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A carta entregue por Mr. Darcy à Elizabeth Bennet


Na manhã seguinte, ao despertar, Elizabeth encontrou no seu espírito os mesmos problemas e meditações que, na véspera, o sono acabara por vencer. Ainda não se recompusera da surpresa. Era-lhe impossível pensar noutra coisa; e, incapaz de encontrar uma ocupação que a distraísse, resolveu, logo após o pequeno-almoço, fazer um pouco de exercício ao ar livre. Encaminhara-se para o seu passeio favorito, quando a deteve a lembrança de que o Sr. Darcy costumava por lá aparecer, e, em vez de penetrar no parque, Elizabeth tomou a azinhaga que o bordejava. A cerca do parque acompanhava a estrada de um dos lados e em breve ela passou por um dos portões.

Após percorrer por duas ou três vezes aquele trecho da azinhaga, sentiu-se tentada, pela beleza da manhã, a parar a um dos portões e contemplar o parque. Durante as cinco semanas que permanecera no Kent, uma grande transformação se operara, e cada dia as árvores ficavam mais verdes. Elizabeth preparava-se para continuar o passeio, quando, no pequeno bosque que limitava o parque, avistou de relance um homem caminhando na sua direcção. Receando que se tratasse do Sr. Darcy, Elizabeth tratou de se afastar, mas a pessoa já se encontrava suficientemente perto para poder vê-la. Apressando o passo, essa pessoa aproximou-se e pronunciou o nome de Elizabeth. Esta estava de costas, mas, ao ouvir o seu nome, embora reconhecesse a voz do Sr. Darcy, voltou a acercar-se do portão. Ele, do outro lado, fizera o mesmo, e, estendendo-lhe uma carta, que ela instintivamente aceitou, disse-lhe com ar altivo:

- Andei pelo bosque na esperança de a encontrar. Quer dar-me a honra de ler esta carta? - E, fazendo uma ligeira vénia, voltou-se e partiu.

Sem qualquer expectativa de prazer, mas com grande curiosidade, Elizabeth abriu a carta e, com um espanto sempre crescente, viu que o envelope continha duas folhas de papel, inteiramente preenchidas por uma letra apertada. Prosseguindo no seu passeio pela alameda, Elizabeth começou a ler. A carta estava datada de Rosings, das oito horas da manhã, e constava do seguinte:

Não fique alarmada, minha senhora, ao receber esta carta, pela apreensão de que ela contenha a repetição daqueles sentimentos ou a renovação daquelas propostas que ontem à noite tanto a maçaram. Escrevo-lhe sem qualquer intenção de a aborrecer, ou de me humilhar, insistindo em exprimir esperanças de que, para a felicidade de ambos, não poderão ser esquecidas cedo demais; e o esforço que esta carta poderá representar, para mim ao escrevê-la e para si ao lê-la, teria sido poupado, acaso o meu carácter não exigisse que ela fosse escrita e lida. Necessito, pois, que me perdoe a liberdade com que exijo a sua atenção; sei que os seus sentimentos me a concederão com relutância, mas não posso deixar de o fazer.


Duas foram as acusações que ontem à noite me fez, diferentes tanto na natureza como pela sua importância. Acusou-me, primeiro, de ter separado o Sr. Bingley de sua irmã, indiferente aos sentimentos de ambos; e, segundo, de ter arruinado a possibilidade imediata e as probabilidades futuras do Sr. Wickham, desafiando abertamente quaisquer direitos, a própria honra e a humanidade. Ter repudiado voluntária e gratuitamente o companheiro da minha infância, o favorito declarado de meu pai, um rapaz que dependia exclusivamente da nossa protecção e a quem esta fora prometida, seria uma perversidade incomparavelmente mais grave do que a separação de duas pessoas cuja afeição, embora verdadeira, nunca poderia ter crescido excessivamente durante aquelas poucas semanas que estiveram juntas. Espero, de futuro, estar salvaguardado da severidade das censuras que me foram feitas com tanta veemência sobre estes dois casos, após a leitura da seguinte explicação dos meus actos e seus motivos. 

Se nesta minha exposição me vir na iminência de exprimir sentimentos que a possam ofender, apenas me resta participar-lhe o meu sincero pesar. A necessidade a isso me obriga - e quaisquer outras desculpas seriam absurdas. Pouco tempo depois da nossa chegada ao Hertfordshire, percebi, juntamente com outras pessoas, que Bingley preferia a sua irmã mais velha a qualquer outra moça na região. Porém, foi só por ocasião do baile em Netherfield que pela primeira vez receei que ele se apaixonasse seriamente. Já várias vezes o vira apaixonado. No baile, enquanto dançava com a menina, soube, através da informação acidental de Sir William, que as atenções de Bingley para com a sua irmã tinham dado azo a um rumor geral acerca do casamento de ambos. Sir William fez-lhe referência como a um acontecimento positivo, do qual só a data era incerta. A partir desse momento dediquei toda a minha atenção à atitude do meu amigo; e reparei que a inclinação dele pela Menina Bennet era mais evidente do que qualquer uma das que lhe tinha visto anteriormente. Observei também a sua irmã. O olhar e as maneiras eram francos, alegres e atraentes como sempre, mas sem qualquer sintoma especial de afeição, o que definitivamente me convenceu de que, embora ela aceitasse as atenções de Bingley com prazer, não as provocava porque participasse do mesmo sentimento. Aqui, se a menina não se enganou, enganei-me eu. O seu conhecimento íntimo de sua irmã tornará mais provável última hipótese. Nesse caso, se o meu erro me levou a inflingir um desgosto a sua irmã, o seu ressentimento não é injustificado.  Porém, nada me impedirá de afirmar que a serenidade do rosto de sua irmã e a tranquilidade dos seus modos eram tais que trariam ao observador mais perspicaz a convicção de que, apesar de toda a amabilidade do seu temperamento, o coração não era dos mais fáceis de atingir. É certo que desejava acreditar na indiferença dela, mas ouso afirmar que as minhas investigações e decisões não são geralmente influenciadas pelas minhas esperanças ou receios. Não foi porque o desejasse que acreditei na indiferença da sua irmã, mas, simplesmente, porque cheguei a esta convicção imparcial, e ela é tão sincera quanto o meu desejo. As minhas objecções contra tal casamento não foram apenas aquelas que ontem à noite lhe expus e que, no meu caso, exigiram toda a força da paixão para serem vencidas; a desigualdade social não representaria um mal tão grande para o meu amigo como para mim. Mas existiam outras causas para a minha resistência; causas que, embora ainda existentes e idênticas para ambos os casos, eu tentei esquecer porque não diziam imediatamente respeito a mim. Tais causas necessitam ser mencionadas, embora sumariamente. A situação da família de sua mãe, se bem que pouco recomendável, nada era em comparação com aquela falta total de delicadeza tão frequente e quase permanentemente demonstrada por tal senhora, pelas suas três irmãs mais jovens e por vezes até pelo seu pai. Perdoe-me. Custa-me ofendê-la. Contudo, qualquer que seja o aborrecimento que os seus parentes mais próximos lhe possam causar ou a tristeza que a presente descrição não deixará de lhe suscitar, espero que a seguinte reflexão lhe sirva de consolo: que o facto universalmente reconhecido de que tanto a menina como a sua irmã mais velha sempre se comportaram de modo a evitar uma censura semelhante é o melhor elogio que se poderá fazer à sensatez e ao carácter de ambas. Acrescentarei apenas que tudo o que se passou naquela noite veio confirmar a minha opinião sobre todas as pessoas em questão e fortalecer a minha resolução de proteger o meu amigo de uma aliança que eu considerava altamente desastrosa. Ele deixou Netherfield no dia seguinte, como decerto está lembrada, com a intenção de regressar em breve. Devo agora explicar qual a minha interferência no caso. A inquietude das irmãs de Bingley fora igualmente despertada e logo descobrimos a coincidência dos nossos sentimentos a tal respeito; e, convencidos da urgência em afastar o irmão, decidimos acompanhá-lo a Londres. Foi o que fizemos, e não perdi tempo em revelar ao meu amigo os inconvenientes da sua escolha. Descrevi-lhos e frisei-os com toda a gravidade. No entanto, por mais que esta advertência possa ter abalado a sua resolução, não creio que ela teria sido suficiente para impedir o casamento, se não tivesse sido apoiada pela afirmação, que não hesitei em fazer, de que a sua irmã lhe era indiferente. Ele acreditara até àquele momento que a Menina Jane correspondia sinceramente à sua afeição, senão com igual intensidade. Mas Bingley é por natureza muito modesto e comovedoramente dependente da minha opinião. Convencê-lo, portanto, de que ele estava enganado, não foi tarefa difícil. Persuadi-lo de voltar ao Herfordshire, após ter firmado o primeiro ponto, foi coisa de um instante. Não me arrependo de o ter feito. Existe apenas uma parte da minha conduta que não me satisfaz inteiramente; pois condescendi em usar de certos artifícios para esconder de Bingley o facto de sua irmã se encontrar em Londres. Sabia dessa presença, bem como a Menina Bingley, mas o irmão desta ainda agora o ignora. É, talvez, provável que eles se encontrassem sem outras consequências; mas o seu afecto não me pareceu suficientemente extinto para que ele pudesse ver sua irmã sem correr algum perigo. Talvez tal encobrimento, tal subterfúgio, seja indigno de mim. Contudo, é um facto consumado e assistido das melhores intenções. Sobre este assunto nada mais se me oferece dizer-lhe, nem outras explicações a dar-lhe. Se acaso causei desgosto a sua irmã, foi sem saber que o fiz, e, embora os motivos que inspiraram a minha conduta lhe pareçam a si naturalmente insuficientes, não vejo ainda razões para condená-los. Quanto à outra acusação que me foi feita, a mais grave e a que diz respeito ao Sr. Wickham, só poderei refutá-la revelando-lhe a história da sua relação com a minha família. Ignoro se ele formulou alguma acusação particular à minha pessoa; mas acerca da verdade do que vou relatar poderei indicar-lhe mais de uma testemunha insuspeita. O Sr. Wickham é filho de um homem muito respeitável, que durante vários anos geriu os bens da propriedade de Pemberley e cuja conduta irrepreensível no desempenho do seu cargo mereceu naturalmente a gratidão de meu pai, que se reflectiu sobretudo em George Wickham, seu afilhado, para com o qual se mostrou de uma generosidade sem limites e lhe devotou grande afeição. Meu pai pagou-lhe os estudos num colégio e mais tarde em Cambridge, auxílio este deveras importante, pois o pai do Sr. Wickham, que as extravagancias da esposa privavam quase sempre do necessário, não estava em condições de dar ao filho uma educação liberal. Meu pai não só apreciava a companhia de George Wickham, cujas maneiras, aliás, eram sempre muito cativantes, como tinha por ele a maior admiração e, alimentando a esperança de que o rapaz abraçasse a carreira eclesiástica, tencionava reservar-lhe um lugar na mesma. Quanto a mim, desde há muito tempo que me desiludira a respeito dele. As suas más inclinações, a falta de escrúpulos, que ele tinha o cuidado de esconder do seu melhor amigo, não poderiam passar despercebidas a um rapaz da sua idade, que o observava e tinha a oportunidade de o ver em momentos de descuido, coisa que ao Sr. Darcy era totalmente impossível. De novo me vejo forçado a magoá-la - até que ponto, só a menina o poderá dizer. Mas quaisquer que sejam os sentimentos que o Sr. Wickham lhe possa ter inspirado, a suspeita que alimento acerca desses sentimentos não me impedirá de lhe revelar o verdadeiro carácter de tal pessoa, e apenas constituirá mais um motivo. O meu excelente pai morreu há cerca de cinco anos e a sua afeição pelo Sr. Wickham manteve-se tão firme até ao fim que nas suas últimas vontades me recomendou que me encarregasse de velar pelo bem-estar do seu afilhado e, acaso ele sempre se ordenasse, providenciasse para que ele fosse ocupar um importante posto, mal este vagasse. Deixou-lhe também um legado de mil libras. O pai dele não sobreviveu muito tempo ao meu, e meio ano após estes acontecimentos recebi uma carta do Sr. Wickham em que ele me informava ter decidido não tomar ordens e me pedia o adiantamento da compensação pecuniária pelo lugar que ele nunca ocuparia. Tencionava, acrescentava ele, dedicar-se ao estudo de Direito e esperava que eu compreendesse que o rendimento das mil libras não bastariam para tal. Apesar do meu desejo em acreditar na sua sinceridade, não o consegui; mas, mesmo assim, mostrei-me favorável à sua proposta. Eu sabia que o Sr. Wickham nunca enveredaria pela carreira eclesiástica. O assunto foi em breve arrumado. Ele desistiu de toda a protecção relativa à sua entrada na Igreja, mesmo se algum dia estivesse em situação de recebê-la, e aceitou em troca a quantia de três mil libras. A partir daí, nada tínhamos que dizer um ao outro. O que eu sabia a respeito dele era suficiente para não o desejar como amigo. Não o convidava para Pemberley, nem procurava a sua companhia na capital. Aí instalado, creio que praticamente sempre, a sua pretensão de estudar Direito não passou de um subterfúgio e achando-se nessa altura liberto de qualquer obrigação, entregou-se a uma vida de indolência e dissipação. Durante três anos poucas notícias tive dele; mas, quando faleceu a pessoa que ocupava o posto que lhe fora destinado, ele tornou a escrever-me, solicitando a sua apresentação para o dito lugar. A sua actual situação, dizia ele, e o que não me custou a acreditar, era bastante precária. Descobrira que o estudo de Direito era pouco proveitoso e estava agora absolutamente resolvido a tomar ordens, acaso eu o apresentasse para o posto que acabara de vagar, coisa de que ele não duvidava, pois estava informado de que não havia outro pretendente e confiava que eu tivesse presente as intenções do meu venerando pai; creio que não me censurará por lhe ter recusado tal pretensão e rejeitado todas as suas tentativas no mesmo sentido. O seu ressentimento foi proporcional à situação desesperada em que se encontrava - e mostrou-se, sem dúvida, tão violento no ataque que à minha pessoa fez na opinião dos outros como nas recriminações que me dirigiu. Após esse período, todas as relações de mera formalidade foram cortadas. Como ele viveu não sei. Mas no Verão passado tornou a atravessar-se no meu caminho, e da forma mais repugnante. Devo agora mencionar certas circunstâncias que eu mesmo desejaria esquecer e que apenas uma obrigação tão forte como a actual me levam a revelá-las a alguém. Depois de ter dito isto, confio inteiramente na sua discrição. A minha irmã, dez anos mais jovem do que eu, foi deixada em tutela ao sobrinho da minha mãe, o coronel Fitzwilliam, e a mim próprio. Há cerca de um ano, ela saiu do colégio e foi morar em Londres, na companhia de uma senhora encarregada de superintender na sua educação. No

Verão passado, ela e essa senhora foram para Ramsgate. O Sr. Wickham, obedecendo sem dúvida a um plano, partiu para o mesmo lugar; descobriu-se depois que houvera um entendimento prévio entre ele e a Sr.a Younge, sobre cujo carácter nos enganámos desgraçadamente. Com o auxílio e a conivência de tal pessoa, George Wickham conseguiu captar de tal modo as boas graças de Georgiana, cujo coração extremamente afectivo conservava ainda viva a impressão da bondade com que ele a tratara em criança, que ela se convenceu de que o amava realmente e consentiu em ser raptada. Ela tinha então apenas quinze anos, o que lhe servirá de desculpa; e, após ter constatado a sua imprudência, tenho o consolo de poder acrescentar que soube disto por ela própria. Cheguei a Ramsgate, inesperadamente, um ou dois dias antes da projectada fuga, e Georgiana, incapaz de suportar a ideia de desgostar e ofender um irmão que ela considerava quase como um pai, confessou-me tudo. Pode bem imaginar como me senti e como agi. A fim de não prejudicar a reputação da minha irmã e não ofender os seus sentimentos, abstive-me de qualquer acto de represália em público; mas escrevi ao Sr. Wickham, que partiu imediatamente. Quanto à Sr.a Younge, não hesitei em despedi-la. O principal objectivo do Sr. Wickham era, sem dúvida, apoderar-se da fortuna de minha irmã, que é de trinta mil libras; mas não posso deixar de pensar que o desejo de se vingar de mim tenha também influído fortemente nele. A sua vingança seria, de facto, completa.

Esta é, minha senhora, a narrativa fiel dos acontecimentos que nos dizem respeito a ambos; e, se não a rejeitar como absolutamente falsa, espero que me sirva de atenuante para a crueldade com que agi contra o Sr. Wickham. Não sei de que modo, nem as falsidades de que ele usou para a atrair à sua causa; mas o êxito por ele alcançado não é de estranhar. Dada a sua ignorância total dos factos e das personagens, não só não estava em seu poder desmascarar essas falsidades, como, além de tudo, o seu temperamento não é dado à desconfiança. Talvez se surpreenda por eu não lhe ter contado tudo isto ontem à noite, mas naquele momento não tinha suficiente domínio sobre mim mesmo para decidir o que devia e o que não devia revelar. Quanto à verdade de tudo o que aqui ficou relatado, posso apelar particularmente para o testemunho do coronel Fitzwilliam, que, dado o nosso parentesco e constante intimidade, e sobretudo a sua qualidade de executor testamentário de meu pai, foi posto necessariamente a par de todos os detalhes concernentes a esses acontecimentos. Se acaso a antipatia que por mim nutre a impedir de dar o devido valor às minhas asserções, o mesmo não acontecerá em relação ao meu primo, e, para que haja a possibilidade de consultá-lo, procurarei entregar-lhe esta carta logo de manhã. Acrescentarei apenas, Deus a abençoe! - Fitzwilliam Darcy.

Outras resenhas de Jane Austen que talvez você queira ler:

Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
A abadia de Northanger
Razão e sensibilidade
Emma
Lady Susan
Mansfield Park
A história da Inglaterra
Os Watson

A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.

[RESENHA #705] Persuasão, de Jane Austen

Persuasão foi o último trabalho completo de Jane Austen. O livro conta a história de Anne Elliot, uma das heroínas mais tranquilas e reservadas de Austen, mas, ao mesmo tempo, uma das mais fortes e abertas às mudanças. O livro enaltece a constância do amor numa época turbulenta na história da Inglaterra: as guerras napoleônicas. Escrito nesse período, o romance descreve como uma mulher pode permanecer fiel ao seu passado e, ainda assim, pensar em um futuro feliz. Austen expõe de maneira sutil como uma mulher pode passar por cima das convenções sociais e das restrições femininas em busca da felicidade.

RESENHA

Há sete anos, Anne Elliot recebeu uma proposta de casamento de um jovem chamado Frederick Wentworth. Embora estivessem muito apaixonados, Anne permitiu-se ser persuadida a não se casar por uma amiga da família, Lady Russell. Com o coração partido, Wentworth saiu e ingressou na Marinha.

Anne, aos 27 anos, que se deteriora muito rapidamente, enfrenta agora um perigo iminente. Suas irmãs a tratam como mobília e presumem que, como mulher solteira e provavelmente nunca casada, ela não tem nada melhor para fazer do que cuidar dos filhos enquanto sai para festas. Seu pai, um esnobe vaidoso e perdulário, ignora seus sábios conselhos sobre como cortar despesas, embora seja claramente o membro mais sensato da família.

Depois disso, Frederick Wentworth retorna como Capitão Wentworth, um solteirão rico e cobiçado agora perseguido por metade das mulheres de Bath.

Este foi o último trabalho de Austen e muitos fãs de Austen o listam como seu favorito. Não posso dizer que foi meu. A história deixou algumas surpresas; embora, é claro, existam os mal-entendidos habituais, "tramas" falsas, equívocos sobre quem está apaixonado por quem e quem vai se casar, etc., tudo isso são pistas falsas muito óbvias para o leitor, já que Austen praticamente explica a verdadeira razão de tudo desde o início.

Eu gostei – sempre gostei de Austen. Mas faltava em Persuasão o que tornava Orgulho e Preconceito, Abadia de Northanger e Emma tão charmosos: humor.

Isso não quer dizer que não houvesse humor (colocado acima de Mansfield Park). Austen é sempre espirituosa, sempre expressando em seu estilo único e florido sentimentos que seriam rudes ou mordazes se expressos de forma mais direta, e ela permite que seus leitores se divirtam com o que seus personagens pensam, mas nunca diriam.

Mulheres muito bem-humoradas e não afetadas, na verdade - disse a Sra. Croft, num tom de elogio mais calmo, o que fez Anne suspeitar que as suas faculdades perceptivas poderiam não considerar nenhuma delas digna do seu irmão; “e uma família muito respeitável. Não se poderia estar associado a gente melhor. Meu caro almirante, esse cargo! Certamente o preencheremos.”

Mas, dando friamente às rédeas um curso melhor, eles passaram alegremente pelo perigo; e uma vez depois disso, estendendo a mão criteriosamente, eles não caíram nos sulcos nem bateram no carrinho de esterco; e Anne, divertida com o estilo de conduta deles, que ela não imaginava ser uma má representação da direção geral de seus negócios, viu-se alojada em segurança com eles no chalé.

O pai de Anne Elliot, Sir Walter, é um homem extremamente burro, e o engraçado pé que ele se leva muito a sério.

Sir Walter Elliot, de Kellynch Hall, em Somersetshire, era um homem que, para sua própria diversão, nunca lia um livro fora do Baronete; lá ele encontrou emprego para suas horas ociosas e consolo em suas horas difíceis; ali suas habilidades foram despertadas para admiração e respeito, ao ver o limitado remanescente das primeiras patentes; quaisquer sentimentos indesejáveis ​​decorrentes de assuntos domésticos naturalmente se transformaram em arrependimento e desprezo enquanto ele vasculhava as quase infinitas criações do século passado; e ali, se todos os outros jornais fossem impotentes, ele poderia ler a sua própria história com um interesse que nunca falhava.

Mas o humor deste livro é um pouco tênue, afinal. Sir Walter não tem falas engraçadas, ele apenas anda bisbilhotando os que estão abaixo dele e age de forma arrogante, sem autoconfiança ou responsabilidade. O pai de Anna e suas irmãs passam a segunda metade do livro beijando os primos nobres distantes de Dalrymple, que são chatos, desinteressantes e importantes apenas porque têm sangue azul. Os Elliots fazem um som engraçado quando mencionam sua conexão.

Anna nunca tinha visto o pai e a irmã em contato com a nobreza e tinha que admitir que estava desapontada. Ela esperava coisas melhores das idéias elevadas que eles tinham sobre sua própria situação na vida e foi reduzida a uma necessidade que nunca imaginou; o desejo de que tenham mais orgulho; “às nossas primas Lady Dalrymple e Miss Carteret”; "nossos primos, os Dalrymples", soou em seus ouvidos o dia todo.

Os problemas familiares de Anna são um tanto divertidos e há outras falas que podem ser citadas, mas basicamente é a história de uma mulher sensata e de bom coração, em perigo iminente de se tornar virgem e de se casar adequadamente, apesar de ser perdulária. e um pai superficial e egocêntrico. enfermeiros focados.

Os temas do romance são a persuasão (quando é bom ser persuadido pelos outros e quando não é) e a lealdade, representada pelo amor inabalável que Anne e o Capitão Wentworth têm um pelo outro, apesar da sua ausência de sete anos. . É claro que os “vilões” nunca são verdadeiramente maus, eles só querem se casar por outros motivos que não a devoção altruísta.

Dado o triste destino de Austen como uma mulher solteira que morreu aos 41 anos, não podemos deixar de nos identificar com esta heroína mais do que com qualquer outra. Por baixo da refinada comédia romântica de costumes, Austen, como sempre, sugere que destino chato era ser uma mulher solteira sem felicidade própria, e mostra sua simpatia habitual por seu próprio sexo, expressa com humor travesso:

"Mas deixe-me observar que todas as histórias estão contra você - todas as histórias, prosa e verso. Se eu tivesse a memória de Benwick, poderia trazer-lhe cinquenta citações de uma vez do meu lado do argumento, e acho que nunca abri um livro da minha vida que não tinha o que dizer sobre a inconstância das mulheres Canções e provérbios falam sobre a inconstância das mulheres, mas você pode dizer que foram todos escritos por homens.

"Talvez eu devesse. Sim, sim, por favor, nenhuma referência a exemplos em livros. Os homens tiveram todas as vantagens sobre nós ao contar sua própria história. A educação era deles em um grau muito superior; a caneta estava em suas mãos. E eles não deixarei que os livros que estavam provando alguma coisa."

A persuasão tem todos os pontos fortes habituais de Austen – prosa requintada, sagacidade e crítica social contundente – e um elenco de personagens grande o suficiente para formar um elenco interessante, com heróis e vilões em guerras românticas. Mas a simplicidade do enredo e a falta de elemento humorístico não podem torná-lo meu favorito.

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Amor e Amizade
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Razão e sensibilidade
Emma
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A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #706] Os Watson, de Jane Austen


Jane Austen abandonou a escrita de Os Watsons por volta de 1805, deixando a história de Emma, Elizabeth, Margaret e Penélope sem um final. Em 1850, a sobrinha Catherine Hubback o publicou - "The Younger Sister", ainda sem tradução no Brasil -, provavelmente seguindo as confidências de Jane Austen à sua irmã Cassandra sobre as previsões de final.Mais de 200 anos depois, a jovem autora brasileira Lis Wey decidiu reviver as páginas de uma de suas autoras prediletas, propondo uma versão em Língua Portuguesa para a obra e escrevendo um final diferente para o romance. "Emma Watson é a mais nova dos filhos de um viúvo adoecido. Depois de anos vivendo sob a tutela de uma tia na Escócia, foi enviada de volta para casa e encontrou suas irmãs, descobrindo inimizades, desentendimentos, rancores e mal-entendidos. Influenciada pelas percepções da irmã mais velha, Elizabeth, Emma passa a observar as pessoas e formar a própria opinião sobre elas.Elizabeth, a irmã mais velha e responsável pelos cuidados com o pai, sofreu uma desilusão causada por Penélope, outra de suas irmãs, que a afastou de Purvis, o grande amor de Eli. Depois disso, Penélope partiu atrás de um marido. Outra de suas irmãs, Margareth, disputa com todas as moças solteiras o amor do galanteador Tom Musgrave.No primeiro baile que comparece, Emma conhece a família Edwards e os Osbornes, família mais abastada da região, além do antigo tutor de lorde Osborne, o senhor Howard, personagens cruciais no desenrolar da trama."Os conflitos das irmãs fazem desta história de Jane Austen um terreno fértil à criatividade de Lis Wey, autora de "A Herdeira do Título", "O Segredo de Lady Julie" e outros romances de época nacionais ambientados na Inglaterra de Austen.

RESENHA


Os Watsons é um dos dois romances inacabados de Jane Austen (o outro é Sanditon). É um fragmento deserto, com apenas cerca de 7.500 palavras (ou 80 páginas), cerca de um quinto da extensão de seus outros romances. Embora se pense que foi escrito por volta de 1803 (e abandonado por volta de 1805 após a morte de seu pai), o fragmento recebeu o título de Os Watsons e foi publicado após sua morte em 1871 pelo sobrinho do escritor, James Edward Austen-Leigh.

A heroína da história é a filha mais nova da família Watson, Emma Watson. Nossa MC Emma entra na história depois de ser mandada de volta para a modesta propriedade rural de sua família, depois de passar a juventude criada por uma tia rica que fez tudo o que podia para sustentar uma educação elegante para Emma. Infelizmente para Emma, ​​​​ela agora é muito mais educada do que o resto da família, o que sem dúvida deve ser a causa da confusão na história. A ação começa no primeiro baile de formatura de Emma, ​​onde ela imediatamente demonstra simpatia e gentileza para com o menino triste (o que também a aquece com a família dos meninos, que inclui o vizinho rico).

Alguns dos personagens secundários da história são logo apresentados, dando-nos uma ideia de onde a história poderia ter chegado - uma irmã fofoqueira que nos apresenta um pequeno drama, um pai doente, um cavalheiro que rapidamente se torna desagradável, um cavalheiro que parece agradável, e outro cavalheiro que permanece misteriosamente distante.

O fragmento oferece um começo promissor e é uma pena que Jane nunca tenha conseguido terminar a história. O romance termina aqui, mas a irmã de Jane, Cassandra, sugeriu um possível final que foi revelado: Emma deveria se casar com o Sr. Howard após rejeitar a proposta de Lord Osborne! Que reviravolta!

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Persuasão


A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #704] História da Inglaterra, de Jane Austen


História da Inglaterra, de Jane Austen, é uma obra escrita quando a autora tinha apenas quinze anos. O livro é uma narrativa ficcional da história da Inglaterra, desde o reinado de Henrique IV até a morte de Carlos I.

A obra é narrada por uma historiadora fictícia, que se apresenta como parcial, preconceituosa e ignorante. A narradora não se preocupa em apresentar uma visão imparcial da história, mas sim em compartilhar suas opiniões e preconceitos sobre os eventos e personagens históricos. O livro é dividido em dois volumes. O primeiro volume abrange o reinado de Henrique IV a Eduardo III. O segundo volume abrange o reinado de Ricardo II a Carlos I. A obra é uma mistura de humor, sátira e crítica social. Austen usa a história para explorar temas como o poder, a corrupção e a hipocrisia.

RESENHA

A História da Inglaterra é um pequeno texto que Austen escreveu em 1791 quando era adolescente. Seu título completo é História da Inglaterra desde o reinado de Henrique IV. até a morte de Carlos I. e pretende ser uma paródia da obra de Oliver Goldsmith de 1771 intitulada História da Inglaterra desde os primeiros tempos até a morte de George II. Você sabe imediatamente que Austen não está escrevendo uma história séria porque a obra é “de um historiador parcial, tendencioso e ignorante”.

Quanto mais me desvio dos romances de Austen para seus trabalhos anteriores, mais impressionada ela fica comigo como escritor. A História da Inglaterra realmente destaca sua inteligência e humor e mostra que ela tinha um talento especial para cativar o público desde tenra idade. Seu amor pela literatura também transparece quando ela cita Shakespeare e outras obras literárias, em vez de basear sua história dos monarcas nas obras de grandes historiadores.

Austen também zomba da ideia de preconceito histórico, particularmente de como as pessoas se lembram do que querem lembrar e de como as crenças pessoais de um historiador podem desempenhar um papel na forma como o passado é percebido. Como em muitos romances de Austen, nos quais o narrador interage com o leitor, ela inclui a si mesma e até mesmo sua família e amigos em sua narrativa histórica e nunca hesita em acrescentar seu ponto de vista.

Não posso dizer muito sobre o Sentido deste Monarca [Henrique VI] - nem o faria se pudesse, pois ele era um Lancastriano. Suponho que você saiba tudo sobre as guerras entre ele e o duque de York, que estava do lado certo; Caso contrário, é melhor ler alguma outra História, pois não serei muito difuso nisso, querendo com isso apenas desabafar meu rancor contra e mostrar meu ódio a todas aquelas pessoas cujos partidos ou princípios não combinam com os meus. , e não fornecer informações. (páginas 139-140)

Não estando muito familiarizado com a monarquia inglesa, muitas das referências feitas por Austen passaram pela minha cabeça. Mesmo assim, entendi o que ela quis dizer e gostei do humor.

A História da Inglaterra é uma leitura obrigatória para os fãs de Austen. Tem apenas algumas páginas e li em cerca de 20 minutos durante meu horário de almoço. É interessante comparar os escritos adolescentes de Austen com suas obras mais maduras, como Persuasão. Gostei de tudo que li de Austen até agora e fico triste ao pensar o quanto ela poderia ter feito mais com a palavra escrita se tivesse vivido mais. (Como observação, ontem, 18 de julho, foi o 194º aniversário da morte de Austen.)

Outras resenhas de Jane Austen que talvez você queira ler:

Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
A abadia de Northanger
Razão e sensibilidade
Emma
Lady Susan
Mansfield Park
Os Watson
Persuasão

A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #703] Mansfield Park, de Jane Austen


Na literatura, esperamos que o herói seja vigoroso, tenha um espírito aventureiro, audácia, bravura, capacidade de superação e uma pitada de imprudência. Ele deve ser ativo, enfrentar obstáculos e afirmar a própria energia. Fanny Price, a heroína de Mansfield Park, é o oposto de tudo isso. Frágil, tímida, insegura e excessivamente vulnerável, a pequena Fanny deixa a casa dos pais pobres para morar com os tios mais afortunados em Mansfield Park. Lá, convive com diversos familiares, mas se aproxima apenas do primo Edmund, seu companheiro inseparável. A tranquilidade de casa, no entanto, é abalada com a chegada dos irmãos Mary e Henry Crawford em uma propriedade vizinha. Edmund se apaixona por ela, enquanto Henry flerta com todas as moças. Mansfield Park é o romance que marca a maturidade de Jane Austen. Apresenta um tom mais contido, sardônico, em comparação com obras idealizadas antes, como Orgulho e preconceito e Razão e sensibilidade. Aqui, mais consciente dos verdadeiros males e sofrimentos inerentes à vida em sociedade, uma das maiores autoras da língua inglesa enaltece, na figura de Fanny, a imobilidade, a solidez, a permanência e a resignação.



RESENHA



“Mansfield Park” de Jane Austen é uma obra que desafia as convenções do romance do século XIX, apresentando uma heroína atípica na figura de Fanny Price. Fanny, uma jovem de origem humilde, é enviada para viver com seus tios ricos em Mansfield Park. Ela é uma personagem complexa e muitas vezes mal compreendida, cuja quietude e modéstia contrastam fortemente com as heroínas mais vivazes de Austen.

A narrativa de Austen é meticulosa e perspicaz, explorando as dinâmicas de classe, moralidade e gênero através de uma lente crítica. A história é rica em detalhes e personagens secundários, cada um com suas próprias falhas e virtudes, contribuindo para a tapeçaria complexa da sociedade retratada.

Um dos aspectos mais controversos do livro é o relacionamento entre Fanny e seu primo Edmund. Embora possa ser desconfortável para alguns leitores modernos, é importante lembrar que o livro foi escrito em um tempo e contexto cultural diferentes.

“Mansfield Park” também se destaca por sua exploração da “economia do casamento”, um tema recorrente nas obras de Austen. Através dos olhos de Fanny, somos levados a questionar as convenções sociais e as expectativas colocadas sobre as mulheres naquela época.

Apesar de algumas falhas percebidas, como um final que parece apressado e a redenção não convincente de certos personagens, “Mansfield Park” é uma leitura fascinante. É uma adição valiosa à coleção de qualquer amante da literatura, oferecendo uma visão única do mundo de Austen.

A história é repleta de reflexões profundas sobre o tempo e as mudanças na mente humana, e como o bom senso sempre prevalece quando realmente necessário. No entanto, o que pode causar desconforto em alguns leitores é a natureza do relacionamento entre Fanny e Edmund. O romance entre primos é um tema delicado, e o fato de Fanny ser, de certa forma, irmã adotiva de Edmund, pode causar desconforto. No entanto, se você conseguir superar esse aspecto, encontrará uma história fascinante.

Fanny, a protagonista, é uma personagem complexa e aberta a várias interpretações. Seus antagonistas, Sr. e Srta. Crawford, são ainda mais interessantes. A história é contada do ponto de vista de Fanny, que julga todos os outros personagens com sua moral inabalável e conduta impecável. Apesar de às vezes cansativas, essas características são preferíveis às de Edmund.

Se você conseguir ignorar o relacionamento entre Fanny e Edmund, encontrará uma história fascinante que gira em torno do casamento e da “economia do casamento”. Austen consegue introduzir uma perspectiva única através de um protagonista silencioso e avaliativo. A história começa com a chegada de Fanny a Mansfield Park e rapidamente avança vários anos, apresentando um conjunto de personagens secundários contrastantes.

No entanto, a história tem suas falhas. A tentativa de redimir Henry Crawford na segunda metade do livro não foi bem-sucedida, e o final da história pareceu apressado. A mudança repentina de opinião de Edmund pareceu uma mudança de paradigma. Apesar dessas falhas, a história é fascinante e vale a pena ser lida.

Em suma, “Mansfield Park” pode não ser o romance mais popular de Austen, mas é certamente um que desafia o leitor a pensar e refletir, tornando-o uma leitura gratificante.

Outras resenhas de Jane Austen que talvez você queira ler:

Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
A abadia de Northanger
Razão e sensibilidade
Emma
Lady Susan
A história da Inglaterra
Os Watson
Persuasão


A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.


A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #702] Razão e sensibilidade, de Jane Austen



Razão e Sensibilidade é um livro em que as irmãs Elinor e Marianne representam uma dualidade, de maneira alternada, ao longo da narrativa. As expectativas vividas pelas duas com a perda, o amor e a esperança, nos aponta para um excelente panorama da vida das mulheres de sua época. As irmãs vivem em uma sociedade rígida, e ambas tentam sobreviver a esse mundo cheio de regras e injustiças. Tanto a sensível e sensata Elinor como a romântica e impetuosa Marianne se veem fadadas a aceitar um destino infeliz por não possuírem fortuna nem influências, obrigadas a viver em um mundo dominado por dinheiro e interesse. As duas personagens passam por um processo intenso de aprendizagem, mesclando a razão com os sentimentos em busca por um final feliz.

RESENHA


“Razão e Sensibilidade” é uma narrativa que gira em torno das irmãs Dashwood, Elinor e Marianne, que são notavelmente diferentes uma da outra. A história se desenrola com a morte de seu pai, Henry Dashwood, deixando as irmãs, sua mãe e a irmã mais nova com heranças modestas, enquanto a maior parte da fortuna e propriedades do Sr. Dashwood é herdada por John, seu filho de um casamento anterior. No leito de morte, Henry pede a John que cuide de sua segunda família, o que John promete fazer.

No entanto, Fanny, a esposa de John, que é egoísta e esnobe, convence John de que ele não tem nenhuma grande responsabilidade para com suas meio-irmãs e sua mãe, e John concorda facilmente. Diante da realidade de terem que deixar sua casa, as mulheres Dashwood lutam para encontrar um novo lar adequado, dentro dos limites de seus rendimentos limitados. Apesar de algum atrito entre elas e John e Fanny, elas logo são acompanhadas em Norland Park pelo irmão de Fanny, Edward Ferrars, que forma um vínculo com Elinor.

Percebendo o carinho crescente entre Elinor e Edward, Fanny intervém para tentar estragar qualquer possível ligação e motivar a mudança das mulheres Dashwood. Felizmente, um primo da Sra. Dashwood, Sir John Middleton, ofereceu-lhes uma casa de campo em Devonshire que lhes serviria bem e elas aceitaram prontamente. Os Dashwoods tentam aproveitar ao máximo sua nova casa e se assimilar na sociedade de Sir John. Não é fácil, pois Sir John e a sua sogra, a Sra. Jennings, têm grande prazer em provocar, cutucar e fofocar com os seus novos jovens companheiros.

Um membro de seu novo círculo social é o Coronel Brandon, que imediatamente gosta de Marianne, de dezessete anos. Embora pareça bastante respeitável e tenha uma riqueza considerável, ele tem trinta e poucos anos e não é nada do agrado de Marianne.

Mas pelo menos, mamãe, você não pode negar o absurdo da acusação, embora possa não considerá-la intencionalmente mal-humorada. O Coronel Brandon […] tem idade para ser meu pai; e se ele alguma vez esteve suficientemente animado para estar apaixonado, deve ter sobrevivido por muito tempo a qualquer sensação desse tipo. É muito ridículo! Quando um homem estará a salvo de tal sagacidade, se a idade e a enfermidade não o protegerem?

Quando Marianne sofre uma queda e torce o tornozelo durante uma caminhada, ela é resgatada, de maneira bastante romântica, por um estranho audacioso chamado John Willoughby. Willoughby e Marianne começam a passar muito tempo juntos, e é evidente que Marianne está se apaixonando rapidamente por ele. Enquanto o 'senso' de Elinor a faz manter seus pensamentos e sentimentos para si mesma, mesmo em relação ao homem por quem tem sentimentos, Marianne acredita na integridade e sinceridade da 'sensibilidade' e compartilha abertamente seus desejos e sentimentos.

Elinor, a filha mais velha cujos conselhos foram tão eficazes, possuía uma força de compreensão e uma frieza de julgamento que a qualificavam, embora tivesse apenas dezenove anos, para ser a conselheira de sua mãe, [...] Ela tinha um coração excelente; – seu temperamento era afetuoso e seus sentimentos eram fortes; mas ela sabia como governá-los: era um conhecimento que sua mãe ainda não aprendera e que uma de suas irmãs resolvera nunca aprender.

As habilidades de Marianne eram, em muitos aspectos, iguais às de Elinor. Ela era sensata e inteligente; mas ansioso em tudo; suas tristezas, suas alegrias, não podiam ter moderação. Ela era generosa, amável, interessante: era tudo menos prudente.

Marianne fica correspondentemente perturbada e sem ajuda quando ela e Willoughby são separados depois que Willoughby é enviado para Londres por sua tia, de quem ele depende financeiramente.

A Sra. Jennings se propõe a auxiliar as duas jovens em suas desilusões amorosas, oferecendo-lhes a chance de acompanhá-la em uma viagem a Londres. Elinor e Marianne embarcam para Londres com a Sra. Jennings, uma viagem que promete aproximá-las de Willoughby, Brandon e da família Ferrars. O que Elinor e Marianne descobrem é que há muitos aspectos das vidas passadas desses três homens, e de seus planos para o futuro, dos quais elas não estavam cientes. Revelações que ameaçam destruir suas esperanças de amor, em vez de inspirar esperança.

“Razão e Sensibilidade” é o quarto romance de Austen que li. Não consigo evitar um sorriso ao abrir um novo e começar a ler os primeiros capítulos; seu estilo é tão único. É a maneira como ela estabelece o cenário com tal família de tal consideração, vivendo em uma propriedade em tal condado e, claro, com tantas libras por ano! Seu estilo é explicar essas coisas ao leitor para que possamos rapidamente apreciar o cenário e suas tensões. Ela até tende a explicitar os traços de seus personagens, pelo menos quando os conhecemos, em vez de permitir que o leitor os descubra.

Onde ela não explica as coisas, e onde me vejo desafiado como leitor, é no que diz respeito ao diálogo entre esses personagens. Aqui, em vez disso, encontram-se as intenções e motivações sutis e não tão sutis, a conformidade e a quebra de normas e costumes sociais, as insinuações e sugestões de turbulência interna, o conflito entre os eus privado e público e os silêncios reveladores. Exige que o leitor leia nas entrelinhas e faz parte da história tanto quanto os eventos da trama.

Isso me fez perceber que faz um tempo que não leio um romance desse tipo e estou um pouco enferrujado. Escritores mais contemporâneos tendem a tornar esses aspectos mais explícitos, o que provavelmente tornou minha leitura um pouco mais preguiçosa. Em particular, onde os personagens parecem estar tendo conversas que não estão diretamente relacionadas à trama principal, não consegui questionar esses casos e descobrir o que Austen está tentando comunicar ali. Além disso, não percebi muitos paralelos e contrastes entre os personagens. Em vez disso, eu precisava de ajuda, mas falaremos mais sobre isso em um momento.

No geral, eu diria que gostei, mas não tanto quanto minha Austen favorita; Orgulho e Preconceito . Fiquei um pouco surpreso com o quanto a história se passa na cidade, já que costumo associar Austen a propriedades rurais e vilarejos. Gostei do arco de história que Austen conduz o leitor, já que no meio do romance as coisas parecem muito sombrias para as irmãs Dashwood. Também gostei do humor, embora houvesse apenas um pouco da minha fonte favorita de alívio cômico; O genro da Sra. Jenning, Sr. Palmer. Mas também achei que o romance apresentava algumas falhas.

Li as introduções da obra após ler o romance e assistir ao filme e devo dizer que me deram muito o que pensar. Se discutir os detalhes de um romance publicado pela primeira vez há mais de 200 anos (1811), que foi amplamente lido e adaptado várias vezes, pode ser considerado ‘spoilers’, então esteja avisado; spoilers a seguir! Uma das razões pelas quais prefiro Penguin Classics é pelo valor da opinião de especialistas e eles não me decepcionaram aqui. Por exemplo, Ballaster aponta que, quase único entre os romances de Austen, “Razão e Sensibilidade” é em grande parte desprovido de figuras paternas, ao mesmo tempo que é sobrecarregado de mães. Mães que parecem mostrar favoritismo por um filho em detrimento dos irmãos e filhos que parecem repetir a experiência da mãe. Mães que também, como as irmãs Dashwood, têm muito bom senso ou muita sensibilidade.

Ballaster também expõe os eventos paralelos nas vidas de Marianne e Elinor, ou Willoughby e Edward e analisa cenas do romance que mostram as intenções temáticas de Austen. Ballaster também discute as conotações políticas de ‘sensibilidade’ na época e os paralelos e contrastes entre “Razão e Sensibilidade” e outros romances do período que Austen leu antes e durante a escrita de “Razão e Sensibilidade”. Tudo isso me fez querer ler o romance novamente, talvez junto com “A Vindication of the Rights of Women” (1792), de Mary Wollstonecraft, e munido dos insights que essas introduções proporcionaram. Também reduziu minha estimativa do filme de 1995, à medida que a simplificação do romance se tornou ainda mais fácil de ver.

Ballaster também destaca a importância de que o “senso” de Elinor é reativo. Ou seja, suas provações seguem as da irmã e ela tem o benefício de observar o comportamento de Marianne e suas consequências. Então, daremos muito crédito a Elinor se atribuirmos seu “senso” à sua maturidade ou força de caráter quando ela pode estar aprendendo lições com a experiência de Marianne? A reviravolta lógica peculiar no centro do romance é que o “senso” de Elinor só faz sentido em contraste com a sensibilidade; na verdade, poderíamos argumentar que ela apenas toma as decisões certas, ou, pelo menos, racionaliza o seu valor, mantendo-se calada e avaliando as decisões erradas de Marianne.

A introdução de Tanner discute a questão que ele acredita estar no cerne do romance; o conflito entre a necessidade de se expressar contra a pressão social para se comportar e o paradoxo de viver numa sociedade que exige que você seja ao mesmo tempo sociável e privado. Ao discutir esta questão e a doença de Marianne, Tanner observa a alta prevalência de doenças do tipo colapso nervoso no final do século XVIII.

Para mim, a maior falha em “Razão e Sensibilidade” é a combinação de Marianne e Coronel Brandon no final. Eu não os compro como uma boa combinação. Acho que Tanner está inclinado a concordar, mas apresenta alguns pontos positivos. Ele nos lembra que Austen diz que a doença de Marianne a mudou. Por chegar tão tarde no romance, podemos não avaliar o quanto ela mudou e talvez ela possa ser uma boa opção para o Coronel, afinal.

“Razão e Sensibilidade”, o primeiro romance publicado de Jane Austen, parece ser um romance direto. Homens e mulheres de caráter contrastante e elogioso são colocados juntos, mas as chances de amor são frustradas pelas convenções sociais da época que impedem a honestidade e a abertura e, em vez disso, geram duplicidade e sigilo. Mas, pensando bem, “Razão e Sensibilidade” é também uma crítica cuidadosamente elaborada da ética social e deixa o leitor com muito em que refletir.

Por outro lado, o final é realmente um novo começo com o casamento de Marianne e Brandon e não podemos prever o que pode acontecer a partir daí. Pode não ser um casamento bem-sucedido. Tanner compara Marianne a duas outras mulheres de caráter semelhante em romances posteriores - Maggie de “The Mill on the Floss” (1860) de George Eliot e Cathy de “Wuthering Heights” (1847) de Emily Brontë. Cada uma delas teve destinos nada felizes. Isso realmente dá muito o que pensar! Costumo dizer que há valor em reler livros. Dostoiévski escreveu romances destinados a serem lidos mais de uma vez. Reler “Crime e Castigo” foi uma experiência muito diferente da primeira vez e minha impressão foi muito mais positiva na segunda vez. Prevejo uma experiência semelhante com “Razão e Sensibilidade”. Esta primeira experiência foi justa, mas deixa muito em que pensar e certamente quero lê-la novamente. Agora que conheço o enredo e posso permitir que o resto seja absorvido, acredito que ficarei muito mais agradecido e acharei muito mais agradável na segunda vez.

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Persuasão


A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.


A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


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