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Resenha: Emburrecimento programado o currículo oculto da escolarização obrigatória, de John Taylor Gatto

Foto: Arte da capa / Ed. Kirion

O livro "Emburrecimento Programado: o currículo oculto da escolarização obrigatória", escrito por John Taylor Gatto, convida a uma reflexão profunda sobre o sistema educacional e suas consequências na sociedade. Gatto, um educador renomado e crítico da escola obrigatória, dedicou sua vida a expor as falhas e a verdadeira intenção por trás da educação formal. Em suas páginas, ele compartilha suas observações e vivências, questionando a eficácia do sistema de ensino e defendendo a educação fora dos moldes tradicionais. Com uma abordagem crítica e instigante, Gatto provoca os leitores a repensarem suas práticas educativas, incentivando uma educação mais consciente e libertadora.

O autor critica o sistema educacional e a manipulação das instituições para moldar uma mão-de-obra dócil e conformada. O autor questiona a eficácia das escolas, apontando que elas são bem-sucedidas em seu objetivo de produzir trabalhadores obedientes, e critica a abordagem publicitária para aumentar a demanda por recursos educacionais. Por fim, sugere que a saída desse sistema é a autoconfiança e a independência das regras impostas. O autor ainda aborda a ideia de que as reformas educacionais nunca são concluídas e que a sociedade está presa em um ciclo de dependência intelectual e emocional. Destaca-se a importância de uma educação baseada na auto-iniciativa e na autogestão democrática, mencionando a visão de Dan Greenberg sobre a educação do século XXI. Por fim, enfatiza-se a resistência contra o sistema educacional atual, que busca emburrecer as crianças para atender aos interesses da sociedade. A obra de Gatto é vista como uma possibilidade de resistência e uma forma de proteger a liberdade e criatividade das crianças.

Para reafirmar sua ideia da falibilidade do sistema educacional o autor usa da descrição de sete 'bases' educacionais do ensino tradicional, sendo elas:

1. A confusão

Kathy de Dubois, em Indiana, acredita que as crianças pequenas precisam entender que o que estão aprendendo está ligado a um sistema, com coerência. No entanto, o autor discorda, afirmando que ensina a desconexão e a não-relação de tudo, em um ambiente escolar que carece de coerência e sentido. Ele enfatiza a importância de aprender em profundidade e extrair sentido dos dados brutos, criticando a falta de conexão nas sequências escolares. O autor ensina os alunos a aceitarem a confusão como parte de seu destino, questionando a lógica da educação tradicional.

2. Posição de classe

A segunda lição ensinada pelo autor é sobre a posição de classe na escola. Ele afirma que as crianças devem permanecer nas classes a que pertencem, que são determinadas por números. O autor incentiva os alunos a aceitarem sua posição na hierarquia escolar e a valorizarem as classes mais altas, enquanto desprezam as classes consideradas inferiores. Ele também oferece a possibilidade de transferência para uma classe mais alta como recompensa por um bom desempenho acadêmico, embora admita que isso não tenha impacto real no futuro profissional dos alunos. O autor destaca a importância de aceitar e se conformar com a posição atribuída pela escola, ressaltando que é improvável que alguém consiga escapar da sua classe designada.

3. Indiferença

O autor descreve como o sistema escolar ensina a indiferença aos alunos, incentivando-os a não se importarem com nada, sempre interrompendo suas atividades e nunca permitindo que terminem algo importante. Isso os condiciona a um mundo onde nada é digno de ser concluído e onde a importância é minimizada. Os sinais são a lógica secreta do tempo escolar, destruindo passado e futuro e tornando cada intervalo de tempo igual ao anterior, promovendo a indiferença em todas as atividades.

4. Dependência emocional

O autor ensina sobre a dependência emocional nas crianças, através de recompensas e punições para moldar seu comportamento e fazer com que cedam sua vontade à autoridade escolar. Ele interfere em decisões pessoais e julga a individualidade como uma ameaça ao controle. As crianças buscam momentos de privacidade e liberdade, que o autor permite para condicioná-las a depender de sua benevolência. Ele reconhece apenas privilégios que podem ser retirados com base no comportamento.

5. Dependência Intelectual

O autor destaca a importância da dependência intelectual, afirmando que bons alunos devem esperar que os professores os guiem e determinem o que devem aprender. Ele ressalta que a conformidade é mais importante do que a curiosidade, e que aqueles que resistem às instruções dos professores são considerados "crianças ruins". O autor também discute como a sociedade depende da dependência das pessoas para manter serviços e indústrias funcionando, e alerta que uma reforma educacional radical poderia ameaçar o estilo de vida atual.

6. Autoestima provisória

A autoestima provisória ensina que o respeito próprio de uma criança deve depender da opinião de um especialista, sendo constantemente avaliada e julgada. Relatórios mensais são enviados para os pais para indicar o nível de insatisfação com a criança, perpetuando assim a falta de confiança e dependência das avaliações de autoridades. A auto-avaliação e a confiança em si mesmo não são consideradas, em detrimento da valorização da opinião de terceiros.

7. Não é possível esconder-se

A sétima lição do professor é que não é possível se esconder, pois todos estão sendo constantemente observados. Ele incentiva os alunos a delatarem uns aos outros e até mesmo seus próprios pais, criando um ambiente de vigilância constante e ausência de privacidade. Ele critica a escolarização em massa e compulsória monopolizada pelo governo, que impede o desenvolvimento autêntico das crianças. O professor defende a necessidade de uma reformulação do sistema educacional, com um mercado livre de educação pública, para permitir mais variedade e individualidade no ensino. Ele acredita que as lições da escola impedem as crianças de desenvolverem habilidades essenciais como automotivação, autoestima e amor ao próximo. Ele argumenta que a escolarização atual é destrutiva para as crianças e defende uma mudança radical no sistema educacional.

Foto: Arte digital / Reprodução da capa

Após a introdução das sete lições, o autor autor fala sobre a crise na educação e na sociedade, destacando a desconexão das crianças do mundo adulto e a falta de curiosidade, noção do futuro e compreensão histórica. Ele critica o sistema educacional, destacando a escola como uma instituição que não ensina nada além de obedecer a ordens. Propõe reformas, como o serviço comunitário obrigatório e a valorização do autoconhecimento e da autonomia das crianças. Defende a importância da família no processo educativo e a necessidade de repensar a ideia de "escola" para incluir a família como principal força motriz da educação.

O ainda autor narra suas experiências pessoais que o levaram a se tornar professor, desde sua infância no Rio Monongahela até sua vida como professor substituto em escolas de Nova York. Ele relata como um incidente com uma aluna, Milagros, o fez repensar sua carreira na publicidade e buscar um propósito mais significativo como educador. Ele destaca a importância de encontrar sentido no trabalho e de buscar justiça para os alunos, mesmo diante das adversidades enfrentadas no sistema educacional.

O autor argumenta que o aumento da escolarização compulsória não é a solução para os problemas enfrentados pela sociedade americana. O autor defende que a escolarização em massa é incapaz de promover a verdadeira educação, que valoriza a individualidade, a autoconhecimento e a participação em comunidades reais. Ele critica a mentalidade das redes operacionais, que enfatizam a eficiência em objetivos limitados em detrimento do desenvolvimento humano completo. O autor destaca a importância da privacidade, variedade e individualidade na formação das crianças e argumenta que a escola atualmente prejudica as crianças, as famílias e as comunidades ao invés de promover seu desenvolvimento. Ele propõe desmembrar o sistema educacional atual e promover uma educação mais autêntica, baseada na liberdade individual e na participação na vida em comunidade.

O autor segue abordando a questão da educação nos Estados Unidos, criticando a instituição da escola científica e defendendo uma abordagem baseada no princípio congregacional. Ele cita exemplos históricos da Nova Inglaterra colonial para ilustrar como a descentralização e a liberdade de escolha nas comunidades locais levaram a uma educação mais eficaz. Ele critica a abordagem atual da educação, baseada em padronização e centralização, e sugere que a confiança nas famílias e indivíduos, juntamente com a experimentação e a autonomia local, pode ser a chave para melhorar o sistema educacional. Ele defende a descertificação dos professores, a devolução do dinheiro dos impostos para que as famílias escolham a educação de seus filhos e o estímulo à competição em um mercado livre de manipulações. Ele destaca a importância de considerar o propósito da educação e não permitir que especialistas respondam a essa pergunta no lugar das famílias e comunidades locais.

O trabalho de John Taylor Gatto, "Emburrecimento programado o currículo oculto da escolarização obrigatória", é uma leitura instigante e esclarecedora que desafia os leitores a refletir sobre a natureza do sistema educacional e suas implicações para a sociedade. Com sua vasta experiência como educador, o autor apresenta uma análise perceptiva das deficiências dos métodos tradicionais de ensino, questionando a eficácia das instituições educacionais na promoção do desenvolvimento autêntico e completo dos alunos. Suas críticas são bem fundamentadas, com legitimidade e profundidade embutidas em seus argumentos. A abordagem crítica e instigante de Gatto desafia os leitores a reconsiderar suas próprias práticas educacionais e considerar alternativas mais conscientes e libertadoras. Ele não apenas identifica os problemas do sistema, mas também sugere possíveis soluções para uma educação transformadora. Sua defesa da autonomia, individualidade e participação ativa das famílias no processo educacional ressoa como uma proposta inovadora essencial para um desenvolvimento holístico de crianças e jovens.

Em tempos de crescente homogeneização e padronização na educação, o trabalho de Gatto se destaca como um alerta necessário para a importância da diversidade, experimentação e liberdade no campo da educação. Sua visão crítica, porém amorosa, convida os leitores a questionar as estruturas atuais e lutar por uma abordagem mais humanística, inclusiva e autêntica para o aprendizado. Sem dúvida, uma peça importante que merece leitura e debate por educadores, pais e qualquer pessoa comprometida em promover mudanças positivas em nosso sistema educacional.

O processo de inclusão social de pessoas com deficiência através da educação

Senado Federal

Mesmo sendo um tema antigo, a reflexão sobre a inclusão social da pessoa com deficiência na sociedade contemporânea deve ter como ponto de partida a sua representação social. Inicialmente, é importante reconhecer os aspectos singulares dessas pessoas, sem julgamentos ou preconceitos, e entender os desafios cotidianos que enfrentam em comparação com qualquer outro cidadão ao longo de sua vida, como o acesso à educação, trabalho, saúde, autonomia e igualdade de oportunidades.

Para isso, é essencial realizar um exercício constante de reflexão sobre o papel das pessoas com deficiência no imaginário de suas famílias, na comunidade escolar e na sociedade em geral. Isso contribui para a construção e reconstrução da sua representação social na sociedade contemporânea. Além disso, é importante considerar as diversas reivindicações existentes entre a população com deficiência e outros grupos, como étnicos e de gênero, que também buscam igualdade de direitos e reconhecimento social.

A inclusão é um avanço civilizatório que busca o reconhecimento das diferenças inerentes à condição humana, promovendo a inclusão de todos, e não apenas de um grupo específico, e garantindo que características externas não impeçam a inclusão de uma pessoa. A inclusão visa garantir uma vida digna e plena para a pessoa com deficiência, eliminando barreiras e proporcionando igualdade de condições e direitos.

É fundamental adotar princípios de acessibilidade e equiparação de oportunidades para as pessoas com deficiência, incluindo o uso equitativo, flexibilidade, simplicidade, fácil percepção das informações, baixo esforço físico e espaços acessíveis. O desenho universal visa projetar ambientes e serviços que possam ser utilizados por todos, promovendo a inclusão em diversos contextos.

Por meio de um processo dialético, é possível promover uma reflexão contínua sobre a inclusão social da pessoa com deficiência, considerando diferentes pontos de vista progressistas e conservadores. É importante superar interpretações preconceituosas, como o capacitismo, que podem reforçar atitudes discriminatórias.

A representação social da deficiência deve ser debatida e compreendida dentro de um contexto social e cultural, levando em consideração a interação da pessoa com deficiência nos diferentes contextos em que está inserida. O reconhecimento da identidade da pessoa com deficiência deve ser baseado na sua interação social e nas suas características individuais, e não apenas em aspectos biológicos.

Portanto, é essencial reconhecer a diversidade e singularidade das pessoas com deficiência, garantindo equidade de oportunidades e direitos para que possam participar plenamente da sociedade. A inclusão social dessas pessoas requer um esforço coletivo e contínuo para superar barreiras, preconceitos e promover uma sociedade mais inclusiva e igualitária.

Assim como outros profissionais e ambientes sociais que todos frequentam, alguns profissionais da educação e o próprio ambiente escolar ainda não estão conscientes dos direitos das pessoas com deficiência. Muitos pais delegam a responsabilidade de garantir a educação de seus filhos a especialistas, sem considerar que isso afeta o bem-estar e a participação deles na vida cotidiana, e não apenas um conhecimento técnico específico que pode influenciar o futuro dessas pessoas.

É comum as famílias tentarem proteger seus filhos com deficiência de discriminações sociais, isolando-os do convívio social e escolar. No entanto, a inclusão educacional e social é uma decisão da família, que deve participar ativamente e com resiliência nesse processo.

A responsabilidade dos profissionais da educação deve considerar aspectos diferenciados na rotina escolar para atender às necessidades de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência. Lev Vygotsky contribuiu com estudos e pesquisas que ressaltam o potencial de desenvolvimento e aprendizagem das pessoas com deficiência, direcionando a atenção para a importância da interação social e do meio físico e social na vida desses indivíduos.

O processo de inclusão social das pessoas com deficiência por meio da educação envolve a compreensão dos mecanismos de compensação e desenvolvimento, reconhecendo as duas dimensões: primária e secundária da deficiência. É essencial identificar e trabalhar de forma adequada essas dimensões para promover uma aprendizagem eficaz e experiências positivas no ambiente escolar. Além disso, é fundamental que a escola desenvolva estratégias pedagógicas inclusivas e revise constantemente seu Projeto Político Pedagógico para atender às necessidades de todos os alunos.

O direito à educação com acessibilidade pedagógica e à inclusão educacional em escola regular de ensino para pessoas com deficiência, garantidos pela legislação brasileira, enfrentam resistência por parte de profissionais da educação e responsáveis. Muitos gestores escolares se recusam a matricular alunos com deficiência, alegando falta de acessibilidade no prédio ou sugerindo escolas especiais. Além disso, alguns professores resistem, alegando falta de preparo e ausência de assessoria especializada na escola. Autoridades públicas também omitem recursos e serviços previstos por lei, como acessibilidade arquitetônica e formação para professores.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, houve discussões sobre escolas especiais, que foram consideradas um retrocesso em relação aos direitos já conquistados. Felizmente, na gestão do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, essas orientações foram revogadas, fortalecendo a legislação existente e os acordos internacionais.

O processo de inclusão social das pessoas com deficiência no Brasil é lento, devido a confrontos ideológicos e paradigmas culturais excludentes. É essencial conscientizar sobre a importância da inclusão e diversidade, e combater preconceitos e violações dos direitos humanos.

Para compreender esses desafios, podemos recorrer ao livro "Em Defesa da Escola: Uma Questão Pública" de Jan Masschelein e Maasartan Simons, que abordam a importância da escola pública. Destacam-se conceitos como Suspensão, que valoriza o tempo livre; Profanação, que liberta os conteúdos escolares da rigidez; e Tecnologia, presente na rotina escolar. Esses elementos são essenciais para tornar a escola inclusiva e adequada para todos os alunos, incluindo aqueles com deficiência.

É fundamental superar as críticas e desafios em relação à escola regular inclusiva, garantindo o direito de todos os alunos à educação de qualidade. As famílias também desempenham um papel crucial ao reconhecer a importância da escola na vida de seus filhos com deficiência.

Resenha: O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos, de Rodrigo llari e Renato Basso

Foto: Arte digital / Divulgação


APRESENTAÇÃO

O português do Brasil é falado por mais de 170 milhões de pessoas em um imenso território, mas muita gente teima em afirmar que ele não existe, ou, pior, não deveria existir. Ilari e Basso, seguindo uma tradição iniciada nos anos 20 por Mário de Andrade e Amadeu Amaral, oferecem-nos, em O português da gente, um estudo da língua que nós falamos e que pouco a pouco vai conquistando seus direitos. Este é um livro para ler, estudar e discutir, na sala de aula e fora dela.

RESENHA

ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 151-196.

O livro 'o português da gente' aborda a língua portuguesa falada no Brasil, com o objetivo de apresentar informações sobre sua história, variedades e desmistificar preconceitos. Os autores enfatizam a importância de entender a variabilidade linguística como um fato natural. O conteúdo inclui exposições temáticas, encartes sobre variedades do português e uma cronologia de eventos relevantes para o desenvolvimento da língua no Brasil. O livro não busca impor respostas, mas sim propor boas perguntas para que os leitores possam aprofundar seu conhecimento sobre o assunto. É destinado a estudantes, professores e a todos que se interessam pela língua portuguesa.

O português foi implantado no Brasil pela colonização portuguesa, que começou com o descobrimento da terra por Pedro Álvares Cabral em 1500. As origens da língua remontam ao ano 1000, com a formação da nação portuguesa e o desenvolvimento de uma língua própria. A língua portuguesa deriva do latim vulgar, que foi uma variedade falada do latim romano durante o Império Romano. Os movimentos de Reconquista na Península Ibérica também tiveram influência na diferenciação do português e na expansão da língua para o Brasil. A convivência entre árabes e cristãos também influenciou a língua, resultando em palavras de origem árabe presentes no português. Ao longo dos séculos, a língua portuguesa se desenvolveu e se diferenciou em relação às outras línguas românicas, mantendo sua identidade e riqueza linguística.


Foto: Arte digital / Divulgação



O português chegou ao Brasil no século XVI e se expandiu ao longo dos séculos através da ocupação territorial, incorporando novas regiões ao país. A formação do território nacional foi marcada por ciclos econômicos e movimentos de exploração e colonização. A expansão territorial do português resultou na formação do maior país de língua portuguesa em extensão territorial e número de falantes. O processo de ocupação foi feito por um português marcado por influências de línguas indígenas e africanas, resultando na difusão de línguas como o nheengatu. As disputas territoriais na região sul do Brasil e mudanças de mãos de cidades e regiões resultaram em situações linguísticas complexas. O Tratado de Madri dividiu a região dos rios Uruguai e Prata entre Portugal e Espanha, culminando nas Guerras Guaraníticas. Na Amazônia, a aquisição do Acre foi marcada pela construção da ferrovia Madeira-Mamoré, envolvendo trabalhadores de diversas origens linguísticas.

O autor também discute algumas características do português brasileiro, destacando diferenças em relação ao português europeu. Aponta que o português do Brasil é considerado uma "língua mais antiga" do que o português europeu, através de análises filológicas. O texto também aborda a influência de diferentes pronúncias e construções sintáticas, além de características fonéticas e fonológicas específicas do português brasileiro. Também explora as flexões dos verbos e dos nomes na língua, apontando diferenciações em relação às demais línguas românicas e a presença de algumas irregularidades linguísticas.

O capítulo que mais me chamou atenção foi Português do Brasil: a variação que vemos e a variação que esquecemos de ver,  abordando a variação linguística do português do Brasil, destacando a existência de nacionalismo na afirmação da uniformidade da língua, mas ressaltando que a variação é um fenômeno normal. São apresentadas as variações diacrônica, diatópica e diastrática da língua, enfatizando que o português brasileiro não é uniforme. São citados exemplos de variação diatópica do português brasileiro, mostrando a influência das migrações internas no país. Há também a análise de anúncios do século XIX, evidenciando as mudanças linguísticas ao longo do tempo.

Já em Linguística do português e ensino,  aborda a relação entre a linguística do português e o ensino da língua materna, destacando a importância da estandardização e da fixação de uma norma para a estabilidade da língua. Fala-se também sobre a ortografia do português ao longo da história, destacando os processos de evolução e as reformas ortográficas. Além disso, são abordados o papel dos lexicógrafos na fixação da língua, a importância dos dicionários na normatização do vocabulário e a história da lexicologia do português, com destaque para autores brasileiros. É destacada a importância da ortografia, do dicionário e do registro civil das palavras na normalização da língua portuguesa.

Em síntese, o livro aborda a evolução do português, desde sua origem em Portugal até sua chegada ao Brasil, destacando a influência de diferentes povos na formação do português brasileiro. Discute também a coexistência de duas normas linguísticas, a culta e a substandard, e questiona a abordagem da escola em relação a essa última. Destaca a importância de compreender e valorizar a diversidade linguística, além de combater o preconceito linguístico e promover a inclusão social. O livro enfatiza a importância de amar, conhecer e estudar o português brasileiro, buscando compreender sua história e sua diversidade, em vez de simplesmente impor regras e correções. O livro "O Português da Gente" é uma obra extremamente relevante e esclarecedora sobre a língua portuguesa falada no Brasil. Os autores conseguem apresentar de forma clara e acessível informações sobre a história e as variedades linguísticas do português brasileiro, desmistificando preconceitos e enfatizando a importância de compreender a variabilidade linguística como algo natural. Além disso, o livro propõe boas perguntas aos leitores, estimulando o aprofundamento do conhecimento sobre o assunto. Destinado a estudantes, professores e a todos que se interessam pela língua portuguesa, a obra é fundamental para ampliar a compreensão da riqueza linguística do país. Em suma, "O Português da Gente" é uma leitura enriquecedora e esclarecedora, que contribui significativamente para a valorização e o entendimento do português brasileiro.

Resenha: pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido


Resenha FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

“Não sou esperançoso por pura teimosia, mas por imperativo existencial e histórico” (FREIRE, 2011, p.14). Paulo Freire (1921-1997) representa um dos maiores e mais significantes educadores do século XX. Sua pedagogia mostra um novo caminho para a relação entre educadores e educandos. Caminho este que consolida uma proposta político-pedagógica elegendo educador e educando como sujeitos no processo de conhecimento mediatizados pelo mundo, visando a transformação social e construção da sociedade justa, democrática e igualitária.
A obra de Paulo Freire é constituída de quatro momentos, os quais se contemplam em um contexto relacionado às experiências, formação, e a inspiração das ideias do autor para a construção de suas pedagogias. A esperança é ressaltada nas Primeiras Palavras de Paulo Freire, como um elo entre os sonhos e a realidade. Assume, nesse primeiro instante, um compromisso de provar a necessidade de a esperança ter seu espaço na educação. Pois, através das relações históricas, econômicas e sociais é perceptível a real importância que a mesma tem, ao passo que não é inegável que se vive hoje um momento de lutas por um mundo melhor.
Numa segunda tomada, o autor remonta as experiências vividas desde a infância à adolescência até o início de sua carreira no SESI, onde relata que foi nessa etapa de sua vida que a Pedagogia do Oprimido começa aflorar. A partir de angústias e saudades o autor compreende que é preciso disciplinar as dores e os sentimentos para que a desesperança não impere sobre a vida humana. E é por essas e outras, que Paulo Freire define que o professor é mais do que simples professor, ele é um alfabetizador e acima de tudo um educador.
Partindo de um princípio de que o educando trás consigo a “experiência feito”, que segundo o autor é um conhecimento já adquirido da pessoa, é fundamental o educador estabelecer uma troca dessas experiências. Mas que não seja uma estagnação nessa primeira etapa, que através dessa abordagem a discussão cresça por meio de uma elaboração de conhecimento conjunto.
Mediante alguns aspectos da Pedagogia do Oprimido, que norteiam a Pedagogia da Esperança, tais como alfabetização para vida, luta de classes, educação crítica, leitura de mundo, linguagem no processo de mudança, percebe-se que a esperança, motivo dessa obra, é a mesma que o autor possuía ao escrever a Pedagogia do Oprimido. Essa situação se definha na terceira etapa da obra, onde Paulo Freire retoma o porquê de se trabalhar uma educação voltada aos oprimidos, pois para ele a educação deve preparar os educandos para a vida, numa proposta de transformação da realidade de opressão que se vive na sociedade atual.
A Pedagogia do Oprimido remete-se á movimentos sociais, revoluções em prol da mudança e transformação. Pois os dominantes, caracterizados pelos capitalistas, influenciam todo um sistema existente na sociedade. E a educação é um dos meios usados para a manipulação, através de “donos da verdade que ensinam tão somente para reprimir, mostram-lhe a verdade, e ensinam que eles dominam e ponto”, sem abrir espaço para o outro lado da moeda.
Paulo Freire destaca-se também, que a história é movida pela “luta de classes”, e o que dá subsídio para essas luta é a esperança de um futuro de igualdade plena. Sem sonhos não há futuro diferente, não havendo futuro novo, a educação torna-se um adestramento.
Num último momento, repensa sua obra anterior, a do Oprimido, caracterizando que o medo que aflige as classes dominadas, pode retardar o processo de evoluções, no entanto as lideranças devem ser formada através da linguagem e palavras que deem suporte à uma luta imunizada quanto à esse medo e desesperança.
Paulo Freire é bem claro quando expõe que a esperança e a educação são interlocutoras para as ações e atitudes da sociedade, principalmente os oprimidos que são reprimidos. A liberdade é uma consequência, o opressor se libertará, quando libertar o oprimido. A obra é de tamanho fascínio para o leitor, pois suas palavras parecem estar delineando a vida daqueles que são contra as injustiças desse.

Torna-se cada vez mais clara, para os professores, a necessidade de investigar, de desenvolver formas sempre mais criativas de ensinar. Mas, para que isso se torne realidade, é necessário que os educadores adentrem a essa educação problematizadora, consolide sua proposta pedagógica partindo do ponto que educador e educando são sujeitos do processo de construção do conhecimento mediatizados pelo mundo.
Paulo Freire, em Pedagogia da Esperança, provou que é possível educar para responder aos desafios da sociedade, sendo a educação desta forma, um instrumento de transformação global do homem e da sociedade, tendo como essência a dialogicidade.
A importância deste livro, para os professores e para os sujeitos envolvidos com a educação, é que ele mostra a necessidade de se ter um compromisso permanente e sistemático em prol da educação e da conquista da autonomia das “classes oprimidas”.

Resumo da obra ou ideias do autor

Paulo Freire (1921-1997) representa um dos maiores e mais significantes educadores do século XX. Sua pedagogia mostra um novo caminho para a relação entre educadores e educandos. Caminho este que consolida uma proposta político-pedagógica elegendo educador e educando como sujeitos do processo de construção do conhecimento mediatizados pelo mundo, visando à transformação social e construção da sociedade justa, democrática e igualitária.
Conhecido mundialmente por sua coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação, que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para aquisição dos instrumentos de leitura e escrita, quanto para a sua libertação, fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados.
A metodologia por ele desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em campanhas de alfabetização conscientizadora e, por isso, foi acusado de subverter a ordem instituída. Foi preso após o Golpe Militar de 1964 e, depois de 732 dias de reclusão, foi convencido a deixar o país. Exilou-se no Chile, onde encontrando um clima social e político favorável ao desenvolvimento de suas ideias, desenvolveu durante 5 anos, trabalhos em programas de educação de adultos no Instituto Chileno de Reforma Agrária. Foi aí que escreveu, em 1968, a sua principal obra: Pedagogia do Oprimido, obra essa que Freire retoma para repensá-la, revivê-la em 1992, na Pedagogia da Esperança.
Pedagogia da esperança é a obra que vamos nos ater para análise. Um livro que recupera da história vivida os temas provocados pela Pedagogia do Oprimido, no qual o autor faz um delineamento sistemático de sua teoria.
A obra está dividida em sete partes, além das primeiras palavras e notas que apresentam alguns detalhes para melhor esclarecimento aos leitores e leitoras, no decorrer da leitura.
Em Primeiras Palavras, o autor refere-se à obra de forma encantadora, quando diz tê-la escrito com raiva, com amor, sem o que não há de esperança. Uma defesa de tolerância que não se confunde com a convivência, da radicalidade da pós-modernidade progressista e uma recusa à conservadora, neo-liberal.
Preocupado com o contexto da educação brasileira, já na primeira parte, Paulo Freire declara a urgência da democratização da escola pública, da formação permanente de seus educadores, entre os quais, ele incluía vigias, merendeiras, zeladores. Uma formação permanente científica, frisando as práticas democráticas, resultando a ingerência dos educandos e de suas famílias nos destinos da escola.
Para o autor, educadores e educadoras progressistas devem construir uma postura dialógica e dialética, trabalhando o processo do ato de aprender, fundamentado na consciência da realidade vivida pelos educandos, do seu "aqui", do seu "agora", e, jamais reduzir-se ao simples conhecer de letras, palavras e frases vazias de significado, alheias ao seu mundo. A participação do sujeito no processo de construção do conhecimento, não é algo mais democrático, mas algo eficaz.
Na segunda parte, Freire recorre à Pedagogia do Oprimido, texto que retoma, na sua "maioridade", para "re-ver", "re-pensar", para "re-dizer".
Durante toda a obra o autor refere-se a várias críticas, das quais a Pedagogia do Oprimido foi passiva, e é nesta segunda parte, que ele aproveita de forma singela para agradecê-las. Um mestre como Freire só poderia ter reagido assim: revendo criticamente a sua prática, teorizando e tornando prática sua teoria.
O autor enfatiza que, "educadores e educadoras progressistas precisam ser coerentes com seu sonho democrático, respeitando seus educandos e jamais, os manipulem, mas os levem a aprender ao aprender a razão dos objetos ou dos conteúdos, atravpes de uma séria disciplina intelectual, que segundo Freire, tem sido forjada desde à Pré-escola".
Na terceira parte da obra, o autor esclarece-nos como constituir essa disciplina intelectual mencionada na segunda parte, pois esta não pode gerar de um trabalho feito nos alunos pelo professor (educação-bancária) mas por meio do diálogo e incentivo do mesmo, ultrapassa-se as "situações-limites", o educador - educando chegam a uma visão totalizante, permitindo que a disciplina seja construída e assumida pelos alunos. E declara que a educação deve estar centrada no educando e não no educador. O aluno deve ser o senhor de sua própria aprendizagem.
A cada parte da obra, o autor vai mostrando seu sonho, seu desejo ardente de abrir espaços para os seres humanos desprovidos do poder, para que estes venham ser produtores de sua própria voz, protagonistas de sua história.
Para Freire, a educação verdadeira é aquela que visa a humanização, ou seja, que busca na construção de uma vida social mais digna, livre e justa, partindo sempre da realidade do educando. Por isso, sugere aos educadores e educadoras, a construção de uma postura dialógica e dialética, não mecânica, de forma humilde, mas esperançosa, contribuindo para a transformação das realidades sociais, históricas e opressoras que desumanizam a todos.
Na quarta parte, Freire declara que não é mecanicista, pois sua perspectiva é dialética, atenta à realidade, que é dinâmica, imprescindível, marcada pela contradição, e ressalta, aos mecanicistas e idealistas que só é possível entender o que se passa na relação de opressores com oprimidos, por meio do entendimento dialético.
O autor dirige-se novamente aos educadores e educadoras progressistas, no que diz respeito à questão dos conteúdos programáticos da educação, e afirma que, não há outra posição para eles em face às questões dos conteúdos, senão lutar incessantemente em favor da democratização da escola, como necessariamente, de um lado a do conteúdo e de outro da de seu ensino.
Freire também fala nesta quarta parte sobre fatos, acontecimentos de tramas que participou, cartas que recebeu, visitas que fez a outros países e, nos quais momentos e lugares, teve a oportunidade de participar de debates, que quase sempre giravam em torno das linhas e entrelinhas da Pedagogia do Oprimido. "O medo da liberdade".
O pensamento de Paulo Freire rompeu uma relação cristalizadora de dominação, buscando pensar a realidade dentro do universo do educando, construindo uma prática educacional, considerando a linguagem e a história da coletividade. E declara o autor: "esta é uma esperança que nos move". (p. 126).
Na quinta parte, Freire faz relatos muito interessantes como: uma conversa que teve em Genebra com um trabalhador imigrante espanhol, sobre um programa de educação infantil que eles haviam organizado e executavam com seus filhos. Sobre sua primeira visita à África, à Zâmbia e à Tanzânia. E também, da visita que fez a doze estados dos Estados Unidos, a convite das lideranças religiosas ligadas ao Conselho Mundial de Igrejas. Em todos os encontros que realizou nestes lugares, os debates giraram em torno da Pedagogia do Oprimido.
Na sexta parte, Paulo Freire aborda um tema que já discutira também na Pedagogia do Oprimido, unidade na diversidade, afirmando ser uma longa e difícil caminhada, as "minorias", no fundo, repita-se, maioria, em contradição com a única minoria, a dominante, teriam muito o que aprender.
Elucida o autor, "ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, sem aprender a refazer, a retocar o sonho, por causa do qual a gente se pôs a caminhar". (p. 155).
Analisando essa maravilhosa declaração de Freire, é possível observar que ela fazia parte do seu dia a dia, pois ao escrever este livro, estava re-fazendo, re-tocando o sonho que se pôs a caminhar.
Prossegue Freire, destacando que há um outro aprendizado demasiado importante, mas, ao mesmo tempo, demasiado difícil de ser feito. Ele se refere ao aprendizado de que a compreensão crítica das chamadas minorias de sua cultura, não se esgota nas questões de raça e de sexo, mas demanda também a compreensão nela do corte de classe. Em outras palavras, além da cor da pele, da diferenciação sexual, há também a cor da ideologia.
A multiculturalidade, para o autor, esta não se constitui na justaposição de culturas, muito menos no poder exacerbado de uma sobre as outras, mas na liberdade conquistada, sem medo de ser diferente, de ser cada um "para si", somente como se faz possível crescerem juntas e não na experiência da tensão permanente, provocada pelo todo-poderosismo de uma sobre as demais.
Freire relata também uma outra jornada com momentos marcantes, a sua primeira visita ao Caribe, com um programa de encontros e debates em várias ilhas, dos quais permitiu ao autor perceber o quanto estava distante da vida concreta, do cotidiano de camponeses e camponesas.
Ressalta Freire, que em fins de 1979 e no início dos 1980, esteve duas vezes novamente no Caribe. Dessa visita dá destaque a três encontros que o impressionou: o primeiro foi o encontro que teve com o ministro; o segundo foi o que teve com os funcionários administrativos do Ministério da Educação, desde serventes e motoristas até as secretárias dos diferentes departamentos, passando pelas datilógrafas; o terceiro momento que o tocou foi com o Mr. Bishop, de quem destaca a simplicidade, o gosto da liberdade e o respeito à liberdade dos outros como suas principais qualidades.
Na visita que o autor fez à Austrália, destaca a oportunidade que teve de conviver com intelectuais que, no lado certo de Marx, alcançando por isso mesmo, corretamente, a relação dialética mundo-consciência, perceberam as teses defendidas na Pedagogia do Oprimido e não o consideraram um livro idealista.
O autor percorreu grande parte da Austrália, discutindo com trabalhadores de fábricas, professores e alunos universitários, com grupos religiosos. Entres estes, não importava se eram católicos ou protestantes, o tema gerador era a Teologia da Libertação.
Na sétima e última parte, o autor fala de sua passagem por Fiji, nos anos 70, onde teve um encontro com estudantes na Universidade Pacífico Sul, discutindo com eles aspectos da Pedagogia do Oprimido, e ressalta que em 1992, em Itabuna - Bahia, na Universidade Santa Cruz, revive os mesmos aspectos discutidos em 1970 em Fiji. As distâncias temporais que separaram as duas reuniões, afirma o autor, que tiveram algo de semelhante, tinham motivações parecidas: moviam-se atiçados pelo gosto da liberdade e tinham a Pedagogia do Oprimido como um ponto de referência.
O autor afirma ter deixado propositalmente, para encerrar esse ensaio, com uns poucos comentários à sua última visita ao Chile, pois declara ser esta uma das visitas que lhe deixou marcas mais vivas. Fixa-se em dois momentos, que os considera os mais importantes desta visita: no clima extraordinário de luta político-ideológica e na confrontação de classe que alcançava níveis de sofisticação por parte das classes dominantes e de aprendizado por parte das classes populares.
Nesta parte o autor fala também de seu percurso pela Argentina, no qual é surpreendido pelo ímpeto renovador com que as Universidades se estavam entregando ao esforço de recriar-se.
Freire faz referências em relação às Universidades, afirmando que estas devem girar em torno de duas preocupações fundamentais, que se derivam as outras e que tem apenas dois momentos que se relacionam permanentemente: um é o momento em que conhecemos o conhecimento existente, produzido; o outro, o momento em que produzimos o novo conhecimento. E ressalta que "na verdade, porém, toda docência implica pesquisa e toda pesquisa implica em docência". Para ele, ensinar, aprender e pesquisar lidam com esses momentos do ciclo gnosiológico "o em que se ensina e se aprende o conhecimento existente e o que se trabalha o conhecimento ainda não existente" (FREIRE, 1997:31)
Assim, a docência/discência e a pesquisa são indissociáveis práticas no dia a dia da práxis pedagógica que se quer constituidora de sujeitos históricos, socialmente situados.
Encerrando o ensaio, Freire relata a visita que fizeram, ele e Nita a El Salvador, em julho de 1992. Nesta visita o autor foi convidado por camponeses e camponesas, para com esperança festejar um hiato de paz na guerra. A eles e a elas se juntaram professores e professoras da Universidade de El Salvador, que lhe outorgou o título de Honoris causa.
O autor destaca nesta parte algumas de suas visitas às diferentes zonas do país, e ressalta que em uma destas assistiu uma sessão de um "Círculo de Cultura", em que militantes armados se alfabetizavam, aprendiam a ler palavras fazendo a releitura do mundo. É esse o tipo de alfabetização, que afirma Freire, sempre ter defendido, um aprendizado de leitura e de escrita das palavras, que faziam na compreensão do discurso e que emergia ou fazia parte de um processo maior e mais significativo - o da assunção da cidadania, o da tomada da história.
Além dos capítulos mencionados, a obra apresenta as Notas, que foram muito bem organizadas por Ana Maria Freire, para aclararem e amarrarem aspectos importantes dos textos de Paulo Freire. Ela foi muito feliz na forma com organizou e transmitiu Notas, possibilitando ao leitor uma compreensão mais fácil de alguns termos utilizados na Pedagogia da Esperança.
Considerando o que foi exposto pelo autor em Pedagogia da Esperança, caberia-nos concordar que esta obra veio realmente reforçar as categorias básicas, propostas por Freire na década de 60 em Pedagogia do Oprimido, podemos afirmar que elas não mudaram. O que mudou foi a forma histórica de colocá-las em prática, os temas geradores, a realidade dos educandos como ponto de partida, a escola com o espaço de construção do conhecimento e de organização da comunidade, o respeito à autonomia dos educandos e também do educador, e a necessidade de formação permanente para os educadores, instigando-lhes a consciência crítica, levando-os a serem perquiridores em suas práxis. Estas formulações o autor viveu-as em 60 e reviveu-as em 90, mas se mantêm atuais.
A busca agonizante pela mudança faz parte hoje do cenário da educação brasileira, em pleno século XXI, tão viva quanto Freire retrata em seus escritos da década de 60. Esta angústia pela mudança parece ser o salto axiológico que o professor e a escola precisam dar, no sentido desta tomada de consciência que os fará buscar novas possibilidades. Enquanto isso não acontecer, como afirma Freire, sem a problematização da realidade, das práticas políticas, sociais e escolares, parece difícil que aconteça a superação da consciência ingênua e do senso comum que caracterizam os saberes escolares.
Sair das pretensas certezas e aventurar-se pelo caminho enredado das dúvidas, dos questionamentos contínuos e da busca incansável, sempre será difícil e, para muitos, talvez signifique uma espécie de insanidade mental. No entanto, sabe-se que o profissional, nos dias atuais, e dentre todos, principalmente o educador, não pode dar-se ao luxo de sentar-se à margem da história, esperando que ela aconteça, sem interferir. Afinal, afirma Paulo Freire (1997:110), "ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo".
Torna-se cada vez mais clara, para os professores, a necessidade de investigar, de desenvolver formas sempre mais criativas de ensinar. "O que existe hoje no mundo não deve ser entendido como algo eterno ou impossível de ser modificado" (ZITKOSKI, 2000). Mas, para que isso se torne realidade, é necessário que os educadores adentrem à essa educação problematizadora, consolide sua proposta pedagógica partindo do ponto de que educador e educando são sujeitos do processo de construção de conhecimentos mediatizadores pelo mundo.
Afinal, podemos observar por meio dessa obra, que Paulo Freire provou que é possível educar para responder aos desafios da sociedade, sendo a educação, desta forma, um instrumento de transformação global do homem da sociedade, tendo como essência a dialogicidade.
É preciso compreender que não se trata de petrificar as obras de Paulo Freire, nem mesmo os métodos colocados por ele da década de 60 e repensado na década de 90, pois a educação também é histórica. A questão central é aprender a concepção de educação na qual se fundamenta. Não há uma teoria do conhecimento e um método que não se contentem com ideias. Trata-se de um compromisso permanente e sistemático em prol da emancipação e da conquista da autonomia das classes oprimidas, que "estão sendo" historicamente.
Posicionamento crítico
Os ideais de Paulo Freire eram todos voltados para a possibilidade da libertação dos homens e das mulheres por meio de uma educação onde todos pudessem aprender a ler as palavras fazendo releitura do mundo.
Freire sempre defendeu uma alfabetização que não fosse neutra, mas que formasse e conscientizasse os homens e as mulheres para a assunção de sua cidadania e para a tomada da história em suas mãos. Para o autor, "todo ato de educação é um ato político". As suas maiores contribuições foram no campo da educação popular para a alfabetização e a conscientização política de jovens e adultos operários.
Um dos assuntos mais atrativos dentro de Pedagogia da Esperança é o fato de estar explícita a repulsa de Paulo Freire "contra toda espécie de discriminação, da mais explícita e gritante à mais hipócrita, não menos ofensiva e imoral". Ele sempre reagiu, quase instintivamente, contra toda palavra, todo gesto, todo sinal, de discriminação racial, de discriminação contra os pobres. Por tudo isso, fica clara toda a sua intenção de revolucionar a história da educação por onde quer que ele vivesse ou passasse. Seus exemplos são seguramente possíveis de serem seguidos.
Paulo Freire representa para a educação vigente um marco para a democratização de um ensino, onde os educadores são mediadores do processo e os educandos as pessoas mais importantes na construção de uma sociedade mais democrática e progressista.
Indicações de leitura
A obra em questão nos remete a uma reflexão onde todos os envolvidos com a arte de educar, possam se valer dos exemplos bem posicionados da visão política do grande pensador Paulo Freire.
Pedagogia da Esperança é um convite às transformações que são necessárias em nossa sociedade. É também e principalmente, um convite a experimentar o que realmente ele abordava como sendo ESPERANÇA.
Segundo Freire
Sem um mínimo de esperança não podemos sequer começar o embate mas, sem o embate, a esperança, como necessidade ontológica, se desarvora, se desendereça e se torna desesperança que, às vezes, se alonga em trágico desespero. Daí a precisão de uma certa educação da esperança. É que ela tem uma tal importância em nossa existência, individual e social, que não devemos experimentá-la de forma errada, deixando que ela resvale para a desesperança e o desespero. Desesperança e desespero, consequência e razão de ser da inação ou do imobilismo.
Referência
FREIRE, Paulo (2000). Pedagogia da Esperança. São Paulo: Paz e Terra.

[RESENHA] Sociedade em rede (A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura), de Manuel Castells


Manuel Castells. A Era da Informação: economia sociedade e cultura, vol. 3, São Paulo: Paz e terra, p. 411 – 439.

SINOPSE: Edição revista e ampliada, com capa e projeto gráfico novos do primeiro volume da aclamada trilogia A Era da Informação Este tomo busca esclarecer a dinâmica econômica e social da nova era da informação. Baseado em pesquisas feitas nos Estados Unidos, Ásia, América Latina e Europa, este livro procura formular uma teoria que dê conta dos efeitos fundamentais da tecnologia da informação no mundo contemporâneo. Aqui Manuel Castells examina os processos de globalização que marginalizavam e agora ameaçam tornar insignificantes países e povos inteiros – excluídos das redes de informação. Mostra que, nas economias avançadas, a produção se concentra hoje em uma parcela instruída da população com idade entre 25 e 40 anos. Sugere que o resultado dessa tendência progressiva pode não ser o desemprego em massa, mas sim a flexibilização extrema do trabalho, a individualização da mão de obra e, em consequência, uma estrutura social altamente segmentada. Castells conclui examinando os efeitos e as implicações da transformação tecnológica na cultura da mídia, na vida urbana, na política global e no tempo. Escrito por um dos maiores cientistas sociais da atualidade, A sociedade em rede é o primeiro volume da trilogia A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, composta ainda de O poder da identidade e de Fim de milênio.

Janete Cordeiro Lorenzoni*

A grandiosa obra de Castells analisa a sociedade, o surgimento de um novo mundo na era da informação. Busca esclarecer a dinâmica econômica e social da nova era da informação que é concebida em meados do século XX. Identifica os processos de globalização que marginalizavam pessoas, comunidades e nações e que com a era da informação torna insignificantes todos os que estão excluídos das redes de informação. Há um abismo cada vez maior entre a elite da informação e as demais pessoas que se fecham em comunidades como forma de resistência a essa forma de dominação.
A conclusão geral do livro formado por uma trilogia de volumes, escrito por um dos maiores cientistas sociais da atualidade, traz a análise que se desdobra na identificação de uma nova estrutura social marcada pela presença e o funcionamento de um sistema de redes interligadas.

O resultado da interação de vários processos como o da revolução tecnológica da informação, a crise e reestruturação do capitalismo e estatismo e a manifestação dos movimentos sociais e culturais, foram o berço desta nova era. A partir daí ocorreram a fragmentação do trabalho e flexibilização dos direitos do trabalhador, exclusão social, separação entre a lógica de mercado e a experiência dos trabalhadores, além da crise do Estado-nação.
Como alternativas para combater tais padrões de dominação na sociedade, surgem as “comunas de identidade e resistência” que ao invés de constituir a sociedade e transformá-la, poderão fragmentar-se e aumentar ainda mais a distância entre a elite da informação e as demais pessoas.

O século XXI será marcado por grandes descobertas, transformações na organização da sociedade ,expansão da economia global e por uma “perplexidade consciente”. Porém “não há mal eterno”, a transformação social é possível com ações conscientes e responsáveis. O estudo de Casttels identifica o caminho que a sociedade está trilhando como consequência de suas próprias ações. O modo de desenvolvimento econômico que visualiza uma transformação social, não substitui o atual capitalista, mas a sua transformação marcada pela presença e o funcionamento de um sistema de redes interligadas. A Era da Informação representa a capacidade humana de produzir para o desenvolvimento do bem estar para as pessoas e estas de forma harmônica com a natureza.

Tudo isso seria possível se não houvesse desigualdade social. Desigualdade esta agravada por um sistema econômico perverso que nas suas adaptações seja por necessidades exigidas pela globalização seja pela Era da Informação, ou por outras mutações, não perde o seu objetivo, o seu foco que é a garantia de acúmulo de capital à custa da compra de trabalho. É neste quadro que se faz necessário transformar a realidade não apenas mudá-la. E disso depende de participação cidadã em todos os espaços e instâncias da sociedade inclusive no espaço da “informação”.
A obra de Castells, pela sua análise abrangente, é material importante e relevante não só para o mundo acadêmico como também para gestores de governos, pois é capaz de agregar várias dimensões passíveis de reanálise, que poderão servir de base para formação de políticas públicas em ralação a temas importantes elencados pelo autor como as transformações estruturais do mundo do trabalho, a diversidade cultural, exclusão social, segregação de comunidades, etc.

Manuel Castells nasceu na Espanha em 1942 e é, desde 1979, catedrático de sociologia e planejamento urbano e regional na Universidade de Califórnia, Berkeley. Foi também professor da École Pratique dês Hautes Études em Sciencies Sociales em Paris, catedrático e diretor do Instituto de Sociologia de Novas Tecnologias da Universidade Autônoma de Madri, professor do Conselho Superior de Pesquisas Científicas em Barcelona e professor visitante em 15 universidades da América Latina. Publicou 20 livros em várias línguas. É membro da Academia Européia.
*Acadêmica do Curso de Serviço Social da Unijui.
(Cruz Alta, 2010)

O que é o método Paulo Freire de educação



Rosinete Borges de Sousa

BRADÃO, Carlos Rodrigues. O que é método de Paulo Freire: São Paulo: Brasiliense, 2005.

Credenciais do autor

Carlos Rodrigues Brandão nasceu no Rio de Janeiro em 14 de abril de 1940. Desde 1963 trabalha em grupos e movimentos de educação popular, pratica que iniciou no Movimento de Educação de base e que hoje continua por meio do Centro de Estudo de Educação e Sociedade.

Bacharel em psicologia e psicólogo pela Universidade Católica do Rio de Janeiro em (1965-1969) possui mestrado em Antropologia na Universidade de Brasília (1974), doutorado em ciências sociais pela universidade de São Paulo (1980).

O livro fala do que é método de Paulo Freire. Ele conta a historia de alfabetização de adultos. Onde o autor conta que escreveu esse livro fazendo uma pequena viagem em poucos dias pelo Nordeste. Onde foi reunido numa cidadezinha que se chama Mossocó, que fica no fundo do Nordeste. Com o tema Filosofia Popular, porem vieram estudantes e educadores de todo Nordeste. Um pequeno curso para recontar como se fez a praticou o Método Paulo Freire, que acabou virando um lugar de debate quente sobre a questão da educação popular. E aí o pau comeu, não ficou coisa sobre o que não se perguntasse, mesmo que não houvesse resposta pronta nem pela a metade. Porem o autor conta o que mais lhe espantou foi à insistência das perguntas dos mais moços. Os jovens tinham muitas perguntas sobre como pode ser.

A questão é que Paulo Freire não propôs um método entre outros, um método psicopedagogicamente diferente é quem sabe melhor. Antes de fazer isso ele investiu com uma educação contra outra, por isso depois de falar contra que educação em que ele crê, preciso dizer que tipo de mundo ele acredita em um outro, e por que crê que a educação que inventa pode ser um instrumento a mais do trabalho dos homens criarem e transformar. Mas que homens, e que mundo? Termino estes escritos sobre o Método Paulo Freire por onde começam quase todos os estudos sobre as suas idéias.

Depois de haver sido testado seu método em “circo” na roça e na cidade, no Nordeste, o trabalho com o método foi levado por muitas mãos no Rio de Janeiro, São Paulo, e em Brasília. Os resultados obtidos foram 300 trabalhadores alfabetizados em 45 dias, esse resultado impressionou profundamente a opinião publica. E decidiu aplicar o método em todo território nacional.

Paulo Freire pensou que um método de educação construído em cima da idéia de um dialogo entre educador e educando, onde há sempre partes de cada um no outro. Um dos pressupostos do método é a idéia de que ninguém educa sozinho.

Ele também trabalhava com as palavras geradoras, elas não precisam ser muitas de 16 a 26 é o bastante. Quando a proposta de trabalho com o método é mais amplo, esta etapa de codificação da descoberta continua nas escolhas dos temas geradores. Assim como na pesquisa do universo vocabular cada palavra geradora aparece dentro de frase, de fala das pessoas, cada palavra aponta para as questões de temas geradores.

O homem fez o poço porque Tetê necessidade de água, e faz da medida em que se relacionando com o mundo, dez dele objeto do seu conhecimento, submetendo-o pelo seu trabalho, a um processo de transformação. Assim ele fez a casa sua roupa, seus instrumentos de trabalhos. A partir daí, se discute com grupo termos evidentemente simples, mas criticamente objetivos, as relações entre os homens. Só assim a alfabetização cobra sentido, é a consequência de uma reflexão que o homem começa a fazer sobre sua própria capacidade de refletir. Ao refletir como o grupo, não deve conduzir debates sobre as situações existenciais, e sim mais tarde a partir das palavras geradoras, como se fosse um jogo de adivinhação.

O método de alfabetização de adultos do professor Paulo Freire não representa mais do que a fase inicial de um longo processo dentro de um Sistema de Educação. Este sistema foi elaborado levando em conta as seguintes etapas:

• Método de alfabetização de adultos como processo acelerador da aprendizagem da leitura e da escrita, ao nível elementar;

• Processo sistematizado de educação correspondente ao nível primário, com o qual se obtém a funcionalidade da leitura de escrita;

• Etapa mais avançada de educação, que deve ser oferecida a todo o povo;

Conclusão

Conclui-se que o livro conta a verdadeira historia de como eram aplicado o método de Paulo Freire. E como ele gostava do seu método de alfabetização, e como seu método expandido em todo o Brasil.

Indicações

Portanto este livro é indicado para todos os professores de educação de jovens e adultos, e para alunos de EJA. Também é indicado para todas as pessoas que trabalham voluntariamente. Porque ele mostra como é gratificante o trabalho voluntário, como Paulo Freire era feliz em fazer alguém feliz.

[RESENHA] Pedagogia do oprimido, Paulo Freire

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

SOBRE O AUTOR

Paulo Freire | Montagem by @postliteral 

O autor da obra Pedagogia do Oprimido Paulo Freire, é considerado um professor de renome, pois suas obras possui valor relevante a partir das questões abordadas em relação a transformação da nossa realidade sociocultural, bem como ao fato de evitar e combater a marginalização da cultura brasileira através da promoção à liberdade por parte da classe oprimida. Sendo a educação utilizada como promotora da liberdade.
Paulo Freire se destacou como professor na Universidade Federal de Pernambuco, foi consultor especial de assuntos da educação no Ministério da Educação e Cultura, foi ainda contratado pela Unesco onde formulou o plano de educação em Massa durante a vigência do governo Frey.
Freire elaborou novos métodos de ensino e publicou obras literárias importantes para a área de educação.

OBJETIVOS DA OBRA

Essa obra é destinada para profissionais da área educacional, pode ainda ser utilizada como fonte de pesquisa universitária e consultas acadêmica. Possui como objetivo descrever e relatar os métodos de ensino vigentes e as correção cabíveis. Quanto aos mecanismos presentes nessa obra, esses priorizam a promoção da conscientização referente ao tipo de educação existente em vigor, pondo em evidencia a libertação do oprimido, através do combate a opressão, mediante a inserção de um novo método de ensino mais conscientizado e humanista.

ANÁLISE DA OBRA



O livro Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, apresenta análise acerca da pedagogia voltada para a questão do opressor em detrimento do oprimido. Propõe a inserção de uma metodologia de ensino critico voltada para o combate a opressão. Paulo Freire desenvolve uma crítica sobre o modelo de educação vigente, a qual reproduz um modelo alienatório do oprimido. Ressalta a autonomia do sujeito em relação a tomada de consciência do sujeito como liberto e autor de sua própria história. Vale ressaltar que essa obra mesmo antiga, continua dando respaldo para a nossa sociedade atual, pois aborda e interroga questões da atualidade.

Paulo Freire critica o modelo de educação produzido nas escolas, seguido de conformismo, de autoritarismo (ausência de diálogo) e ainda de inflexibilidade. Juntamente com a crítica ele traz a ideia contraditória do opressor X oprimido, sendo o professor o responsável por “desintoxicar a opressão” através de conceitos humanizadores que unem a ação e a reflexão. Pois esse processo deve acontecer com cautela para que não se inverta a posição entre opressores e oprimidos. Dessa maneira o processo de liberdade deve ser percebido e sentido por ambas as partes. A ação libertadora do estado de opressão é uma ação social, por isso não pode ocorrer de maneira isolada, nesse caso o sujeito é um ser social e sua consciência e transformação do meio onde vive deve acontecer em contato com a sociedade.
Com o método de alfabetização Paulo Freire o homem sai da condição de depósito de informações e passa ser visto como ser pensante capaz de construir uma consciência reflexiva, com esse método o ato do aprendizado passa a ser uma construção crítica promotora de cultura, e desse modo a alfabetização desperta a ação de aprender a construir as palavras e não apenas as reproduzi-las.

O primeiro capítulo da obra “Pedagogia do oprimido” intitulado “justificativa da pedagogia do oprimido”, faz jus ao título, pois trata a questão do oprimido a partir de sua ótica, sua defesa de forte pressão política em um momento histórico. Tendo em vista que demonstra a existência das massas dominantes em contraposição com os excluídos e manipulados. Freire ressalta que o fator epistemológico e a luta pela ética e justiça para os oprimidos fugia dos padrões conformistas, sendo assim essa obra representa a busca pela liberdade humanizadora e justa, a partir da relação entre a ética e a educação, através da práxis educativa. Nesse capítulo Paulo Freire demonstra dois conceitos fundamentais, os quais são: a revolução e a contradição. O conceito de revolução no campo da opressão, reflete a buscar por mudanças já através da concepção de contradição o opressor possui consciência de seu papel e o oprimido conhece sua condição subordinação pelo outro, e com isso gera a consciência própria e do outro.

A partir da descoberta da opressão promove-se a tomada de consciência e transformação na prática. Com isso precisa-se ter cautela quanto ao fato de não se criar novos opressores e oprimidos, pois se o oprimido ao adquirir uma visão legitima do mundo, e promover revoluções e consequente mudanças essa imposição provocará novos dependentes, sendo assim surge a teoria contraditória, pois não há libertação solitária nesse sentido o opressor e oprimido deveriam se unir para alcançar na reflexão e na ação a autonomia para reconstrução da realidade.
No segundo capítulo existe a concepção de educação bancária, na qual o professor considera o seu aluno incapaz da construção do conhecimento próprio, fazendo-o de depositário da educação, desse modo o aluno se torna instrumento de opressão e panas reproduz mecanicamente as informações recebidas. Para se evitar tal problemática seria necessário ensinar o aluno a pensar e a problematizar sua realidade, como um ser social em formação contínua.

Hierarquização e distância do professor/aluno são características da educação bancária, nesse modelo de educação o professor aliena, pois se coloca como sendo o único detentor do saber. Esse modelo não permite que a construção do conhecimento seja feita através do processos de busca e sim mediante o recebimento, armazenamento e reprodução de informações. Sem levar em conta a história de vida, a cultura, a linguagem e com isso promove a fuga da realidade.
Freire afirma que para evitar a fuga da realidade se faz necessário a prática do diálogo libertário de forma contínua promovendo um elo entre o conhecimento adquirido tanto pelo professor quanto pelo aluno. Sendo assim para o autor ensinar a pensar e problematizar sobre a realidade vivida é a maneira mais eficaz de se reproduzir conhecimento.

O método de educação libertadora proposto por Paulo Freire promove a interação entre o ensino e aprendizagem, construídos pelo professor e aluno, os quais se tornam sujeitos do processo de aprendizagem através de um compartilhamento de experiências ou sistema de troca, pois ao ensinar se aprende e aprendendo se ensina também, ou seja, ambos ensinam e aprendem a refletir criticamente.

O capítulo III trata da “Dialogicidade – essência da educação como prática de liberdade” nele o diálogo é visto como palavra chave para a promoção da educação como prática da liberdade. Nesse modelo a comunicação é expressa por palavras e ações, de modo que a verdade precisa ser constante nos processos de educação, tanto por parte do aluno quanto do professor. De acordo com o tema, o diálogo no processo educativo se faz fator crucial. E esse deve ser pensado desde o preparo das aulas na programação dos conteúdos levando em conta de maneira humanitária a historicidade do aluno, bem como relacionando com o cotidiano dos mesmos através de conexão com o real.  Paulo Freire adverte que o ato de ensinar e aprender é uma constante investigação, porém ele ressalta que deve haver cuidado para que o homem que não se torne, um mero objeto de investigação, que aprenda sem perder sua essência de ser humano.

No quarto e último capítulo se apresenta a ideia da teoria da ação antidialógica, por meio da qual se dá a pratica da opressão, apresenta ainda a importância do homem como ser pensante de práxis ou consciência de transformação. Nesse capítulo Freire critica a teoria antidialógica, a qual visa o status da classe dominadora desqualificando a identidade dos oprimidos.

A revolução promovida pela união da massa de oprimidos em sua busca de transformação através de ações pedagógicas promovem renovações sociais,
O autor cita que são quatro os elementos utilizados para a dominação dos oprimidos, são eles: conquista, nesse método o opressor impõem sua cultura sobre o opressor; A divisão das massas facilita ao opressor uma melhor dominação, pois, o povo unido representa perigo de desordem social, discurso feito pelo dominante oprime; já na manipulação o opressor controla e conquistam as massas oprimidas objetivando a realização própria; outro mecanismo de opressão é a invasão cultural, no qual a minoria dominante impõem sua visão aos demais (oprimidos).

Por fim, Paulo Freire encerra esse capítulo com a inserção dos elementos da ação dialógica que são: a colaboração (respeito a cultura), união (ganhar força para transformação), organização (liberdade para os oprimidos) e síntese cultural (compreensão e confirmação da dialeticidade, permanência-mudança), tais fatores são fundamentais para garantir a transformação. 
Paulo Freire nessa obra traz conceitos pedagógicos que favorece a ação do educador para a promoção da transformação do contexto social em termos de dominação. Traz a ideia de que opressores e oprimidos são vítimas da mesma inconsciência, e ainda de que aos poucos se conquistam uma conscientização crítica em busca da liberdade. Freire demonstra ainda que um líder revolucionário da opressão não deve impor o seu ponto de vista, antes necessita transmitir a palavra fiel daqueles a quem ele representa, para com isso promover inovação em meio aos sistemas arcaicos da sociedade dominante.

Ocorreram muitas mudanças no campo da pedagogia, embora se perceba que surgiu novos tipos de oprimidos em números crescentes, pois a sociedade atual promove vários tipos de exclusão. Com isso a educação não é vista como deveria, pois a implementação da educação problematizadora não foi efetivada ficando a cargo do professor repassar informações impostas pelo sistema de educação, sendo assim o ato de ensinar a pensar tornam-se um drama para o educador. Freire ressalta ainda que com menos investimentos em educação facilita a manipulação das massas desfavorecidas e aumenta o poderio da elite promissora e dominadora.
Atualmente fica claro a distinção de classes, pois atualmente a educação no Brasil vem reproduzindo a desigualdade, a marginalização e a miséria, desse modo em sua obra pedagogia do oprimido, Paulo Freire lança as bases para se refletir e repensar a educação, de modo a promover nova metodologia de ensino capaz de formar cidadãos críticos atuantes na sociedade de maneira reflexiva capazes de serem autores de sua própria história.

SILVANIA FERREIRA NUNES

RESENHA DO LIVRO "PEDAGOGIA DO OPRIMIDO" DE PAULO FREIRE. Campos Belos. 2014

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