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Resenha: O Brasil tem cura, de Rachel Scheherazade

APRESENTAÇÃO

"O Brasil tem cura" faz uma radiografia, sem máscaras, da nossa pátria. Em busca de soluções, põe sob os holofotes as principais mazelas que assolam o país. Partindo de uma análise histórica, Rachel Sheherazade identifica alguns dos problemas que adoecem o Brasil e propõe caminhos para saná-los. A obra se guia pelo pressuposto de que o país só será passado a limpo se cada brasileiro fizer a sua parte e passar a agir com integridade inegociável, ensinando essa postura às futuras gerações. Convido-o a, juntos, descobrirmos por que nosso país enveredou por caminhos tão penosos e a refletir acerca de quais escolhas nos têm feito pagar um preço tão alto por sermos brasileiros. Proponho-me a indicar e a contextualizar as que entendo ser algumas das principais mazelas do Brasil, de modo que sirvam de ponto de partida para repensarmos tudo o que precisa ser mudado. Rachel Sheherazade

RESENHA

O livro se inicia com uma apresentação autobiográfica de uma autora, que, cresceu durante a ditadura militar no Brasil. Ela relata como a censura e a perseguição política afluíam em sua infância e como, posteriormente, a redemocratização do país permitiu que ela se tornasse uma jovem ativista política. Ela participou de protestos estudantis e se envolveu em questões políticas, incluindo o impeachment do presidente Fernando Collor em 1992.

Ela também aborda na introdução a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente em 2002 e como a jornalista foi influenciada pela sua campanha e discurso de mudança. No entanto, ela também relata como a realidade do governo de Lula não atendeu às suas expectativas e como ela começou a questionar a sinceridade do discurso do PT.

O primeiro capítulo, diagnóstico, a autora explica que o Brasil é um país com muitas qualidades, mas enfrenta problemas graves como insegurança, violência, corrupção e injustiças. Apesar disso, o brasileiro comum tenta fazer sua parte, inspirando outros com seus exemplos. O brasileiro sofre de um "complexo de vira-lata", com baixa autoestima e uma autoimagem negativa, apesar dos avanços do país. Isso se deve em parte ao tipo de colonização portuguesa, que moldou o caráter do brasileiro como individualista, paternalista e patrimonialista. Os primeiros colonizadores portugueses vinham ao Brasil apenas em busca de riqueza fácil, sem interesse em se estabelecer ou construir um futuro para o país. Muitos eram degredados enviados pela coroa, o que contribuiu para a falta de senso de coletividade e compromisso com a nação. Essa herança colonial ajuda a explicar o comportamento individualista, a tendência ao paternalismo e a dificuldade de muitos brasileiros em se orgulhar e amar seu país, devido ao desconhecimento de sua história e trajetória.

Já o segundo capítulo intitulado 'doença',  discute a relação entre pobreza e violência no Brasil, argumentando que a pobreza não é a causa da criminalidade. Ele cita o exemplo do sertão nordestino, onde a população vive em condições de miséria, mas não apresenta altos índices de violência. O autor também menciona que a redução da desigualdade social durante o governo Dilma Rousseff não levou a uma diminuição proporcional da violência, contrariando a lógica de que a redistribuição de renda combate o crime.

Rachel ainda critica fortemente a impunidade de crimes de colarinho branco, usando como exemplo o escândalo do Mensalão. Apesar das condenações iniciais, os réus acabaram beneficiados por leis frouxas e recursos protelatórios, não cumprindo penas efetivas. O autor argumenta que a impunidade é o maior combustível da violência, pois aumenta a audácia dos criminosos. Outro fator mencionado é a legislação penal brasileira, considerada falha por não punir adequadamente os criminosos. O excesso de recursos em favor dos réus e a demora nos julgamentos também fortalecem a impunidade, como ilustrado pelo caso do assassinato da líder sindical Margarida Maria Alves. Desta forma, violência no Brasil não tem origem na pobreza, mas na impunidade, na legislação penal ineficiente e no sistema judiciário moroso, que não pune devidamente os criminosos, sejam eles pobres ou de colarinho branco.

Já no terceiro capítulo intitulado 'o tratamento', aborda a importância da participação política e da ética individual para a transformação do Brasil. Alguns pontos discutidos pela autora são: Política é a arte de convergir interesses individuais e beneficiar a maioria, não deve ser confundida com politicagem. O cidadão consciente vota com conhecimento dos candidatos e fiscaliza os eleitos, pois suas escolhas selam o destino da nação. A corrupção não se restringe aos políticos, mas é um problema de toda a sociedade, que precisa começar a mudar pelo exemplo individual. Atitudes éticas no dia a dia, como respeitar leis e denunciar abusos, têm grande poder transformador quando multiplicadas. A família é o primeiro referencial de conduta, então pais devem dar bons exemplos para os filhos. A Operação Lava Jato revelou um esquema de corrupção bilionário na Petrobras, mostrando como o desvio de recursos públicos causa grandes danos à sociedade. Apesar de condenações, muitos corruptos acabam beneficiados por leis brandas e impunidade, o que precisa mudar. Em resumo, o texto defende que a transformação do Brasil depende da participação política consciente e de uma revolução ética individual, começando pela família, para combater a corrupção sistêmica.

Scheherazade conclui seu relato destacando sua jornada de transformação como jornalista e cidadã engajada, que busca fazer a diferença no Brasil. Ela destaca a importância de se posicionar, de renovar a mente e agir para mudar a realidade do país. Inspirada por exemplos históricos de transformação, ela desafia os leitores a agirem, acreditando que cada indivíduo pode contribuir para uma mudança positiva. A autora enfatiza que a renovação da mente é essencial para mudar atitudes e que cada um deve fazer a sua parte para transformar a sociedade. Ela acredita que o Brasil pode ser transformado, desde que cada cidadão assuma sua responsabilidade e atue em prol de um país melhor.

O livro de Rachel Scheherazade é uma leitura envolvente e inspiradora, que nos leva a refletir sobre a realidade política e social do Brasil. A autora consegue abordar de forma clara as questões complexas, como a relação entre pobreza e violência, a impunidade nos crimes de colarinho branco e a importância da participação política e ética individual. Sua narrativa autobiográfica adiciona uma camada emocional e pessoal à análise política, tornando o texto ainda mais impactante. A mensagem final de esperança e transformação, incentivando cada cidadão a fazer a diferença, é extremamente inspiradora e nos desafia a agir em prol de um país melhor. Definitivamente, um livro que vale a pena ler e refletir.

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