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Resenha: História da felicidade, de Peter N. Stearns



APRESENTAÇÃO

Ser feliz é algo diferente para cada pessoa, mas também tem sido diferente ao longo da história, em diversas regiões do planeta. Sempre houve a busca por existências felizes, mas o que é considerado felicidade e a forma como as pessoas conseguem configurar suas experiências variam muito e dependem de circunstâncias históricas específicas. Assim, a visão histórica melhora nossa compreensão dessa emoção humana, mesmo para observadores interessados principalmente em padrões contemporâneos. Neste livro veremos como a felicidade é produto das concepções religiosas do passado, do iluminismo, do capitalismo comercial, da imensa indústria do entretenimento moderno, do aconselhamento psicológico, além de todas as possíveis variáveis pessoais, familiares e locais adicionadas à mistura. " A grande revolução, como se acompanha no livro, está na Idade Contemporânea. O aumento da importância da felicidade é um fenômeno dos séculos XVIII e XIX.." - Leandro Karnal "Stearns faz percursos que singularizam o tema da felicidade e o desembaça por meio de explicações que o tornam em determinados períodos mais que evidente.

RESENHA


O livro História da felicidade destaca como fatores como o iluminismo, o capitalismo, a industrialização e as grandes religiões contribuíram para definir o que significa ser feliz em diferentes contextos históricos. Ao abordar temas recorrentes como o equilíbrio entre hedonismo e satisfação duradoura, as aspirações pessoais e o papel da família, Stearns nos convida a refletir sobre as complexidades e nuances da felicidade. Com uma abordagem que combina história, filosofia e psicologia, "História da Felicidade" não apenas ilumina o passado, mas também oferece valiosas lições para o presente, ajudando-nos a compreender de onde vêm nossas ideias atuais sobre felicidade e como podemos buscar uma vida mais plena e satisfatória.

O capítulo "As bases psicológicas" explora a complexidade da felicidade e a dificuldade em defini-la, abordando como psicólogos e a psicologia positiva têm investigado o tema nas últimas décadas. Destaca-se que, embora a disciplina não tenha solucionado todos os mistérios da felicidade, ela oferece parâmetros para compreender suas características principais. Inicialmente, a felicidade foi associada à juventude e baixas aspirações, mas estudos posteriores mostraram que idosos também relatam felicidade, e que pessoas ambiciosas podem ser felizes.

A felicidade é vista como uma emoção básica, expressa universalmente através do sorriso, e desempenha funções importantes, como reforçar comportamentos benéficos e equilibrar emoções negativas. A psicologia distingue entre "satisfação com a vida" e "bem-estar subjetivo", conceitos que ajudam a entender a felicidade em diferentes contextos e ao longo do tempo.

O capítulo aborda debates sobre o papel da genética na predisposição para a felicidade, sugerindo que, embora exista um componente genético, as pessoas podem modificar seu nível de felicidade através de ações e mudanças de perspectiva. Psicólogos também discutem a importância de fatores como saúde, relacionamentos saudáveis, altruísmo e conexão espiritual na promoção da felicidade.

O autor reconhece que a busca excessiva pela felicidade pode ser contraproducente e que as diferenças culturais e sociais influenciam como a felicidade é percebida e vivenciada. A psicologia e a história, juntas, podem oferecer uma compreensão mais abrangente da felicidade, considerando tanto as influências coletivas quanto individuais.

O capítulo "A Era da Agricultura" aborda o surgimento e desenvolvimento das economias agrícolas, que começaram há cerca de 11 mil anos e dominaram a maior parte da população mundial por pelo menos 6 mil anos. Essa era é dividida em vários períodos principais, incluindo o período formativo, o surgimento das primeiras civilizações hidráulicas, o período clássico (aproximadamente de 600 a.C. a 500/600 d.C.), o período pós-clássico e o início do período moderno (1450 a 1750).

Durante o período clássico, importantes sistemas filosóficos emergiram, abordando a definição de felicidade. O capítulo também menciona o impacto das grandes religiões e o desenvolvimento dos entretenimentos populares, especialmente a partir de 300 d.C. até o século XVII. Essa periodização ajuda a entender a história da felicidade, embora não a defina completamente. Os capítulos seguintes exploram essas divisões cronológicas, destacando as transformações culturais e econômicas significativas ao longo da era agrícola.

O capítulo "Os primórdios da sociedade agrícola" explora a transição das sociedades de caçadores-coletores para a agricultura, sugerindo que essa mudança pode ter reduzido o nível de felicidade humana. As sociedades de caçadores-coletores eram relativamente igualitárias, com boa nutrição e menos desigualdade, mas a introdução da agricultura trouxe novas dificuldades, como dietas menos nutritivas, maior carga de trabalho, doenças e desigualdades sociais e de gênero.

A agricultura permitiu maior produção de alimentos e crescimento populacional, mas também gerou desigualdades significativas. Aristocratas e proprietários de terras desfrutavam de privilégios, enquanto a maioria enfrentava condições difíceis. As sociedades agrícolas desenvolveram narrativas de uma Era de Ouro passada, refletindo a percepção de uma deterioração em comparação com a vida anterior.

O capítulo sugere que, embora a agricultura tenha trazido avanços, também introduziu desafios que aumentaram a complexidade da felicidade humana. As sociedades agrícolas tiveram que criar novos modos de vida e conceitos para mitigar as dificuldades e buscar a felicidade, diferenciando-se das experiências mais simples e satisfatórias dos caçadores-coletores.

O capítulo "Dos filósofos: a felicidade no período clássico" explora como as sociedades clássicas, especialmente no Mediterrâneo e na China, desenvolveram filosofias e conceitos em torno da felicidade, refletindo sobre a sua natureza e como alcançá-la. Com o surgimento das primeiras civilizações, surgiram também ideias mais complexas sobre felicidade, influenciadas por condições objetivas e sistemas de valores. 

No Egito antigo, por exemplo, a felicidade era associada à gratidão aos deuses e à continuidade da vida terrena na vida após a morte, enquanto na Mesopotâmia, a visão era mais melancólica e os deuses exigiam obediência. No mundo clássico, debates filosóficos sobre a felicidade foram centrais, com os gregos e romanos enfatizando a virtude e a razão como caminhos para a verdadeira felicidade, diferenciando-se dos prazeres materiais. Aristóteles, por exemplo, via a felicidade como uma atividade da alma expressando virtude, enquanto os estoicos defendiam a limitação dos desejos.

Na China, o confucionismo enfatizava a harmonia com a ordem natural e a importância das conexões humanas, enquanto o taoísmo valorizava a simplicidade e a sintonia com o universo. Ambas as tradições filosóficas buscavam distinguir o verdadeiro prazer da satisfação superficial, oferecendo uma visão que compensava as dificuldades da vida.

O capítulo também aborda o impacto dessas filosofias, questionando até que ponto influenciaram a experiência real de felicidade e destacando a tensão entre os conceitos filosóficos e as práticas populares de entretenimento. As filosofias clássicas tiveram um impacto duradouro, com o confucionismo moldando a visão chinesa de felicidade e as ideias gregas e romanas sendo reinterpretadas ao longo do tempo, especialmente com a ascensão de novas religiões.

O capítulo "Das grandes religiões: felicidade – e esperança?" analisa como as grandes religiões, surgidas principalmente entre 600 a.C. e 1400 d.C., impactaram as concepções de felicidade. Hinduísmo, Budismo, Cristianismo e Islamismo, embora distintas, compartilham a ideia de que a verdadeira felicidade transcende a existência terrena e está ligada a um plano espiritual ou vida após a morte.

O hinduísmo estabelece uma hierarquia de felicidade, culminando na realização espiritual após sucessivas reencarnações, enquanto o Budismo, fundado por Buda, propõe que a verdadeira felicidade resulta do desapego dos desejos mundanos, alcançando o Nirvana. O Cristianismo enfatiza a vida eterna no céu como a verdadeira felicidade, incentivando a esperança e a moderação dos prazeres terrenos. O Islamismo, semelhante ao Cristianismo, valoriza a vida após a morte, mas reconhece as bênçãos terrenas como dádivas de Deus.

Todas essas religiões ofereceram não apenas um caminho para a felicidade espiritual futura, mas também formas de alcançar satisfação e comunidade na vida presente, através de práticas como meditação, oração e caridade. No entanto, a ênfase na vida após a morte e a crítica aos prazeres mundanos também introduziram um elemento de ansiedade e culpa, especialmente no Cristianismo.

A expansão dessas religiões foi, em parte, uma resposta às instabilidades e desafios dos tempos, oferecendo esperança frente às dificuldades da vida terrestre. Elas continuam a influenciar as visões de felicidade até os dias atuais, destacando a tensão entre a vida material e a busca por um propósito espiritual mais profundo.

O capítulo "Prazeres populares" explora as atividades e diversões que proporcionaram satisfação e possivelmente felicidade nas sociedades agrícolas durante a "era religiosa". Embora não possamos medir a felicidade dessas atividades, elas claramente ofereciam momentos de prazer e alívio das duras rotinas de trabalho e das restrições da vida agrícola.

O trabalho, especialmente para artesãos urbanos, oferecia uma sensação de satisfação e orgulho, enquanto as atividades sexuais, embora limitadas por normas sociais e religiosas, ainda eram buscadas por muitos. A infância, apesar das dificuldades, proporcionava oportunidades de brincadeiras livres e espontâneas, que contrastavam com a supervisão adulta.

As sociedades agrícolas desenvolveram uma variedade de formas de entretenimento, como contação de histórias, jogos, esportes populares e festivais. Os festivais, em particular, eram eventos importantes que uniam comunidades em celebrações coletivas, oferecendo uma pausa vital nas rotinas diárias.

Esses prazeres populares, que frequentemente ocorreram em conjunto com atividades religiosas, mostravam a criatividade das pessoas em buscar diversão e satisfação, apesar das dificuldades da vida agrícola. As opções de entretenimento eram limitadas e esporádicas, mas proporcionavam momentos de felicidade que ajudavam a suportar a monotonia e as dificuldades do dia a dia.

O capítulo "A Revolução da Felicidade, 1700-1900" explora como, nos séculos XVII e XVIII, uma nova abordagem sobre a felicidade emergiu na Europa Ocidental e América do Norte, desafiando as concepções tradicionais e redefinindo expectativas pessoais. Este período, que se estendeu até o século XIX, coincidiu com a transição da Era da Agricultura para o início da sociedade industrial.

Durante esse tempo, debates intensos sobre o significado da felicidade surgiram, e várias tentativas foram feitas para implementar essas novas ideias. A Revolução Industrial trouxe mudanças significativas nos padrões de vida, lazer e vida familiar, complicando ainda mais a adaptação a essas novas expectativas de felicidade.

Embora descrita como uma "revolução", essa transformação foi inicialmente limitada ao Ocidente, com seu impacto global sendo restrito por um tempo considerável. O poder imperial e econômico da Europa durante esse período pode ter retardado a disseminação global dessas novas ideias sobre felicidade.

O capítulo "A Revolução da Felicidade no Ocidente" analisa como, durante os séculos XVIII e XIX, uma mudança significativa nas ideias sobre felicidade ocorreu na Europa Ocidental e na América do Norte. Essa revolução foi marcada pela crença de que os seres humanos podiam controlar seus destinos e que o prazer e o conforto terrenos eram objetivos legítimos. A felicidade passou a ser vista como algo que deveria estar ao alcance de todos, com sociedades bem organizadas ampliando as oportunidades para a satisfação mental e material.

Essa nova abordagem desafiou ideias mais antigas que associavam a felicidade à virtude ou à vida após a morte. O Iluminismo desempenhou um papel crucial ao promover a razão e sugerir que o progresso e a melhoria contínua eram possíveis. A felicidade passou a ser discutida não apenas como um conceito filosófico, mas também como um objetivo social e político, com implicações para a organização da sociedade e das políticas governamentais.

A revolução da felicidade trouxe novos comportamentos, como um aumento no consumismo e uma maior ênfase no prazer individual. O individualismo ganhou destaque, e a busca pela felicidade tornou-se um direito pessoal. Essa transformação também influenciou movimentos sociais e políticos, inspirando protestos populares e revoluções que buscavam a felicidade coletiva através de reformas.

Apesar das críticas e resistências de grupos religiosos e conservadores, as novas ideias sobre felicidade tiveram um impacto duradouro, moldando expectativas e comportamentos que ainda influenciam as sociedades ocidentais modernas. A revolução da felicidade não foi universalmente aceita, mas marcou uma mudança fundamental nas percepções de felicidade e nos objetivos de vida.

O capítulo "A Expansão da Felicidade? As Novas Expectativas Encontram a Sociedade Industrial" analisa como o século XIX viu a continuidade da revolução da felicidade iniciada no século XVIII, enquanto a sociedade enfrentava os desafios e transformações da Revolução Industrial. As ideias de felicidade se expandiram, influenciando práticas culturais e sociais no Ocidente, mas também enfrentaram novos desafios.

O século XIX presenciou a incorporação contínua de ideias iluministas sobre felicidade, destacando o prazer e a satisfação pessoal. No entanto, a industrialização trouxe mudanças significativas na estrutura social, separando família, trabalho e lazer. As famílias começaram a ser vistas como refúgios emocionais, e a felicidade familiar tornou-se um ideal valorizado.

A industrialização também complicou a relação entre trabalho e felicidade, com muitos trabalhadores enfrentando condições difíceis e alienação. No entanto, a crescente atenção ao lazer e ao consumismo abriu novos caminhos para a busca da felicidade. O aumento do tempo de lazer e a disponibilidade de novos produtos e entretenimentos, como parques de diversões e esportes, contribuíram para a satisfação individual e coletiva.

Apesar das novas oportunidades, a felicidade no século XIX foi marcada por desigualdades de classe e gênero, e as expectativas de felicidade nem sempre foram alcançadas. A sociedade industrial trouxe novas tensões, mas também expandiu as possibilidades para a busca da felicidade no contexto moderno.

O capítulo "Mudanças Globais nos Séculos XVIII e XIX" explora como, durante esse período, as ideias ocidentais sobre felicidade não se difundiram globalmente de maneira uniforme. Enquanto o Ocidente passava por transformações culturais e econômicas, muitas regiões mantinham suas tradições religiosas e culturais, com continuidade prevalecendo sobre a mudança.

Na China e no Império Otomano, as tradições existentes, como o confucionismo e as reformas do Tanzimat, continuaram a influenciar as concepções de felicidade, apesar das pressões externas e internas. Na China, a instabilidade econômica e social, agravada pela interferência ocidental, levou à Rebelião Taiping, que misturava valores cristãos e chineses em uma busca por felicidade por meio da obediência coletiva.

O imperialismo europeu trouxe impactos negativos significativos, especialmente na América Latina e na África Subsaariana, onde a colonização e a exploração econômica provocaram sofrimento e uma visão de mundo marcada pela melancolia. Na América Latina, o pensamento iluminista influenciou líderes como Simón Bolívar, que defendiam a felicidade através da independência e do nacionalismo.

Na Rússia e no Japão, as reformas e a industrialização criaram contextos distintos. Na Rússia, a modernização gerou debates entre ocidentalizadores e conservadores, enquanto no Japão, a era Meiji promoveu a industrialização e uma mistura de tradições japonesas com influências ocidentais, sem adotar completamente as ideias ocidentais de felicidade. Apesar de algumas influências ocidentais, muitas regiões mantiveram suas tradições e desenvolveram respostas únicas às pressões externas e internas, resultando em um mosaico complexo de atitudes em relação à felicidade que persistiriam no século XX.

No início do século XXI, a cultura do sorriso se tornou um fenômeno global, impulsionada pelas redes sociais, onde mostrar felicidade em selfies se tornou uma norma. No entanto, não havia uma história única da felicidade globalmente, com abordagens variando entre diferentes regiões, influenciadas por padrões materiais e tradições culturais.

Apesar das diferenças, algumas tendências comuns surgiram, principalmente a influência da cultura de consumo ocidental, que se espalhou com a industrialização e urbanização global. Isso ajudou a desafiar ideias antigas sobre felicidade e começou a formar uma abordagem mais global ou multirregional.

No Ocidente, o compromisso com a felicidade permaneceu forte, mas enfrentou desafios internos e influências de outras culturas. Paralelamente, houve tentativas deliberadas de desenvolver alternativas aos modelos ocidentais de felicidade, como no comunismo e em atualizações de valores tradicionais.

O século passado também foi marcado por divisões cronológicas internas, como as disputas sobre felicidade nas décadas após as guerras mundiais e a Grande Depressão. Após 1945, com o fim da Guerra Fria, algumas dimensões globais da felicidade começaram a emergir, interagindo com tendências regionais.

Com a industrialização se expandindo globalmente, as últimas décadas possibilitam uma avaliação provisória das implicações da industrialização para a felicidade, comparando-as com o advento da sociedade agrícola, embora as conclusões permaneçam complexas e inconclusivas.

O capítulo "Disputa pela Felicidade, 1920-1945" explora as diversas tendências que influenciaram a felicidade durante o período das guerras mundiais e da Grande Depressão. A Primeira Guerra Mundial causou um impacto negativo significativo na felicidade na Europa Ocidental, gerando pessimismo e desespero. Por outro lado, nos Estados Unidos, houve uma continuidade e ampliação dos temas de felicidade, com o desenvolvimento de novas abordagens culturais e de consumo.

O surgimento do fascismo na Europa rejeitou a primazia da felicidade individual, enfatizando o dever e a lealdade ao Estado em vez de prazeres pessoais. Movimentos anticoloniais e nacionalistas, liderados por figuras como Gandhi e Ataturk, promoveram visões alternativas de felicidade, muitas vezes baseadas em tradições culturais e na construção de nações independentes.

Apesar das dificuldades econômicas e sociais, algumas sociedades ocidentais continuaram a buscar o prazer, com a indústria do entretenimento desempenhando um papel importante. Nos Estados Unidos, a felicidade permaneceu um tema central, com inovações como a Disney e a trilha de risadas na mídia, além de esforços para associar felicidade ao trabalho por meio da Psicologia industrial.

O período também viu mudanças significativas na relação com a morte e o luto, com a morte se tornando menos comum e mais distante na experiência cotidiana, resultando em uma redefinição de práticas de luto e uma ênfase em emoções positivas.

A diversidade de abordagens à felicidade nesse período reflete a complexidade global das décadas entre guerras, com diferentes regiões desenvolvendo suas próprias respostas às crises e desafios, muitas vezes em oposição aos modelos ocidentais tradicionais.

O capítulo "Felicidade Comunista" examina como as sociedades comunistas, começando com a União Soviética em 1917, abordaram o conceito de felicidade. Os líderes comunistas enfrentaram o desafio de definir a felicidade de maneira distinta do Ocidente, que associavam ao consumismo e ao individualismo burgueses. Em vez disso, os comunistas procuraram promover a felicidade através do progresso social, igualdade e um ideal de futuro sem classes.

Na União Soviética, a felicidade foi associada ao trabalho árduo e ao progresso coletivo, com ênfase na educação, saúde pública e mobilidade social. Propagandas e programas coletivos, como férias patrocinadas pelo Estado, foram usados para promover um senso de satisfação popular. No entanto, o consumismo individual foi desencorajado, e os produtos disponíveis eram frequentemente de baixa qualidade.

Na China comunista, sob a liderança de Mao Tsé-Tung, a felicidade também foi vinculada ao progresso coletivo e à lealdade ao Partido. A educação e a saúde pública foram ampliadas, mas a ênfase estava na transformação social e cultural, com pouca atenção aos bens materiais. A Revolução Cultural promoveu a ideia de felicidade através do trabalho árduo e do sacrifício coletivo.

Ambos os regimes enfrentaram dificuldades em equilibrar a promoção de uma felicidade distinta com as pressões da industrialização e do consumismo. Após o colapso da União Soviética e as reformas na China, ambos os países viram um aumento no consumismo e um retorno a valores mais individuais. No entanto, ainda enfrentam desafios em definir e promover a felicidade em um contexto pós-comunista, com um legado de abordagens anteriores e novas pressões sociais e econômicas.

O capítulo "Comparando a Felicidade nas Sociedades Contemporâneas" aborda a complexidade de comparar a felicidade entre diferentes países, destacando as dificuldades devido a diferenças culturais e de linguagem. Após a Segunda Guerra Mundial, as características regionais continuaram a influenciar as concepções e níveis de felicidade, mesmo com o aumento dos contatos globais.

Dois grandes projetos de pesquisa foram realizados no final dos anos 1950 e início dos 1960, e novamente nos anos 1970, analisando expectativas e preocupações em vários países. As conclusões mostraram que, embora fatores econômicos fossem importantes, as visões culturais e políticas desempenhavam um papel significativo na formação das expectativas de felicidade. As pesquisas revelaram que as esperanças superavam as preocupações na maioria dos lugares, mas as diferenças culturais influenciavam as visões sobre família e riqueza.

Estudos de caso sobre a Índia e o Japão ilustram essas diferenças. Na Índia, tradições espirituais e o foco na família influenciam as concepções de felicidade, enquanto o consumismo e o entretenimento moderno estão em ascensão. No Japão, o conceito de ikigai, que combina dever e realização pessoal, guia a busca pela felicidade, mas também enfrenta desafios devido à estagnação econômica e mudanças sociais.

O capítulo destaca que a felicidade não se correlaciona diretamente com indicadores econômicos e que as comparações entre países são complexas. No entanto, a análise comparativa é essencial para entender as diferenças regionais e refletir sobre as próprias concepções de felicidade. A globalização continua a promover uma mistura de influências culturais em relação à felicidade.

O capítulo "A Sociedade Ocidental na História Contemporânea: Cada Vez Mais Feliz?" explora se a sociedade ocidental está se tornando mais feliz ao longo do tempo, analisando fatores culturais, econômicos e sociais. A pesquisa de 2015 destacou que pais em sociedades ocidentais, como França, Canadá e Estados Unidos, priorizam a felicidade dos filhos, refletindo um compromisso cultural contínuo com a felicidade.

O capítulo afirma que a revolução da felicidade continua forte no Ocidente, mas também levanta questões e desafios. O consumismo desempenha um papel central, com um aumento significativo na busca por bens materiais e experiências como um caminho para a felicidade. A Disney, a literatura de autoajuda, a publicidade e as happy hours são exemplos de como a cultura ocidental promove a felicidade.

No entanto, novas questões surgem, como o paradoxo de Easterlin, que mostra que o aumento da prosperidade não se traduz necessariamente em maior felicidade. Além disso, a pressão cultural para ser feliz pode tornar a tristeza e a depressão mais difíceis de lidar, afetando a saúde mental.

A psicologia positiva e os programas de bem-estar surgiram como respostas para ajudar indivíduos a encontrar a felicidade duradoura, enfatizando o florescimento humano e a gratidão. Embora esses movimentos tenham ganhado popularidade, eles também enfrentam críticas por serem excessivamente otimistas.

Em resumo, a sociedade ocidental mantém um compromisso forte com a felicidade, mas enfrenta desafios significativos, incluindo as complexidades do consumismo, as expectativas de felicidade e as implicações emocionais dessas dinâmicas.

O capítulo "A Felicidade se Globaliza" explora como a aceleração da globalização no final do século XX e início do XXI influenciou as concepções de felicidade em todo o mundo. Enquanto as diferenças culturais e econômicas persistem, surgiram características globais de felicidade que vão além da simples adoção dos padrões ocidentais por outras sociedades. Esses padrões refletem reações à urbanização, melhorias nos padrões de vida e saúde, e contribuições de outras regiões, como o Sul da Ásia, enriquecendo as discussões globais sobre felicidade.

A globalização trouxe um foco maior na felicidade como meta política, com a ONU estabelecendo o Dia Internacional da Felicidade em 2012. Governos ao redor do mundo, incluindo os Emirados Árabes Unidos e a Nova Zelândia, criaram programas específicos para promover o bem-estar e a felicidade, enquanto iniciativas de bem-estar e psicologia positiva se espalharam globalmente.

O capítulo também discute como o consumismo e as celebrações de boas festas se tornaram fenômenos globais, com o Natal e aniversários sendo comemorados em muitos países. Além disso, práticas culturais de diferentes regiões, como a meditação do Sul da Ásia e o método Konmari do Japão, influenciaram abordagens globais à felicidade.

A Pesquisa Mundial de Valores fornece dados sobre tendências de felicidade ao longo do tempo, mostrando que a maioria dos países viu melhorias nos níveis de felicidade entre 1981 e 2007, embora desafios recentes, como a Grande Recessão e a pandemia de coronavírus, tenham impactado negativamente alguns países. Enquanto o interesse global pela felicidade aumentou e as definições se expandiram, as diferenças culturais e regionais continuam a complicar o quadro, tornando difícil prever o futuro da felicidade global.

O capítulo "Conclusão" aborda a complexidade e a evolução da felicidade ao longo da história, ressaltando que a felicidade tem sido influenciada por fatores como religião, iluminismo, capitalismo e cultura popular. A felicidade é uma emoção que variou em significado e prática dependendo das circunstâncias históricas e culturais.

A história da felicidade é complexa e não segue uma narrativa linear. Diferentes regiões e épocas têm suas próprias abordagens, e a pesquisa sobre o tema ainda é desigualmente distribuída, com um foco desproporcional no Ocidente. A relação entre textos formais sobre felicidade e práticas populares concretas é um desafio recorrente, e a religião desempenha um papel central, mas variado, na definição da felicidade.

Alguns temas recorrentes na história da felicidade incluem o equilíbrio entre hedonismo e satisfação duradoura, as aspirações pessoais, a sorte versus a agência humana, e o papel da família. Esses temas ajudam a organizar comparações e a entender as escolhas feitas por indivíduos e sociedades.

Importantes pontos de inflexão na história da felicidade incluem a transição para a agricultura e civilizações formais, o advento de religiões complexas e a "revolução da felicidade" no Ocidente a partir do século XVIII. A industrialização trouxe novos desafios e oportunidades para a felicidade, com melhorias materiais, mas também novas tensões e expectativas.

O capítulo finaliza ressaltando a fragilidade da felicidade, tanto para indivíduos quanto para sociedades, e a importância de se considerar o bem maior ao buscar a felicidade. A história oferece insights sobre como diferentes abordagens à felicidade evoluíram e quais podem ser seus pontos fortes e limitações.

A obra oferece uma fascinante jornada pela história da felicidade, revelando como essa emoção universal é moldada por contextos históricos e culturais variados. Desde as concepções religiosas até as influências do iluminismo e do capitalismo, o livro traça um panorama enriquecedor sobre as mudanças nas percepções de felicidade ao longo do tempo.

Os capítulos exploram como diferentes eras e regiões definiram a felicidade de maneiras únicas. Na "Era da Agricultura", a transição para sociedades agrícolas trouxe novos desafios, como desigualdades e dificuldades, mas também narrativas de uma Era de Ouro perdida. As filosofias clássicas deram forma a conceitos de felicidade, com os gregos e romanos enfatizando a virtude e os chineses, a harmonia e simplicidade.

O surgimento das grandes religiões introduziu a ideia de felicidade transcendente, ligada a um plano espiritual. Já a "Revolução da Felicidade" nos séculos XVIII e XIX, impulsionada pelo iluminismo, redefiniu a felicidade como um direito humano, inspirando movimentos sociais e políticos.

O livro também aborda como a globalização e a industrialização impactaram as concepções de felicidade, trazendo novos desafios e oportunidades. A era contemporânea vê a felicidade se tornar uma meta política global, com influências de práticas culturais de todo o mundo.

Com uma análise rica e detalhada, a obra destaca a complexidade da felicidade e a importância de considerá-la em contextos históricos e culturais. É uma leitura envolvente que oferece insights sobre como a busca pela felicidade continua a evoluir e a influenciar nossas vidas.

O AUTOR

Peter N. Stearns formou-se em História em Harvard e é professor de História na George Mason University, nos Estados Unidos. Escreveu muito sobre história mundial e sobre o campo cada vez mais importante da História das emoções e ministra disciplinas em ambas as áreas regularmente. Desde cedo se destacou pela atividade docente (trabalhou na Universidade de Chicago, Rutgers, entre outras) e pelo empenho em escrever livros, tanto para especialistas, quanto para um público mais amplo. Foi editor de importantes publicações especializadas nos EUA, como o Journal of Social History. Sua preocupação com a história mundial e seu empenho em mostrar práticas sociais em diferentes culturas orientaram a escrita de importantes livros, como "A infância", "História das relações de gênero", "História da sexualidade" e "História da Felicidade", publicados pela Contexto.


Resenha: História Medieval, de Marcelo Cândido da Silva



APRESENTAÇÃO

A Idade Média abrange um período de cerca de dez séculos, compreendido entre o final da Antiguidade e o início da época moderna. Diferentes formas de expansão, de poder e de sociedade foram forjadas durante esses mil anos. Enquanto os chamados bárbaros conquistavam territórios, o poder da Igreja crescia e o cristianismo se tornava uma ferramenta eficaz de integração (muitas vezes forçada). Outra característica marcante do período é a dominação senhorial: controle econômico, jurídico, político e militar dos camponeses por parte da aristocracia.Nesta obra introdutória, o professor da Universidade de São Paulo Marcelo Cândido da Silva se dedica a apresentar e discutir as principais características desse período, dando ênfase a seus contrastes: a fome, a peste e as guerras se alternando com tempos de paz e prosperidade; o universalismo do papado convivendo com os particularismos senhoriais e com as monarquias em vias de centralização. Com este livro, o leitor tem em mãos uma obra atualizada e palpitante sobre a História Medieval.

RESENHA

O livro "História Medieval" de Marcelo Cândido da Silva é uma obra abrangente e atualizada sobre o período medieval europeu, compreendido entre os séculos V e XV. O autor, professor titular da Universidade de São Paulo e pesquisador renomado na área, apresenta uma análise cuidadosa e equilibrada dos principais temas e debates historiográficos referentes à Idade Média.

Ao longo de seis capítulos, o livro percorre as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais que marcaram essa longa e complexa etapa da história europeia. Longe de uma visão simplista ou determinista, a narrativa de Cândido da Silva demonstra a riqueza e a diversidade dos fenômenos medievais, buscando relativizar interpretações consagradas e incorporar os avanços da pesquisa histórica mais recente.

O primeiro capítulo aborda a transição da Antiguidade Tardia para o período medieval, enfocando o processo de integração dos povos bárbaros no Império Romano e a formação dos reinos bárbaros subsequentes. O autor problematiza a noção de "invasões bárbaras", mostrando como esses grupos, longe de serem meros conquistadores, adaptaram-se e assimilaram diversos elementos da cultura e das instituições romanas.

Cândido da Silva também discute a construção historiográfica da ideia de "germanidade" e de identidades étnicas, destacando como essas categorias foram forjadas principalmente a partir do século XIX, em meio aos nacionalismos europeus. Nesse sentido, a análise das "leis bárbaras" revela a complexidade das relações entre romanos e bárbaros, bem como a gradual consolidação de uma dominação aristocrática sobre o campesinato.

O segundo capítulo é dedicado à emergência e ao apogeu do Senhorio territorial, forma de organização socioeconômica que caracterizou grande parte da Europa Ocidental medieval. O autor examina a estrutura bipartida do Grande Domínio, com sua reserva senhorial e tenências camponesas, bem como a dinâmica de concentração fundiária e de hierarquização social que marcaram os séculos XI-XIII.

Cândido da Silva problematiza o conceito de "Feudalismo", preferindo utilizar o termo "dominação senhorial" para abarcar a complexidade das relações de poder e de exploração que se estabeleceram entre a aristocracia e o campesinato. Nesse contexto, são analisados os processos de espacialização do domínio senhorial, a ascensão da Cavalaria e as tensões entre senhores e comunidades urbanas.

O terceiro capítulo aborda o papel central desempenhado pela Igreja Católica na configuração das sociedades medievais. O autor demonstra como o cristianismo, por meio de suas normas, ritos e instituições, forjou diversos traços fundamentais da Cristandade Ocidental, desde a organização do espaço e do tempo até a legitimação do poder político.

Cândido da Silva também discute a afirmação da autoridade papal, os conflitos entre Papado e Império, bem como a emergência de movimentos considerados heréticos e a construção da "sociedade persecutória" a partir do século XII. Nesse contexto, a Inquisição é analisada como um instrumento de poder da monarquia pontifícia.

O quarto capítulo examina os séculos XIV e XV, período marcado por profundas transformações e crises, como a Grande Fome, a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos. Longe de uma visão catastrófica, o autor demonstra que tais fenômenos não implicaram necessariamente o colapso da economia e da sociedade medievais.

Cândido da Silva destaca a capacidade de resiliência das sociedades europeias, que responderam à depressão demográfica e à instabilidade política com inovações técnicas, comerciais e administrativas. Nesse sentido, a emergência dos Estados modernos e a expansão ultramarina são compreendidas como processos enraizados na dinâmica tardomedieval.

No último capítulo, o livro aborda a construção historiográfica da noção de "Idade Média", analisando os usos políticos, culturais e identitários desse conceito ao longo dos séculos XIX e XX. O autor examina como a imagem do período medieval foi moldada por diferentes correntes interpretativas, desde o Iluminismo até o Romantismo e a Nova História.

Cândido da Silva problematiza a rigidez das periodizações tradicionais, bem como a instrumentalização da Idade Média por parte de movimentos nacionalistas e regimes autoritários. Nesse sentido, a obra demonstra a atualidade e a relevância do debate sobre a Idade Média, que continua a suscitar interpretações diversas e, por vezes, conflitantes.

"História Medieval" de Marcelo Cândido da Silva se destaca pela abordagem abrangente e equilibrada do período, evitando simplificações e incorporando os avanços da pesquisa histórica mais recente. O autor transita com maestria por uma ampla gama de temas, articulando questões políticas, econômicas, sociais e culturais de forma coerente e didática.

A obra se apresenta como leitura obrigatória para estudantes, pesquisadores e interessados no período medieval, oferecendo uma visão atualizada e crítica sobre esse momento fundamental da história europeia. Ao mesmo tempo, o livro contribui para a desconstrução de mitos e estereótipos comumente associados à Idade Média, promovendo uma compreensão mais nuançada e complexa desse fascinante período.

Resenha: História da beleza no Brasil, de Denise Bernuzzi de Sant'Anna



APRESENTAÇÃO

Há séculos, a beleza distingue e desperta invejas. Ela é objeto de desejo, instrumento de poder e moeda de troca em diferentes sociedades. No último século, o corpo transformou-se em algo tão importante, complexo e sensível quanto outrora fora a alma. Esta obra, que combina trabalho rigoroso e linguagem saborosa, mostra o que se faz para buscar a beleza – e como esse conceito muda com o tempo. Desde o garbo e a elegância nos primeiros anos da República até a atual banalização das cirurgias plásticas, História da beleza no Brasil trata das transformações ligadas aos padrões estéticos e aos cuidados com o corpo, mas também do martírio causado pela feiura e da tumultuada luta para driblar o envelhecimento, a solidão e o fracasso.

RESENHA

O livro "História da beleza no Brasil", de Denise Bernuzzi de Sant'Anna, é uma obra abrangente e minuciosa que traça a evolução dos cuidados com a aparência física no Brasil ao longo do século XX. A autora realiza uma análise detalhada das transformações nos padrões estéticos, nas técnicas de embelezamento e nos significados atribuídos à beleza, revelando como essa temática se tornou cada vez mais central na sociedade brasileira.

O livro inicia com uma breve contextualização sobre as expectativas em relação ao futuro do país no início do século XX, contrastando as projeções feitas em 1900 com as realidades contemporâneas. Essa introdução serve como ponto de partida para a autora explorar as mudanças nos cuidados com a aparência física ao longo do período estudado.

Um dos principais eixos do enredo é a gradual banalização e valorização do embelezamento, que deixa de ser um tema secundário e passa a ocupar um espaço central na imprensa, na publicidade e no imaginário social. Denise Sant'Anna demonstra como, ao longo do século, a beleza se transformou em uma preocupação comum a homens e mulheres, de diferentes idades, classes sociais e orientações sexuais, deixando de ser um privilégio de uma elite.

Outro aspecto fundamental do enredo é a análise das técnicas e produtos utilizados para o embelezamento, desde os antigos artifícios caseiros até a emergência de uma indústria cosmética cada vez mais sofisticada. A autora acompanha a evolução dos cuidados com a pele, os cabelos, a maquiagem, as roupas e os acessórios, mostrando como esses elementos foram gradualmente se tornando centrais na construção das identidades.

Ao longo do livro, Denise Sant'Anna também explora as ambiguidades e contradições presentes nesse processo, como a persistência de preconceitos em relação à beleza, a medicalização dos cuidados estéticos e a emergência de novos padrões de beleza que, por vezes, reforçam desigualdades de gênero e raça. Questões como a valorização da magreza, a expansão das cirurgias plásticas e a sexualização dos corpos são analisadas de forma crítica.

Em síntese, "História da beleza no Brasil" é uma obra fundamental para compreender as transformações nos padrões de beleza e nos cuidados com a aparência física no país ao longo do século XX. Através de uma abordagem histórica e interdisciplinar, a autora revela como a busca pela beleza se tornou um fenômeno cada vez mais central, complexo e ambíguo, refletindo ansiedades, desejos e disputas sociais em constante evolução. O livro é uma referência indispensável para estudiosos das áreas de história, sociologia, antropologia e estudos de gênero interessados em compreender as dinâmicas socioculturais em torno da aparência física no Brasil contemporâneo.

Resenha: Stalingrado, de Alexander Werth

APRESENTAÇÃO

Era a batalha do tudo ou nada: se os nazistas conquistassem Stalingrado, provavelmente venceriam a Segunda Guerra Mundial. Acuados, os soviéticos pagaram caro pela resistência encarniçada. Milhares de vidas foram ceifadas no trágico embate. De julho de 1942 até fevereiro do ano seguinte, o mundo acompanhou como pôde o encontro dos dois grandes exércitos. O autor Alexander Werth, um dos pouquíssimos jornalistas estrangeiros a cobrir a frente oriental, teve um olhar privilegiado. Assim que os alemães capitularam, Werth chega a uma Stalingrado ainda traumatizada e nos relata com vivacidade tudo o que observa. Além de ser testemunha ocular, entrevistou oficiais, especialistas militares e teve acesso a documentos originais. Stalingrado continua sendo o livro mais importante publicado sobre uma das mais sangrentas e decisivas batalhas da Segunda Guerra Mundial.

RESENHA

O livro Stalingrado, escrito por Alexander Werth e publicado originalmente em 2012, é uma obra que se destaca pela sua riqueza de detalhes e profundidade de análise sobre um dos episódios mais marcantes da Segunda Guerra Mundial - a Batalha de Stalingrado. Trata-se de uma obra de grande relevância histórica, que nos permite compreender não apenas os aspectos militares desse conflito, mas também as suas implicações políticas, sociais e culturais.

A narrativa se inicia com a descrição da Batalha de Stalingrado como um "ponto nevrálgico" da guerra, uma vez que a sua resolução poderia determinar o curso de todo o conflito. Werth explora de maneira detalhada as duas fases da batalha: a fase defensiva, que durou até 19 de novembro de 1942, e a fase ofensiva, que levou ao cerco das forças alemãs na cidade.

Durante a fase defensiva, Werth destaca a importância da resistência dos soldados soviéticos, que conseguiram adaptar-se às condições de combate em ambiente urbano e explorar as debilidades das forças alemãs. Ele também analisa o papel fundamental desempenhado pelo alto-comando soviético, que soube aproveitar a batalha para preparar a grande ofensiva que resultaria no cerco das tropas alemãs.

Já na fase ofensiva, Werth descreve com riqueza de detalhes as manobras estratégicas realizadas pelos generais soviéticos, bem como a determinação dos soldados em eliminar as forças inimigas cercadas em Stalingrado. Ele também aborda a tentativa fracassada do marechal Von Manstein de romper o cerco, bem como a deterioração das condições de vida dos soldados alemães sitiados na cidade.

Ao longo da obra, Werth enfatiza a importância da Batalha de Stalingrado para o curso da guerra. Ele argumenta que a vitória soviética nessa batalha marcou uma virada decisiva no conflito, pois não apenas eliminou uma das melhores forças da Wehrmacht, como também solapou a iniciativa estratégica dos alemães.

Além disso, Werth destaca o impacto psicológico da vitória soviética, que fortaleceu a confiança do Exército Vermelho e da população civil em relação à capacidade de vencer a guerra. Ele também aponta como a Batalha de Stalingrado elevou o prestígio internacional da União Soviética, transformando-a em um ator de peso no cenário político mundial.

Em suma, a obra de Alexander Werth sobre a Batalha de Stalingrado se destaca por sua abordagem abrangente e minuciosa do tema. Ao combinar uma análise detalhada das operações militares com uma compreensão profunda das implicações políticas, sociais e culturais desse conflito, o autor nos apresenta uma visão ampla e complexa de um dos episódios mais decisivos da Segunda Guerra Mundial.

Sua riqueza de detalhes, aliada à utilização de uma diversidade de fontes primárias e à experiência pessoal do autor, conferem a esta obra um caráter de referência indispensável para aqueles que desejam compreender em profundidade a Batalha de Stalingrado e seu impacto no curso da história.

Resenha: As Crianças Esquecidas de Hitler, de Ingrid Von Oelhafen



APRESENTAÇÃO

As garras do nazismo foram tão profundas, amplas e duradouras que ainda hoje nos surpreendemos com detalhes dos seus horrores. O programa Lebensborn, criado por Heinrich Himmler, foi responsável pelo rapto de nada menos que meio milhão de crianças por toda a Europa. Esperava-se que, depois de passar por um processo de “germanização”, elas se tornassem a geração seguinte da “raça superior” ariana. Foi assim que Erika Matko tornou-se Ingrid von Oelhafen. Com um texto que remete aos bons livros de suspense, acompanhamos Ingrid desvendando seu passado – e toda a dimensão monstruosa do programa Lebensborn e sua consequência na vida de tantos inocentes. Embora os nazistas tenham destruído muitos registros, Ingrid descobriu documentos raros sobre o programa, incluindo depoimentos do julgamento de Nuremberg.

RESENHA

O livro "As Crianças Esquecidas de Hitler: A Verdadeira História do Programa Lebensborn", de Ingrid von Oelhafen e Tim Tate, apresenta uma narrativa fascinante e perturbadora sobre o programa nazista de eugenia e raça pura. Como filha de uma mulher que foi parte do programa Lebensborn, Ingrid von Oelhafen embarca em uma jornada pessoal para desvendar suas próprias origens e entender as implicações desse programa obscuro.

O livro acompanha a vida de Ingrid, que nasce durante a Segunda Guerra Mundial com o nome de Erika Matko. Ela é retirada de sua família biológica na Iugoslávia e adotada por uma família alemã, os Von Oelhafen, como parte do programa Lebensborn. Criada com a identidade de Ingrid, ela cresce sem saber de suas verdadeiras origens.

Ao longo da narrativa, Ingrid busca desvendar o mistério de sua identidade. Ela descobre que o Lebensborn era um programa nazista secreto, criado por Heinrich Himmler, com o objetivo de gerar uma nova raça ariana dominante. Crianças consideradas racialmente "valiosas" eram retiradas de seus pais em países ocupados e levadas para casas Lebensborn, onde eram cuidadas e posteriormente adotadas por famílias alemãs selecionadas.

Ingrid se vê confrontada com a realidade de ter sido uma dessas crianças, e sua jornada a leva a investigar os registros do Lebensborn, os arquivos nazistas e a entrar em contato com outras vítimas do programa. Essa busca a ajuda a reconstruir sua própria história e a entender as implicações do experimento eugênico nazista.

O livro de Ingrid von Oelhafen e Tim Tate se destaca por sua abordagem profundamente pessoal e emocional do tema. Ao narrar sua própria história, Ingrid confere uma humanidade e uma perspectiva única à narrativa, evitando um tratamento meramente histórico ou factual.

A obra é notável pela riqueza de detalhes e pela minuciosa pesquisa realizada pelos autores. Eles conseguem reconstruir o funcionamento do programa Lebensborn, suas motivações ideológicas e suas práticas cruéis, com base em documentos históricos, depoimentos de sobreviventes e registros oficiais.

O livro também aborda de forma relevante as consequências psicológicas e emocionais do programa Lebensborn para as crianças envolvidas. Ao explorar a jornada de Ingrid em busca de sua identidade, os autores destacam o impacto duradouro que essa experiência traumática teve em sua vida.

Além disso, a obra contextualiza o Lebensborn dentro do amplo projeto nazista de purificação racial e dominação. Ela demonstra como esse programa se inseria em uma ideologia mais ampla de superioridade ariana e de eliminação de "raças inferiores", contribuindo para uma compreensão mais abrangente do Holocausto e dos crimes cometidos pelo regime nazista.

"As Crianças Esquecidas de Hitler" é uma obra impactante e reveladora que merece atenção da comunidade acadêmica. Ao combinar a narrativa pessoal de Ingrid von Oelhafen com uma rigorosa pesquisa histórica, os autores conseguem trazer à tona um episódio obscuro e pouco conhecido do Terceiro Reich, lançando luz sobre as consequências humanas desse experimento eugênico.

O livro se destaca por sua abordagem sensível e empática, que humaniza as vítimas do Lebensborn e contribui para uma compreensão mais profunda das atrocidades cometidas durante o regime nazista. Trata-se de uma leitura essencial para estudiosos da história do Holocausto, da ideologia racial e dos crimes de guerra.

Resenha: Doenças e Curas: O Brasil nos Primeiros Séculos, de Cristina Gurgel

 

APRESENTAÇÃO

Quais as doenças que afligiam índios e europeus nos primeiros séculos do Brasil? Como os nativos se defendiam de males até então desconhecidos por eles, como gripe e sarampo? A pesquisadora e médica Cristina Gurgel nos mostra um capítulo importante da História do Brasil, o encontro (e desencontro) de duas culturas sob a ótica das doenças e dos males que afetaram seus habitantes.Ao contrário do que se propaga, a autora defende a ideia de que os princípios terapêuticos básicos da medicina indígena e europeia tinham muito em comum. Ambos os povos possuíam uma concepção da doença como uma invasora, sendo, portanto, necessário forçar sua saída do organismo. Para que isso ocorresse, empregavam-se cerimônias e substâncias que diferiram conforme a cultura e a disponibilidade e qualidade de matérias-primas medicamentosas. Valiam-se igualmente de rezas, vomitórios, purgantes e sangrias. Assim, quando ambas as medicinas - europeia e indígena - se uniram, não houve um grande choque cultural, mas uma complementação, que fez surgir a autêntica medicina popular brasileira.Repleto de imagens e boxes explicativos, Doenças e curas é imperdível para quem quer conhecer melhor o início - doloroso - da nossa História.

RESENHA

O livro "Doenças e Curas: O Brasil nos Primeiros Séculos" de Cristina Gurgel é uma obra que se propõe a estudar a história da medicina e das doenças no período colonial brasileiro. A autora parte do pressuposto de que as doenças e as práticas médicas exerceram um papel fundamental na conformação da sociedade colonial, influenciando não apenas os aspectos demográficos, mas também os âmbitos socioeconômico, político e cultural.

Nos primeiros capítulos, Gurgel aborda as teorias sobre as origens dos povos ameríndios e as consequências biológicas do isolamento geográfico desses grupos. A autora discute as evidências arqueológicas e paleoparasitológicas que apontam para a presença de parasitas intestinais nas populações pré-colombianas, bem como a hipótese de que a ausência de animais domésticos tenha sido um fator determinante para a fragilidade imunológica desses povos diante de doenças infectocontagiosas.

Em seguida, Gurgel apresenta um panorama da sociedade indígena brasileira nos séculos XVI e XVII, com ênfase nas práticas médicas e nas enfermidades que acometiam essas populações. A autora destaca a diversidade cultural entre os diferentes grupos, bem como a importância dos pajés e da utilização de recursos da flora nativa no tratamento de doenças. Ademais, são discutidas as possíveis causas da elevada mortalidade indígena frente a epidemias de doenças infecciosas trazidas pelos colonizadores.

O quarto capítulo aborda as consequências da expansão marítima europeia para a saúde das populações envolvidas. Gurgel analisa as precárias condições de higiene e alimentação a bordo das embarcações, bem como a disseminação de doenças infectocontagiosas, como o escorbuto e o tifo, entre os tripulantes. A autora também discute o papel desempenhado pela medicina popular e erudita no tratamento desses males.

Neste capítulo, Gurgel se debruça sobre o choque entre os universos culturais indígena e europeu, com ênfase nos impactos da colonização sobre a saúde e a organização social dos povos nativos. A autora analisa a descrição feita por Pero Vaz de Caminha sobre o primeiro contato entre portugueses e indígenas, bem como o papel desempenhado pelos jesuítas na catequização e na assistência médica aos nativos.

Nos capítulos finais, Gurgel aborda as condições de saúde da população colonial, tanto nas vilas e cidades quanto nos sertões. A autora destaca a precariedade da assistência médica, a atuação de profissionais como boticários, barbeiros e cirurgiões, bem como a importância da medicina popular, que mesclava elementos das tradições indígena, africana e europeia.

Ao final do livro, Gurgel apresenta uma reflexão sobre a importância do estudo das doenças e das práticas médicas para a compreensão da história do Brasil colonial. A autora enfatiza que a medicina, longe de ser um campo neutro e ahistórico, esteve intrinsecamente relacionada aos processos sociais, econômicos e políticos que conformaram a sociedade brasileira nos primeiros séculos de colonização.

"Doenças e Curas: O Brasil nos Primeiros Séculos" é uma obra de grande relevância para o campo da história da medicina e da saúde pública no Brasil. Cristina Gurgel realiza uma abordagem interdisciplinar, articulando conhecimentos das áreas de história, antropologia, arqueologia e ciências da saúde, a fim de compreender as dinâmicas que envolveram as doenças e as práticas médicas no período colonial. A riqueza de fontes primárias e secundárias mobilizadas, bem como a clareza da exposição, tornam este livro uma leitura indispensável para pesquisadores e estudantes interessados na temática.

Resenha: Jornalismo Popular, de Márcia Franz Amaral

 

APRESENTAÇÃO

Jornalismo, para ser popular, precisa ser sensacionalista? Subestimar o leitor tem sido a prática de muitos veículos da mídia, mas este livro mostra a possibilidade e a necessidade de jornais populares de qualidade. Em uma pesquisa cuidadosa que foge das respostas óbvias, a autora discute os principais veículos e esclarece o que se espera de um bom jornalista que atue no meio.Em ampla expansão tanto na imprensa quanto na mídia eletrônica essa área - com redações que publicam matérias exclusivas, dão furos e ganham prêmios - representa um mercado de trabalho expressivo tanto para profissionais experientes quanto para jovens repórteres.

RESENHA

O livro "Jornalismo Popular", de Márcia Franz Amaral, publicado pela Editora Contexto em 2006, apresenta uma abordagem aprofundada e fundamentada sobre um segmento da imprensa que, embora tenha grande relevância no cenário midiático brasileiro, ainda é pouco estudado e compreendido pela academia: os jornais destinados às classes B, C e D.

A autora parte da constatação de que a noção de "sensacionalismo", comumente utilizada para caracterizar esse tipo de imprensa, é insuficiente e carregada de preconceitos. Amaral opta, então, pelo termo "jornalismo popular" por considerar que este melhor abarca as especificidades desse mercado e de seu público-alvo. Nessa perspectiva, o livro se propõe a discutir as estratégias e tendências dessa imprensa, buscando compreendê-la para além dos rótulos e estigmas que normalmente lhe são atribuídos.

Para tanto, a obra apresenta uma contextualização histórica do sensacionalismo na imprensa, desde seus primórdios no século XIX até sua chegada e consolidação no Brasil. Essa revisão bibliográfica permite à autora situar o surgimento e a evolução dos jornais populares em um quadro mais amplo, evidenciando como determinadas práticas e recursos narrativos remontam a matrizes culturais e estéticas consagradas, como o melodrama e o folhetim.

Ao analisar os principais jornais populares brasileiros, como O Dia, Extra e Diário Gaúcho, Amaral identifica as estratégias de aproximação com o leitor, que vão desde a linguagem simples e didática até a concessão de amplo espaço para a voz do público. Destaca-se, nesse sentido, o estudo de caso aprofundado sobre o Diário Gaúcho, que, segundo a autora, leva ao extremo certas características desse segmento, como a predominância de uma matriz dramática e folhetinesca.

Ao longo do texto, a pesquisadora problematiza a dicotomia entre a "imprensa de referência", voltada às classes A e B, e a "imprensa popular", destinada às camadas mais baixas da população. Enquanto a primeira se pauta pelo "interesse público", a segunda prioriza o "interesse do público", adotando enfoques, pautas e linguagens mais próximas da realidade concreta do leitor.

Nesse sentido, o livro apresenta uma reflexão aprofundada sobre as raízes culturais e históricas que embasam as estratégias de popularização da grande imprensa, evidenciando como elas se articulam a lógicas de mercado e a modos de representação do "popular" historicamente construídos.

Ao final, Amaral discute os desafios e possibilidades de um "jornalismo popular de qualidade", que consiga conciliar os interesses comerciais com compromissos éticos e sociais. Nessa perspectiva, a autora aponta caminhos e práticas que poderiam contribuir para a construção de uma imprensa popular mais responsável e comprometida com a formação cidadã de seu público.

Em suma, "Jornalismo Popular" se configura como uma obra de grande relevância para os estudos de jornalismo e comunicação no Brasil, na medida em que se debruça sobre um objeto pouco explorado, porém fundamental para a compreensão do cenário midiático contemporâneo. Trata-se de uma leitura obrigatória para pesquisadores, estudantes e profissionais interessados em refletir criticamente sobre as transformações pelas quais passa a grande imprensa nacional.

O livro aborda o segmento de jornais populares, destinados às classes B, C e D, que buscam se aproximar de camadas mais amplas da população. Esse tipo de imprensa vem se transformando, deixando de lado o sensacionalismo exacerbado para adotar estratégias de aproximação com o leitor por meio da prestação de serviços, do entretenimento e da linguagem mais próxima ao público.

O primeiro capítulo faz uma recuperação histórica do sensacionalismo na imprensa e discute o porquê de usar o termo "jornalismo popular" em vez de "sensacionalista". O segundo capítulo contextualiza o novo momento vivido pelos jornais, revistas e programas de TV voltados ao público popular. 

O terceiro capítulo apresenta uma reflexão sobre as diferenças entre a imprensa de referência, voltada às classes A e B, e a imprensa popular, que prioriza o interesse do público em detrimento do interesse público. O quarto capítulo aprofunda-se no estudo de caso do jornal Diário Gaúcho, que leva ao extremo algumas estratégias de aproximação com o leitor.

O quinto capítulo detalha práticas cotidianas do jornalismo popular, como o conhecimento do leitor, a mudança de pontos de vista, o cuidado com a linguagem e a adequação do projeto gráfico. Também aborda os riscos dessa popularização, como o excesso de dramatização e a prioridade para o interesse do público em detrimento do interesse público. Por fim, apresenta possibilidades de um jornalismo popular de qualidade.

Resenha: Não existe linguagem neutra: gênero na sociedade e na gramática do português brasileiro, de Raquel Freitag


APRESENTAÇÃO

Está nos jornais, virou conversa de bar e até tema de discursos inflamados de parlamentares: a tal da linguagem neutra ganhou as ruas e há trincheiras a favor e contra. Mas o que é exatamente linguagem neutra? Existe gênero gramatical neutro? E linguagem inclusiva? A escola deve ensinar marcas não binárias? Quais são essas marcas no português? Em um livro fascinante, Raquel Freitag mostra que o português brasileiro está passando por um momento de menor estabilidade, com a regra de uma hegemonia, o masculino genérico, sendo ameaçada. E discute, ainda, como a ambiguidade do adjetivo “neutra” do título do livro permite que diferentes grupos evoquem a sua perspectiva, alinhada ao seu modo de ver e conceber o mundo.

RESENHA

O livro de Raquel Freitag discute a questão da linguagem neutra em relação aos gêneros das pessoas, abordando diferentes formas de expressão como "todos e todas", "todes", "todos, todas e todes", "tod@", "todx", "tods". Mostra como a linguagem reflete e perpetua hierarquias sociais e promove discriminação e preconceito. Destaca a importância da Sociolinguística no estudo das relações entre língua e sociedade, e a influência da ideologia nas escolhas linguísticas. A autora ainda argumenta que não existe neutralidade na linguagem, pois as pessoas expressam quem são e a que grupo pertencem. O texto também explora a presença da discussão sobre linguagem neutra na academia e na sociedade, abordando a importância da diversidade de perspectivas e da popularização da ciência. Por fim, apresenta os capítulos de um livro que reflete sobre a diversidade linguística e os debates em torno da linguagem inclusiva.

A autora discorre sobre a preocupação de parlamentares brasileiros com projetos de lei relacionados à preservação da norma culta da língua portuguesa e à proibição do uso de linguagem neutra, em meio à pandemia de covid-19. Discute a falta de consciência das regras da língua e a percepção da mudança linguística, abordando a necessidade de compreender como o gênero se conforma na sociedade e na língua. Também menciona iniciativas legislativas em outros países relacionadas ao uso de marcas não binárias na linguagem. A percepção das regras da língua é fundamental para a constituição da identidade linguística das pessoas. A consciência sociolinguística envolve conhecer as diferentes maneiras de falar e como isso varia em diferentes contextos sociais. As pessoas têm conhecimentos específicos sobre a estrutura da língua e também sobre aspectos sociais, como variação linguística. A percepção das regras da língua pode ser implícita (observando e inferindo) ou explícita (por meio de correção ou instrução formal). A consciência sociolinguística popular e o prescritivismo influenciam a forma como as pessoas percebem e codificam as regras da língua. E é importante considerar o que as pessoas comuns pensam sobre a língua, pois isso influencia as práticas linguísticas da sociedade.

A autora aborda a questão da linguagem neutra, que não existe de fato, e como a gramática e as normas linguísticas são influenciadas pela sociedade e pelas mudanças sociais. Os especialistas e não especialistas têm visões diferentes sobre as regras da linguagem, o que pode levar a interpretações equivocadas e conflitos. A norma-padrão da língua é uma construção social e histórica, e as mudanças na linguagem podem refletir mudanças na sociedade. Novas formas de referência de gênero na língua são discutidas como uma forma de dar visibilidade a grupos minorizados. A relação entre linguagem e sociedade é abordada como um aspecto importante a ser considerado na análise dos processos de mudança linguística.

Freitag argumenta que a conformação do gênero começa desde a gestação, com a definição do sexo do bebê influenciando em todas as escolhas e expectativas futuras. No entanto, as questões de gênero vão além do binarismo masculino e feminino, exigindo a separação entre sexo biológico e gênero social. Movimentos como o feminismo de terceira e quarta onda buscam expandir as noções de gênero, permitindo identidades diversas e fluidas. A luta contra o sexismo e a hierarquia heterocisnormativa se reflete na linguagem, com debates sobre a inclusão e a representação precisa de gênero na sociedade. A autora aborda as diferenças atribuídas ao gênero social para explicar comportamentos linguísticos de homens e mulheres, apresentando diferentes perspectivas teóricas sobre a relação entre linguagem e gênero. Discute-se a linguagem das mulheres como um "sexoleto", com características como vocabulário específico, adjetivos vazios e uma entonação interrogativa. Explora-se também a dominância masculina na linguagem, destacando diferenças na interação entre homens e mulheres. Além disso, são apresentadas abordagens que analisam a fala feminina não como uma questão de opressão, mas como estratégias linguísticas próprias das mulheres, demonstrando características como colaboração e cooperação na comunicação. Por fim, discute-se a construção discursiva e dinâmica de gênero, considerando a identidade de gênero como uma construção social.

Raquel Freitag aborda a questão do gênero gramatical na língua portuguesa e em outras línguas, mostrando como a necessidade de atribuir um gênero gramatical a palavras não está necessariamente ligada ao sexo ou ao gênero das pessoas ou objetos referidos. Ele também discute as diferentes manifestações do gênero gramatical em diferentes línguas e dentro da mesma língua, bem como a relação entre gênero gramatical e gênero referencial, sexual, civil e identitário. O texto aponta para a necessidade de reconfiguração das regras gramaticais em relação ao gênero, especialmente no que se refere à inclusão de pessoas que não se identificam com o binário de gênero masculino e feminino. Ele destaca a importância da mudança nas gramáticas como reflexo das mudanças na sociedade em relação ao gênero.

A obra de Raquel Freitag apresenta uma abordagem profunda e abrangente sobre a linguagem neutra e a relação entre língua e sociedade. Ao explorar diferentes formas de expressão e discutir a influência da ideologia na escolha linguística, a autora destaca a importância da Sociolinguística no entendimento das relações de poder e discriminação presentes na linguagem. Além disso, a autora promove a conscientização sobre a necessidade de reconhecer e respeitar a diversidade de identidades de gênero, estimulando reflexões sobre a forma como a linguagem pode reproduzir e reforçar estereótipos prejudiciais.

Por meio de uma análise cuidadosa e aprofundada, Freitag evidencia como a linguagem reflete e influencia as estruturas sociais, ressaltando a importância de congregar diferentes perspectivas e vozes na discussão sobre linguagem inclusiva. Sua obra não apenas denuncia as formas de discriminação presentes na linguagem, mas também sugere caminhos e possibilidades para a construção de um discurso mais equitativo e respeitoso com as diversas identidades de gênero. Dessa forma, o livro de Raquel Freitag se destaca não apenas como uma contribuição relevante para os estudos linguísticos, mas também como um manifesto pela diversidade e pela igualdade de direitos linguísticos e sociais.

Resenha: Introdução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras, de Rodrigo llari

Foto: Arte digital / Divulgação

 

APRESENTAÇÃO

Em um livro lúdico - e valendo-se da experiência e da qualidade de trabalho desenvolvido como um dos maiores linguístas brasileiros da atualidade - Rodolfo Ilari apresenta-nos uma grande obra sobre as possibilidades de estudo das palavras no português do brasileiro. Mais do que isso: Ilari nos faz percorrer o caminho do jogo, perceber nas construções mais cotidianas (como a piada entre amigos ou o jogos de adivinha) os mecanismos de que o falante se utiliza na construção da linguagem. Homônimos, sinônimos, antônimos, ambiguidades e anglicismos são alguns dos assuntos abordados nesta obra fundamental para alunos de Letras, professores de Português e demais interessados em compreender nossa língua mais a fundo.


RESENHA


O livro "Introdução ao estudo do léxico - brincando com as palavras" de Rodolfo Ilari aborda a importância das palavras na construção de mensagens linguísticas com foco no significado. O autor, conhecido por sua expertise na linguagem, conduz os leitores a uma reflexão sobre a linguagem, visando preparar futuros professores para ensinarem de forma crítica e independente. Ilari destaca-se pela profundidade de seus conhecimentos, versatilidade na ciência da linguagem e preocupação com o ensino de língua e formação de professores. O livro é um guia essencial para quem busca compreender e ensinar a linguagem de forma eficaz.


Em 'ambiguidade', o autor aborda a ambiguidade na linguagem, que consiste na característica das sentenças que apresentam mais de um sentido. São mostrados diversos fatores linguísticos que podem gerar ambiguidades, como a possibilidade de uma sentença ter duas análises sintáticas diferentes, um pronome com dois antecedentes, uma palavra com dois sentidos diferentes, um mesmo operador aplicado de duas maneiras diferentes, entre outros. Além disso, a ambiguidade também pode decorrer da dificuldade em discernir se as palavras foram utilizadas de forma literal ou indireta. O texto propõe um teste para identificar a ambiguidade em sentenças e apresenta exemplos de manchetes de jornais ambíguas. A atividade proposta é relatar um caso de interpretação equivocada de uma informação ou ordem, e é sugerida uma série de exercícios para analisar a ambiguidade em manchetes de jornais.


Em 'anglicismo', aborda o fenômeno dos anglicismos no português do Brasil, que são palavras e construções gramaticais que foram incorporadas do inglês ao longo do tempo. Essa incorporação acompanha a assimilação de artefatos, tecnologias e hábitos que esses termos nomeiam. Muitas palavras foram recebidas do inglês nos séculos XIX e XX, especialmente ligadas ao vestuário, comércio, esporte, cinema e tecnologia. Um exemplo é a informática, que trouxe uma grande quantidade de anglicismos para o português do Brasil. O texto também apresenta exercícios para identificar e compreender o significado de anglicismos em diversas áreas, como política, esporte e produção. Além disso, explora a origem e curiosidades de palavras inglesas incorporadas à língua portuguesa.


No capítulo 'antonímia',  o autor explica que antonímia é a exploração de palavras e frases que podem ser colocadas em oposição, com o objetivo de enriquecer a reflexão e a expressão. Antônimos são palavras que se referem a realidades opostas, como ações, qualidades, relações, entre outros. Essas oposições podem ter fundamentos diferentes, como diferentes posições numa mesma escala, início e fim de um mesmo processo ou diferentes papéis numa mesma ação. A antonímia pode ser encontrada em substantivos, adjetivos, verbos, advérbios, preposições, entre outros. Além disso, textos podem construir oposições entre palavras e expressões que não consideramos como antônimas. Atividades e exercícios são propostos para explorar esse recurso na linguagem.


O capítulo 'arcaísmo', somos levados à compreensão de que são expressões que caíram em desuso na língua, refletindo um estado mais antigo. Podem ser encontrados em diversos domínios da língua, como no vocabulário, morfologia e sintaxe. O uso de arcaísmos é mais comum na literatura e em autores que fazem do arcaísmo um recurso de estilo. Palavras e construções se tornam arcaicas devido a objetos, técnicas e hábitos em desuso, ou pela perda de ligação com outras palavras de origem comum. Exemplos de arcaísmos incluem expressões como "senhor" em substituição a "senhora", ou a palavra "dulcidão" em vez de "doçura". Além disso, foi apresentado um trecho de uma carta do século XVIII como exemplo de arcaísmos e foram propostos exercícios para identificar e compreender o uso de arcaísmos.


Foto: Arte digital / Divulgação


No capítulo 'campos lexicais', o autor esclarece que campos lexicais são conjuntos de palavras que nomeiam experiências semelhantes, como cores ou animais. A organização desses campos pode ser feita por meio da análise componencial, que quebra a significação das palavras em unidades menores, ou pela análise por protótipos, identificando indivíduos representativos da categoria. Exercícios propostos envolvem a aplicação desses conceitos, como associar marcas a produtos, distinguir palavras com traços específicos, e criar gráficos ou diagramas com palavras relacionadas. Além disso, é discutida a relação entre antigos fabricantes e marcas após fusões de empresas.


Em '(In-) compatibilidades entre partes de uma sentença',  aborda as incompatibilidades entre as partes de uma sentença, tanto no aspecto linguístico quanto no prático. São apresentados exemplos de combinações de palavras que causam estranheza ou não fazem sentido, devido às restrições de seleção lingüística. Além disso, são propostos exercícios práticos para identificar e compreender essas incompatibilidades, como completar frases corretamente, identificar coletivos, interpretar anúncios imobiliários e analisar diálogos que apresentam equívocos de entendimento. Através dessas atividades, mostra-se a importância de compreender as restrições de seleção nas sentenças para uma comunicação eficaz.


Em  'definições',  aborda a importância de formular definições claras e corretas, destacando os defeitos mais comuns encontrados nesse tipo de texto. Ele mostra exemplos de definições bem formuladas e ressalta que uma boa definição ajuda a aumentar o vocabulário, eliminar ambiguidades e tornar preciso o uso de palavras vagas. São apresentadas características do que uma boa definição não deve ser, como uma simples enumeração de exemplos, definições circulares, obscuras, amplas, estreitas, figuradas, negativas e atividade de resolução de exercícios sobre definições.


Em 'Distribuição: os constituintes da oração',  aborda a distribuição dos constituintes da oração, destacando a importância da combinação de palavras de acordo com esquemas sintáticos conhecidos intuitivamente pelos falantes da língua. São apresentadas noções como oração bem formada, distribuição e constituinte, ilustradas com exemplos. São propostos exercícios para prática e análise da distribuição dos constituintes em frases, bem como sugestões de atividades e testes para aplicação prática dos conceitos apresentados.


Em 'estrangeirismos', explica que estrangeirismos são palavras ou expressões de outras línguas que são incorporadas ao português ao longo da sua história. Essa influência linguística enriquece a língua, mas também gera polêmicas e debates sobre a preservação do idioma. O uso de estrangeirismos é visto como uma forma de enriquecimento, mas também pode ser considerado um vício de linguagem. Além disso, existem projetos de lei, como o Projeto de Lei No 1676/99, que buscam regular o uso de palavras estrangeiras no Brasil. Argumentos contrários ao uso excessivo de estrangeirismos incluem a proteção da integridade da língua e a valorização do idioma nacional.


Em 'etimologia', o autor esclarece que etimologia é o estudo da origem das palavras e pode ser científica ou popular. A etimologia científica investiga a origem das palavras de forma histórica, mostrando a continuidade entre a forma e o sentido atual das palavras e suas formas mais antigas. Já a etimologia popular é uma prática não científica onde as pessoas modificam as palavras para explicar sua significação. A língua portuguesa no Brasil possui palavras de várias origens, como latina, grega, germânica, árabe, indígena e africana, além de palavras emprestadas de outras línguas ao longo dos séculos. A formação de novas palavras a partir de palavras pré-existentes na língua é um mecanismo importante na evolução da língua. Diversos exercícios são propostos para explorar a etimologia e a formação de palavras.


Em 'flexão nominal',  aborda a flexão nominal, que engloba variações de gênero, número e grau em substantivos e adjetivos. São apresentados exemplos de flexões e atividades para refletir sobre o tema, como a formação do feminino de palavras, o uso de adjetivos no comparativo e superlativo, e a intensificação de adjetivos. Também é discutida a diferença entre o uso genérico e específico do singular em manchetes de jornais.


Em 'Formação de palavras novas e sentidos novos na língua',  discute os principais processos de formação de palavras na língua portuguesa, como a sufixação, a prefixação e a composição. Ele também destaca a criação de novos sentidos para palavras já existentes. São apresentados exemplos de palavras formadas por esses processos, assim como atividades e exercícios para explorar a criação de novas palavras e significados na língua. Além disso, são mencionados neologismos que surgiram nos últimos anos.


Em 'Homonímia',  trata da homonímia, que são palavras que se pronunciam da mesma maneira, mas têm significados distintos. Exemplos dados incluem palavras que pertencem a classes gramaticais diferentes e palavras que se escrevem de maneiras diferentes. Apesar de causar ambiguidade, o contexto geralmente elimina as dúvidas causadas pela homonímia. O texto também apresenta atividades para identificar palavras de duplo sentido e explorar piadas e brincadeiras que utilizam a homonímia. Por fim, inclui um exercício que exemplifica como a interpretação de uma pergunta pode variar de acordo com o sentido de uma palavra.


Em 'Motivação icônica',  discute a motivação icônica na linguagem, que se baseia na relação entre forma e sentido. São apresentados exemplos de como essa motivação é utilizada na comunicação, como na onomatopeia, na ordem do texto e na proximidade das formas. Um experimento realizado por um psicolinguista é descrito para exemplificar como a linguagem pode ser intrinsecamente motivada. São propostos exercícios para explorar a motivação icônica na linguagem, como identificar nomes de pássaros que imitam a voz do próprio pássaro e analisar a representação de diferentes ruídos e sons na linguagem. O texto também discute a distinção entre onomatopeia primária e secundária, citando exemplos de como a linguagem pode ser icônica e simbólica em diferentes idiomas.


Em 'Nexos entre orações',  discute a possibilidade de estabelecer nexos entre orações para compreender melhor o papel das conjunções. Tradicionalmente, orações são descritas na sintaxe do período como coordenação e subordinação. São apresentados exemplos de conversão de orações em elementos substantivos, adjetivos e adjuntos. Além disso, são propostos exercícios práticos para identificar e analisar o uso de conjunções em diferentes contextos.


Em 'números',  aborda a importância dos números na nossa vida cotidiana, especialmente na linguagem. Os diferentes tipos de numerais são discutidos, assim como suas aplicações em diversas construções linguísticas. São propostos exercícios práticos para explorar a relação entre números e palavras, como analisar expressões que contêm numerais, realizar conversões de unidades de medida e refletir sobre o uso de numerais em diferentes contextos. O texto também destaca a presença de antigos numerais em formações linguísticas atuais e aborda a importância de interpretar corretamente informações numéricas em notícias e manchetes.


Em 'As palavras-pro', aborda o uso dos pronomes na língua portuguesa, questionando a ideia tradicional de que os pronomes "substituem" os nomes. Além disso, apresenta exemplos de diferentes usos dos pronomes, como identificar os participantes de um diálogo e funcionar como variáveis matemáticas. O texto também propõe atividades, como analisar diálogos e redigir regulamentos de jogos, que envolvem o uso correto dos pronomes na língua portuguesa.


Em 'Reconhecimento de formas de um mesmo paradigma flexional',  aborda a importância do reconhecimento de formas de um mesmo paradigma flexional, como verbos, substantivos e adjetivos, para fortalecer a noção de paradigma de conjugação. São apresentados exemplos de como identificar essas formas e exercícios para praticar esse reconhecimento, além de reflexões sobre a irregularidade da flexão, a utilização de adjetivos e verbos e a relação entre diferentes formas verbais. Diversos exemplos e atividades são propostos ao longo do texto para exemplificar e aprofundar o tema.


Em 'Polissemia',  aborda o conceito de polissemia, que se refere aos diferentes sentidos que uma mesma palavra pode assumir, tornando-a apta a ser utilizada em diferentes contextos. A polissemia é contrastada com a homonímia, pois para que haja polissemia é preciso que haja uma única palavra, enquanto a homonímia envolve mais de uma palavra. Além das palavras, a polissemia também afeta construções gramaticais. O texto apresenta exemplos de diferentes sentidos da palavra "velar" e propõe exercícios para explorar a diversidade de significados das palavras em diferentes contextos.


Em 'Predicados de predicados; predicados de eventos',  aborda a ideia de predicados de predicados e predicados de eventos, apresentando exemplos e diferentes formas de modificação dos predicados em uma frase. São discutidos também os diferentes tipos de advérbios, locuções adverbiais e verbos que podem ser utilizados para modificar predicados. Por fim, são propostos exercícios relacionados à aplicação dos conceitos discutidos no texto.


Em 'Sinonímia',  aborda a distinção entre substantivos contáveis e não-contáveis e explora o uso eficaz de ambos. Substantivos contáveis designam objetos discretos que podem ser contados no plural, enquanto os não-contáveis designam porções de substância que não são contáveis no plural. São fornecidos exercícios práticos para compreender essa distinção, como identificar palavras contáveis e não-contáveis em textos, completar frases com palavras adequadas do par, entre outros.


Em 'Sufixos', o autor esclarece que sufixos são unidades significativas adicionadas à direita de um radical para formar novas palavras. Existem diversos sufixos na língua portuguesa, como -ismo, -ista, -ando, -ento, -ável, -udo, entre outros. Eles podem ter mais de um sentido e são utilizados para formar palavras de classes específicas. Um exemplo é o sufixo -izar, que forma verbos transitivos a partir de substantivos e adjetivos. Alguns sufixos, como -ismo, -ista, -ável, podem indicar uma opinião negativa em certas palavras. Os sufixos não são aplicados aleatoriamente e cada um se aplica a palavras de uma classe determinada, criando palavras também de classes específicas.


Em 'termos genéricos e termos específicos',  discute a diferença entre termos genéricos e termos específicos, mostrando que os termos genéricos são mais abrangentes, enquanto os termos específicos são mais precisos. Ele exemplifica essa ideia com o uso de hipônimos e menciona a importância de usar termos específicos para fornecer mais informações sobre um objeto. Em seguida, propõe exercícios para praticar a distinção entre termos genéricos e específicos. Além disso, apresenta situações cotidianas em que o uso de termos genéricos pode gerar problemas de comunicação. Por fim, inclui uma anedota e uma questão de vestibular que abordam o tema.


Em 'Variação diastrática e de registro',  aborda a variação diastrática e de registro na linguagem, destacando a convivência de diferentes variedades linguísticas na sociedade brasileira e a influência de fatores como a educação formal e a informalidade da situação de fala. Apresenta características do português substandard, como a tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas, redução de ditongos, trocas de letras e o uso de formas específicas. Além disso, discute a importância do registro na linguagem, que varia conforme a situação de comunicação, como o número de participantes, formalidade, assunto e veículo de comunicação. Também menciona as linguagens próprias de grupos sociais, como gírias e expressões técnicas, e propõe atividades e exercícios para reflexão sobre essas questões.


O livro "Introdução ao estudo do léxico - brincando com as palavras" de Rodolfo Ilari é uma obra completa e essencial para quem deseja compreender de forma profunda a linguagem e o significado das palavras. O autor, com sua vasta experiência na área, conduz os leitores em uma jornada reflexiva sobre diversos aspectos da linguagem, preparando futuros professores de forma crítica e independente. Os capítulos abordam temas como ambiguidade, anglicismos, antonímia, arcaísmo, campos lexicais, incompatibilidades entre partes da sentença, entre outros, proporcionando uma visão abrangente e enriquecedora sobre o léxico. Os exemplos e exercícios propostos ao longo do livro são um grande diferencial, permitindo aos leitores uma compreensão prática e aprofundada dos conceitos apresentados. Em suma, o livro é uma fonte de conhecimento indispensável para quem busca aprimorar sua compreensão e ensino da linguagem de forma eficaz.

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