas globalmente, começa com a premissa de que existem pessoas fortes e outras biologicamente fracas. O desenvolvimento humano é a base da cultura. Isso acontece culturalmente com base na biologia de nossa espécie. Quando você entende isso, você se apropria para entender que isso se aplica à forma como nossa sociedade é organizada
Eles estavam continuamente nos provocando com as falhas e desordens que observação em nossas cidades, como sendo ocasionadas por dinheiro. Não adianta tentar repreendê-los sobre o quão útil é a distinção de propriedade para o sustento da sociedade: eles não discutem, nem brigam, nem caluniam uns aos outros, eles zombam das artes e das ciências e riem das diferenças de classes que observa entre nós. Eles nos marcam como escravos e nos chamam de almas miseráveis, cuja vida não vale a pena, alegando que nos degradamos ao nos sujeitarmos a um homem [o rei] que possui todo o poder e não está sujeito a nenhuma lei, exceto a própria vontade [...].
Até que a filosofia que considera uma ração superior e outra inferior seja final e permanentemente desacreditada e abandonada, em todos os lugares há guerra, digo guerra. Até que não haja cidadãos de primeira e segunda classe de qualquer nação. Até que não haja cidadãos de primeira e segunda classe de qualquer nação. Até que a cor da pele do homem não tenha mais importância do que a cor de seus olhos, digo guerra. Até esse dia, o sonho de paz duradoura, a cidadania mundial e o domínio da moralidade internacional permanecerão uma ilusão fugaz a ser perseguida, mas nunca alcançada, agora em todos os lugares há guerra.
O AUTOR