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Resenha: Umbandas: uma história do Brasil, de Luiz Antonio Simas

 APRESENTAÇÃO

O historiador Luiz Antonio Simas frequenta terreiros de umbanda desde a mais tenra idade. Balizado pela história do Brasil e amparado pela própria trajetória, Simas elabora aqui um estudo inédito, original, que se propõe a contar a história do país à luz das umbandas — de tão brasileira que é, a umbanda se torna plural. Por isso, já no título deste livro a palavra não vem no singular. A diversidade do país, segundo o autor, se manifesta nas várias umbandas existentes, que se multiplicaram em histórias como a de sua avó, alagoana criada em Pernambuco e que se mudou para o Rio de Janeiro carregando consigo suas crenças e ritos.

RESENHA

O livro "Umbandas: uma história do Brasil", de Luiz Antonio Simas, propõe uma reflexão sobre as umbandas e sua profunda imbricação com a formação histórica e social do Brasil. Dividido em duas partes, a obra transita entre a "poética do encantamento" e a "política do encantamento", explorando as diversas manifestações religiosas afro-brasileiras, seus mitos, ritos e personagens, bem como os processos de cooptação, repressão e legitimação institucional dessas práticas.

Na primeira parte do livro, intitulada "Poéticas do Encantamento", Simas nos apresenta um panorama das raízes ancestrais das umbandas, remetendo-nos às santidades indígenas, aos calundus e danças de tunda, às pajelanças e catimbós, aos cultos aos orixás, caboclos e exus. Essa seção do livro destaca a riqueza e a diversidade das sabenças encantadas que se entrecruzam nas umbandas, enfatizando a noção de que esses cultos constituem um "ecossistema encantado", marcado pela interação entre o visível e o invisível, o humano e a natureza.

Ao explorar os mitos e ritos das santidades indígenas, dos calundus e das danças de tunda, Simas revela a complexidade e a dinamicidade dessas práticas religiosas, que se caracterizam pela fusão de elementos africanos, indígenas e cristãos. A figura do pajé, por exemplo, é apresentada como um xamã que atua como mediador entre o mundo material e os outros mundos espirituais, utilizando-se do poder terapêutico das plantas, do transe e da crença na existência de mundos paralelos.

Da mesma forma, o autor discorre sobre as bolsas de mandinga, os patuás e os ritos de fechamento dos corpos, evidenciando como essas tecnologias de cura e proteção incorporam saberes de diversas origens, numa constante reelaboração e adaptação às realidades locais. Nesse sentido, Simas destaca a noção de que os corpos são suportes de manifestações de encantamentos, sendo ritualmente preparados e transformados para abrigar as conexões entre o visível e o invisível.

Na segunda parte do livro, intitulada "Políticas do Encantamento", Simas aborda os processos de codificação e legitimação das umbandas, com foco no I Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, realizado em 1941. Nesse contexto, o autor analisa as disputas em torno da definição da origem e da "pureza" da umbanda, contrastando as perspectivas de uma "umbanda branca", mais próxima do espiritismo kardecista e do cristianismo, com a de uma umbanda afro-brasileira, representada pela corrente do omolokô.

Ao explorar essa tensão, Simas revela como o projeto de construção da identidade nacional, marcado pela ideologia da mestiçagem, também se fez presente no campo das umbandas. Enquanto alguns buscavam afastar as práticas afro-brasileiras, em nome de uma suposta "pureza" e "civilidade", outros, como Tancredo da Silva Pinto e a corrente do omolokô, defendiam a valorização das raízes africanas e indígenas da umbanda, contestando os esforços de desafricanização do culto.

Essa seção do livro também aborda a relação entre as umbandas e a repressão e intolerância religiosa enfrentadas pelos cultos afro-brasileiros. Simas destaca como a legislação brasileira, ao mesmo tempo em que aparentemente garantia a liberdade religiosa, criava subterfúgios legais que permitiam a perseguição aos terreiros, enquadrando suas práticas como "curandeirismo" e "perturbação da ordem pública".

Nesse contexto, o autor discorre sobre o embate entre as umbandas e as igrejas neopentecostais, especialmente a Igreja Universal do Reino de Deus, que têm sistematicamente atuado na destruição de terreiros e na demonização das religiosidades afro-brasileiras. Essa disputa pelo "mercado da fé" revela as profundas raízes do racismo estrutural brasileiro, que se manifesta na desqualificação e na aniquilação dos saberes e práticas não brancos.

Ao longo do livro, Luiz Antonio Simas adota uma abordagem multidisciplinar, transitando entre a História, a Antropologia, a Sociologia e a Filosofia, de modo a compreender as umbandas em sua complexidade e dinamismo. Sua escrita poética e envolvente convida o leitor a mergulhar nesse universo encantado, revelando as sutilezas, contradições e belezas que permeiam as práticas religiosas afro-brasileiras e sua relação com a formação do Brasil.

Ao explorar tanto a "poética do encantamento" quanto a "política do encantamento", Simas nos apresenta uma obra que transcende os limites da mera descrição etnográfica ou histórica. Seu texto é uma convocação à compreensão das umbandas como manifestações vivas de uma "brasilidade forjada nas miudezas da nossa gente", que insistem na beleza espantosa presente em rituais de afirmação da vida, em contraposição à lógica colonial de aniquilação e morte.

Referências

SIMAS, Luiz Antonio. Umbandas: uma história do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021.

[RESENHA #594] Crônicas exusíacas & estilhaços pelintras, de Luiz Antonio Simas

 

APRESENTAÇÃO

Inédito de Luiz Antonio Simas, o historiador que é referência sobre cultura popular brasileira.

Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras reúne registros de assombro e alumbramento sobre a cultura e a gente brasileira. Tocado por Exu – orixá mensageiro, senhor das encruzilhadas – e de seu Zé Pelintra – protetor do povo das ruas -, o historiador Luiz Antonio Simas compartilha visões e táticas fresteiras contra a mortandade produzida pelo desencanto do mundo.

Nos 77 textos que compõem o livro, passeiam personagens vivíssimos – deste ou de outros mundos –, como Jaiminho Alça de Caixão, o “inventor” da profissão de papagaio de pirata; o maestro Tom Jobim tomando uísque com o imperador Nero incorporado em um médium; e a descida da entidade Nelson Rodrigues na Penha Circular. Aparecem também temas como a violência do capital sobre corpos, culturas e territórios, a força do encanto, o samba e o jogo do bicho.

Para o pedagogo e escritor Luiz Rufino, que assina o texto de orelha, “Nos pontos riscados por Luiz Antonio Simas – professor amigo da rua –, as sabedorias praticadas no trivial enredam histórias confiadas com graça, afeto, cisma e firmeza, que honram as memórias plantadas nos quatros cantos da sua aldeia.”

RESENHA


SIMAS, Luiz Antonio -- Crônicas exusíacas & estilhaços pelintras // Luiz Antonio Simas. -- 1ed. -- Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2023. ISBN 978-65-5802-100-1

O livro Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras é uma coletânea de relatos que aborda aspectos da cultura brasileira e de seu povo. O autor, Luiz Antonio Simas, é historiador e traz em suas crônicas visões e táticas que têm como inspiração Exu, um orixá mensageiro e senhor das encruzilhadas, e seu Zé Pelintra, considerado o protetor do povo das ruas.

Exu é uma divindade presente na religião afro-brasileira, especialmente no candomblé e na umbanda. Ele é conhecido como um intermediário entre os seres humanos e os orixás, sendo responsável por levar as oferendas e mensagens dos fiéis aos deuses. Além disso, Exu é considerado o senhor das encruzilhadas, lugares que simbolizam pontos de encontro de energias e caminhos diferentes. Sua figura é associada à travessia, às escolhas e aos limites entre o sagrado e o profano.

Zé Pelintra, por sua vez, é uma entidade que faz parte da cultura popular brasileira, principalmente no Nordeste. Ele é retratado como um malandro, um personagem típico das ruas, que possui características de um boêmio e de um protetor do povo que vive à margem da sociedade. Zé Pelintra é conhecido por sua astúcia e habilidade para lidar com as adversidades da vida cotidiana.

Ambos os personagens mencionados no texto possuem ligações com a religiosidade e a espiritualidade presentes na cultura brasileira. Exu é reverenciado e cultuado nas religiões afro-brasileiras, sendo considerado uma das principais divindades. Já Zé Pelintra tem uma presença forte no imaginário popular, sendo frequentemente invocado em rituais e cultos, principalmente relacionados à proteção e à resolução de problemas cotidianos.

A escolha dessas personagens para embasar as crônicas de Luiz Antonio Simas pode ser entendida como uma forma de resgatar e valorizar aspectos da cultura brasileira que muitas vezes são marginalizados ou estigmatizados. Exu e Zé Pelintra representam a força e a sabedoria presentes nas camadas populares da sociedade, trazendo consigo uma visão particular sobre a vida e os desafios enfrentados pelos brasileiros.

Ao utilizar Exu e Zé Pelintra como referências, o autor busca compartilhar visões e táticas "fresteiras" - termo que remete a algo marginal, fora dos padrões estabelecidos - para enfrentar a "mortandade" produzida pelo desencanto do mundo. Nesse contexto, as crônicas apresentam-se como um convite à reflexão sobre a cultura brasileira, suas raízes religiosas e a importância de valorizar e respeitar as diferentes manifestações culturais presentes no país.

O livro composto por 77 textos, nos quais são apresentados personagens vívidos provenientes de diferentes realidades, sejam elas deste mundo ou de outros. Entre esses personagens, destacam-se Jaiminho Alça de Caixão, considerado o "inventor" da profissão de papagaio de pirata, o maestro Tom Jobim em um encontro com o imperador Nero incorporado em um médium, e a manifestação da entidade de Nelson Rodrigues na Penha Circular.

Além das figuras mencionadas, o livro também aborda temas como a violência do capital sobre corpos, culturas e territórios, a força do encanto, o samba e o jogo do bicho. Esses temas são abordados de forma a retratar a realidade social e cultural brasileira, explorando questões relacionadas à exploração econômica, à resistência cultural, à música e às práticas de jogo.

Na apresentação da obra o autor detalha os tópicos que poderão ser abordados em suas narrativas que podem ser lidas em qualquer ordem, não sendo obrigatória uma leitura contínua, uma vez que cada texto progride de forma única dentro de seu universo particular.

[...] breves ensaios sobre o colonialismo, outros sobre mitos e ritos, entrecruzam-se com pequenas aventuras cotidianas de sambistas, papagaios de piratas, apontadores do jogo do bicho, ambulantes, profetas, namorados, membros do esquadrão da morte, defensores intransigentes da vida, espíritos desencarnados, malandros maneiros, erês, assombrações, defuntos frescos, bodes, cachorros, toques de atabaques, sons de agogôs e de rajadas de metralhadora retratada em estilhaços desconexos (p.11) -- grifos meus. 

A presença de personagens como Jaiminho Alça de Caixão, Tom Jobim e Nelson Rodrigues, tanto em situações reais quanto imaginárias, remete à fusão entre o real e o fantástico, criando uma atmosfera de mistério e encantamento. Essa mistura de elementos reais e imaginários pode representar uma forma de criticar e refletir sobre a realidade, utilizando recursos literários para abordar questões sociais e culturais de forma criativa e simbólica.

O livro também parece explorar a diversidade cultural brasileira, abordando o samba e o jogo do bicho como exemplos de manifestações populares que fazem parte da identidade do país. Essas manifestações são apresentadas como elementos importantes da cultura brasileira, mas também podem ser interpretadas como espaços de resistência e de expressão da criatividade popular.

Em suma, o livro em questão apresenta uma coletânea de textos que misturam elementos reais e imaginários, trazendo personagens marcantes e abordando temas como a violência do capital, a força do encanto, o samba e o jogo do bicho. Através dessa abordagem, o autor busca explorar a realidade social e cultural brasileira, convidando o leitor a refletir sobre essas questões de forma criativa e simbólica, como em outras obras escritas pelo o autor.

O AUTOR

Foto: Divulgação // Mídia Ninja --.

Luiz Antonio Simas

É mestre em história pela UFRJ, professor e escritor. Com diversos livros publicados, recebeu o Prêmio Jabuti – Livro do Ano, em parceria com Nei Lopes, pelo Dicionário da história social do samba. Juntos, também escreveram Filosofias africanas. Pesquisador das culturas e religiões populares, publicou O corpo encantado das ruas e Umbandas: uma história do Brasil. Todos os títulos foram lançados pela Editora Civilização Brasileira. Sonetos de birosca & poemas de terreiro, seu primeiro livro de poemas, foi publicado pela Editora José Olympio. Desde 2013, Simas é jurado do Estandarte de Ouro, o mais tradicional prêmio do carnaval carioca.

[RESENHA #587] Esfarrapados: Como o elitismo histórico-cultural moldou as desigualdades no Brasil, de Cesar Calejon


 APRESENTAÇÃO

Em Esfarrapados, Cesar Calejon destrincha em detalhes os mecanismos culturais e históricos que explicam como as elites se formaram, como atuam para dominar a sociedade e como conseguem manter sua posição de comando e ampliar seus ganhos econômicos exponencialmente. Para que se compreenda como essas dinâmicas de exploração se dão, o autor nos apresenta o conceito “elitismo histórico-cultural”. Trata-se de uma força social que organiza os arranjos sociais com base em categorias de distinção, de forma a criar uma gramática da desigualdade e, em última instância, uma hierarquia moral que rege o funcionamento sociopolítico e socioeconômico de uma comunidade.

Cesar Calejon defende que as raízes do elitismo histórico-cultural estão presente nas sociedades humanas desde os tempos remotos, anteriores mesmo à Revolução Agrícola. O autor nos conduz ao longo do tempo e demonstra como seu conceito se aplica às diferentes sociedades em diferentes momentos históricos, indicando as Grandes Navegações e o advento da Revolução Industrial como trampolins que intensificaram radicalmente a sanha elitista. Assim, chegamos até o Brasil contemporâneo, onde as expressões do elitismo histórico-cultural – racismo, machismo, misoginia, LGBTQIA+fobia, capacitismo, viralatismo, entre outras – se consolidam como formas permanentes de dominação cultural e alicerçam nossa tradição em segregar, excluir e estigmatizar as minorias, tal é feito pelas ideologias brasileiras autoritárias, como o bolsonarismo.  

Por fim, o autor explica como os debates sobre determinação natural e os estudos culturais nos ajudam a entender de que maneira essas construções ideológicas da superioridade são disseminadas. E, principalmente, como essas estruturas de poder bem estabelecidas podem ser desmontadas, de modo a se distinguir quais são os problemas reais que devem ser superados para que a desigualdade social seja extinta de uma vez por todas.

RESENHA



Autor faz uma espécie de genealogia da elite no Brasil e descreve os mecanismos usados por ela para se manter no comando.

A obra do autor é mostra como os mecanismos da desigualdade se propagam entre as elites que criam as diretrizes da moral predominante nos fatores culturais e históricos para se estruturalizar e se manter no poder. Calejon, descreve que o elitismo histórico-cultural se mantém por meio do poder da ação no seio das questões políticas pré-existentes, subsistindo de forma categórica e arbitrária sobre os mais fracos, como forma de categorizar e arranjar os seios fundacionais das diretrizes do poder.

Cada aspecto do privilégio extremo, não apenas nacional, mas globalmente, começa com a premissa de que existem pessoas fortes e outras biologicamente fracas. O desenvolvimento humano é a base da cultura. Isso acontece culturalmente com base na biologia de nossa espécie. Quando você entende isso, você se apropria para entender que isso se aplica à forma como nossa sociedade é organizada

A obra se inicia com uma frase de Louis-Arnand de Lom d'Arce, de Lahontan, sobre os nativos ameríndios que haviam visitado a França, no livro mémoires de l'Amérique Septentrionale [Memórias da América Setentorial], 1705:

Eles estavam continuamente nos provocando com as falhas e desordens que observação em nossas cidades, como sendo ocasionadas por dinheiro. Não adianta tentar repreendê-los sobre o quão útil é a distinção de propriedade para o sustento da sociedade: eles não discutem, nem brigam, nem caluniam uns aos outros, eles zombam das artes e das ciências e riem das diferenças de classes que observa entre nós. Eles nos marcam como escravos e nos chamam de almas miseráveis, cuja vida não vale a pena, alegando que nos degradamos ao nos sujeitarmos a um homem [o rei] que possui todo o poder e não está sujeito a nenhuma lei, exceto a própria vontade [...].

A observação elaborada por Louis-Arnand é uma descrição clara e objetiva de como os fundamentadores das grandes elites enxergam e observam as diferenças existentes entre um povo e sua visão predominantemente pequena acerca da desigualdade social e coletiva. Um retrato conhecido e difundido na política, sobretudo, brasileira.

O segundo texto de abertura é um trecho do poema/música, guerra, de Bob Marley, onde o autor e músico faz alusão entre as diferenças existentes entre os povos dentro da sociedade responsáveis por atomizar não somente as diferenças dentro de uma nação, mas para existência da própria guerra, uma vez que falta-lhe o entendimento acerca da importância da variação de culturas em uma sociedade, na íntegra:

Até que a filosofia que considera uma ração superior e outra inferior seja final e permanentemente desacreditada e abandonada, em todos os lugares há guerra, digo guerra. Até que não haja cidadãos de primeira e segunda classe de qualquer nação. Até que não haja cidadãos de primeira e segunda classe de qualquer nação. Até que a cor da pele do homem não tenha mais importância do que a cor de seus olhos, digo guerra. Até esse dia, o sonho de paz duradoura, a cidadania mundial e o domínio da moralidade internacional permanecerão uma ilusão fugaz a ser perseguida, mas nunca alcançada, agora em todos os lugares há guerra.

Entre outros pontos, poderemos dizer que a sociabilidade atual se dá por meio da construção existente na diferença do povo, seja ela econômica ou racial, de todo modo, essa existência se dá pela acepção da relação entre os sujeitos econômicos, entre outras palavras, pode-se afirmar que a grande existência vertical do acúmulo predefinido pelo capitalismo é a zona crescente da oposição entre os povos.

Os capítulos da obra se dividem em 11 partes, cada qual desdobra-se sobre descrições precisas e históricas acerca da construção do elitismo no seio social, os capítulos analisam a desigualdade por diferentes óticas, o uso da ciência como descrição da seleção natural pré-existente e suas nuances, genética, o funcionamento e surgimento do elitismo, matrerialismo histórico e dialético e suas construções; política histórica e social, análise dos efeitos do elitismo histórico e cultural nos povos e na sociedade através do tempo, dentre outros.

A obra foi lida e indicada por Fernando Haddad como um tópico de extrema importância para leitura e informação, e devo acrescentar, ele está certo. Uma obra magistral que deve percorrer todo o seio social para que se alcance o maior número de leitores ao redor do mundo, uma análise precisa e cirúrgica.

O AUTOR

Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela Fundação Getulio Vargas, e mestre em Mudança Social e Participação Política pela Universidade de São Paulo. É autor dos livros A ascensão do bolsonarismo no Brasil do século XXITempestade perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil e Sobre perdas e danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil.

[RESENHA #566] Em busca de um teatro pobre, de Grotowski


APRESENTAÇÃO

Quase 50 anos após a primeira publicação de Em busca de um teatro pobre no Brasil, a Civilização Brasileira, republica a principal obra que revoluciona as artes cênicas no século XX, de maneira tão inovadora que segue relevante e oportuna para os dias atuais.

Com prefácio de Peter Brook, renomado diretor de teatro e cinema, Em busca de um teatro pobre volta para as prateleiras das livrarias brasileiras em nova primeira edição com layout de capa igual à original publicada em 1976.

Segundo Yan Michalski, importante teatrólogo polaco-brasileiro, fundador da Casa de Artes das Laranjeiras (CAL), neste livro:

“A pobreza do teatro pobre de Grotowski nada tem a ver com a pobreza do teatro brasileiro. A nossa pobreza é uma realidade de força maior imposta pelo nosso subdesenvolvimento; e em certos casos ela se manifesta de paradoxais exibições de opulência material. A pobreza de Grotowski é uma opção quase metafísica, resultante de uma aristocrática riqueza de tradições contraditórias, e da necessidade de fiar, a partir dessa massa de tradições, um ascético e sintético fio condutor que leve a corrente da comunicação cênica das raízes arquetípicas à sensibilidade dos nossos dias. […] O lançamento de Towards a Poor Theatre em português vai permitir-nos, finalmente, conhecer mais de perto esse tão longínquo pai espiritual, penetrar na densa matéria das suas reflexões, enriquecer-nos com a iluminadora inteligência das suas investigações; e, mais do que qualquer outra coisa, vai permitir-nos dissipar alguns mal-entendidos e localizar aquelas partes do pensamento grotowskiano que possam dizer respeito ao teatro brasileiro não só como cultura geral (pois neste sentido o livro todo é fascinante), mas também como método suscetível de ser concretamente aproveitado, com as indispensáveis adaptações, em nosso próprio caminho de experimentação teatral.” — Yan Michalski. Ator, diretor e crítico teatral.

Grotowski mostra em detalhes que o fundamento principal do teatro é a relação de atores e atrizes com os espectadores. Ler esse livro é tão bom como ver teatro.
[Marcus Vinícius Faustini, diretor teatral, documentarista e escritor]


RESENHA

"Em Busca de um Teatro Pobre", escrito pelo renomado diretor teatral polonês, Jerzy Grotowski, é uma obra fundamental para aqueles que desejam entender o conceito do "teatro pobre". O livro apresenta a visão única e inovadora de Grotowski sobre o teatro como forma de arte.

Ao longo da leitura, somos conduzidos por uma série de reflexões profundas e provocativas. Entre os temas abordados estão as relações entre ator e público, a importância da presença física em cena e a busca pela verdade emocional no trabalho dos atores. Grotowski defende que o teatro deve ser simples e acessível ao público em geral. Para ele, não é necessário ter grandes cenários ou figurinos elaborados para criar uma experiência significativa para quem assiste à peça. Em vez disso, enfatiza-se a importância do trabalho do ator na criação da atmosfera cênica.

O autor também discute questões mais amplas relacionadas ao papel do artista na sociedade contemporânea. Ele argumenta que o objetivo final do teatro não deve ser apenas entreter ou distrair as pessoas - mas sim ajudá-las a compreender melhor sua própria existência.

"Em Busca de um Teatro Pobre" é uma leitura essencial tanto para estudantes quanto profissionais das artes cênicas. A obra oferece insights valiosos sobre como criar performances autênticas e significativas através da simplicidade e honestidade no palco.

Grotowski argumenta que a presença física do ator em cena é essencial para criar uma experiência significativa para o público. Ele defende que o teatro deve ser despojado de elementos desnecessários - como cenários elaborados e figurinos extravagantes - e se concentrar na interação direta entre atores e espectadores.

Para Grotowski, o papel fundamental do ator é estabelecer um contato autêntico com o público. Ele enfatiza que isso não pode ser alcançado apenas através da técnica ou habilidade vocal, mas também requer um compromisso emocional profundo por parte dos artistas.

O autor destaca ainda a importância da verdade emocional no trabalho dos atores. Segundo ele, os intérpretes devem explorar suas próprias emoções pessoais para criar performances autênticas e significativas.

O livro foi recebido com entusiasmo pela crítica especializada na época de seu lançamento e continua sendo estudado e debatido até hoje.O período histórico em que o livro foi escrito é marcado pelo movimento da contracultura dos anos 60, que questionava os valores estabelecidos da sociedade ocidental. Nesse contexto, as ideias apresentadas por Grotowski sobre um teatro mais simples e acessível ao público foram vistas como uma resposta à cultura do entretenimento superficial.

A recepção crítica da obra foi amplamente positiva, destacando a visão única e inovadora de Grotowski sobre o papel do ator no teatro. Muitos elogiaram sua ênfase na presença física dos artistas em cena como forma de criar uma conexão autêntica com o público. Além disso, a abordagem emocionalmente autêntica também recebeu elogios por sua honestidade artística.

No entanto, algumas críticas apontavam que as ideias apresentadas no livro eram difíceis de serem aplicadas na prática ou limitavam-se apenas às produções experimentais da época. Outras questões levantadas incluíram a possibilidade das técnicas propostas por Grotowski serem elitistas ou exclusivas demais para alcançar grandes públicos.

Apesar desses pontos negativos levantados pela crítica especializada, "Em Busca de um Teatro Pobre" permanece como uma leitura essencial para qualquer pessoa interessada em entender a evolução do teatro moderno. A obra oferece uma visão única e provocativa sobre o papel do ator no palco, além de apresentar ideias que continuam influenciando as artes cênicas até hoje.

A obra republicada pela editora Civilização Brasileira, conta com as seguintes divisões: Em busca de um teatro pobre; o novo testamento do teatro; teatro é encontro; akropoles: tratamento do texto; doutor Fausto: montagem textual; o príncipe constante; ele não era inteiramente ele; investigação metódica; o treinamento do ator; a técnica do ator; o discurso de skara; o encontro americano e declaração de princípios.

A obra pode ser adquirida pelo preço R$59,90 no site do Grupo Editorial Record, ou por R$47,32, na Amazon.


O AUTOR

Jerzy Grotowski (1933-1999) foi um renomado diretor teatral polonês, conhecido especialmente pela sua obra "teatro pobre". Nascido em Rzeszów, na Polônia, ele estudou na Escola Superior de Teatro de Cracóvia antes de fundar seu próprio grupo experimental em 1957.

Ao longo dos anos 60 e 70, Grotowski tornou-se uma figura central no movimento da contracultura europeia. Ele desenvolveu técnicas inovadoras para o treinamento do ator e a criação de performances mais autênticas e significativas. Seus métodos enfatizavam a presença física dos artistas em cena e procuravam estabelecer uma relação autêntica com o público.

A principal obra associada ao conceito do "teatro pobre" é "Apocalypsis cum Figuris", encenada pelo Grupo Teatral Laboratório (Laboratorium Teatru), liderado por Grotowski. A peça foi apresentada pela primeira vez em Wrocław, na Polônia, em 1969. O espetáculo era composto apenas por sete atores sem cenários ou figurinos elaborados - um exemplo claro das ideias propostas pelo conceito do teatro pobre. Outras obras importantes do diretor incluem "Akropolis" (1962), baseada num texto de Stanislavsky; "Constant Prince" (1965); e "Dr Faustus Lights the Lights" (1967).

O trabalho revolucionário de Grotowski inspirou muitos outros artistas ao redor do mundo. Sua abordagem inovadora para o ensino da arte dramática criou uma nova maneira de pensar sobre o papel do ator no teatro moderno. Ele foi um defensor apaixonado da simplicidade cênica e da conexão emocional autêntica com o público.

Embora tenha deixado a cena teatral em meados dos anos 80, Grotowski continua sendo uma figura influente na história do teatro moderno. Sua obra "Em Busca de um Teatro Pobre" é considerada como uma das mais importantes reflexões sobre as artes cênicas já escritas, e seu legado continua a inspirar artistas ao redor do mundo até hoje.

Lançamentos do Grupo Editorial Record :: Maio


O grupo editorial Record é o maior conglomerado editorial da América Latina, sendo um conjunto editorial de 16 editoras:Record; Verus; Bertrando Brasil; José Olympio, BestSeller, Galera; Junior; Galerinha; Rosa dos tempos; Civilização brasileira; Paz e terra; Difel; Best Business. BestBolso; Viva Livros e Nova Era.  Confira abaixo os títulos recém lançados do grupo para o mês de Maio.













[RESENHA #525] Samba de enredo, de Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas


MUSSA, ALBERTO. Samba de enredo: história e arte / Alberto Mussa, Luiz Antonio Simas - 2ºed. rev, ampl. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2023.

Apresentação/sinopse Samba de enredo: história e arte surgiu em 2009, da parceria entre Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas, ambos escritores apaixonados pela cultura do samba. O livro apresenta análises minuciosas de sambas de enredo e suas relações com a história social do país. Em meio a ritmos, letras e personagens, leitores e leitoras conhecem o modo como esse gênero tipicamente brasileiro vem sendo construído e se desenvolvendo, de 1870 até a atualidade.

Para analisar a letra e o contexto desses sambas-enredos, Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas ouviram cerca de 1.600 canções gravadas, além de outras, que estão registradas na memória acumulada ao longo de vários carnavais.

Nesta nova edição, revista e ampliada, os autores atualizaram o livro com um posfácio, que trata das mudanças nos sambas de enredo, de 2010 a 2022. O texto de orelha é assinado pelo mestre Haroldo Costa. Tanto para quem deseja se iniciar no mundo do carnaval quanto para quem busca um aprofundamento, Sambas de enredo: história e arte é leitura essencial.


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O livro Samba de enredo é uma bibliografia acerca da história do samba e do gênero enredo, um gênero genuinamente brasileiro e das modificações estéticas sofridas ao longo dos anos. A obra é um estudo de anos de dedicação do autores, que dedicaram-se de corpo e alma à acompanhar o samba, o carnaval e todas as marchinhas e disputas de samba nas quadras, elucidando assim, o enredo discorrido nesta narrativa que percorre transições e criações poética das escolas de samba e suas capacidades de se reinventarem, quase que, espontaneamente. 


O samba de enredo, é, segundo o autor um poema que discorre e transcreve as alegorias do carnaval em uma estética única estabelecidas pela escola de samba. O livro narra acontecimentos históricos dentro e fora dos desfiles e seus efeitos na classificação do samba de enredo de como musicalidade poética e suas transfigurações até o dia de hoje, estabelecendo-se assim, uma linha do tempo tênue entre acontecimentos e formas de expressão das escolas durante o percurso de criação dos desfiles. Nota-se um estudo vasto acerca do tópico, percorrendo por assuntos que discorrem desde outros estilos até à consolidação do samba de enredo, bem como seu destaque dentre todos os outros subgêneros existentes dentro do samba, o que o caracterizou como algo único e inconfundível.


O livro divide-se em diversos capítulos que transitam entre a história do samba e a criação da identidade dentro dos gêneros, percorrendo entre os períodos clássicos [1951-1968] (p.55), época de ouro [1969-1989] (p.73), até o surgimento das escolas de samba de enredo (p.135).


A narrativa mostra-nos como o enredo consolidou-se como uma ferramenta de luta, tornando-se assim, característica de suas criações o enfrentamento de problemáticas sociais, temas de grande escala e importância social, o que pode caracterizar-se no capítulo época de ouro, que nos é mostrado a importância das letras de diferentes escolas de samba durante o período ditatorial. 


Para caminhada do samba dentre o ontem e o hoje, nota-se que o samba de enredo transformou-se inúmeras vezes e continua se transformando e se tornando inconfundível por quem o ouve, para onde ele vai? só o tempo dirá (p.201).


A obra finaliza com uma listagem de todas as composições originais de samba de enredo durante o passar das décadas. O livro é poético em suas estruturas, o samba está em todas as suas páginas, e é possível imaginar-se em um desfile curtindo o carnaval em um misto de samba e efervecência política em suas letras, uma obra majestosa.

[RESENHA #502] Blumfeld, um solteirão de mais idade e outras histórias

 

ISBN-13: 9788520013557
ISBN-10: 8520013554
Ano: 2018 / Páginas: 336
Idioma: português
Editora: Civilização Brasileira

36 contos de Franz Kafka, traduzidos diretamente do alemão pelo premiado tradutor e escritor Marcelo Backes. Além de narrativas mais conhecidas no Brasil, como "Josefine, a cantora" e "Um artista da fome", o livro traz contos inéditos, como "O guarda da cripta", único drama que escreveu. Os textos têm como marca os limites da estranheza e daquilo que é considerado menor ou desimportante.

Os personagens não estão no lugar opressor, e até mesmo aqueles que realizam grandes feitos importam pelo próprio fracasso – como o mítico Ulisses, que se lança com bravura às sereias, porém incapaz de perceber que elas não apresentam qualquer perigo, pois não sentem necessidade de seduzi-lo. Ao traduzir, Marcelo Backes não se ilude com o silêncio das sereias e busca restabelecer de forma original, em português, as escolhas de Kafka, de maneira que seja possível levar o leitor à obra traduzida, e não a transportar, de arestas aparadas, ao encontro do leitor.

Contos / Literatura Estrangeira


À medida que me aprofundo na obra de Kafka, meu amor por ele só aumenta. Recentemente, a coletâneaBLUMFELD, UM SOLTEIRÃO DE MAIS IDADE E OUTRAS HISTÓRIAS, editada por Marcelo Backes, foi a responsável por reavivar meu interesse por esta grande figura. Talvez seja a maior antologia já publicada aqui no Brasil. A tradução desta edição nos traz de volta ao universo kafkiano, repleto de personagens solitários e desiludidos, cuja situação de eterno solteirão é um símbolo da impossibilidade da autonomia e liberdade humanas diante do sistema burocrático. A coletânea traz também a beleza do campo, tentando equilibrar a tristeza do destino humano nas obras de Kafka.

Enquanto caminho pela grande praça, sinto um prazer estranho. A beleza do absurdo me fascina, pois a realidade da vida é tão mais interessante do que a lógica da razão. O insólito é naturalizado, e as leis que nos são impostas são desmascaradas. O vento sudoeste agita o ar e a ponta da torre da prefeitura descreve pequenos círculos. O silêncio é a melhor resposta para o empurra-empurra, e as vidraças das janelas e os postes da iluminação pública se dobram como bambus. O manto da Virgem Maria se enfuma sobre o pedestal, e o vento tempestuoso lhe dá arrancos. É um prazer estranho, mas tão cativante, que fico me encantando com essa beleza singular. Ninguém nota aquela cena? Os senhores e senhoras que deveriam andar pelas pedras pairam no ar. Quando o vento começa a soprar, eles se cumprimentam com palavras suaves e reverências, mas quando ele se torna mais forte, eles erguem seus pés ao mesmo tempo. Embora tenham de segurar seus chapéus com força, seus rostos ainda estão alegres, como se o clima fosse ameno. Só eu sinto medo.

"O Abutre", contido na coletânea, é o texto mais perturbador que já li. Um trecho desse relato: "O abutre ficou ouvindo em silêncio durante a conversa, deixando seu olhar passear entre mim e o homem. De repente, ele levantou voo e golpeou o meu rosto com o bico, como se fosse um projétil. Ao cair para trás, senti-o se afogar no meu sangue, que enchia todas as profundezas e inundava todas as margens".

Os contos desta obra nos permitem conhecer melhor a figura do pai presente em histórias comoOnze filhos eA preocupação de um pai de família, assim como a luta solitária de Blumfeld, que tentou quebrar sua maldição de solteirão eterno. Uma jornada aos confins da alma humana que certamente se revelará surpreendente.

O pai deOnze filhos também é um personagem desprezado; ainda que exerça seu papel com responsabilidade, a família não consegue seguir sua orientação. Os personagens de Franz Kafka presentes na sua obra têm em comum o fato de serem vítimas de algum tipo de abuso, como o próprio Solteirão Blumfeld, que é perseguido pelas duas bolas vivas em seu quarto, ou o pai de família, que tem de enfrentar o estranho Odradrek:Ele permanece, mudando sempre de lugar, no sótão, nas escadarias, nos corredores e no saguão. Às vezes, não pode ser visto durante meses; é quando por certo se mudou para outras casas; mas depois acaba voltando inescapavelmente à nossa casa. Às vezes, quando saímos pela porta e ele se encontra apoiado ao corrimão, lá embaixo, até temos vontade de dirigir a palavra a ele. É claro que não fazemos nenhuma pergunta complicada a ele, mas o tratamos e já seu tamanho diminuto seduz a isso como uma criança.
Como é que tu te chamas? pergunta-se a ele.
Odradek diz ele.
E onde tu moras?
Moradia indeterminada diz ele e ri; mas é apenas uma gargalhada conforme se pode produzi-la sem ter pulmões. Soa mais ou menos como o farfalhar de folhas caídas. Na obra kafkiana, os pais são vistos como seres oprimidos que enfrentam os absurdos da vida.

Muitos relatos longos foram escritos por Kafka, principalmente nos seus últimos anos. O mais misterioso é "Investigações de um Cão". Acredito, sem qualquer prova, que seja uma alegoria de sua relação com o judaísmo (ele desejava se mudar para a Palestina e trabalhar em um Kibutz). Suas obsessões como escritor e suas neuroses o mantiveram preso em um círculo vicioso. Seu pensamento retroativo sobre seu tempo como cão entre outros cães revelou que, mesmo em meio aos mais íntimos, havia algo errado em sua vida, uma pequena disrupção, um leve desconforto. A simples visão de um cão que lhe era amigo o assustava, desamparava-o e até o deixava desesperado.

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