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Resenha: O feijão e o sonho, de Orígenes Lessa



SINOPSE: O feijão e o sonho narra o relacionamento conflitante entre Campos Lara e sua esposa Maria Rosa, dois seres antagônicos, mas incrivelmente unidos. Ele, professor, escritor com seis livros publicados e intelectual, porém um alienado incapaz de ser um pai e marido comprometido em assumir as mínimas obrigações do dia a dia – moradia, alimentação, vestuário.

Maria Rosa, ao contrário, representa o senso prático da vida, o esteio para a família não desmoronar. Um inadaptado. Homem como ele não nascera para o casamento, para a vida do lar. Maria Rosa tinha razão, quase sempre. Ela era o Bom-Senso. Maria Rosa não era uma inimiga. Maria Rosa era o outro lado da vida. O lado em que não daria coisa nenhuma, em que ele sempre fracassaria. O duro. O difícil. O sem cadência nem rima. O do seu permanente naufrágio. Uma história humana e envolvente sobre a difícil arte de conviver.

RESENHA

"O Feijão e o Sonho" é um romance do autor brasileiro Orígenes Lessa, lançado em 1938. A história acompanha Campos Lara, um poeta imerso em seus sonhos literários, desconsiderando as realidades práticas da luta pela sobrevivência. Casado com Maria Rosa, o casal enfrenta um desajuste constante. A família depende de Chico Matraca, o chefe de Lara, que recebe um salário mensal bastante modesto.

"O Feijão e o Sonho", de Orígenes Lessa, é uma obra que retrata de forma sensível e profunda a complexidade das relações familiares e as dificuldades enfrentadas por um casal em meio à luta por sobrevivência e realização pessoal. A narrativa gira em torno de Maria Rosa, uma mulher que se vê sobrecarregada com as responsabilidades do lar e da educação dos filhos, e de Campos Lara, seu marido, um poeta em busca de reconhecimento e sucesso literário.

Maria Rosa é uma figura central na história, representando a força e a resiliência das mulheres que carregam o peso das obrigações familiares. A rotina dela é marcada por uma agitação constante: acorda cedo, prepara o café, cuida da casa e se desdobra para lidar com as travessuras das crianças. A tensão em seu relacionamento com Juca, como ela carinhosamente chama Campos Lara, é palpável. Ele, frequentemente alheio às dificuldades que ela enfrenta, embarca em suas ambições literárias, enquanto Maria Rosa se sente cada vez mais sobrecarregada. Sua frustração é evidente, e ela lamenta a falta de apoio do marido, que parece mais interessado em seus personagens fictícios do que nos desafios reais da vida familiar.

Os diálogos entre os personagens revelam o caos do dia a dia. As interações com as crianças são uma fonte de conflito, e Maria Rosa tenta impor disciplina em meio à indisciplina. Sua autoritariedade, no entanto, é acompanhada por uma sensação de impotência. Juca, por sua vez, embora bem-intencionado, não consegue contribuir efetivamente, o que apenas intensifica a irritação de Maria Rosa.

A narrativa também destaca a dualidade entre a vida doméstica de Maria Rosa e a vida profissional de Juca, que é professor. Enquanto ele tem paixão pela educação, enfrenta desafios com a falta de comprometimento dos alunos e a desorganização do ambiente escolar. Essa dicotomia entre a vida pessoal e profissional de ambos os personagens ilustra as dificuldades que enfrentam em suas respectivas esferas, revelando a luta diária das mulheres e as dinâmicas familiares complexas.

À medida que a história avança, a gravidez de Maria Rosa traz novas complicações emocionais e físicas. A pressão da maternidade e a solidão se tornam mais intensas, especialmente quando Lara se afasta ainda mais, mergulhado em suas criações literárias. A transformação de Maria Rosa, passando de uma mulher cheia de sonhos e esperanças para uma figura que enfrenta angústias e frustrações, é marcante. A relação entre eles se deteriora à medida que ela se sente isolada e desvalorizada, e a repulsão que começa a sentir por Juca reflete a crescente distância entre suas vidas.

A chegada de um novo filho traz um misto de alegria e novas responsabilidades. A felicidade pela família se expande é ofuscada pela realidade financeira e as dificuldades que persistem. Apesar do sucesso de Campos Lara como romancista, a vida familiar continua a ser uma luta diária. A tensão entre suas aspirações artísticas e as necessidades práticas da vida familiar se intensifica, levando a um ciclo de insatisfação e descontentamento que permeia a obra.

O romance, bem recebido pela crítica, oferece um vislumbre da glória momentânea de Lara, mas também destaca a fragilidade de suas conquistas. O dinheiro entra na casa, mas as dívidas continuam a se acumular, e Maria Rosa, que havia encontrado um certo alívio, logo se vê diante de novas preocupações. A relação entre eles é marcada por um desequilíbrio, com Campos Lara se distanciando cada vez mais das responsabilidades da paternidade e do casamento.

A obra explora temas como a luta por reconhecimento, a tensão entre sonho e realidade, e as dificuldades emocionais da maternidade. Campos Lara, diante de seu sucesso, reflete sobre sua identidade como poeta e suas limitações como provedor. Ele se questiona sobre o que realmente pode oferecer à sua família, enquanto a solidão e a frustração criativa o consomem. A narrativa culmina em um retrato da solidão do artista, que, apesar de alcançar a glória literária, se vê isolado e desiludido em sua vida pessoal.

Em última análise, "O Feijão e o Sonho" é uma reflexão poderosa sobre as escolhas que fazemos, as consequências dessas escolhas e a busca incessante por um equilíbrio entre os sonhos e as obrigações da vida cotidiana. A obra de Lessa é um convite à empatia, que nos leva a refletir sobre o papel da mulher, a natureza da ambição e a complexidade das relações humanas em um mundo em constante transformação.

Os 40 livros mais importantes da literatura brasileira

A literatura brasileira é uma das mais ricas e diversas do mundo, abrangendo uma ampla gama de gêneros, estilos e temas que refletem a complexidade e a riqueza cultural do país. Ao longo dos séculos, inúmeros autores brasileiros produziram obras-primas que se tornaram marcos fundamentais da nossa identidade literária.

Após uma análise cuidadosa de diversas listas e rankings renomados, chegou-se a um consenso sobre os 40 livros mais importantes da literatura brasileira. Esta seleção inclui obras-chave de diferentes épocas e movimentos literários, desde os clássicos do Romantismo e Realismo até as inovações modernistas e contemporâneas. 

Nesta lista, encontramos obras-primas de autores consagrados, como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Graciliano Ramos, que ajudaram a construir a identidade da literatura nacional. Também estão presentes obras seminais de outros grandes nomes, como Euclides da Cunha, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro e Rubem Fonseca, entre muitos outros. 

Essa seleção representa a riqueza, a diversidade e a importância da literatura brasileira, abrangendo uma ampla gama de gêneros, estilos e temas que refletem a complexidade cultural do país. Ela serve como um guia essencial para aqueles que desejam se aprofundar no estudo e na apreciação da nossa literatura. 

Aqui estão os 40 livros mais importantes da literatura brasileira, com base nas listas fornecidas nos resultados de pesquisa:

1. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis


Obra-prima de Machado de Assis, narra a vida e morte de Brás Cubas, homem rico e influente da sociedade carioca do século XIX. Através de um narrador-personagem já falecido, o romance subverte as expectativas do leitor, expondo hipocrisia, futilidades da vida social e questionando a própria natureza da realidade. Brás Cubas, em tom satírico e melancólico, revela seus amores fracassados, ambições frustradas e a farsa da vida burguesa, tecendo um retrato ácido da elite brasileira e da efemeridade da existência humana.

2. Dom Casmurro, Machado de Assis

Obra-prima de Machado de Assis, narra a história de Bentinho, desde sua juventude na Rua de Matacavalos até a velhice, marcada por um amor obsessivo e duvidoso por Capitu. O romance acompanha a trajetória de Bentinho, desde seu namoro com Capitu, passando pelo casamento e pelo nascimento do filho, até o surgimento de suspeitas de traição por parte de Capitu com seu melhor amigo, Escobar.

3. Grande Sertão: Veredas, João Guimarães Rosa

Obra-prima de João Guimarães Rosa, narra a saga de Riobaldo, um jagunço sertanejo que, em meio à aridez do sertão e às lutas renhidas, busca compreender seu destino e a complexa relação com Diadorim, figura enigmática que o fascina e o perturba. Em um fluxo de consciência envolvente, Riobaldo tece memórias, reflexões filosóficas e episódios marcantes de sua vida, explorando temas como o amor, a morte, a fé, a violência e a busca por identidade em um mundo marcado pela dureza da vida sertaneja. 

4. Vidas Secas, Graciliano Ramos


Em "Vidas Secas", Graciliano Ramos narra a dura saga de Fabiano, Sinhá Vitória e seus dois filhos, encurralados pela seca implacável do sertão nordestino. A família, impelida pela fome e pela desesperança, migra em busca de sobrevivência, enfrentando a aridez da caatinga, a exploração dos coronéis e a morte da cachorra Baleia. A narrativa crua e poética retrata a luta pela dignidade humana em um cenário de desolação, onde a esperança teima em brotar mesmo nos momentos mais sombrios.

5. Os Sertões, Euclides da Cunha

Em Os Sertões, Euclides da Cunha tece um retrato épico da Guerra de Canudos (1896-1897), conflito sangrento entre o Exército brasileiro e os seguidores de Antônio Conselheiro no sertão baiano. A obra, dividida em três partes, mergulha na aridez do sertão ("A Terra"), desvenda a alma do sertanejo ("O Homem") e narra com detalhes as expedições militares e a heróica resistência de Canudos ("A Luta"). Mais que um relato histórico, Os Sertões é um estudo sociológico, antropológico e literário que consagra Euclides da Cunha como um dos maiores autores brasileiros. 

6. Macunaíma, Mário de Andrade

Em Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter, Mário de Andrade narra a saga de um indígena anti-herói que, após perder sua preciosa muiraquitã, parte em uma jornada pela Amazônia e pela metrópole paulista em busca de recuperá-la. Através de aventuras mirabolantes e encontros com personagens excêntricos, Macunaíma experiencia a cultura brasileira em suas diversas facetas, desde a tradição indígena até a modernidade urbana, questionando valores e identidade nacional. A narrativa, marcada pela linguagem inovadora e pela experimentação formal, consagra-se como um marco do modernismo brasileiro. 

7. A Paixão Segundo G.H., Clarice Lispector

Em A Paixão Segundo G.H., acompanhamos G.H., uma mulher que, após demitir sua empregada doméstica, decide limpar o quarto de serviço. Essa tarefa aparentemente simples se transforma em uma profunda jornada interior, onde G.H. questiona sua própria existência, seus valores e seu lugar no mundo. Ao se deparar com uma barata no quarto, G.H. a esmaga, ato que desencadeia uma série de reflexões sobre a vida, a morte, a violência e a natureza humana. O livro explora os meandros da mente de G.H., com sua linguagem poética e densa, enquanto ela busca entender suas paixões, seus medos e seu papel no universo.

8. São Bernardo, Graciliano Ramos

Paulo Honório, ex-funcionário público, decide se aventurar na pecuária no sertão nordestino, buscando redenção e recomeço.Enfrentando a aridez do clima, a solidão e a hostilidade dos sertanejos, Paulo luta para sobreviver e adaptar-se à nova realidade. A experiência o transforma, levando-o a questionar seus valores e a confrontar a dura realidade da vida no sertão.

9. Angústia, Graciliano Ramos

Em Angústia, Graciliano Ramos apresenta Luís da Silva, um funcionário público atormentado por crises existenciais e pela obsessão por Carolina, sua noiva. A narrativa acompanha o declínio psicológico de Luís, que se afunda em paranoia e violência, culminando em um crime brutal e na sua própria destruição. O romance explora temas como a solidão, a incomunicabilidade, a loucura e a crítica social, traçando um retrato sombrio da interioridade humana e da sociedade brasileira da época.

10. Sagarana, Guimarães Rosa

Sagarana, obra-prima de Guimarães Rosa, desvenda o universo do sertão mineiro através de contos interligados. A narrativa acompanha personagens singulares em suas lutas, amores e reflexões existenciais, tecendo um mosaico vívido da vida rural brasileira. Do burrinho Sete-de-Ouros à saga de Manuel Fulô e à vingança de Turíbio, os contos exploram temas como a solidão, a violência e a busca por significado em meio à aridez do sertão. Através de uma linguagem poética e inovadora, Guimarães Rosa dá voz à alma do povo sertanejo, revelando sua força, sua sabedoria e sua profunda conexão com a terra. 

11. Quincas Borba, Machado de Assis

obra-prima de Machado de Assis, narra a história de Rubião, um professor pacato de Barbacena que herda a fortuna e os ensinamentos filosóficos nada ortodoxos de seu amigo Quincas Borba. Influenciado pelas ideias deterministas e pessimistas do filósofo, Rubião embarca em uma jornada de ascensão social na corte carioca, guiado pela máxima "Ao vencedor, as batatas!". Sua obsessão por status e riqueza o leva a tomar decisões questionáveis e a se envolver em situações caóticas. A obsessão com a filosofia de Quincas Borba o faz delirar, acreditando ser Napoleão III. Em meio à loucura, Rubião perde tudo e retorna à Barbacena, onde vive seus últimos dias recluso e abandonado.

12. Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida


obra de Manuel Antônio de Almeida, narra a vida simples e divertida do protagonista Leonardo Pataca, um sargento de milícias na cidade do Rio de Janeiro durante o período colonial. A história acompanha as trapalhadas e amores de Leonardo, desde seu nascimento até a velhice, revelando um retrato bem-humorado da sociedade carioca da época, marcada por costumes singelos, vaidades e preconceitos. Com linguagem coloquial e humor ácido, o romance oferece uma crítica social leve e irônica, expondo as hipocrisias e desigualdades da época, tudo através das aventuras e desventuras do inesquecível Leonardo Pataca.

13. Eu, Augusto dos Anjos

Em "Eu", poema central da obra "Eu e Outras Poesias", Augusto dos Anjos tece uma autorreflexão profunda e pessimista sobre a própria existência. Através de imagens fortes e linguagem rica em metáforas e termos científicos, o poeta se descreve como um ser atormentado, marcado pela finitude da vida e pela decomposição do corpo. A angústia com a morte e a busca por respostas sobre o sentido da existência permeiam todo o poema, culminando em um questionamento existencial sem resolução.

14. A Hora da Estrela, Clarice Lispector


Em "A Hora da Estrela", Clarice Lispector tece a história de Macabéa, uma migrante nordestina que luta para sobreviver na metrópole carioca. A narrativa se desenrola entre a dura realidade da personagem e as reflexões filosóficas do escritor Rodrigo S. M., que acompanha e tenta compreender a existência solitária de Macabéa. Em meio à miséria e à invisibilidade social, a protagonista busca um sentido para sua vida, questionando a própria existência e almejando um futuro melhor, que tragicamente lhe é negado.

15. Laços de Família, Clarice Lispector

Em "Laços de Família", Clarice Lispector tece um mosaico de 13 contos que exploram, com maestria e sensibilidade, as complexas relações familiares e seus efeitos na alma humana. Através de personagens singulares e situações aparentemente banais do cotidiano, a autora desnuda os conflitos, ressentimentos, amores, segredos e anseios que permeiam os laços familiares. Mergulhando na psique de seus personagens, Clarice nos convida a questionar as estruturas sociais e os papéis pré-definidos, nos confrontando com a busca incessante por identidade e autenticidade em um mundo permeado por expectativas e frustrações. Prepare-se para se emocionar, refletir e questionar tudo o que você pensava saber sobre família neste livro que é um marco na literatura brasileira. 

16. Os Ratos, Dyonélio Machado

Em meio à pobreza e à agitação da Porto Alegre dos anos 1930, o angustiado Naziazeno Barbosa perambula pelas ruas em busca de um valor insignificante: o pagamento de uma dívida com o leiteiro. Sua jornada o confronta com as duras realidades da vida urbana, a miséria e a indiferença, tecendo um retrato pungente da marginalização e da solidão na sociedade brasileira. Através da prosa densa e inovadora de Dyonelio Machado, "Os Ratos" se consagra como um marco do modernismo nacional, explorando os meandros da psique humana e expondo as feridas sociais de uma época. 

17. O Tempo e o Vento, Erico Veríssimo

obra prima de Érico Verissimo, acompanha a saga das famílias Terra Cambará através de gerações, desde a colonização do Rio Grande do Sul até meados do século XX.

Ao longo de três volumes - O Continente, O Retrato e O Arquipélago - o romance tece um panorama épico da formação da região, marcado por conflitos políticos, lutas pela terra, amores e traições. Personagens como Bibiana Terra, Lizardo Guaraci e Pedro Terra marcam a narrativa com suas ambições, paixões e dramas, entrelaçando seus destinos à história do sul do Brasil.

Em meio à grandiosidade do tempo e da terra, O Tempo e o Vento explora temas universais como a busca pelo poder, a força do amor e a passagem do tempo, consagrando-se como um dos romances mais importantes da literatura brasileira.

18. Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto

Em Morte e Vida Severina, acompanhamos a jornada de Severino, um retirante nordestino em busca de salvação da seca que assola o sertão. Através de encontros com figuras como o Mestre Severino, a Balança e o Capataz, ele reflete sobre a vida, a morte e a fé, questionando seu destino e buscando um futuro melhor. Ao presenciar o nascimento do filho de um casal de retirantes, Severino encontra a esperança e a força para seguir em frente, reconhecendo a vida como um ciclo de lutas e recomeços.

19. Vestido de Noiva, Nelson Rodrigues

O Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, acompanha a trajetória de Alaíde, desde o dia do seu casamento até a sua morte trágica em um atropelamento. Em meio à realidade fragmentada e alucinatória da obra, Alaíde revisita memórias dolorosas, confronta-se com a culpa e o remorso, e questiona a própria sanidade. A peça explora temas como traição, paixão, obsessão e morte, traçando um retrato psicológico complexo da protagonista e tecendo uma crítica mordaz à sociedade da época.

20. Serafim Ponte Grande, Oswald de Andrade

Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade, acompanhamos a história de Serafim, um funcionário público peculiar que vive em São Paulo durante a década de 1920, logo após a guerra civil. Serafim se rebela contra as normas sociais e políticas da época, utilizando ironia e sarcasmo para questionar as estruturas de poder. Em meio a uma cidade em ebulição, ele se envolve em uma revolução, rouba o dinheiro dos revolucionários e foge para a Europa, buscando sua liberdade individual.

21. Crônica da Casa Assassinada, Lúcio Cardoso

Em Crônica da Casa Assassinada, Lúcio Cardoso tece uma narrativa densa e complexa através de cartas que revelam os segredos obscuros da família Prado. Através da decadência da imponente casa-grande em Minas Gerais, acompanhamos os dramas e tormentos de personagens marcados por desejos renegados, traições e violências. A história se desenrola em meio à decadência da aristocracia rural, expondo as relações incestuosas, os jogos de poder e a busca incessante por prazeres proibidos que corroem os personagens e destroem a harmonia familiar. 

22. Os Escravos, Castro Alves

Em Os Escravos, Castro Alves tece um mosaico de poemas que denunciam a brutalidade da escravidão no Brasil. Através de versos carregados de emoção e imagens vívidas, o poeta retrata o sofrimento dos cativos, desde o sequestro na África até a vida desumana nas senzalas.

Ao longo da obra, Castro Alves explora diferentes aspectos da escravidão, como a dor da separação das famílias, a violência física e psicológica, a exploração do trabalho e a negação da liberdade. O poeta também dá voz aos próprios escravos, permitindo que expressem seus sonhos, suas angústias e sua resistência à opressão.

Os Escravos se consagra como um marco na literatura brasileira por sua força poética e seu compromisso social. A obra de Castro Alves contribuiu significativamente para o debate sobre a abolição da escravidão no Brasil, servindo como um poderoso instrumento de conscientização e mobilização da sociedade.

23. O Guarani, José de Alencar


O Guarani, obra-prima do Romantismo brasileiro, narra a história de amor proibido entre Peri, um índio guerreiro da tribo dos Goitacás, e Ceci, jovem donzela prometida em casamento ao avarento e cruel Loredano. Em meio à colonização portuguesa do Brasil e conflitos entre colonizadores e indígenas, o amor dos protagonistas enfrenta provações e perigos, entrelaçando-se com a luta pela sobrevivência da tribo de Peri e a busca por justiça contra a opressão

24. Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles

Romanceiro da Inconfidência, obra de Cecília Meireles publicada em 1953, apresenta em 85 romances a narrativa da Inconfidência Mineira, desde seus antecedentes até o desfecho do movimento. Através de versos ricos em simbolismos e imagens, a poetisa dá voz aos inconfidentes, explorando seus anseios, ideais e o contexto histórico da época. A obra se destaca por sua linguagem acessível, capaz de cativar o leitor e transmitir com maestria o drama da luta pela independência em Minas Gerais. 

25. Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto

Triste Fim de Policarpo Quaresma, obra de Lima Barreto, acompanha a trajetória de Policarpo Quaresma, um patriota fervoroso que dedica sua vida à grandiosidade do Brasil. Em suas missões idealistas, Quaresma enfrenta a incompreensão e o ridículo, desde a tentativa de tornar o Tupi-Guarani língua oficial até a luta por uma moeda nacional. 

Desiludido com a falta de patriotismo e a realidade corrompida da República, Quaresma se alia ao governo autoritário de Floriano Peixoto. Enganado e acusado de traição, o major é preso e condenado à morte, vivenciando um triste fim que reflete a crítica social presente na obra.

26. As Meninas, Lygia Fagundes Telles

Em meio à repressão da Ditadura Militar brasileira, o romance "As Meninas", de Lygia Fagundes Telles, acompanha a vida de três jovens universitárias que residem na mesma pensão: Lorena, Ana Clara e Lia. Cada uma com suas origens e dramas particulares, as protagonistas se veem envolvidas em um turbilhão de emoções e experiências enquanto navegam pelos desafios da juventude, do amor e da luta contra o regime autoritário. 

A narrativa se desenrola em 1969, entre os muros da pensão e as ruas de São Paulo, permeada por momentos de amizade, sororidade e resistência. As jovens se deparam com a realidade brutal da tortura e da censura, enquanto buscam encontrar seus próprios caminhos em um país sufocado pela opressão. 

"As Meninas" se destaca como um retrato pungente da época, tecendo uma história que transcende o tempo e se torna um símbolo da luta por liberdade e justiça.

27. Sermões, Padre Vieira

Sermões, do Padre Antônio Vieira, não se trata de um enredo único, mas sim de uma coletânea de mais de 200 sermões proferidos ao longo da vida do autor. Cada sermão apresenta um tema específico, abordando desde questões teológicas e filosóficas até críticas sociais e políticas da época. 

Entre os temas mais recorrentes estão a efemeridade da vida, a condenação do pecado, a importância da fé e da caridade, e a necessidade de conversão autêntica. Vieira utiliza uma linguagem rebuscada e rica em recursos literários, como metáforas, analogias e hipérboles, para prender a atenção do público e transmitir suas mensagens de forma persuasiva e impactante.

Sua obra é considerada um marco da literatura barroca portuguesa e brasileira, sendo admirada por sua eloquência, erudição e compromisso com a justiça social. 

28. Navalha na Carne, Plínio Marcos

Em "Navalha na Carne", Plínio Marcos nos leva ao claustrofóbico quarto de um bordel, onde a prostituta Neusa Sueli vive sob o jugo do cafetão Vado. A miséria e a violência marcam o dia a dia dos personagens, enquanto a presença do homossexual Veludo intensifica as tensões e explora a marginalização dos indivíduos. Entre traições, desejos reprimidos e a busca por um escape da realidade brutal, a peça desnuda a sordidez da vida à margem da sociedade, tecendo um retrato pungente da condição humana em seus limites.

29. A Obscena Senhora D, Hilda Hilst

Aos sessenta anos, após a morte do marido, Hillé, a Senhora D, se vê imersa em um luto profundo e solitário. Em um ato radical, decide se refugiar no vão da escada de sua casa, buscando refúgio na reclusão e no silêncio. Através de um fluxo de consciência intenso, Hillé confronta as memórias do passado, questiona o sentido da vida e da morte, e busca romper com as amarras da sociedade e da própria sanidade. Em sua jornada introspectiva, ela experimenta a obscuridade e a loucura, buscando transcender os limites da linguagem e da razão para alcançar uma verdade autêntica e libertadora. 

30. Nova Antologia Poética, Mário Quintana

"Nova Antologia Poética", coletânea organizada pelo próprio Mário Quintana em 1980, reúne poemas de diversas fases da sua carreira, explorando temas como humor, cotidiano, infância, misticismo e o amor. Através de uma linguagem simples e direta, o poeta convida o leitor a um mergulho em suas reflexões sobre a vida, o tempo e a condição humana, tecendo versos que mesclam lirismo, ironia e sensibilidade. A obra se configura como um convite à contemplação da beleza e do mistério da existência, permeada por um olhar atento e sensível ao mundo que nos cerca.

31. Nova Antologia Poética, Vinícius de Moraes

Nova Antologia Poética, organizada por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz, não possui um enredo narrativo como um livro de ficção.

Em vez disso, a obra reúne uma seleção criteriosa de poemas de Vinicius de Moraes, traçando um panorama abrangente de sua rica e complexa produção poética.

Dividida em cinco partes, a antologia apresenta poemas de diferentes fases da vida do autor, desde a juventude modernista até a maturidade engajada, revelando a evolução de sua voz poética e a multiplicidade de temas que explorou ao longo de sua carreira.

32. O cortiço, de Aluísio Azevedo

Aluísio Azevedo retrata as péssimas condições de vida dos moradores dos cortiços cariocas neste romance estrelado por dois imigrantes portugueses. A linguagem rebuscada do autor naturalista do século XIX é traduzida para os dias de hoje por meio das notas comentadas de Fátima Mesquita.

33. Paulicéia Desvairada, Mário de Andrade

Em versos livres e linguagem inovadora, a obra captura a frenética São Paulo de 1920, marcada pela imigração, industrialização e explosão demográfica. Através da figura do "homem-multifacetado", o poeta celebra a diversidade cultural da metrópole, os contrastes entre tradição e modernidade, e a alienação do indivíduo na vida urbana.

34. I-Juca Pirama, Gonçalves Dias

I-Juca Pirama, poema épico-dramático de Gonçalves Dias, narra a história de um jovem guerreiro Timbira capturado por tribos inimigas. Condenado à morte, ele canta seu canto de guerra e relata sua trajetória de bravura e sofrimento. Ao final, sua amada, Açuí, se sacrifica para salvá-lo, e juntos transcendem para a imortalidade na forma de estrelas.

O poema explora temas como heroísmo, amor, perda e a cultura indígena brasileira, em um contexto de conflitos entre tribos e a chegada dos colonizadores portugueses.

35. Baú de Ossos, Pedro Nava

Pletórico e envolvente na melhor tradição dos grandes ciclos romanescos, Baú de ossos reconstitui a genealogia dos antepassados e os primeiros anos da infância do autor. Amigo de escritores, políticos e intelectuais eminentes como Carlos Drummond de Andrade, Juscelino Kubitschek e Afonso Arinos de Melo Franco, descendente de famílias ilustres de Minas Gerais e do Ceará, testemunha privilegiada da história do Brasil no século XX, médico respeitado no país e no exterior, o juiz-forano Pedro Nava deu início à redação de suas memórias em 1968, aos 65 anos. Até então um “poeta bissexto” - na célebre designação de Manuel Bandeira -, quase desconhecido fora dos restritos círculos modernistas, Nava assombrou o país em 1972 com a publicação da primeira parte da saga, Baú de ossos. O livro, ao qual se seguiriam outros cinco extensos títulos e um volume póstumo, impressionou público e crítica pela maestria de sua escrita, que em muitos momentos se aproxima da melhor ficção, e pela precisão da reconstituição dos detalhes do passado mais remoto. Muito além de uma mera crônica autobiográfica, Nava realiza um vasto panorama da sociedade e da cultura brasileiras no século XIX e no início do século XX. Baú de ossos se inicia com a descrição dos antecedentes genealógicos da família do autor, divididos entre Minas, o Nordeste e os burgos e castelos europeus onde viveram seus antepassados aristocráticos. Em seguida, sempre entremeando fatos históricos, observações pitorescas e anedotas familiares com suas primeiras lembranças, o autor narra acontecimentos vividos até seus oito anos de idade, marcados pela traumática morte de seu pai.

36. Iracema, José de Alencar

Iracema, a virgem dos lábios de mel e cabelos negros como a asa da graúna, encanta o português Martim, que se apaixona por ela em meio à grandiosidade da natureza cearense.

No entanto, seu amor é proibido, pois Iracema é consagrada à divindade Tupã e deve guardar o segredo da jurema, um licor sagrado.

Enfrentando costumes e crenças, os amantes fogem e constroem uma nova vida, defendendo seu amor e fundando a aldeia de Iracema, que se torna símbolo da miscigenação entre índios e portugueses.

37. A Rosa do Povo, Carlos Drummond de Andrade

Publicado em 1945, A rosa do povo é o livro politicamente mais explícito de Drummond. É um poderoso olhar sobre a Segunda Guerra, a cisão ideológica, a vida nas cidades, o amor e a morte. Tudo isso é observado a partir daquela que então era a capital do país. O Rio de Janeiro, nossa primeira grande cidade cosmopolita, ocupa uma posição privilegiada nos poemas, a ponto de muitos críticos compararem a visão de cidade expressa pelo autor mineiro àquela de Charles Baudelaire (1821-1867), o poeta francês que foi o primeiro grande cantor da experiência urbana. Pois é escrevendo a partir desse Rio de Janeiro que se urbanizava freneticamente, dando as costas ao passado, que Drummond fala da guerra e de seus desdobramentos no continente europeu e presta seu tributo aos milhões de civis que pereceram no conflito, além de refletir sobre a própria possibilidade de expressar todos esses acontecimentos em verso. Formalmente falando, A rosa do povo é um livro que pertence ao alto modernismo, em que Drummond experimenta o verso espraiado à maneira de Walt Whitman, ironiza o passado literário brasileiro e exercita as mais diversas formas e dicções nos cinquenta e cinco poemas reunidos no volume. Com sua beleza e profundidade, A rosa do povo traz um Drummond de vasto escopo temático. A personalidade do poeta, a família, o cotidiano e a História comparecem com inaudita força neste livro. Trata-se de um testemunho de suas ideias e afetos num momento da vida em que experimentava a maturidade e já começava a olhar para o passado enquanto captava, como poucos autores, os sinais confusos de seu próprio tempo.

38. Libertinagem, Manuel Bandeira

Publicado em 1930, Libertinagem, de Manuel Bandeira, marca a fase madura do poeta modernista. Através de 38 poemas, a obra explora temas como a vida, o amor, a morte, o Brasil e a própria poesia com uma linguagem coloquial e musicalidade singular.

Entre os poemas mais famosos, destacam-se "Pneumotórax", que narra a experiência do poeta com a tuberculose, "Vou-me embora pra Pasárgada", um hino à liberdade e à vida simples, e "Pensão familiar", que retrata com humor e crítica social a realidade de uma pensão carioca.

Libertinagem consolida Bandeira como um dos principais nomes da poesia brasileira, reconhecido por sua originalidade, humor e capacidade de abordar temas universais com simplicidade e profundidade.

39. Lavoura Arcaica, Raduan Nassar

Lavoura arcaica é um texto em que se entrelaçam o novelesco e o lírico, por meio de um narrador em primeira pessoa - André, o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, conseqüentemente, o avesso da imagem da família. É sobretudo uma aventura com a linguagem: além de fundar a narrativa, a linguagem é também o instrumento que, com seu rigor, desorganiza um outro rigor, o das verdades pensadas como irremovíveis. Lançado em dezembro de 1975, Lavoura arcaica foi imediatamente considerado um clássico, "uma revelação, dessas que marcam a história da nossa prosa narrativa", segundo o professor e crítico Alfredo Bosi.

40. Lira dos Vinte Anos, Álvares de Azevedo

Lira dos Vinte Anos, obra póstuma de Álvares de Azevedo, reúne poemas que traduzem a angústia e o pessimismo do autor diante da efemeridade da vida e da busca por um amor idealizado.

Marcada pelo Ultrarromantismo, a coletânea explora temas como a morte, o tédio, a solidão e o amor não correspondido, em versos carregados de melancolia e ironia.

Entre seus poemas mais famosos, destacam-se "Lira dos Vinte Anos", "Lembrança de Morrer" e "Se Eu Morresse Amanhã", que revelam a maestria do autor na construção de imagens e na expressão de sentimentos intensos.

Essa lista abrange os principais romances, contos, poesias e obras de diversos gêneros que marcaram a literatura brasileira desde o século XIX até os dias atuais. Autores consagrados como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Clarice Lispector e Mário de Andrade estão bem representados com suas obras-primas. Clássicos do romantismo, realismo, modernismo e outras correntes literárias também figuram entre os 40 livros mais importantes.



Traiu ou não traiu? Uma análise do enredo de Dom Casmurro, de Machado de Assis

Foto: Centro educacional Leonardo Da Vinci



Publicado em 1899 pela Livraria Garnier, Dom Casmurro é um dos livros mais aclamados da escrita de Machado de Assis. Escrito originalmente para ser lançado como livro completo - diferentemente das demais obras do autor que eram divididas em capítulos -, completa a trilogia realista composta também por Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.

A história é narrada pelo personagem principal, Bento Santiago, que cria um paradoxo ao escrever sobre sua juventude em velhice (54 anos). Ele comenta suas experiências na casa do Engenho Novo onde morava e as aventuras vividas lá. Também fala sobre a época de sua vida no seminário e como conheceu seu melhor amigo Ezequiel. Além disso, ele menciona o amor incondicional por Capitu que era mais humilde vizinho dele... No entanto esse foi também o motivo da raiva futura sentida por ela!

A quebra da monotonia nos contos de adultério de Machado de Assis é representada pelo fato do narrador ser Bentinho (Bento Santiago), cuja motivação é advém do sentimento nocivo e ciumento.

Na infância, Bento Santiago frequentou um seminário devido a uma promessa feita por sua mãe viúva. Embora não tivesse decidido para o assunto, ele aceitou seu destino e aprendeu na esperança de se tornar um clérigo no futuro. Foi lá que conheceu Ezequiel de Sousa Escobar, filho de um advogado curitibano com quem fez amizade e juntos decidiram abandonar o seminário.

Após ser libertado e influenciado pela presença de Ezequiel, Bentinho se forma em Direito em São Paulo, e sua relação com Capitu só se intensifica. Como resultado, os dois eventualmente se casam. Enquanto isso, Ezequiel torna-se um comerciante excepcional e casa-se com uma amiga de Capitu: Sancha; juntos têm uma filha a quem carinhosamente chamam de Capitolina (nome verdadeiro de Capitu). Na mesma época em que isso acontece, Capitu e Bentinho também têm um filho que deram o nome de Ezequiel.

As famílias dos amigos moravam próximas e tudo ia bem. No entanto, em 1871, Escobar morreu afogado tragicamente, apesar de ser um excelente nadador. Durante o funeral, Bentinho percebeu a profundidade com que Capitu olhava para o falecido: "Houve um momento em que os olhos de Capitu se fixaram no morto como os de uma viúva [...], assim como as ondas quebram na praia tentando engolir o que aquela manhã nadador."

É a partir desse momento que Bentinho começa a desconfiar da infidelidade da esposa. A única lágrima que cai dos “olhos ciganos” de Capitu no funeral parece culpada, arrependida e apaixonada.

A trama principal do romance se torna clara. Bento apresenta ciúmes incontroláveis ​​conforme seu filho (Ezequiel) cresce e traços cada vez mais semelhantes ao amigo falecido acidentalmente a aparecer nele.

Nesse instante, o avanço alcançou seu ápice: Ele chegou à conclusão de que Capitu havia traído-o com seu melhor amigo, sendo Ezequiel a prova disso. Como consequência, ele mandou ambos para a Europa e lá perdeu suas vidas alguns anos depois.

Ao término de sua existência, Bentinho é visto como uma pessoa amargurada e isolada. Devido ao fato de preferir escrever durante suas viagens ferroviárias a interagir com os demais passageiros, ele passou a ser chamado de Dom Casmurro, nome que viria acompanhado da conversa pouco animada descrita acima. Aos poucos seus vizinhos e amigos o conheceram por este pseudônimo enquanto residiam no Engenho Novo na Rua Matacavalos antiga.

Uma análise da obra

Uma vez que o autor e a história já são conhecidos, é sensato realizar uma análise crítica da obra apresentada. Dom Casmurro é considerado a principal obra realista de Machado de Assis em conjunto com outras duas histórias semelhantes. A linguagem utilizada por Machado é culta dentro das normas do português (considerada muito elevada para grande parte da população) e contém elementos metalinguísticos, intertextuais, pessimismo e ironia. Para os leitores ávidos, este se trata de um livro silencioso para ser lido por vontade própria porque sua narrativa flui divertidamente com excelente estruturação na construção dos personagens. Entretanto há aqueles que apenas lêem livros obrigatórios escolarmente referendam este trabalho como sendo algo sublime mas suavizado quando comparando-se ao estilo Eça; no entanto sabemos que o gosto varia entre as pessoas individualmente desta forma não se pode generalizar tal assertiva sobre obras literárias refletindo meras opiniões pessoais.


Bento Santiago, personagem principal, também é o narrador da história. Esse fato fica evidente logo no primeiro capítulo deste livro.

“Recentemente, em uma viagem noturna da cidade ao Engenho Novo, encontrei num trem da Central, um jovem deste bairro que reconheço de vista e de chapéu.”

Na narrativa de "Dom Casmurro", o Narrador Personagem é quem relata todos os acontecimentos, pois faz parte da história. Com isso, vemos as situações por meio do ponto de vista de Bentinho e suas interações com personagens marcantes como Capitu e Ezequiel.

O tema principal de Dom Casmurro é baseado no sentimento incontrolável de ciúme experimentado por Bentinho em relação à sua esposa. Tal sensação acaba se tornando o foco central da narrativa, como podemos observar na passagem: "Finalmente chegou a hora do enterro e partida. Sancha queria despedir-se do marido e aquela cena devastadora entristeceu todos os presentes. Muitos homens choraram também, assim como todas as mulheres. Somente Capitu parecia conseguir conter suas próprias emoções enquanto apoiava a viúva e tentava tirá-la dali abruptamente para fora daquele ambiente agitado. Tudo estava confuso ao redor mas mesmo assim Capitu fixou seu olhar sobre o cadáver durante alguns momentos tão intensamente apaixonados que não surpreenderia ninguém se algumas lágrimas furtivas caíram pela face dela...”

Outro tema significativo é a suposta traição, característica atribuída ao desenvolvimento humano.

Conforme já mencionado, o Realismo Machadiano é o movimento literário predominante na obra Dom Casmurro. Podemos notar a abordagem pessimista e irônica que Assis utiliza por meio do personagem narrador Bentinho em determinadas passagens:

Não consulte dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que lhe dão, mas sim na forma como foi apresentado como um rótulo para alguém silencioso e introvertido. O título Dom surgiu ironicamente, deixando-me com ar de nobre. Tudo porque eu estava cochilando! Eu não poderia encontrar um título melhor para minha história – se não houver outro até o final do livro, então este será suficiente. Meu poeta ferroviário sabe que não guardo rancor dele. E com apenas um pequeno esforço de sua parte para criar seu próprio título, ele pode até acreditar que este trabalho será verdadeiramente sua própria criação algum dia, em breve. Existem livros que levam apenas os nomes de seus autores; alguns dificilmente conseguem tal conquista.”

"A definição de que José Dias deles havia dado, 'olhos de cigana oblíqua e dissimulada', me veio à mente. Eu não sabia o significado exato de obliqua, mas entendia o sentido por trás da palavra dissipulada, então decido verificar se essa descrição também poderia ser aplicável."

Ao longo do livro, é oferecida a presença de intertextualidade que faz referência tanto à obra de Schopenhauer quanto à peça Otelo, escrita por Shakespeare. O personagem Bentinho não busca esclarecer suas dúvidas sobre as atitudes do protagonista Capitu e se deixar levar pelo ciúme puro. Isso ilustra como a imaginação pode desencadear sentimentos mundanos associados à inferioridade masculina.

No capítulo 72, a intertextualidade com a tragédia de Shakespeare; Otelo é retomado para introduzir uma reforma dramática na trama. No entanto, Assis optou pelo caminho tradicional em sua continuação do drama realista.

Dom Casmurro não se arrisca a ser transparente, e às vezes sua ansiedade beira uma crise de nervos, chegando até mesmo a ter impulsos agressivos em relação a Capitu.

O livro apresenta excelentes trabalhos em cada elemento, mas é a irresponsabilidade do final deixado por Machado de Assis que confere encanto e perfeição à obra que acabou culminando em uma série de análises acadêmicas, filmes e livros variados atribuídos aos sentimentos de seus personagens, se tornando o livro mais conhecido ao redor do globo e um dos mais editados do mundo.

Conclusão

Depois de ler Dom Casmurro e conhecer a metodologia de Machado de Assis, bem como sua história pessoal, podemos perceber certas conexões entre as razões para descrever elementos de maneiras particulares. Apesar de não ter nascido rico e ter testemunhado a transição do Brasil de império para república durante seu sistema político, ele viveu uma época complicada. Embora possa parecer distante agora, percebo claramente como a realidade não alterou o seu ponto de foco.

Com que frequência vemos problemas como desonestidade, traição e sentimentos hediondos que levam a atos terríveis na televisão todos os dias? E quantas vezes ficamos decepcionados com alguém que amamos – sejam nossos filhos ou pais, marido ou esposa, irmãos – quer sejam conhecidos por nós ou não? Os relacionamentos são construídos sobre uma base de desconfiança que não pode ser negada, pois é uma parte inata da natureza humana. A sociedade em 1899 era exatamente a mesma que temos agora! Machado de Assis retratou a descrição da humanidade com tanta maestria que os pilares da nossa moral permanecem precisamente inalterados!

Ao ser o narrador da história, o protagonista é capaz de nos apresentar sua própria perspectiva e permite que nossa imaginação flua livremente; assim como ele mesmo experimentou esse processo. Como humanos, temos a capacidade empática de compartilhar sentimentos semelhantes aos outros, pois já surgiram por situações semelhantes em nossas vidas.

No capítulo CXIII, encontramos um exemplo dessa situação particular em que o narrador começa a suspeitar de Capitu. Esta última se recusa acompanhar seu marido ao teatro alegando estar doente. Bentinho acaba por ir sozinho e retorna para casa no final do primeiro ato somente para encontrar Escobar no corredor de sua residência... A forma como esse episódio é descrita pelo autor transpira ironia gelada deixando espaço à interpretação pessoal dos leitores sobre possível conexão entre mal -estar sentido pela esposa com visita surpresa do amigo. É natural que tomemos partido de Bentinho já que este possui voz na história; não temos ideia de alguma motivação ou perspectivas ligadas aos personagens secundários citados (Capitu, Ezequiel ou Sancha). Não podemos esperar surpresas brechas informativas também!

Ao longo dos anos, a mente de Bentinho foi envenenada por alguém que não possuía boas intenções - um indivíduo chamado José Dias. Este rapaz ciumento teve sua vida e o protagonista Capitu infernizado pelo manipulador, responsável por semear discórdia no coração do herói nem tão renomado assim.

Eu o chamo de herói porque, ao contrário dos reis romanos mencionados no início do livro - aqueles que eram conhecidos como assassinos de suas esposas -, ele apenas invejou sua esposa e filho para a Europa antes de morrer sozinho. Pelo menos Bento Santiago foi diferente de Vilela (do conto A Cartomante), que assassinou sua esposa e melhor amigo enquanto Camilo mantinha um caso com ela.

Frequentemente, a obra literária de Machado de Assis aborda conflitos amorosos complexos, atitudes adúlteras e mortes. Também são retratados sentimentos egocêntricos e o desejo de isolamento social...Possivelmente porque esses temas refletem experiências que muitas pessoas enfrentam diariamente. É identificar em cada um de nós personagens como Bentinho, Brás Cubas e Quincas Borba pois somos seres humanos com vivências semelhantes profundas descritas na obra possível do autor brasileiro renomado..

Esse é exatamente o cerne de Dom Casmurro. Uma emoção humana que o corrompeu profundamente.

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