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ANÁLISE: Terra do sem-fim, de Jorge Amado


ISBN-13: 9788535912524
ISBN-10: 8535912525
Ano: 2008 / Páginas: 228
Idioma: português
Editora: Companhia das Letras

Durante a guerra pela posse da terra na região cacaueira do sul da Bahia, os irmãos Badaró enfrentam o coronel Horácio da Silveira. A luta pela subsistência se entrelaça com intrigas políticas, relações amorosas, crimes passionais. Dois romances improváveis se destacam em meio aos tiroteios e tocaias: o do jovem advogado Virgílio e Ester, esposa do coronel Horácio, amor condenado a um desfecho sangrento, e o de Don'Ana, a valente filha de Sinhô Badaró, e o "capitão" João Magalhães, um embusteiro que se faz passar por engenheiro militar.

RESENHA

1. INTRODUÇÃO
Neste trabalho será abordada a obra Terras do sem-fim de Jorge Amado, falando sobre características do período, do autor, e de alguns personagens. Será mostrado também, a temática e assuntos relacionados com o foco principal do livro, e será mostrado o porquê de Terras do sem-fim ser considerado um romance de trinta.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. ENREDO
“Terras do sem-fim” começa num navio, repleto de pessoas, que viaja rumo a Ilhéus. Neste navio encontram-se desde pessoas ricas, como coronéis, até pessoas mais pobres, como simples trabalhadores. Mas todas essas pessoas tem o mesmo objetivo: o cultivo de cacau em Ilhéus. Como, na época cacau era vendido a preço de ouro, todos queriam tentar a sorte nas terras de Ilhéus. Por valer tanto dinheiro o cacau começou a trazer cobiça e ganância dos mais poderosos, e isso fez com que Ilhéus se transformasse em uma cidade perigosa.
A história se desenvolve contado as tragédias que a ocorrem em Ilhéus, por culpa da família Badaró, que só pensa em expandir suas propriedades, e fazem isso a qualquer custo.

2.2. TEMÁTICA
Juntamente com o a disputa de terras em Ilhéus e a febre do cacau formam os principais temas tratos no livro.
O cacau na época era tão valioso quanto ouro, então a disputa da terra se torna sangrenta e violenta, pois as terras de Ilhéus são muito boas para o cultivo da fruta.

2.3. CARACTERÍSTICAS
2.3.1. PERÍODO
Na época que foi publicado a primeira edição de “Terras do sem-fim” estava vigorando a segunda fase do modernismo no Brasil. Uma época em que a literatura estava voltada para a realidade brasileira como forma de manifesto. A população vivia uma nova realidade; o novo estado tinha sido implantado e a primeira guerra mundial acabará de acabar.
Em meio a ditadura imposta por Vargas que oprimia o povo, Jorge Amando expõe em seu livro a realidade do nordeste nua e crua, mostrando a desgraça do povo pobre e negro.

2.3.2. AUTOR
Jorge Amado de Farias nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na Bahia, e passou sua infância em Salvador.
Acaba se envolvendo com o comunismo, e por esse envolvimento tem seu livro “Cacau” apreendido, e ainda acaba varias vezes na prisão.
Criou o que hoje é conhecido como ciclo do cacau; constituído de três livros, o ciclo do cacau conta a luta de pessoas que sonham em enriquecer plantando e cultivando o cacau; essa obra é dividida em três livros: “Cacau”, “Terras do sem-fim” e “São Jorge dos Ilhéus”.
Suas principais características são: o regionalismo nordestino, mostrando a desgraçado povo negro que trabalho nas zonas cacaueiras, a suas capacidade de mesclar o realismo com romantismo e o caráter político e revolucionário de suas obras inicias, que após a década de 50 não se expressão mais em suas obras.
 
2.4. UM BRASIL PATRIARCAL E VIOLENTO
No contexto do livro pode se perceber que o que reina, é a lei da selva, onde o mais forte manda nos outros. Sendo assim a violência começa a fazer parte do dia-a-dia dos personagens. Além disso o patriarcalismo só trazia mais violência, com a corrupção.

2.5. CARACTERIZAÇÃO DE PERSONAGEM-TIPO
Coronel Horácio da Silveira – é um dos homens mais rico da região, com amplo domínio em Ferradas e Tabocas. Viúvo da primeira mulher Silveirinha com quem teve um filho, casa-se novamente com Ester, moça bem mais nova do que ele. Seus grandes sonhos são: tornar-se chefe político do lugar e apossar-se das terras férteis do Sequeira Grande. Seu maior rival é Sinhô Badaró, atual líder político da região do cacau.
Juca Badaró – personagem de destaque na trama. Irmão de Sinhô Badaró, Juca resolve seus problemas mandando matar seus principais inimigos. É casado com Olga, mas acaba se envolvendo com a prostituta Margô.
João Magalhães – rapaz aventureiro e jogador profissional. Costuma ser muito mentiroso. Faz-se passar pó engenheiro militar e se aproxima dos Badaró como falso medido de terras. Apaixona-se por Donana, filha do Sinhô.

2.6. LINGUAGEM
A linguagem expressada no livro é uma linguagem mais simples, usando um vocabulário popular, expressões e gírias populares são frequentes em todo romance.
Os tipos de figuras de linguagem mais utilizada pelo autor são: metáfora, ironia, comparação e cacofemismo, que é uma figura de linguagem que consiste em empregar termos ou expressões depreciativas, sarcásticas ou chulas para fazer referência a um determinado tema, coisa ou pessoa.

3. CONCLUSÃO
“Terras do sem-fim” pode ser considerado um romance de trinta, porque tem em uma de suas principais características o retrato da realidade social e histórica. Que na obra se revela na febre do cacau, e na critica à desgraça das pessoas que sofreram nas mãos dos poderosos donos de fazendas de cacaueiros.

Resenha: Dona flor e seus dois maridos, por Jorge Amado


ISBN-13: 9788535911701
ISBN-10: 8535911707
Ano: 2008 / Páginas: 488
Idioma: português
Editora: Companhia das Letras

Um dos romances mais populares de Jorge Amado, levado com êxito ao cinema, ao teatro e à televisão, Dona Flor e seus dois maridos conta a história de Florípedes Paiva, que conhece em seus dois casamentos a dupla face do amor: com o boêmio Vadinho, Flor vive a paixão avassaladora, o erotismo febril, o ciúme que corrói. Com o farmacêutico Teodoro, com quem se casa depois da morte do primeiro marido, encontra a paz doméstica, a segurança material, o amor metódico. Um dia, porém, Vadinho retorna sob a forma de um fantasma capaz de proporcionar de novo à protagonista o êxtase dos embates eróticos. Por obra da fantasia literária de Jorge Amado e da intervenção das entidades do candomblé, Flor consegue conciliar no amor o fogo e a calmaria, a aventura e a segurança, a paixão e a gentileza. Lançada em 1966, esta narrativa ousada e exuberante, plena de humor e ironia, é uma saborosa crônica de costumes da Bahia da primeira metade do século XX e um retrato inventivo das ambiguidades que marcam o Brasil.
RESENHA/ANÁLISE

Modernismo de segunda fase. A história é dividida em 5 partes (cada uma aberta por uma lição de culinária de Flor, que é professora desta arte, com exceção da quarta parte, aberta por um programa para o concerto de Teodoro) e um intervalo. A primeira começa com a morte de Vadinho em pleno Domingo de Carnaval. Vestido de baiana, Vadinho cai enquanto dançava e seu funeral é muito concorrido. Nele voltam as lembranças de todos sobre o falecido: os amigos de farra, as possíveis (prováveis) amantes, os conhecidos e principalmente da esposa, Flor. Flor lembra do marido infiel, cheio de lábia, espertalhão, jogador e malicioso que era Vadinho, mas ainda assim extremamente adorável. Na definição de um dos presentes no funeral, Vadinho "Era um porreta".

O anteriormente referido intervalo se trata da discussão que ocorreu na cidade sobre a autoria da elegia a Vadinho, poesia anônima picante. A segunda parte passasse-se durante o período de luto de Flor. Inconsolável com a morte de Vadinho, sua mãe volta para a cidade e a situação piora. Dona Rozilda é o mais perfeito modelo de sogra: odeia o genro, é chata, controladora, exibida e pretende sempre escalar na vida social. Passa a fazer intriga sobre o falecido ("era morte para festa") com várias beatas, enquanto algumas poucas defendem Vadinho (não seus atos) por ele ser uma pessoa excepcional (no sentido de incomum, não o de maravilhoso ou com deficiência mental). Assim em flashback é mais detalhado o passado do casal. A mãe de Flor queria que as filhas se casassem com homens ricos, e Vadinho apareceu.

Eles se conheceram numa festa chique (Vadinho entrou de penetra, com a ajuda do tio) e começaram o namoro com a benção de Dona Rozilda, até que ela descobriu quem era o genro. Mais tarde Flor sai de casa e se casa (de azul, porque não teve coragem de por o branco) e começa o casamento. Vadinho é um marido ausente, sempre gastando o dinheiro (dos outros) no jogo e nas mulheres. Certa vez Flor quase adotou um menino que ela achava ser filho de Vadinho (Flor é estéril; o filho era do "xará"). E assim são mostrados os vários acontecimentos, em flashback, da vida matrimonial com aquele adorável cafajeste, generoso gastador, infiel e amantíssimo marido que era Vadinho. O capítulo acaba com Flor pondo flores sobre o túmulo do falecido, superando melhor o passamento dele. A terceira parte é passada nos meses seguintes. Flor está mais alegre, apesar de manter ainda a fachada de viúva. Todas as beatas competem para achar-lhe um bom pretendente e quem aparece é Eduardo, o Príncipe, calhorda que enganava viúvas para roubar-lhes as economias. Descoberto, Flor passa a se retrair. Seu sono torna-se mais agitado, seu desejo cresce na medida em que ela deixa os homens fora de sua vida pessoal.

Mas então o farmacêutico Teodoro Madureira, respeitado solteirão (ele ficara solteiro para cuidar da mãe paralítica, que morreu pouco antes), ele propõe casamento a Dona Flor e eles tem o mais casto dos noivados, nunca ficando juntos sozinhos. O capítulo acaba com o casamento de Flor, desta vez aprovado por sua mãe (que havia saído da cidade no começo do capítulo; nem as outras beatas agüentavam Dona Rozilda). A quarta parte começa com a lua-de-mel de Dona Flor. Teodoro é diferente do falecido em tudo. Fiel (não compreende mesmo quando uma cliente da farmácia levanta o vestido BEM alto para tentá-lo), regular (sexo às quartas e sábados, bis aos sábados e facultativo às quartas) e inteligente, Teodoro trás a paz de volta à vida de Dona Flor. Teodoro toca fagote numa orquestra de amadores e o maestro compõem uma linda música para ela que Teodoro toca solo (o convite abre o capítulo) e no dia do aniversário de casamento, após os convidados partirem Flor vê Vadinho, nu como o viu na cama no dia de sua morte, a puxá-la e tentá-la.

Ela se recusa naquele momento, fiel ao marido. Teodoro vai dormir e Vadinho sai logo depois, qundo Flor ia procurá-lo. Começa aqui a parte do livro que o deixou famoso: Flor, Teodoro e Vadinho, vivendo em matrimônio ao mesmo tempo, Vadinho nu, invisível a todos menos Flor. A quinta parte, que tornou famoso livro, filme, seriado e tantas quanto foram as adaptações desta obra, começa com o Vadinho vindo de volta dos mortos, tentando Flor. Flor sente-se dividida entre o esposo atual e Vadinho, mas este diz-lhe que não há por que o estar: são colegas, casados frente ao juiz e ao padre. Flor vai aos poucos perdendo a resistência e chega a encomendar um trabalho para mandar Vadinho de volta para onde estava. Enquanto isso se passa Vadinho vai manipulando as mesas de jogo, favorecendo velhos amigos, levando Pellanchi Moulas, rei do jogo em Salvador, ao desespero e a todos os "místicos" da Bahia para se livrar do azar.

Vadinho só para quando seus amigos cansam (Mirandão, companheiro seu quando era vivo, para de jogar definitivamente, assustado com o repetir de vezes que caía no 17, número de sorte de Vadinho). Por fim Dona Flor sucumbe a Vadinho e passam a viver harmoniosamente os três uma vida conjugal (mesmo que Teodoro não o saiba). Vadinho chega a fazer o milagre de expulsar a sogra quando ela chega de mala e cuia para ficar. Vadinho começa então a desaparecer e Flor se dá conta de que era por causa do feitiço por ela encomendado. Há uma batalha entre vários deuses contra Exu (identificado por alguns como sendo o diabo católico), que protege Vadinho. Quando Exu estava perdendo, o amor e a volúpia de Vadinho ganham a batalha. A obra acaba com Flor andando feliz com Teodoro e Vadinho (nu, como sempre) ao seu lado, pelas ruas de Salvador.

Esta parte acentua duas características gerais da obra: a religiosidade que mistura ao mesmo tempo o catolicismo e o candomblé, pondo todas as figuras míticas das duas religiões junto e eficientemente simultâneas (algo como é a religiosidade baiana, já que Salvador tem mais igrejas que qualquer outra cidade do Brasil e ainda assim é centro das religiões de origem africana). A outra característica vem a ser o fato de que Vadinho e Teodoro são metáforas para o id e o superego, respectivamente. Vadinho é rebelde, impulsivo, espontâneo e dado ao caos (no seu caso, o jogo); Teodoro é metódico e controlado ("Um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar" é seu lema, pendurado na farmácia). Assim, a imagem de Flor pacificamente com os dois, totalmente feliz, invoca o ideal de equilíbrio entre os dois.

Resenha: Gabriela Cravo & Canela, de Jorge Amado

O romance entre o sírio Nacib e a mulata Gabriela, um dos mais sedutores personagens femininos criados por Jorge Amado, tem como pano de fundo, em meados dos anos 1920, a luta pela modernização de Ilhéus, em desenvolvimento graças às exportações do cacau. Com sua sensualidade inocente, Gabriela não apenas conquista o coração de Nacib como também seduz um sem-número de homens ilheenses, colocando em xeque a lei que exigia que a desonra do adultério feminino fosse lavada com sangue.
Publicado em 1958, o livro logo se tornou um sucesso mundial. Na televisão, a história se transformou numa das novelas brasileiras mais aclamadas mundo afora.

ISBN-13: 9788535920987
ISBN-108535920986
Ano: 2012 / Páginas: 336
Idioma: português

RESENHA

Em terra de adaptações duvidosas, quem leu o livro adaptado é rei. No próximo ano, mais uma vez os leitores viverão a incerteza da fidelidade dos filmes adaptados às obras literárias. Dentre as adaptações cinematográficas esperadas para 2013, estão Em chamas (Suzanne Collins), O Hobbit (J.R.R. Tolkien), Percy Jackson e o Mar de Monstros (Rick Riordan), Os Miseráveis (Victor Hugo) e A Hospedeira (Stephenie Meyer). É uma lista de adaptações que, dependendo do resultado, podem destruir sonhos e lares em grande quantidade pelo mundo. Mas se por um lado está a completa descaracterização dos personagens (ver Justin Bieber cotado para viver Christian Grey nos cinemas), pelo outro está a porta de entrada para a literatura a partir do cinema.

Mais ou menos assim que aconteceu comigo, só que não foi pelo cinema, fui puxado para as páginas pelos tentáculos da televisão. Não foi preciso ir tão longe, bastou que eu fizesse o trajeto quarto-cozinha para buscar alguns quitutes que na volta cozinha-quarto a voz da Gal Costa me pegou. Sentei no sofá, ainda com o olhar desconfiado, enquanto a abertura da minissérie Gabriela corria: "Quando eu vim para esse mundo/ Eu não atinava em nada/ Hoje eu sou Gabriela". Não deu outra, me encantei pelos personagens e me apaixonei pelas interpretações. Como nunca tinha lido nada do Jorge Amado, enxerguei no seriado a chance de adentrar nos livros do baiano.

Gabriela, Cravo e Canela, livro de 1958 escrito por Jorge Amado, narra o romance entre Gabriela e o sírio Nacib. Nacib é dono de um bar, o bar Vesúvio, que concentra os coronéis da cidade de Ilhéus e é o ponto de encontro dos homens da cidade (junto com o cabaré Bataclan). O sírio vive dias de cão quando sua cozinheira, Filomena, decide ir embora de Ilhéus. Sua única salvação para fazer as comidas do bar são as irmãs Dos Reis, que cobram caro demais e começam a lhe trazer prejuízo.  Em uma busca incensante pela cidade por cozinheira, Nacib encontra no "mercado de escravos" Gabriela, uma retirante com quase nada além de sua trouxa que chegou em Ilhéus fugindo da seca.

O pano de fundo da história entre os dois é a ascensão da produção de cacau na cidade de Ilhéus e as mudanças sociais impulsionadas pelo declínio da sociedade patriarcal dirigida pelos velhos coronéis. O livro é constituído de vários núcleos e não se limita apenas ao romance entre Gabriela e Nacib. Personagens cativantes, como a jovem revolucionária Malvina, ou intrigantes, como a luxuriosa Glória, permeiam a obra e a deixam ainda mais interessante. A partir de alguns personagens mais tradicionais, Jorge Amado descreve costumes antigos: a honra lavada com sangue, o machismo que imperava, a tecnologia que assustava e o preconceito que desde aquela época já estava cravado na sociedade brasileira. 

"Falava-se muito em progresso, o dinheiro corria solto, o cacau rasgava estradas, erguia povoados, mudava o aspecto da cidade, mas conservavam-se os costumes antigos, aquele horror."

"Malvina odiava aquela terra, a cidade dos cochichos,  do disse-que-disse. Odiava aquela vida e contra ela passara a lutar. Começara a ler e descobriu outro mundo mais além de Ilhéus, onde a vida era bela, onde a mulher não era escrava."

No romance de Jorge Amado, a oposição entre modernidade e costumes tradicionais, o culto e o popular é representada, respectivamente, pelos personagens Nacib e Gabriela. Essa diferença de temporalidades históricas marca a relação entre os dois. Gabriela vive com pouco, quase nada e se julga feliz. Nacib, de vida feita, casa e comida,  não encontra a felicidade de jeito nenhum, só entre o perfume de cravo e a cor de canela de Gabriela.

O livro é um primor, nunca li nada do Jorge Amado e já penso que comecei com o pé direito. Uma leitura leve e sem rodeios com uma escrita envolvente e apaixonante. Eu lia e parava, pensava e gargalhava. Livros históricos sempre me fascinaram, mas esse em especial merece um espaço destacado na minha estante. Fiquei tão encantado com o estilo do autor que na biblioteca da universidade já cuidei de emprestar Tieta do Agreste. 

Por causa de tempo não deu pra assistir os episódios da minissérie, mas já baixei e estão todos no computador, cada dia que passa vou vendo mais um. O enredo principal não teve grande alteração, o que aconteceu na minissérie foi apenas a exploração de alguns núcleos que no livro são apenas citados. Uns personagens tiveram uns dramas adicionais que de acordo com alguns estudiosos não prejudicaram a obra original, pois o grande comprometimento do Jorge Amado era com as questões da atualidade, e, portanto, a série manteve o mesmo comprometimento. No entanto, tanto a obra televisiva quanto a literária possuem suas particularidades e seus sabores e ambas merecem atenção, mas ainda assim, para o livro eu deixo todo o especial destaque.

Jorge Amado nasceu numa fazenda de cacau em Itabuna, Bahia, em 10 de agosto de 1912. Passou a infância em Ilhéus, onde assistiu à luta entre fazendeiros e exportadores de cacau, que lhe inspirariam temas e tipos romanescos. Em Salvador, onde fez o curso secundário, ligou-se à Academia dos Rebeldes, grupo que, chefiado por Pinheiro Viegas, propunha uma literatura voltada para as raízes nacionais.

Radicado desde 1930 no Rio de Janeiro, Amado estudou direito e estreou logo a seguir em livro, publicando com notável regularidade os romances de sua primeira fase, todos marcados pela técnica do realismo socialista: O país do carnaval (1932), Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1935), Mar morto (1936), Capitães de areia (1937), Terras do sem fim (1942), São Jorge dos Ilhéus (1944), Seara vermelha (1946), Os subterrâneos da liberdade (1952). Ora surge nesses livros o drama vivido nas plantações de cacau do sul da Bahia, ora, na cidade de Salvador, a vida da infância abandonada, do proletariado, dos saveiristas, dos negros e marginais, dos desprezados, malandros, com os conflitos e injustiças sociais em destaque. Tal fundamento sociológico confere aos romances um cunho de documentário dos problemas brasileiros, agravados pela transição da sociedade agrária para a industrial, narrativas que sempre denunciaram os males regionais intencionalmente.

Em 1945 Jorge Amado foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), porém todos os membros da bancada do partido tiveram o mandato cassado, e ele sofreu fortes pressões políticas. Durante cinco anos, viajou pela Europa e Ásia, voltando ao Brasil em 1952. Em 1956 fundou o semanário cultural Para todos, que dirigiu, e em 1961 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (cadeira n. 23).

Começa em Gabriela, cravo e canela (1958), o início da segunda fase de suas obras, caracterizada pelo tratamento satírico e humorístico dos textos, sem prejuízo das intenções de crítica social. Seguiram-se, na mesma linha, obras sempre muito bem recebidas, como Os velhos marinheiros (1961), Os pastores da noite (1964), Dona Flor e seus dois maridos (1966), Tenda dos milagres (1969), Teresa Batista cansada de guerra (1973), Tieta do Agreste (1977), Farda, fardão, camisola de dormir (1979), Tocaia grande - a faca obscura (1984), O sumiço da santa (1988). Ao completar oitenta anos, em 1992, publicou o "romance autobiográfico" Navegação de cabotagem.

São 32 livros, traduzidos para 49 idiomas. Já vendeu desde O País do
Carnaval, o primeiro livro, de 1931, quase 20 milhões de exemplares no Brasil e no exterior. Capitães de Areia de 1937 é o recordista: quatro milhões. Nada mal para um “contador de histórias”, como ele gostava de se definir, que não tinha muitas pretensões na vida. O pai era um proprietário de terras na região do cacau no sul da Bahia, e Jorge fez o primário em Ilhéus. Foi cursar direito no Rio e na mesma época publicava os livros que lhe deram projeção nacional; Cacau, de 1933, e Jubiabá, de 1935.

“Avô, mesmo que a gente morra, é melhor morrer de repetição na mão, brigando com o coronel, que morrer em cima da terra, debaixo de relho, sem reagir. Mesmo que seja pra morrer nós deve dividir essas terras, tomar elas para gente. Mesmo que seja um dia só que a gente as tenha, paga a pena de morrer".(Os Subterrâneos da Liberdade - Agonia da Noite). O grande mestre baiano continua na memória de milhares de leitores.

No dia 21 de junho de 2001, Jorge Amado é internado com uma crise de hiperglicemia e tem uma fibrilação cardíaca. Após alguns dias, retorna à sua casa, porém, em 06 de agosto volta a se sentir mal e falece na cidade de Salvador às 19h30min. A seu pedido, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram espalhadas em torno de uma mangueira em sua residência no Rio Vermelho.

5 INFORMAÇÕES DA OBRA

Gabriela, cravo e canela inaugura uma nova fase na obra de Jorge
Amado. A partir deste romance, o autor atenua o conteúdo político que marcou seus primeiros livros para dar ênfase à mistura racial, ao erotismo e a uma percepção sensorial do mundo. Ganham destaque as personagens femininas: as mulheres passam ao centro das narrativas como mito sexual, mas também como agentes do próprio desejo, são elas as protagonistas de suas histórias.

Gabriela foi o primeiro livro escrito por Jorge Amado depois de deixar o
Partido Comunista. Publicado em 1958, o romance recebeu no ano seguinte os prêmios Machado de Assis e Jabuti. Em 1961, Jorge Amado seria eleito para a Academia Brasileira de Letras, em grande parte graças ao estrondoso sucesso do livro. Gabriela virou novela da TV Tupi, em 1961, e mais tarde da rede Globo, em 1975, logo após repetiu o sucesso em filme, mais precisamente em 1983 com Sônia Braga no papel da sensual Gabriela. E novamente a rede Globo de televisão estreia em 2012 a novela inspirada no romance de Jorge Amado, um remake que promete fidelidade à obra do autor. O livro foi traduzido para mais de trinta idiomas, é o livro de Jorge Amado com o maior número de traduções.

6 DESCRIÇÃO DO CONTEXTO

Gabriela, cravo e canela é um romance urbano, passado quase todo na rica cidade de Ilhéus da década de 1920, apresenta em sua narrativa coronéis e jagunços, prostitutas, imigrantes e sinhazinhas envolvidos em manobras políticas e tramas de amor, crime e adultério. Recheado de humor para a ironia e com uma movimentação de caráter quase burlesco, o livro marca a virada nos procedimentos artísticos e políticos de Amado, que depois viria a escrever Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966) e Tieta do Agreste (1977). E nessa fase se encontram ainda as novelas Velhos Marinheiros (1961 - Globo) e Tenda dos Milagres (1970 - Globo), esta adaptada ao cinema.

Em Gabriela, o cacau não gera mais sangue, mas sim riqueza, e seu perfume maduro mesclam-se ao aroma das flores da estação e à sensualidade da protagonista. Trata-se de uma crônica da modernização dos costumes, a narrativa segue assim, do geral ao particular e do particular ao geral, residindo nesse movimento, em que se entrelaça o ir-e-vir de dezenas de personagens representativos, histórias separadas, mas juntas em um enredo criado por Amado. De grande apelo e repercussão, contribuiu para formar, junto com outras obras ficcionais do autor, a imagem “exótica” do Brasil no exterior, já que o mesmo foi sucesso de traduções em mais de trinta e três idiomas.

Além dos romances na obra Jorge Amado mostra também o prédesenvolvimento de Ilhéus e tece algumas definições dos requisitos que compreende o ser grapiúna e, portanto ser considerado como indivíduo apto a pertencer ao local:

“Bar era um bom negócio em Ilhéus, melhor só mesmo cabaré. Terra de muito movimento, de gente chegando atraída pela fama da riqueza, multidão de caixeiros-viajantes enchendo as ruas, muita gente de passagem, quantidade de negócios resolvidos nas mesas dos bares, o hábito de beber valentemente e o costume levado pelos ingleses, quando da construção da Estrada de Ferro, do aperitivo antes do almoço e do jantar, disputado no pôquer de dados, hábito que se estendera a toda população masculina.” (AMADO, 1970, p. 69)

Aqui Jorge Amado deixa claro dois aspectos importantes. O primeiro se refere à contextualização situacional da cidade: Ilhéus era um centro no qual se reuniam várias pessoas atraídas pelo progresso, quer seja para desfrutar dos seus prazeres devido à condição econômica, quer seja devido à visão de aproveitar a onda de crescimento para lucrar, como no caso dos comerciantes, caixeiros, viajantes e outros. O segundo aspecto importante que se observa é a afirmação de que os hábitos desenvolvidos com a nova configuração da cidade se restringiam à população masculina.

8 RESUMO DA OBRA

A narrativa de Jorge Amado começa com duas divisões, a primeira centra-se na história de dois personagens: Mundinho falcão e Nacib. Mundinho é um jovem carioca que migrou para Ilhéus e que tem pretensões de acelerar o desenvolvimento da cidade, sendo preciso bater de frente com o sistema político encontrado: o coronelismo, e consequentemente tendo que travar uma luta com um dos mais famosos coronéis, Ramiro Bastos, o inepto coronelgovernante. Nacib é um sírio, dono do principal, bar da cidade, o Vesúvio, o qual no desenrolar da história acaba perdendo sua cozinheira e sai em busca de uma nova para dar um jantar a mais de trinta pessoas que estavam na cidade para a inauguração de uma linha automotiva para a cidade de Itabuna, também na Bahia.

Bem no final da primeira parte aparece Gabriela, uma jovem recémmigrada do sertão de Alagoas, a qual fugiu da seca, junto com seu tio e seu amigo-companheiro, com o qual deitava-se todas as noites, ambos sonhavam deixar a cidade seca e irem atrás do progresso do sul da Bahia. Gabriela estava em busca de um emprego, a jovem fica no porto e Nacib sai em busca de sua cozinheira e acaba a encontrando, que a contrata para ser sua cozinheira, mas que acaba não contentando-se apenas com seus serviços na cozinha, mas também quer tê-la em sua cama, como sua mulher e consequentemente como esposa.

Na segunda parte Amado traz seu leque de personagens, coronéis, prostitutas e adúlteras, todos de uma só vez num enredo particular, dando enfoque às histórias. Malvina é uma jovem moça de colégio de freiras que acaba apaixonando-se por Josué, um jovem que já está caindo aos encantos da prostituta Glória, a qual é concubina de um dos maiores coronéis da cidade, ambos acabam fugindo apões serem pegos e a jovem Malvina acaba sendo internada em um colégio fora da cidade. Outra história que se desenrola é o caso da senhora Sinhazinha com o dentista Osmundo Pimentel, ambos mortos por terem infringido a honra de um homem, a lei que imperava na cidade de regime coronelista era de que se uma mulher fosse flagrada em adultério esta deveria ser morta, apenas assim sua honra seria lavada.

O final da narrativa mostra o progresso da cidade de Ilhéus, acabando assim o regime coronelista. Gabriela casa-se com Nacib, mas é flagrada o traindo com seu padrinho de casamento, Tonico Bastos, porém Gabriela não é morta, apenas surrada, mas ao passar dos dias, Nacib volta ter relacionamento com a mesma, mesmo tendo anulado seu casamento.

10 APRECIAÇÃO CRÍTICA

Modernismo de segunda fase, Gabriela, cravo e canela mostra que
Amado tenta articular a cultura regional de Ilhéus, apropriando-se da cultura negra e passando a se expressar através do papel da mulata.
Amado narra sua história datando-a de 1925, passada em Ilhéus no
Estado da Bahia. A obra divide-se em duas partes, a primeira narrando a situação política-social da cidade, a qual começara a se tornar progressista, mas com os embarreiramentos do coronelismo.

O texto torna-se amplo, pois discute várias problemáticas ao mesmo tempo, mesmo havendo semelhança entre as histórias. O foco principal é sua personagem-título, Gabriela é destaca inicialmente por suas características físicas e logo em seguida pelo seu romance com Nacib, um sírio e dono do principal bar da cidade. As mulheres na obra aparecem sempre inferiores ao papel social exercido pelos homens, talvez uma crítica ao atual papel exercido pela mulher ou apenas uma narrativa comum do que se era a realidade.

Percebe-se que a opção escolhida por Amado estava na utilização do humor, sobretudo na forma de ironia, como arma que desmobiliza o tom comparativo e revolucionário do discurso textual e que aponta uma alternativa ao país que até então não mostrava em seus romances um destaque de foco a uma postura religiosa, social, política e culturamente sincrética ou híbrida.

Ao focarmos apenas Gabriela, a narrativa poderá ser entendida por dois campos de visão: a de que se poderá considerá-la como um ser primitivo, ingênuo ou imoral ou de que a obra flagra a possibilidade da liberação feminina traduzida pela opção da protagonista em ser livre e dona de seu prazer, desprendida das convenções e dos padrões, mesmo com a força do coronelismo. Gabriela, no entanto, vai muito mais fundo que apenas sensualidade e cor; a personagem não seria tão importante se fosse apenas um objeto sexual. Amado, entre outras coisas, escreveu em Gabriela um grande romance de liberdade feminina, visto isto no desenrolar das histórias de suas personagens, e tida como maneira principal o adultério, onde a liberdade feminina mostra-se desafiadora, mesmo que correndo riscos e sendo uma prática perigosa para a terra de regime coronelista. O autor foi corajoso em criar situações que o enfoque é o adultério e mostrá-lo de maneira atípica sem envolvimento pessoal.

Resenha: Capitães da areia, de Jorge Amado


Publicado em 1937, pouco depois de implantado o Estado Novo, este livro teve a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça pública de Salvador por autoridades da ditadura. Em 1940, marcou época na vida literária brasileira, com nova edição, e a partir daí, sucederam-se as edições nacionais e em idiomas estrangeiros. A obra teve também adaptações para o rádio, teatro e cinema. Documento sobre a vida dos meninos abandonados nas ruas de Salvador, Jorge Amado a descreve em páginas carregadas de beleza, dramaticidade e lirismo.

Resenha: Capitães da Areia - Jorge Amado
Livro: Capitães da Areia
Autor: Jorge Amado
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 294
ISBN: 9788535911695
Ano: 2010
Classificação: 5 (Ótimo) 

Por: Jéssica Soares 

"Publicado em 1937, pouco depois de implantado o Estado Novo, este livro teve a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça pública de Salvador por autoridades da ditadura. Em 1940, marcou época na vida literária brasileira, com nova edição, e a partir daí, sucederam-se as edições nacionais e em idiomas estrangeiros. A obra teve também adaptações para o rádio, teatro e cinema. Documento sobre a vida dos meninos abandonados nas ruas de Salvador, Jorge Amado a descreve em páginas carregadas de beleza, dramaticidade e lirismo."

Estou impressionada até agora com Capitães da Areia, com a narrativa instigante de Jorge Amado e com essa história que todos deveriam ler. É sempre difícil falar sobre clássicos, mais ainda quando o nome de um dos maiores autores brasileiros está em questão, mas devo dizer que amei Capitães de Areia em tudo, desde a edição super bem feita ao seu conteúdo impactante. O livro conta a estória de um grupo de garotos que, ao estarem sozinhos no mundo, se viram como podem e, dessa forma, acabam sendo vistos como marginais. Liderados por Pedro Bala, vemos como é a vida de garotos abandonados, onde o amor e a compreensão dão lugar ao estereótipo de ladrões, um problema para a sociedade.

Os capítulos são curtos, com uma linguagem acessível e carregados de informações. É uma estória simples, mas que também carrega uma mensagem importante, pois aqui vemos a inocência de crianças dando lugar a uma visão de mundo completamente crescida e até amadurecida. Essa é uma obra que não só traz a tona a vida dos garotos de rua da metade do século XX, como também pode ser usada para entendermos a vida dessas mesmas pessoas nos dias de hoje e aí está a genialidade do autor. Imortalizar um problema que, infelizmente, até hoje não teve solução em nosso país e de forma tão pessoal e tocante.

Aqui vemos personagens como o próprio Pedro Bala, líder desses garotos, que está disposto a ser como seu pai, um defensor daquilo que achava correto, Dora que assume os diversos papéis femininos como o de mãe, irmã e mulher e Sem-Pernas (o que mais me afetou), coxo e cheio de traumas, o mesmo fez com que suas próprias dores e temores se tornassem sua proteção contra o mundo. Há ainda muitos outros garotos que surgem na trama e que são importantes para o seu desenvolvimento, é impossível não se afeiçoar a um deles. Todos as personagens são bem estruturadas o que facilita a compreensão do leitor não só sobre a estória, mas sobre o cotexto geral do abandono, seja ele direto ou indireto, de crianças que ao necessitarem do básico para viver, acabam cometendo delitos e furtos em meio ao sonho de terem condições não só para garantirem a saúde e sustento, mas para suprirem a falta de carinho paterno.

Jorge Amado.

Jorge Amado, ao escrever em terceira pessoa, dá abertura para diversos focos, o que remete os problemas de cada personagem. Assim temos também a contextualização de uma sociedade baiana para todos, mas cheia de exclusões. Não só o abandono é o foco da problematização, como também a desigualdade social, o estrupo, a falta de condições básicas, enfim, o livro retrata a verdadeira realidade social em que o Brasil vivia na época e que não chega a ser, no fundo, diferente do século XXI.

Esse é o primeiro livro de leitura escolar obrigatória que realmente gostei. É impossível não se envolver e ficar comovido com a estória e caso vocês tenham a possibilidade de lê-lo, não a desperdicem. Essa é uma obra muito pertinente não só pelo momento em que foi lançada e toda sua repercussão, como a imortalização não só de um problema social vivido atualmente, como também a imortalização de personagens impactantes. Vale a pena conferir, sentirei saudade dos Capitães.

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