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Resenha: S. Bernardo, de Graciliano Ramos

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APRESENTAÇÃO

S. Bernardo mais do que apenas um romance, é uma imersão profunda na alma do Brasil rural do século XX, uma obra que figura entre os grandes tesouros da literatura em língua portuguesa.

Nesta obra-prima literária de Graciliano Ramos, somos transportados para o intrincado universo de Paulo Honório, um homem de origens modestas que ascende ao status de poderoso fazendeiro em meio às vastas terras áridas do Nordeste brasileiro. Em sua jornada, Graciliano não apenas desvenda os infortúnios e as conquistas de Honório, mas também revela os meandros do mandonismo político que moldou a região nas primeiras décadas do século XX.

"Em S. Bernardo, Graciliano Ramos atinge o auge de sua maestria estilística, revelando um escritor no auge de seus recursos", destaca o crítico literário Antonio Candido. Esta é uma história onde cada página é carregada com reflexões profundas sobre identidade, memória e o sentido da vida.

Esta edição especial da Global Editora, garante o tratamento cuidadoso merecido por esta obra singular. Com posfácio composto por um estudo crítico assinado pela professora, pesquisadora e escritora Regina Zilberman, que oferece uma análise envolvente ao relacionar Dom Casmurro, de Machado de Assis, com S. Bernardo.

RESENHA

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São Bernardo é uma obra escrita por Graciliano Ramos em 1934, que faz parte do grupo de obras do Ciclo da Seca, característico do movimento Modernista da 2ª Geração (1930-1945). O livro aborda a situação difícil do Nordeste brasileiro, afetado pelas secas periódicas, as quais resultaram no êxodo rural, pobreza e lutas pela sobrevivência dos sertanejos.

Apesar de abordar essa temática, São Bernardo se destaca das demais obras da época pelo estilo narrativo em primeira pessoa, com um enfoque psicológico. O narrador-personagem, Paulo Honório, conta a história de sua ascensão de guia de cegos no interior de Alagoas até se tornar um poderoso latifundiário, sem escrúpulos ou ética.

Com uma narrativa sincera e intensa, Paulo Honório relembra sua vida enquanto fuma seu cachimbo na mesa da sala de jantar, escrevendo suas memórias. Após envolver-se em brigas e ser preso, ele decide tomar a fazenda São Bernardo, onde costumava trabalhar como empregado. Para isso, ele manipula Luís Padilha, herdeiro da fazenda, de forma a levá-lo à ruína financeira e obrigá-lo a vender a propriedade por um valor irrisório.

Paulo Honório tornou-se o proprietário de São Bernardo e conseguiu fazer a fazenda prosperar, expandindo seu território ao armar contra seu vizinho Mendonça, sendo o mandante de seu assassinato. Com auxílio de políticos locais, advogados e outras personalidades, ele ampliou sua rede de relacionamentos para garantir seus interesses.

Ao se casar com Madalena, uma jovem professora honesta, sincera e humana, a rotina da fazenda e a vida de Paulo Honório mudaram significativamente. Entretanto, a preocupação da esposa com o bem-estar dos empregados e suas críticas às atitudes do marido o deixaram inquieto, levando-o a crises de ciúme e agressividade. O nascimento do filho não foi capaz de acalmar as desconfianças de Paulo Honório, que ficava obcecado com a ideia da infidelidade de Madalena. Em um ciúme doentio, ele acusava constantemente a esposa de traição, levando-a a um estado de abatimento.

Em uma noite, ao flagrar Madalena escrevendo uma carta endereçada a outro homem, Paulo Honório perdeu o controle e em meio a uma discussão acalorada, ela o chamou de assassino. Convencido de que a esposa tinha amantes, ele mergulhou em delírios e aumentou o sofrimento e a solidão de Madalena, que se sentiu humilhada e desamparada.

Em uma tarde sombria, Paulo Honório se depara com uma folha de carta no chão, escrita pela sua esposa. Intrigado, ele decide procurar Madalena e a encontra na Igreja. Exigindo explicações, ela revela que aquela folha é parte de uma carta que está em seu escritório. Madalena pede perdão por todos os aborrecimentos e confessa que o ciúme arruinou a vida deles. No dia seguinte, ao retornar para casa, Paulo encontra Madalena. Ela havia cometido suicídio, deixando para trás uma carta de despedida que agora estava completa com a página que ele havia encontrado.

Com a morte de Madalena, a fazenda começa a declinar e a Revolução de 1930 se inicia. Paulo Honório enfrenta dificuldades nos negócios e se vê sozinho e abandonado. Refletindo sobre sua vida, ele percebe o quão desumanizado foi e confronta sua própria brutalidade. Incapaz de se transformar, Paulo busca um novo significado para sua existência.

S. Bernardo é uma obra magistral que nos leva a uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira e a natureza humana. Graciliano Ramos, com sua escrita elegante e envolvente, nos apresenta um retrato vívido do poder e da solidão, explorando temas complexos como identidade, memória e amor. A narrativa em primeira pessoa nos permite mergulhar na mente torturada de Paulo Honório, um protagonista ambíguo e intrigante, que nos faz questionar nossas próprias convicções e valores. Esta edição especial da Global Editora, enriquecida pelo estudo crítico de Regina Zilberman, acrescenta ainda mais profundidade e contexto a essa obra-prima da literatura brasileira. Sem dúvida, S. Bernardo é um tesouro que merece ser apreciado e revisitado, pois sua relevância e impacto perduram ao longo dos anos.

Resenha: Vidas secas, de Graciliano Ramos

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APRESENTAÇÃO

Certa vez Graciliano Ramos disse que uma de suas missões pessoais era registrar, através da ficção, a intensidade trágica do cotidiano de retirantes do início do século XX que buscavam esperança longe da seca nordestina. Tarefa magistralmente executada com o livro Vidas secas.

Construída pela escrita precisa e penetrante do autor, a narrativa é permeada pelo desamparo e pela desesperança. Um enredo impactante, uma história de coragem, de encontros, de saberes e de dissabores de seres humanos e animais que persistem à procura de seu lugar no mundo.

Peça fundamental da literatura nacional, Vidas secas é um retrato em várias dimensões do Brasil a partir do relato da história de uma família sertaneja. O casal Fabiano e Sinha Vitória, seus dois filhos, "o menino mais novo" e "o menino mais velho", e a cachorra Baleia tentam fugir de uma situação de extrema pobreza e carência. Cada personagem é a encarnação de tantas e tantas pessoas que sofrem com as desigualdades e dramas de nosso país.

Para fazer jus a sua relevância, o volume conta composfácio de Alfredo Bosi, um dos maiores críticos literários brasileiros.

RESENHA

Nova edição do livro pela Global Editora

O livro vidas secas, do autor Graciliano Ramos, narra a história de uma família de retirantes que caminha exausta e faminta em busca de sombra e água no sertão. O pai, Fabiano, a mãe, Sinha Vitória e os dois filhos, que são apresentados unicamente como 'filho mais velho' e 'filho mais novo', e a cachorra, comicamente chamada baleia, devido à desnutrição . A obra se inicia com o pai, Fabiano, irritando-se com a lentidão dos passos do filho mais novo, chegando a cogitar abandoná-lo durante o percurso em busca de sombra, água e alimento. A família, ao chegar a uma fazenda abandonada, encontram um preá morto e acendem uma fogueira para cozinhar a carne. Fabiano, otimista, imagina um futuro próspero para sua família naquele local. A esposa, Sinha Vitória, e os filhos encontram alívio temporário da sede e fome. A cachorra Baleia aguarda pacientemente sua vez de comer os ossos do animal. A narrativa termina com a esperança de uma nova vida para a família naquela terra.

Graciliano Ramos retrata, em "Vidas Secas", uma trama repleta de personagens em negação, enfrentando obstáculos físicos e sociais, sem apelar para discursos políticos panfletários. No ambiente de imposição arbitrária e relações de trabalho baseadas na obediência e dominação, o romance flerta com o sistema patriarcal e a reprodução do latifúndio, onde os camponeses são alheios aos seus direitos. Sem participação política, vivem em condições semelhantes à escravidão ou a práticas feudais.

O livro permite um estudo do contexto político e social do Brasil nos anos 1930, destacando-se pela estética literária. A montagem da obra permite a apreciação das histórias individualmente. "Mudança" apresenta a família fugindo da seca, ambientando-nos no sertão. "Fabiano" analisa o pai que luta para sustentar a família, enquanto "Cadeia" aborda o poder estatal e opressor, ressaltando as dificuldades enfrentadas pelo grupo de pessoas marginalizadas.

O quarto capítulo do romance "Vidas Secas", intitulado "Sinhá Vitória", é tão impactante quanto o segundo, pois destaca a importância da matriarca da família na narrativa. Ela é retratada como uma figura sábia que não aceita a pobreza e a miséria como algo natural, mas sim como um obstáculo a ser superado. Nos capítulos seguintes, conhecemos mais sobre os filhos da família: o mais novo deseja seguir os passos do pai e se tornar um homem do sertão, enquanto o mais velho se interessa pela linguagem e seus significados.

Em "Inverno", a natureza castiga os personagens com chuvas intensas que ameaçam inundar a casa da família. Apesar de ser um momento de aparente calmaria, todos sabem que uma seca devastadora está por vir. Na festa de Natal da cidade, em "Festa", a família se sente inferiorizada diante das pessoas mais abastadas e aparentemente felizes. Esse encontro desperta sentimentos de humilhação e melancolia, que culminam em um dos momentos mais intensos do livro: a morte da cadela Baleia, um dos personagens mais marcantes da literatura brasileira.

No décimo capítulo de "Vidas Secas", intitulado "Contas", Sinhá Vitória mostra sua astúcia ao perceber que o dono da fazenda está enganando Fabiano nos cálculos, aproveitando-se de sua falta de instrução. Diante disso, Fabiano se sente inferiorizado diante do poder opressor e conclui que é um renegado. No capítulo seguinte, "O Soldado Amarelo", Graciliano Ramos aborda o autoritarismo militar, mas mostra o soldado em desvantagem no espaço de Fabiano, na caatinga.

No penúltimo capítulo, "O Mundo Cheio de Penas", a família sente a seca se aproximando cada vez mais, refletindo sobre sua condição e se preparando para a "Fuga", desfecho cíclico da narrativa que revela a luta pela sobrevivência da família ao retornar ao sertão.

"Vidas Secas" é um livro essencial para os brasileiros, com seu estilo conciso e incisivo. Graciliano Ramos constrói os capítulos como contos que se unem para formar a estrutura do romance, destacando-se na construção dos personagens como Fabiano, Sinhá Vitória, os meninos, Baleia, o papagaio, o fazendeiro e o soldado amarelo. Esses personagens juntos representam as ideias do Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre e alcançam um apuro político e estético que o coloca como uma das obras-primas da literatura brasileira do século XX.

Vidas Secas de Graciliano Ramos é uma obra que expõe de forma crua e realista a exploração e miséria enfrentadas pelos trabalhadores rurais no sertão brasileiro. O autor mostra de forma contundente como Fabiano é enganado e oprimido pelo seu patrão, sendo obrigado a aceitar condições desumanas e injustas.

A situação de Fabiano como homem bruto o torna vulnerável à exploração e ao abuso de poder por parte daqueles que detêm o controle sobre ele. A obra denuncia a falta de assistência e compaixão por parte das autoridades e da sociedade em geral, que ignoram a miséria e o sofrimento daqueles que mais precisam de ajuda.

A morte de Baleia, que simboliza a única fonte de conforto e lealdade para a família, é um momento tocante que revela a profunda humanidade e compaixão que falta nos personagens humanos da história. A linguagem regional e a escrita próxima da fala tornam a narrativa ainda mais envolvente e realista, fazendo com que o leitor se sinta parte da dura realidade retratada.

Em suma, Vidas Secas é uma obra poderosa e impactante que questiona as injustiças sociais e a opressão enfrentada pelos mais vulneráveis na sociedade brasileira. Uma leitura obrigatória para quem deseja entender as profundas desigualdades e desafios enfrentados pelos trabalhadores rurais no Brasil.

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