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[RESENHA #761] Os dragões não conhecem o paraíso, de Caio Fernando Abreu


Numa espécie de boas-vindas a Os dragões não conhecem o paraíso, Caio Fernando Abreu nos fornece um leque de possibilidades de leitura para este livro vencedor do prêmio Jabuti em 1988: “Se o leitor quiser, este pode ser um livro de contos. Um livro com 13 histórias independentes, girando sempre em torno de um mesmo tema: amor. Amor e sexo, amor e morte, amor e abandono, amor e alegria, amor e memória, amor e medo, amor e loucura. Mas se o leitor também quiser, este pode ser uma espécie de romance-móbile. Um romance desmontável, onde essas 13 peças talvez possam completar-se, esclarecer-se, ampliar-se ou remeter-se de muitas maneiras umas às outras, para formarem uma espécie de todo. Aparentemente fragmentado, mas de algum modo ― suponho ― completo.”

RESENHA

Os dragões não conhecem o paraíso é um livro de contos do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, publicado em 1988 e vencedor do prêmio Jabuti no mesmo an¹. O livro reúne treze histórias que giram em torno do tema do amor, em suas diversas formas e manifestações: amor e sexo, amor e morte, amor e abandono, amor e alegria, amor e memória, amor e medo, amor e loucura. Os contos são narrados em primeira ou terceira pessoa, com um estilo marcado pela linguagem coloquial, pela ironia, pelo lirismo e pela sensibilidade do autor, que explora as angústias, os desejos, as frustrações e as esperanças dos personagens.

Os personagens de Caio Fernando Abreu são, em sua maioria, pessoas comuns, que vivem em grandes cidades, que sofrem com a solidão, a violência, a falta de sentido, a busca por si mesmos. São homens e mulheres, jovens e adultos, heterossexuais e homossexuais, que se relacionam de forma intensa, conflituosa, apaixonada, desesperada ou resignada com o outro e consigo mesmos. Alguns dos personagens são recorrentes em outros livros do autor, como o jornalista Pedro, o escritor Caio, o fotógrafo Júlio, o poeta João, o ator Marcelo, entre outros. Eles formam uma espécie de rede afetiva, que se entrelaça e se desfaz ao longo das histórias.

Os contos de Os dragões não conhecem o paraíso se alimentam do que está presente em nossos cotidianos, isto é, a fragmentação da realidade, com suas ambiguidades, em que os indivíduos representam o seu papel sem muitas preocupações com o texto, a identidade se perde e os personagens se assemelham a embalagens vazias. No entanto, o autor também recorre a elementos fantásticos, míticos, simbólicos, que conferem uma dimensão poética e metafórica às narrativas. Assim, os dragões, que dão título ao livro, são uma metáfora para os seres humanos, que não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia. Outros símbolos que aparecem nos contos são os anjos, as borboletas, as flores, os espelhos, os sonhos, os fantasmas, os vampiros, os lobisomens, os unicórnios, que revelam aspectos da alma humana, como a inocência, a beleza, a fragilidade, a duplicidade, o desejo, o medo, a morte, a transcendência.

O livro é um retrato da sociedade brasileira dos anos 1980, marcada pela redemocratização, pela epidemia da AIDS, pela violência urbana, pelo consumismo, pela crise de valores, pela busca de novas formas de expressão e de identidade. O autor, que viveu nessa época, foi um dos expoentes da chamada literatura marginal, que se caracterizou pela ruptura com os padrões estéticos e ideológicos vigentes, pela experimentação formal e temática, pela abordagem de questões existenciais, sociais e políticas, pela valorização da subjetividade, da diversidade, da marginalidade. Caio Fernando Abreu nasceu em 1948, em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul, e morreu em 1996, em Porto Alegre, vítima de complicações decorrentes da AIDS. Foi jornalista, dramaturgo, tradutor e escritor, autor de romances, novelas, contos, crônicas, cartas e poemas. Sua obra é considerada uma das mais importantes e influentes da literatura brasileira contemporânea, tendo sido traduzida para vários idiomas e adaptada para o cinema, o teatro, a televisão e a música.

Os dragões não conhecem o paraíso é um livro que nos convida a mergulhar no universo de Caio Fernando Abreu, um universo de intensidade, de contradição, de beleza, de dor, de amor. Um universo que nos faz refletir sobre a nossa própria condição humana, sobre os nossos sentimentos, sobre as nossas escolhas, sobre os nossos limites, sobre os nossos sonhos. Um universo que nos faz sentir, que nos faz viver, que nos faz voar. Um universo que nos faz conhecer os dragões que habitam em nós.

[RESENHA #492] O segundo sexo, de Simone de Beauvoir


O segundo sexo foi publicado originalmente em 1949 e consagrou Simone de Beauvoir na filosofia mundial. A obra, no entanto, não ficou datada e tornou-se atemporal e definitiva. Este boxe traz a divisão original em dois volumes. No primeiro volume, a autora aborda os fatos e os mitos da condição da mulher numa reflexão fascinante. Já no segundo, Simone de Beauvoir analisa a condição da mulher em todas as suas dimensões: sexual, psicológica, social e política. Uma obra fundamental, que inaugurou um novo modelo de pensamento sobre a mulher na sociedade.

Os dois livros aqui resenhados situam-se dentro das comemorações do cinquentenário da publicação da obra de Simone de Beauvoir – O Segundo Sexo –, o primeiro, uma coletânea de artigos de diversas autoras discutindo os capítulos que compõem a obra de Simone de Beauvoir e o segundo uma coletânea de documentos da época da publicação da primeira edição do livro de Beauvoir. As obras foram publicadas em 2004 por duas editoras de Paris e dirigidas por Ingrid Galster, professora de literatura francesa, espanhola e hispano-americana da Univertität Poderborn, na Alemanha, e especializada no impacto da obra de Simone de Beauvoir no contexto alemão; autora, também, de inúmeros textos sobre Jean-Paul Sartre.

Estes livros não são os únicos que focalizam o cinqüentenário do Le Deuxième Sexe. Desde 1999, passaram a ser publicadas edições comemorativas, algumas delas, resultados de colóquios. No Brasil, em 1999, a revistaCadernos Pagu, em seu número 12, publicou um dossiê intitulado "Simone de Beauvoir & os feminismos do século XX" (Corrêa, 1999). Em 2000, o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher, da Bahia, publicou a coletânea Um diálogo com Simone de Beauvoir e outras falas (Motta et alii, 2000). Na França, Sylvie Chaperon (2000) publicava Les années Beauvoir (1945-1970) e, em colaboração com Christine Delphy (2000), a coletâneaLe Cinquantenaire du Deuxiéme Sexe. No Canadá, Cécile Coderre e Marie-Blanche Tahon (2001) publicaram Le Deuxième sexe. Une relecture en trois temps, 1949-1971-1999.

O primeiro livro desta resenha foi resultado do colóquio "Pour une édition critique du Deuxième Sexe" – realizado entre 10 e 13 de novembro de 1999, na Université Catholique d'Eichstätt, na Baviera – é composto de trinta e dois capítulos, um anexo e um prefácio, escritos por diversas analistas, de diferentes países; algumas são conhecidas internacionalmente no campo do feminismo. As autoras1 tomam como base de análise o manuscrito de O Segundo Sexo, depositado na Biblioteca Nacional da França, para discutir cada capítulo desta obra de Beauvoir. As analistas são especialistas em biologia, história, psicanálise, antropologia, sociologia, psicologia, literatura, criminologia, filosofia e medicina. A tarefa solicitada pela coordenadora, e exposta na "Apresentação", era a de inserir o texto em análise no contexto da época, tendo como abordagem a hermenêutica de Gadamer. Deveriam, também, reconstruir as questões às quais o livro tentava responder; perceber qual a posição do texto diante do conhecimento da época; avaliar se era ou não avançado para o seu tempo; observar, entre outras questões, quais as fontes que foram usadas.
As analistas foram convidadas a conhecer o manuscrito e compará-lo com o livro e, em alguns casos, com o que foi publicado em Les Temps Modernes.2 Nem todas, entretanto, fazem essa comparação, mesmo porque os manuscritos estão incompletos, conforme aponta Catherine Viollet. Esta analista apresenta, no anexo, uma descrição do manuscrito, mostrando as diferenças em relação ao livro e ao que foi publicado na revista citada, assim como as palavras que foram modificadas por quem datilografou os originais.

Os capítulos são desiguais, e nem todas as analistas seguiram, fielmente, os parâmetros definidos pela diretora da obra. Ao colocar o capítulo em análise no contexto da época, algumas mostraram qual era a discussão, quais os jogos de poder, quais disputas havia na época. Várias delas lembram, por exemplo, a importância da leitura realizada por Beauvoir da obra de Lévi-Strauss, destacando que esta leu os originais na própria casa do autor, e ainda fez uma resenha do livro.3 Fazem este destaque analistas como Michele Le Doeuff, Nicole-Claude Mathieu, Françoise Héritier, Annette Lavers, Claudia Opitz.

Algumas autoras enfatizam o debate no interior do qual o livro pode ser inserido, como é o caso de Doris Ruhe que, ao analisar o capítulo XII, "A Mística", relaciona a forma como a autora apresenta a personagem nesta parte do livro e a que se observa no capítulo sobre a história, mostrando a diferença de tratamento. Focaliza os debates entre religião e ciência dos anos vinte, que creditavam aos progressos da ciência as possibilidades de fortalecimento do estado laico. O texto de Cécile Coderre e Colette Parent, "Prostitutas e Hetaíras", destaca os debates sobre a prostituição na França nos anos quarenta, época dos confrontos entre abolicionistas e regulamentaristas.

Ao destacar o estado do conhecimento da época, as autoras enfatizam aquilo que consideram que faltou na obra: o que a autora deveria ter lido; o que estava disponível e não foi lido. Algumas delas questionam a leitura realizada. Este é o caso, principalmente, das referências feitas a Freud e seus herdeiros. Várias analistas mostram que havia, em Beauvoir e em Sartre, um certo "anti-freudismo", e afirmam que a autora não teria lido as últimas obras de Freud, na qual este reviu vários de seus conceitos. Esses questionamentos são muito fortes em Marie-Andrée Charbonneau, Doris Ruhe, Marie-Christine Hamon, Annik Houel. Esta última autora enfatiza suas críticas dizendo que Beauvoir apropriou-se do que havia de pior em Freud, não acompanhando as revisões do autor motivadas pelas críticas de suas discípulas. Questiona, inclusive, o fato de Beauvoir não ter lido e citado estas discípulas (283).

Há, nos textos, muitas referências a uma escrita misógina, como faz Annik Houel, e de demonstração de desprezo pelo que representa o "feminino", como em Anne-Marie Sohn. São pinçadas, pelas analistas, frases e trechos do texto, onde o que é relacionado aos homens é mais valorizado do que o que é atribuído às mulheres. Por outro lado, algumas autoras se posicionam em defesa do texto de Beauvoir, discutindo com as críticas. Hazel E. Barnes, no capítulo "A Lésbica", faz um levantamento das críticas existentes sobre a forma como Beauvoir representou-as, argumentando que algumas dessas críticas são equivocadas, outras se justificam. Entretanto, reforça o contexto do livro, mostrando que esta não era uma discussão da época. Conclui que a autora antecipou, em meio século, as discussões sobre este assunto.

A autora que faz um dos capítulos mais elogiosos é Kate Millet. Ela atribui ao O Segundo Sexo a trajetória de sua vida e afirma que o livro é uma obra de arte. Duas analistas, Elisabeth Badinter e Doris Ruhe, afirmam que a obra não tem cunho científico – é um ensaio. Esse argumento é usado na tentativa de justificar aquilo que as autoras consideram como equívocos, falta de informações, enfim, erros do livro. Mas, como mostra Françoise Héritier, a autora não pretendeu fazer uma obra de erudição em todos os domínios. Elisabeth Badinter, afirma que aí se encontram "intuições fulgurantes habilmente exploradas" (363). Convém destacar, entretanto, que a linguagem de Beauvoir era acadêmica. Os testemunhos da época, constantes do outro livro desta resenha, tinham clareza disto, fosse pra criticar ou para enaltecer.

Outra crítica séria vem de duas autoras – Margarete Mitscherlich e Hazel E. Barnes – que abordam a discussão da negação de Beauvoir, em entrevista a Alice Schwarzer, de que tenha tido alguma relação lésbica em sua vida, desmentida, posteriormente, pelas cartas e pelos diários de Beauvoir. As analistas tentam entender os motivos que a levaram a negar.

As mais fortes críticas ao texto são em relação às fontes. As analistas citam: 1) a sua pobreza, ou seja, haveria muito mais informações disponíveis na época e que não foram usadas. É o que sugerem Hazel E. Barnes e Elisabeth Badinter; 2) não cita e nem critica a historiografia que usa, como informa Claudia Opitz; 3) quando cita, não faz a crítica da fonte devidamente, reproduzindo mitos, como argumentam Pauline Schmitt Pantel e Beate Wagner-Hasel; 4) cita frases de autores famosos, sem mencionar a fonte, com o agravante de que se desconhece a existência dessas frases nas publicações desses autores. Esta é a crítica de Margarete Zimmermann em relação a uma citação atribuída a Pitágoras; uma outra, apontada por Margarete Mitscherlich, é atribuída a Nietsche; 5) não apresenta informações corretas sobre as obras citadas, constatam Anne-Marie Sohn e Françoise Collin; 6) comete equívocos ao colocar o título das obras que cita, afirma Marie-Andrée Charbonneau. Ou seja, as analistas constatam a despreocupação com o rigor das fontes. Entretanto, concordo com Françoise Héritier: não era comum, na década de 40, o rigor exigido hoje nas citações em trabalho científico. Entretanto, esta parece ser uma questão que incomodou muito as autoras da coletânea.

Através do recurso às cartas, ao diário e às obras autobiográficas, algumas autoras tentam explicar a escrita de Beauvoir por fatos de sua vida, uma espécie de projeção no texto das relações vividas. Assim, Pauline Schmitt Pantel e Beate Wagner-Hasel argumentam que a representação das hetaíras é anacrônica, e talvez uma representação de si mesma; Claudia Opitz vê, em O Segundo Sexo, uma espécie de auto-biografia; Cristof Weiand acredita que o elogio que ela faz ao escritor Stendhal é uma espécie de homenagem a Sartre; Annik Houel sugere que, se a mãe de Beauvoir já tivesse falecido por ocasião da escrita do livro, a autora não teria escrito de forma tão dura sobre a relação entre mãe e filha.

Convém, ainda, salientar o que as autoras dizem sobre o caráter inovador do livro. Para as historiadoras Pauline Schmitt Pantel e Beate Wagner-Hasel, a obra é inspiração e não fonte historiográfica para se conhecer a história da mulher na antiguidade. Outra historiadora, Claudia Opitz, afirma que a noção de história de Beauvoir é a-histórica e, por isso, as historiadoras resistiram tanto ao livro. Personagens importantes para a História das Mulheres, como Michelle Perrot, por exemplo, não a citava. Entretanto, Elizabeth Fallaize e Annette Lavers referem-se ao método de análise literária de Beauvoir como inovador, e que a autora não tem sido devidamente reconhecida como tal; a segunda analista aponta, inclusive, que O Segundo Sexo antecedeu e influenciou a metodologia de Barthes. Ainda, Susan Rubin Suleiman afirma que criou um método crítico – uma hermenêutica literária totalmente nova, nem sempre reconhecida pelas herdeiras de Beauvoir. Pergunta o porquê dessa "ingratidão". Conclui que a força de uma idéia é atestada pelo fato de que se costuma esquecer a origem dela. Crê que foi isto que ocorreu.

Essa coletânea de textos escritos por renomadas feministas de diversos países é um livro "monumento" e se completa com a outra obra desta resenha, também organizada por Ingrid Galster, Le Deuxième Sexe de Simone de Beauvoir. Neste livro, em 365 páginas, é apresentada uma coletânea de documentos que contam a história do impacto da publicação do artigo "A iniciação sexual da mulher", em maio de 1949, na revista Les Temps Modernes, e da obra O Segundo Sexo. São, aí, reproduzidos os debates – sobre este artigo –, promovidos pelo escritor François Mauriac no jornal Le Figaro entre 30 de maio e 6 de junho de 1949. O escritor perguntava às pessoas envolvidas com literatura, na época, se elas acreditavam que o recurso sistemático nas Letras, às forças instintivas, à demência e à exploração do erotismo, constitui um perigo para o indivíduo, para a nação e para a própria literatura; e que certos homens, certas doutrinas são responsáveis por isso?
O livro traz, então, quarenta respostas para essa enquete publicada pela imprensa. Acompanham, ainda, 34 resenhas e artigos tratando de O Segundo Sexo, publicados entre abril de 1949 e abril de 1951. Constam, também, lembranças, testemunhos e reações diversas. No final da coletânea, há informações sobre cada autor que se envolveu nas discussões sobre O Segundo Sexo à época, seja no debate com François Mauriac, seja escrevendo resenhas ou dando testemunhos. São fornecidas também informações sobre os periódicos que publicaram resenhas e comentários ao livro.

As coletâneas focalizam dois períodos de recepção da obra: 1949 – quando foi publicada pela primeira vez –, e cinqüenta nos depois. As diferenças são definidas pela história e diversidade do campo feminista. Estas duas obras permitirão, certamente, comparações preciosas para a história desse movimento. Por isso, podem ser pensadas como "monumentos", configuradas pelas relações de força de sua época. Ajudam-nos a lembrar e nos surpreender com o escândalo que o livro provocou, e das exigências que, muitas vezes de forma anacrônica, fazemos à principal personagem dessa história. Atualmente, o que Simone de Beauvoir escreveu já não nos escandaliza da mesma maneira, sendo, até, alvo de críticas, dentro do próprio campo onde foi mais lida. Certamente, como lembra Ingrid Galster no seu prefácio (15), aprendemos à lição. Vivemos num tempo que transformou o livro O Segundo Sexo em "outro".

[RESENHA #490] O auto da compadecida, de Ariano Suassuna


O "Auto da Compadecida" consegue o equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária ao recriar para o teatro episódios registrados na tradição popular do cordel. É uma peça teatral em forma de Auto em 3 atos, escrita em 1955 pelo autor paraibano Ariano Suassuna. Sendo um drama do Nordeste brasileiro, mescla elementos como a tradição da literatura de cordel, a comédia, traços do barroco católico brasileiro e, ainda, cultura popular e tradições religiosas. Apresenta na escrita traços de linguagem oral [demonstrando, na fala do personagem, sua classe social] e apresenta também regionalismos relativos ao Nordeste. Esta peça projetou Suassuna em todo o país e foi considerada, em 1962, por Sábato Magaldi "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro". 

Ficção / Drama / Literatura Estrangeira

SUASSUNA, Ariano: O auto da compadecida. São Paulo: Nova Fronteira: 2018, 165p ISBN B07CHYVT6F


Auto da Compadecida de Ariano Suassuna combina elementos da cultura pop com automóveis medievais e livros de cordas, aproximando-se de apresentações circenses e da cultura pop em vez de cinemas modernos. Pensada para apresentar, a obra utiliza, por escrito, recursos orais regionalmente relevantes, destacando a situação do Nordeste. Os personagens da obra são simbólicos, representam mais do que indivíduos, estruturas sociais. Assim, é fácil perceber que a peça é uma crítica social, insultando os bons costumes, costumes, religião, dificuldades e costumes da sociedade nordestina.

A crítica à religião está muito presente em todas as profissões. Desde o início, na primeira fala do personagem de Palhaço, o final carece de moral religiosa: “Auto da Compadecida! O julgamento de outros canalhas, inclusive padres, padres e bispos, pelo uso de boa ação” (SUASSUNA, 1975, 2). Há um palhaço como representante do próprio escritor, que ao escrever esta peça se deparou com a questão da nacionalidade de sua igreja. Dessa forma, ele percebe que sua alma está cheia de estupidez e palavras doces, como qualquer outra pessoa.

No caso das figuras religiosas, temos o padre João, guarda da igreja e bispo. O primeiro só está interessado em ganhar dinheiro para a aposentadoria; a segunda e a terceira telas, cheias de orgulho e más intenções, ajudam a completar o quadro da igreja em ruínas que Suassuna pintou em sua obra.


O protagonista de todas as aventuras é João Grilo, um homem magro e pobre que depende da sua astúcia para sobreviver. Em algumas críticas literárias, João Grilo é frequentemente comparado a Macunaíma, personagem de Mário de Andrade, porém, ao contrário deste, João trabalha muito e ajuda seu amigo Chicó, e suas travessuras, sendo seu palhaço justificado por sua extrema pobreza.

Chicó é um típico contador de histórias. Ele é um mentiroso puro que inventa histórias para satisfazer seus próprios desejos. Trabalha com João Grilo numa padaria e juntos formam uma dupla de palhaços. Seus patrões (o padeiro e sua esposa) representam capitalistas que só estão interessados ​​em acumular dinheiro e explorar seus trabalhadores. Completando o esquadrão capitalista está Antônio de Moraes, um fazendeiro comprometido com a violência, o medo e o dinheiro.

Também é possível analisar aspectos da cultura pop nordestina ao longo do jogo. Além das palavras, interações e jogos de ideologias sociais (extremamente pobres/ultra-ricos), o autor também inclui crenças nordestinas, como o Encourado.

Os navios de guerra são maus. Segundo a crença, ele veste todo couro, como um cowboy. Ele é um promotor e não tem piedade. No trabalho, é retratado como rival de João Grilo, mas vence no final.

Auto da Compadecida foi escrito em 1955 e continua sendo uma referência literária. Seu conteúdo condena a imoralidade religiosa, a violência humana, o racismo e as lutas pelo poder. Por ser um documento teatral e ter maioria regional, Ariano Suassuna pôde tornar públicos seus julgamentos, permitindo a veiculação de seus julgamentos.

[RESENHA #480] A Mulher desiludida, de Simone de Beauvoir


"A Mulher Desiludida" de Simone de Beauvoir é o primeiro livro da autora aqui neste espaço. Devo dizer que gostei desde o início, antes de entrar na história real. Li dois volumes de "O outro sexo" desse autor quando tinha vinte e poucos anos. Às vezes me pergunto se não é hora de reler esse livro que fez história nas décadas de 1960 e 1970.

"The Disappointed Woman" apresenta três estilos narrativos entre as histórias que Beauvoir experimentou. Diferentes modos ficcionais até certo ponto, tentando nos convencer a ver as três heroínas de diferentes ângulos. Quando a vida dessas três mulheres começa a desmoronar, tudo o que elas pensaram, pelo qual lutaram, se transforma em inimizade.

A primeira história "The Age of  Discretion" é sobre uma escritora idosa que teme que a velhice limite sua criatividade na escrita. Ela não suporta que seu filho escolha um caminho diferente daquele que ela sempre pensou para ele, que é o caminho da universidade. O que se segue são lutas entre mãe e filho, esposa e marido, mãe e filha, os vários estados de espírito que podem fazer uma mulher se sentir traída ao se recusar a "ver" a verdade quando ela é apresentada. Em outras palavras, auto ilusão. E a velhice sublinha toda a história.

Em "O Monólogo", o estilo de Beauvoir assume tons amargos, as divagações de uma mulher rica que mora sozinha na véspera de Ano-Novo. Numa narrativa raivosa, implacável em relação às pessoas com quem convive e a quem acusa. Depois dos quarenta, a consciência do narrador muda quando descobrimos a terrível verdade. Apesar das situações difíceis descritas neste conto, a mudança no estilo da narrativa chama a atenção. É impressionante. Este é o resultado das reflexões noturnas de uma mãe privada dos cuidados com o filho. Uma mãe que deixa seu veneno sobre tudo e todos, que despeja ódio e vingança sobre seus parentes e seus filhos, que são suas próprias vítimas. É uma história intensa e fragmentada.

"Meu Deus! Mostre-me que existe um Senhor! Mostre-me que existe um céu e um inferno Eu andarei pelas ruas do céu com meu garotinho e minha querida filha E todos eles estarão se contorcendo nas chamas da inveja Eu assistirei eles assam e gemem eu vou rir As crianças vão rir comigo. Você me deve esta vingança, meu Deus. Eu peço que ela seja dada a mim." (página 82)

A terceira história é o título do livro "A Mulher Desiludida", escrito em forma de diário. Monique relata o declínio diário de seu casamento. Depois que o marido de vinte anos de casamento lhe conta que está tendo um caso com uma mulher mais jovem, o mundo de Monique vira literalmente de cabeça para baixo. Só um detalhe: na época em que Simone de Beauvoir escrevia essas histórias, as mulheres eram totalmente dependentes de seus maridos. Monique construiu sua vida em torno deste homem e sua vida está sofrendo com esta notícia dele. Toda a sua vida está ameaçada por esta notícia. Simone de Beauvoir escreve um relato honesto de algo que foi muito mais devastador em uma época em que as mulheres não conseguiam se sustentar financeiramente, principalmente uma mulher de meia-idade que não usufruía dos benefícios da juventude ao seu lado.

Ao lermos a história, vemos como essa mulher tenta manter um certo grau de normalidade com tudo o que está acontecendo. Simone de Beauvoir toca o coração da existência humana. Este tema é universal, em que os medos humanos, o envelhecimento, a perda, o desespero assumem algo de íntimo e pessoal. Escrito em primeira pessoa, como mencionado, a história consiste em uma série de diários de Monique, uma mulher de meia-idade cujo marido é médico trabalhador e cujas duas filhas adultas não moram mais em casa.

Quando Maurice, marido de Monique, sai de cena por completo, sentimos um lugar escuro e vazio. No quarto fechado de seu ex-marido, que eles compartilharam por tanto tempo, agora habita uma sensação de futuro solitário, que ela teme muito.

"A mulher decepcionada" de Simone de Beauvoir ainda é relevante, apesar da diferença de épocas. Uma história universal condensada em um livro maravilhoso. E merece um lugar de destaque na sua estante.

[RESENHA] O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues



ISBN-13: 9788520943946
ISBN-10: 8520943942
Ano: 2019 / Páginas: 160
Idioma: português
Editora: Nova Fronteira

Arandir, um homem casado, beija a boca de outro homem, que acaba de ser atropelado, realizando assim seu último desejo antes da morte. Com o destaque do caso pela imprensa, Arandir se vê compelido a um destino que não consegue modificar.

Ficção / Literatura Brasileira

Uma mescla de realidade da sociedade e sua hipocrisia ao drama isolado de cada um, Nelson Rodrigues quis mostrar em O beijo no asfalto este lado, além da análise freudiana no comportamento de cada elemento. Esta obra relata as histórias comuns da sociedade, com amigos, esposa e trabalho. Porém um acidente anunciou uma mudança trágica: Arandir socorre uma vítima de acidente e o último sussurrar vem embalado com um pedido: um beijo. A partir daí, Arandir teve sua vida transformada. Além de ter sido considerado pelas testemunhas, como homossexual após ter concedido o pedido do acidentado, virou motivo de chacota com a ajuda de artigos em jornais e comentários de pessoas mais próximas.

Os amigos se afastaram e a relação com a esposa desandou, de tanto discutir com Selminha, resolve sair de casa, passando a viver em uma pensão. Tudo isso fez com que Arandir experimenta-se uma sensação indescritível, sabendo que é vítima de um julgamento feito somente por uma atitude impensada de sua parte e que ele mesmo é inocente das acusações. Porém, seu sogro o visita e revela que está ainda mais decepcionado com o genro, por que se casou com Selminha e beijou outro homem, um desconhecido, aumentando ainda mais os ciúmes que Aprígio sente por Arandir.
O beijo foi a gota d’água, após ter revelado que era apaixonado pelo genro, com dois tiros tira-lhe a vida, arrependendo-se instantaneamente.

Um drama que revela as inversões de valores da sociedade que descarrega frustrações do nosso cotidiano em terreno alheio, escrito por alguém que é referência na dramaturgia brasileira.

senhora dos afogados, de Nelson Rodrigues



ISBN-13: 9788520931417
ISBN-10: 8520931413
Ano: 2012 / Páginas: 123
Idioma: português
Editora: Nova Fronteira

Uma das peças mais polêmicas e provocantes de Nelson Rodrigues, Senhora dos afogados conta a trágica história da família Drummond, que vê suas mulheres morrerem afogadas no mar. Escrita em 1947, a peça foi interditada pela censura e só chegou aos palcos em 1954, causando incômodo na plateia, o que explica por que seu autor a caracterizava como “teatro desagradável” — aquele tipo de peça que sempre instiga e perturba o espectador.

Ficção / Literatura Brasileira

Pensando em como homenagear o centenário de Nelson Rodrigues (nascido em 23 de agosto de 1912), e levando em conta a multiplicidade de sua produção —romances folhetinescos, crônicas, memórias[1] —, apesar de uma certa superestimação tão ao gosto da autocentrada cultura carioca (embora ele fosse de origem pernambucana), logo percebi que seria tarefa vã dar conta de todos os aspectos.

Mesmo na área em que sua contribuição revela-se mais essencial (pois ainda é nosso maior dramaturgo), como abordar 17 peças, boa parte delas extremamente marcante, com um expressivo número de adaptações para o cinema (a maioria, horrorosa) e para a televisão? Afinal, com a sua segunda obra para o palco, Vestido de noiva (1943), ele se valeu de um experimentalismo formal que até hoje impressiona e coloca a peça entre os grandes momentos do alto modernismo (tanto que é praxe comparar seu impacto sobre o nosso teatro com o de Cidadão Kane no cinema comercial norte-americano)

Vestido de noiva só era o início do percurso. Em uma sequência inacreditável (de 1946 a 1949), escreveu as quatro peças alucinadas e alucinantes, hoje arroladas como míticas (no segundo volume do Teatro Completo, organizado por Sábato Magaldi), que representam o lado mais radical do seu teatro: Álbum de família, Anjo negro, Senhora dos afogados Doroteia.

A mais poética delas, possivelmente a sua obra-prima suprema, Senhora dos afogados, também é a mais comentada em anos recentes, pois os dois encenadores de maior renome do país, José Celso Martinez Correa e o grande Antunes Filho, resolveram montá-la quase que ao mesmo tempo, em 2008. O trabalho de Antunes é admirável e rigoroso, o de Martinez Correa não veria nem amarrado, pois sempre tive uma aversão incontornável pelo seu dionisismo institucionalizado (creio que até financiado por verbas públicas; assim, é fácil ser orgíaco).

Quando a peça começa, os Drummond (uma família de três séculos, com mulheres que se gabam da fidelidade conjugal: “nunca houve um adultério” por parte de uma esposa do clã[2]“Pudor têm todas as mulheres da família”) choram a morte por afogamento de Clarinha. Ao mesmo tempo, prostitutas do cais interrompem suas atividades para lamentar o 19º. ano de impunidade do assassinato de uma das suas.Acontece que o assassino é Misael Drummond, pai de Clarinha: ele matara a “mulher da vida” com quem tivera um caso porque ela insistia em experimentar o leito conjugal antes da esposa (era o dia do seu casamento).

Antes mesmo de saber que a sua filha morrera, Misael—num banquete em sua homenagem—vê o fantasma da prostituta morta lhe aparecer, e foge da cerimônia: “Ela tornou o banquete maldito… Todos sentiram que havia uma morta entre os convidados. Eduarda, quando essa mulher apareceu, houve no banquete um cheiro de mar…”

   Enquanto isso as duas Drummond sobreviventes (há uma terceira, a avó, que ficara louca ao testemunhar o crime do filho), Eduarda e Moema, mãe e filha, se digladiam em torno da questão do pudor e da honra da mulher, núcleo do universo burguês tradicional tão bem caracterizado na obra rodriguiana, hostilizando-se devido a um ódio primordial. Moema, que gostaria de viver sozinha com o pai (e por isso matou as irmãs), urde um plano de forma a fazer com que a mãe o traia com o próprio noivo, um ex-marinheiro que na verdade queria seduzi-la para se vingar do pai (de ambos, já que ele é o fruto dos amores de Misael com a prostituta assassinada)…

Estamos aqui, já pelas ligações incestuosas entre os personagens, e pela obsessão com os polos da respeitabilidade e da transgressão, no cerne das pulsões arcaicas, no primordial, nos confins do lógico, do racional, do consciente. Todas as amarras foram rompidas, e os personagens se movem num tempo verdadeiramente mítico, que só pode ser o do inconsciente. Não é a toa que a peça se aproxima das tragédias gregas, em que os clãs familiares se entredevoram num inferno de culpas e desmedidas. Evocando a mãe assassinada, o Noivo diz (respondendo à afirmação da Vizinha de que ela devia ser linda): “Muito. E não sei há quantos anos não envelhece nada; não envelhecerá nunca. A mesma idade sempre—nem um minuto a mais, nem um minuto a menos…” E ainda: “Os outros podem morrer. Tudo mais pode morrer. Menos minha mãe” (evidentemente o fato de ela já estar morta não tem a menor importância na economia psíquica do personagem).

Mas isso ainda é dizer pouco, uma vez que nunca Nelson Rodrigues, nem mesmo em Vestido de noiva e Anjo negro, nem nas posteriores A falecida (1953) e Beijo no asfalto (1960), escreveu ou escreveria não apenas falas da mais absoluta beleza e precisão, nada faltando, nada sobrando, como também  “deixas” de um lirismo único, que no teatro contemporâneo só se encontra talvez num Eugene O´Neill (“Só estão em cena os espectrais vizinhos. Cochicham entre si. É ainda a casa dos Drummond, sempre a casa dos Drummond”; outros exemplos: “Em cena, também os vizinhos. São figuras espectrais. Um farol remoto cria, na família, a obsessão da sombra e da luz. Há também um personagem invisível: o mar próximo e profético, que parece estar sempre chamando os Drummond, sobretudo as suas mulheres”).[3]

É lógico que as revelações bombásticas de crimes e disposições incestuosas beirariam o cômico não fosse a genialidade do autor de Toda nudez será castigada (1965), que domou o excesso com a perícia cirúrgica do seu texto. Todas as vezes que o li , não conseguia imaginar como seria no palco, que tom poderia ser adotado para não ficar como nas ridículas versões de cinema (especialmente a de Álbum de família, escrita na mesma toada), as quais resvalavam para o chanchadesco. Foi preciso esperar por Antunes Filho para constatar que sim, era possível, e que o Nelson Rodrigues de Senhora dos afogados é um ponto-limite no dizer teatral e na forma cênica.

Em tempo:  a peça foi interditada pela censura em 1948, liberada apenas em 1953. Na estreia (montagem dirigida por Bibi Ferreira), um ano depois,  houve vaias, e a estreante Nathalia Thimberg, aterrada com o tumulto, testemunhou o autor enfrentando a plateia. Nelson Rodrigues, longe do tom das homenagens do seu centenário, era tido então como tarado e degenerado. [4}


Resenha: O senhor das moscas, de William Golding


Um grupo de jovens é retirado de uma cidade atingida por um bombardeio atômico. Eles passam a viver numa ilha deserta do Pacífico e lá reconstituem os valores da sociedade em que viveram. Este romance é considerado a obra-prima do prêmio Nobel de 1983.

Ficção / Romance / Distopia


GOLDING, William. Martin Claret: O senhor das moscas, 2011, 258p

O Senhor das Moscas (Lord of the Flies, em inglês) é um livro de alegoria escrito por William Golding, vencedor do Prêmio Nobel em 1983. Foi publicado em 1954. Embora não tenha sido um grande sucesso à época – vendendo menos de 3000 cópias nos Estados Unidos em 1955 antes de sair de catálogo – com o tempo tornou-se um grande sucesso, e leitura obrigatória em muitas escolas e colégios. Foi adaptado para o cinema em 1963 por Peter Brook e novamente em 1990, filme estes que também passaram a ser exibidos em diversas instituições educacionais. O título é uma referência a Belzebu (do nome hebraico Ba’al Zebub), um sinônimo para o nome Diabo. É geralmente lembrado como um clássico da literatura do pós-guerra, ao lado de A Revolução dos Bichos e O Apanhador no Campo de Centeio.

O livro retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra.

Temas
“O Senhor das Moscas” contém inúmeros temas e simbolismos. Qualquer um dos personagens pode representar diferentes papéis na sociedade.
Ralph pode representar a democracia, uma vez que ele é o líder por escolha da maioria e tenta tomar as decisões que sejam melhores para todos.
Jack pode representar o fascismo, uma vez que é cruel e tenciona controlar a todos na ilha.
Porquinho pode representar a ciência, uma vez que ele age de modo lógico e é impopular, mas necessário a longo prazo.
O coral de meninos que se transforma no grupo de caçadores representaria o exército: eles fazem o que Jack determina porque é melhor para eles estarem inseridos no grupo do que contra ele.
Sam e Eric representariam as pessoas que são impressionáveis, e que tendem a não pensar por si próprias. Em diversas partes do livro, seu comportamento imita o dos cães.
O "Bicho" representa a propaganda, causando medo por um inimigo nunca visto e usada para unir os meninos ao redor de Jack.
Simon representaria a fé e a religião, por ter visões e revelações místicas. Também poderia ser caracterizado como tendo esquizofrenia.
Os óculos representariam a razão e a habilidade de se ver com clareza.
A concha representa ordem e democracia na ilha.

Outras interpretações consideram não tanto uma alegoria política, mas uma alegoria social. Esta linha de pensamento indicaria que:

Ralph representa o governo, a ordem e a responsabilidade.
Porquinho representa a inteligência e a razão, não importando o quão impopular a verdade possa ser.
Jack representa a barbárie, o lado negro da humanidade.
A concha representa a civilização, e quando Jack a abandona, ele rompe as amarras que o prendem ao mundo moderno.
O fogo representa a utilidade, um meio para um fim, o qual, quando usado de modo incorreto, se torna um fim em si mesmo.
O Senhor das Moscas representa o Mal escondido no coração de todos.

Análises

Muitos interpretaram "O Senhor das Moscas " como um trabalho de filosofia moral. O cenário da ilha, um paraíso com toda a comida e a água necessários, pode ser visto como uma metáfora para o Jardim do Éden. Assim, a primeira aparição do “Bicho” seria o surgimento da serpente, como o mal surge no livro de Gênesis.
Um dos principais temas do livro é a natureza do Mal. Isto pode ser claramente visto na conversa que Simon mantem com o crânio do porco, que se refere a si mesmo como “O Senhor das Moscas” (uma tradução literal do nome hebraico de Ba'alzevuv, ou Beelzebub em grego). O nome, enquanto se refere aos enxames de moscas sobre si, claramente refere-se ao personagem bíblico.

O AUTOR
William Golding é um escritor britânico, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1983. Golding é autor de romances, poemas e peças de teatro. Publicou seu primeiro romance, O Senhor das Moscas (Lord of the Flies) em 1954, alcançando grande sucesso em diversos países. Outros romances de sua autoria foram Os Herdeiros (The Inheritors, 1955) e Ritos de Passagem (Rites of Passage, 1980).
Sua obra aborda principalmente temas de sobrevivência em situações adversas, marcadas por isolamento e fragmentação da sociedade. Golding foi muito prestigiado ainda em vida, recebendo, além do Prêmio Nobel, o Booker Prize de 1980 e sendo ordenado cavaleiro pela Rainha Elizabeth II em 1988. Morreu em 1993.

Resenha: Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski


SINOPSEFiodor Dostoievski é considerado um dos maiores escritores russos do seu tempo. Discutiu o materialismo e a fé, o racionalismo e o pensamento ecumênico, a violência e o sentido da humanidade. Todas as contradições da época estão presentes em seus romances. Os Irmãos Karamazov (1879-80) é considerado a obra prima de Dostoievski. O livro causou grande impacto literário: mais uma vez escreve sobre um crime, desta vem um parricídio. O núcleo do romance é o niilismo antiteísta representado por Ivan Karamazov, um dos principais personagens do livro.

Crime / Ficção / Literatura Estrangeira / Romance


Rússia, século XIX. Um palco de intensos debates e conflitos sociais. O niilismo e o ateísmo são os principais elementos responsáveis pela degeneração familiar dos Karamazov, culminando na tragédia de um parricídio. O crime ocorrera há trinta anos. A vítima do crime, Fiódor Pávlovitch Karamazov, conhecido como "fazendeiro", apesar de mal freqüentar a propriedade. Um burguês mau, devasso, egoísta e pobre de espírito, que fora casado duas vezes e tivera três filhos: Dmítri Fiódorovich Karamazov, da primeira esposa, e Ivã Karamazov e Alieksiéi Karamazov, da segunda. Além da suspeita de um quarto filho, Smierdiákov, um criado imbecil que sofria de epilepsia, mas que não era tão imbecil, já que conhecia o esconderijo na casa, onde o velho Karamazov guardava o dinheiro.

Alieksiéi Karamazov, o filho mais jovem, deixou em dado momento o noviciado nas atividades monásticas, aconselhado por seu mestre espiritual, Zósima, para "voltar ao mundo" e, depois, decidir que caminho seguiria. Jovem, equilibrado e justo, agiu como o fiel da balança da família, apaziguando os ânimos e animando os irmãos, que viviam à beira da autodestruição. Seu irmão, Ivã Karamazov, era o mais viajado e inteligente, o niilista que exercia influência controladora sobre as pessoas, especialmente sobre o criado Smierdiákov. Irônico, corrosivo, era um debatedor de problemas sociais e religião, o autor da célebre frase: "(...) Se Deus não existe, então tudo é permitido (...)". Um imoral que tinha seus mistérios e vivia às expensas do pai, sem manter bom relacionamento com ele. Por sua vez, Dmitri Fiódorovich Karamazov, ou apenas Mítia, o meio-irmão, é instável, confuso, ora pende à bondade, ora à maldade. Perdulário, é o principal suspeito da morte do pai, justamente por disputar com ele o amor de uma mulher, além de também passar por problemas financeiros. É acusado, preso e julgado por um júri popular, que o considera culpado pelo crime de morte premeditada para roubar. Sabidamente, o culpaldo era Ivã, que tivera a idéia e instigara Smierdiákov a pô-la em prática, mas Smierdiákov estava morto e tudo conspirava contra Mítia.
Cobiça, exploração, deslealdade e mentira, são outros temas do enredo desse romance monumental, onde a intensa carga psicológica constitui não apenas o retrato de uma época conflitante, mas o retrato de várias épocas. Um romance atemporal, onde atos de maldade ecoam junto a atos de bondade.
Ao final, num discurso num velório, Alieksiéi Karamazov, o quase-monge diz: "(...) não temais a vida! Ela é tão bela quando se praticam o bem e a verdade! (...)"
Os Irmãos Karamazov (em russo Братья Карамазовы, Brat'ya Karamazovy, AFI ['bratʲjə karə'mazəvɨ]) é um romance de Fiódor Dostoiévski, escrito em 1879, uma das mais importantes obras das literaturas russas e mundiais, ou, conforme afirmou Freud1 : "a maior obra da história". Freud considera esse romance, juntamente com Édipo Rei e Hamlet, três importantes livros a respeito do embate pai e filho, e retratam o complexo de Édipo.
É uma obra aclamada pela crítica e trata-se de uma narração muito pormenorizada como que de uma testemunha dos aludidos fatos numa cidade afastada russa. O narrador pede constantes desculpas ao leitor por não saber alguns fatos, por considerar a própria narrativa longa (mesmo nos formatos grandes o livro passa de 700 páginas) e por considerar seu herói alguém pouco conhecido ou, até mesmo, desimportante. A narrativa não só conversa com o leitor, mas é onipresente e também indica ou infere os pensamentos dos incontáveis personagens.
Provavelmente o nome Karamázov foi forjado a partir de "kara", "castigo" ou "punição", e do verbo "mázat", "sujar", "pintar", "não acertar". Significaria, então, aquele que com seu comportamento desacertado provoca a própria punição', segundo nota dos tradutores da obra.2
Essa frase é frequentemente citada em relação a essa obra, porém nunca aparece dessa maneira. Ela é na verdade uma forma parafraseada de um trecho do livro onde narram a respeito de um artigo que o personagem Ivan Karamazov acaba de publicar em uma revista:
... ele (Ivan Fiodorovitch Karamazov) declarou em tom solene que em toda a face da terra não existe absolutamente nada que obrigue os homens a amarem seus semelhantes, que essa lei da natureza, que reza que o homem ame a humanidade, não existe em absoluto e que, se até hoje existiu o amor na Terra, este não se deveu a lei natural mas tão-só ao fato de que os homens acreditavam na própria imortalidade. Ivan Fiodorovitch acrescentou, entre parenteses, que é nisso que consiste toda a lei natural, de sorte que, destruindo-se nos homens a fé em sua imortalidade, neles se exaure de imediato não só o amor como também toda e qualquer força para que continue a vida no mundo. E mais: então não haverá mais nada amoral, tudo será permitido, até a antropofagia. Mas isso ainda é pouco, ele concluiu afirmando que, para cada indivíduo particular, por exemplo, como nós aqui, que não acredita em Deus nem na própria imortalidade, a lei moral da natureza deve ser imediatamente convertida no oposto total da lei religiosa anterior, e que o egoísmo, chegando até ao crime, não só deve ser permitido ao homem mas até mesmo reconhecido como a saída indispensável, a mais racional e quase a mais nobre para a situacão. - página 109, da editora 34.
Durante uma célebre passagem, em que Ivan narra a seu irmão Aliéksiei uma poesia que esta escrevendo, intitulada O grande Inquisidor, este inquisidor, ao se deparar com Jesus que acaba de voltar a terra, questiona:
Será que não pensaste que ele (o Homem) acabaria questionando e renegando até tua imagem e tua verdade se o oprimissem com um fardo tão terrível como o livre arbítrio? - página 353 da editora 34.
Muito mais a frente no livro, Ivan considera a outra possibilidade. Se Deus não existir, e a religião fosse extinta de todas as formas, o que aconteceria?
Quando a humanidade, sem exceção, tiver renegado Deus (e creio que essa era virá), então cairá por si só, sem antropofagia, toda a velha concepção de mundo e, principalmente, toda a velha moral, e começara o inteiramente novo. Os homens se juntarão para tomar da vida tudo o que ela pode dar, mas visando unicamente à felicidade e à alegria neste mundo. O homem alcançará sua grandeza imbuindo-se do espírito de uma divina e titânica altivez, e surgirá o homem-deus. Vencendo, a cada hora, com sua vontade e ciência, uma natureza já sem limites, o homem sentirá assim e a cada hora um gozo tão elevado que este lhe substituirá todas as antigas esperanças no gozo celestial. Cada um saberá que é plenamente mortal, não tem ressurreição, e aceitará a morte com altivez e tranquilidade, como um deus. Por altivez compreenderá que não há razão para reclamar de que a vida é um instante, e amará seu irmão já sem esperar qualquer recompensa. O amor satisfará apenas um instante da vida, mas a simples consciência de sua fugacidade reforçará a chama desse amor tanto quanto ela antes se dissipava na esperança de um amor além-túmulo e infinito. - página 840 da editora 34.
Sinopse
Aviso: Este artigo ou se(c)ção contém revelações sobre o enredo.
A narrativa trata da história de uma conturbada família em uma cidade na Rússia. O patriarca da família é Fiódor Pavlovitch Karamázov, um palhaço devasso que subiu na vida principalmente devido aos dotes de suas duas mulheres, ambas mortas de forma precoce, e à sua mesquinharia. Com a primeira mulher tem um filho, Dmitri Fiodorovitch Karamázov, que é criado primeiramente pelo criado que mora na isbá ao lado de sua casa e depois por Miússov, parente de sua falecida mãe. Com a segunda mulher tem mais 2 filhos: Ivan e Aliêksei Fiodorovitch Karamázov, que são criados também por um parente da segunda mulher do pai de ambos. Ao passo que Ivan se torna um intelectual, atormentado justamente por sua inteligência, Aliêksei se torna uma pessoa mística e pura, entrando para um mosteiro na cidade.
De uma querela financeira entre o pai e seu primogênito, também devasso porém honrado, nasce também a disputa por uma mulher, Gruchénka, que levará ambos a descomedidos atos que resultarão na morte de Fiódor Pavlovitch Karamázov.
Este livro foi considerado por muitos como a maior obra de literatura já escrita, entre eles Nietzsche. Os irmãos Karamázov deveria ter uma continuação, onde o narrador exporia de melhor forma o cárater de seu herói, o filho mais novo Aliêksei Fiodorovitch Karamázov, para o qual esta narrativa seria a primeira parte de sua biografia, porém Dostoiévski morreu antes de finalizar a segunda parte de sua obra. Dostoiévski declara no início do prólogo que a obra é, de fato, sobre Alieksiéi:
Ao começar a biografia de meu herói, Alieksiéi Fiódorovitch, sinto-me um tanto perplexo. Com efeito, se bem que o chame meu herói, sei que ele não é um grande homem; prevejo também perguntas deste gênero: "Em que é notável Alieksiéi Fiódorovitch, para que tenha sido escolhido como seu herói? Que fez ele? Quem o conhece e por quê? Tenho eu, leitor, alguma razão para consagrar meu tempo a estudar-lhe a vida?"

Observações
A tradução de Natália Nunes é usada nos licenciamentos à Abril Cultural (1970), à Nova Cultural (1995) e à Ediouro (2001).
A da Ediouro é chamada "Os Irmãos Karamázov" (sem "i" no final) e possui graves erros de revisão.
A da Nova Cultural altera levemente a tradução e a atribui a Enrico Corvisieri.
A Ed. Martin Claret (2003) publica a tradução de Boris Solomonov em nome de Alexandre Boris Popov, com revisão de Irina Wisnick Ribeiro.

O AUTOR
Dostoiévski – foi um escritor russo, considerado um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos.É tido como o fundador do existencialismo, mais frequentemente por Notas do Subterrâneo, descrito por Walter Kaufmann como a "melhor proposta para existencialismo já escrita." A obra dostoievskiana explora a autodestruição, a humilhação e o assassinato, além de analisar estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio: seus escritos são chamados por isso de "romances de idéias", pela retratação filosófica e atemporal dessas situações. O modernismo literário e várias escolas da teologia e psicologia foram influenciadas por suas ideias.

Resenha: Laços de família, de Clarice Lispector






APRESENTAÇÃO: O texto de Clarice Lispector costuma apresentar ilusória facilidade. Seu vocabulário é simples, as imagens voltam-se para animais e plantas, quando não para objetos domésticos e situações da vida diária, com frequência numa voltagem de intenso lirismo. Mas que não se engane o leitor. Em poucas linhas, será posto em contato com um mundo em que o insólito acontece e invade o cotidiano mais costumeiro, minando e corroendo a repetição monótona do universo de homens e mulheres de classe média ou mesmo o de seres marginais. Desse modo, o leitor defronta-se com a experiência de Laura com as rosas e o impacto de Ana ao ver o cego no Jardim Botânico. Pequenos detalhes do cotidiano deflagram o entrechoque de mundos e fronteiras que se tornam fluidos e erradios, como o que é dado ao leitor a compreender acerca da relação de Ana, seu fogão e seus filhos, ou das peregrinações de uma galinha no domingo de uma família com fome, ou do assalto noturno de misteriosos mascarados num jardim de São Cristóvão. E, como se pouco a pouco se desnudasse uma estratégia, o cotidiano dos personagens de Laços de família, cuja primeira edição data de 1960, vai-se desnudando como um ambiente falsamente estável, em que vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de súbito, justo quando o dia a dia parecia estar sendo marcado pela ameaça de nada acontecer.


RESENHA

“Laços de Família”, escrito por Clarice Lispector, é uma obra composta por treze contos que foi publicada em 1960 e recebeu o Prêmio Jabuti em 1961. Este livro é considerado um dos mais importantes da autora e é conhecido por seu foco na temática familiar e nos pequenos conflitos cotidianos.

A obra é caracterizada por um estilo único e irreverente de Lispector, que torna difícil descrever o que cada conto significa ou representa. Cada conto é como um abismo: você pode ler e reler, mas sempre encontrará novos significados. Alguns contos podem deixar o leitor desolado, não porque tratam de algo horrível, mas porque lidam com coisas tão corriqueiras e situações comuns.

Os contos deste livro se interligam pela abordagem dos vínculos familiares e apresentam personagens comuns que, pouco a pouco, se percebem sufocadas pelo contexto familiar e social, como o matrimônio e a maternidade. Questões aparentemente simples são refletidas de maneira profunda. A maioria das personagens realiza uma análise da própria vida, ocasionando em uma epifania que rompe com a monotonia e com as imposições sociais sofridas por elas.

Em “Laços de Família”, Lispector trata da solidão, da morte, da rotina e da falha da comunicação que temos, muitas vezes, com pessoas que estão ao nosso lado. A leitura é mais abstrata, o vocabulário é precioso e o livro é impressionante. Logo no primeiro conto, já podemos perceber que se trata de uma obra onírica e intensa.

Em resumo, “Laços de Família” é uma obra poderosa que oferece uma entrada perfeita para quem ainda não entrou no mundo de Clarice Lispector. E para quem já entrou, este é um livro indispensável para admirar ainda mais essa genial escritora.


“Laços de Família” é uma coletânea de contos escrita por Clarice Lispector e publicada em 1960. A obra se enquadra na terceira geração do Modernismo brasileiro, mais especificadamente no Neomodernismo, ou geração de 1945. O livro parece refletir as experiências da própria autora na época, com um olhar arguto para a classe média carioca dos anos 1940-1950.

Os personagens criados por Lispector são pessoas comuns, muitas vezes sufocadas pelo contexto familiar e social, como o matrimônio e a maternidade. Alguns exemplos de personagens são: uma portuguesa entediada com seu papel de esposa, mãe de família e dona de casa no conto “Devaneio e Embriaguez duma Rapariga”; Ana, uma mulher casada que possui uma vida pacata e dois filhos no conto “Amor”; e Laura, que hesita em enviar um buquê de rosas a uma amiga e reflete profundamente sobre esse ato no conto “A Imitação da Rosa”.

Os contos deste livro se interligam pela abordagem dos vínculos familiares e apresentam personagens que, pouco a pouco, se percebem sufocadas pelo contexto familiar e social. Questões aparentemente simples são refletidas de maneira profunda. A maioria das personagens realiza uma análise da própria vida, ocasionando em uma epifania que rompe com a monotonia e com as imposições sociais sofridas por elas.

Os temas recorrentes explicam o título do conjunto: os conflitos da vida familiar e suas implicações sentimentais – ressentimentos, incertezas, amores, desconfianças, segredos e os planos de felicidade. O universo da escritora, mais uma vez, estaria, aqui, vinculado a um plano existencial, moldado por um fluxo textual que foge às narrações tradicionais. O mundo doméstico é visto como um lugar de sufocamento, microcosmo de círculos sociais mais amplos e não menos tensos.


BIOGRAFIA DA AUTORA
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, na aldeia Tchetchenilk, no ano de 1925. Os Lispector emigraram da Rússia para o Brasil no ano seguinte, e Clarice nunca mais voltou á pequena aldeia. Fixaram-se em Recife, onde a escritora passou a infância. Clarice tinha 12 anos e já era órfã de mãe quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro. Entre muitas leituras, ingressou no curso de Direito, formou-se e começou a colaborar em jornais cariocas. Casou-se com um colega de faculdade em 1943. No ano seguinte publicava sua primeira obra: “Perto do coração selvagem”. A moça de 19 anos assistiu à perplexidade nos leitores e na crítica: quem era aquela jovem que escrevia "tão diferente"? Seguindo o marido, diplomata de carreira, viveu fora do Brasil por quinze anos. Dedicava-se exclusivamente a escrever. Separada do marido e de volta ao Brasil, passou a morar no Rio de Janeiro. Em 1976 foi convidada para representar o Brasil no Congresso Mundial de Bruxaria, na Colômbia. Claro que aceitou: afinal, sempre fora mística, supersticiosa, curiosa a respeito do sobrenatural. Em novembro de 1977 soube que sofria de câncer generalizado. No mês seguinte, na véspera de seu aniversário, morria em plena atividade literária e gozando do prestígio de ser uma das mais importantes vozes da literatura brasileira.

Análise: Agosto, de Rubem Fonseca


ISBN-13: 9788520938065
ISBN-10: 852093806X
Ano: 2020 / Páginas: 368
Idioma: português

Agosto, de Rubem Fonseca, é um romance policial publicado em 1971. A obra narra a investigação do comissário Alberto Mattos sobre o assassinato do jornalista Carlos Castilho, que foi encontrado morto em sua casa, com um tiro na cabeça.

A trama se desenrola em um contexto histórico turbulento, o Brasil de 1954, marcado por uma forte crise política e social. O país está sob o governo de Getúlio Vargas, que enfrenta uma oposição cada vez mais forte. O jornalista Castilho é um dos principais críticos do governo, e seu assassinato é visto como um crime político.

O romance é dividido em 12 capítulos, que narram os diferentes passos da investigação de Mattos. O comissário é um homem experiente e perspicaz, mas a investigação é complexa e cheia de obstáculos. Mattos precisa lidar com a corrupção policial, a indiferença das autoridades e a pressão da opinião pública.

Ao longo da investigação, Mattos vai descobrindo que o assassinato de Castilho está ligado a uma série de outros crimes, incluindo o assassinato de um político, o suicídio de uma atriz e o desaparecimento de uma jovem. O comissário também vai se deparar com a violência e a corrupção que dominam a sociedade brasileira.

Agosto é um romance policial clássico, mas também é uma obra que vai além do gênero. O romance é um retrato da sociedade brasileira do século XX, com suas contradições e violência. A obra também é uma crítica ao poder, à corrupção e à falta de justiça.

Análise da obra

Contexto histórico

Agosto é uma obra que está inserida no contexto histórico do Brasil de 1954. O país está sob o governo de Getúlio Vargas, que enfrenta uma forte oposição cada vez mais radicalizada. O jornalista Castilho é um dos principais críticos do governo, e seu assassinato é visto como um crime político.

O contexto histórico da obra é importante para a compreensão da trama. O assassinato de Castilho é um evento que simboliza a crise política e social que o Brasil enfrentava na época. O romance também reflete a intolerância e a violência que dominavam a sociedade brasileira.

Narrativa

Agosto é narrado em terceira pessoa, com um narrador onisciente. O narrador acompanha a investigação do comissário Mattos, revelando os diferentes passos da investigação e os pensamentos dos personagens.

A narrativa é fluida e envolvente. O leitor é levado a acompanhar a investigação de Mattos, sentindo a tensão e o suspense da trama.

Personagens

Alberto Mattos é o personagem central da obra. Ele é um comissário de polícia experiente e perspicaz, mas também é um homem cínico e desiludido. Mattos é um dos poucos personagens que se preocupa com a verdade, e ele está determinado a resolver o caso do assassinato de Castilho.

Carlos Castilho é o jornalista assassinado. Ele é um homem honesto e corajoso, que não tem medo de denunciar os crimes do governo. Castilho é um símbolo da luta pela liberdade e pela justiça.

Outros personagens

  • O coronel Sarno é o comandante da polícia. Ele é um homem corrupto e incompetente, que está disposto a tudo para encobrir o caso Castilho.
  • A atriz Maria Luiza é uma mulher misteriosa que está ligada ao caso Castilho. Ela é uma personagem complexa e fascinante, que esconde muitos segredos.
  • A jovem Beatriz é uma menina que desapareceu misteriosamente. Seu desaparecimento está ligado ao caso Castilho.

Temas

Agosto é uma obra que aborda uma série de temas, incluindo:

  • A violência é um tema recorrente na obra. A violência está presente em todos os níveis da sociedade, desde a violência política até a violência doméstica.
  • A corrupção é outro tema importante na obra. A corrupção está presente em todas as esferas do poder, desde o governo até a polícia.
  • A falta de justiça é um tema que permeia toda a obra. O assassinato de Castilho é um crime impune, que reflete a falta de justiça no Brasil.

Conclusão

Agosto é um romance policial clássico, mas também é uma obra que vai além do gênero. O romance é um retrato da sociedade brasileira do século XX, com suas contradições e violência. A obra também é uma crítica ao poder, à corrupção e à falta de justiça.

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