Mostrando postagens com marcador objetiva. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador objetiva. Mostrar todas as postagens

[RESENHA #675] Asas da loucura: A extraordinária vida de Santos Dummont


APRESENTAÇÃO

Alberto Santos Dumont foi imortalizado no imaginário brasileiro, tendo sido homenageado em poemas, canções, estátuas, bustos, pinturas, biografias e comemorações em sua memória. A fama e o carisma o tornaram, durante um determinado período, o homem mais célebre do mundo. Apesar disso, Santos Dumont foi também um homem tímido e calado, um gênio atormentado pelo peso de sua criação, o que culminou em seu trágico fim. Asas da loucura traz as glórias e as sombras de sua história.

Santos Dumont tinha 18 anos quando chegou a Paris, na virada do século XX. O brasileiro, nascido em Minas Gerais e criado nas fazendas de café da família, era apaixonado por dirigíveis e balões, que conhecera nos romances de Júlio Verne, e pelos avanços tecnológicos que encontrou na cidade francesa. Ele desenvolveu e construiu aeronaves motivado pelo sonho de um dia cada indivíduo ter seu próprio avião, como já acontecia com os automóveis, o que aproximaria as pessoas e reduziria as distâncias. Ao vencer uma competição para construir o primeiro avião, a imprensa francesa celebrou Santos Dumont como um “conquistador do ar”. A história mundial, no entanto, acabaria consagrando os irmãos norte-americanos Orville e Wilbur Wright como os pioneiros na aviação ― ainda que seus objetivos tenham sido muito menos nobres que o idealismo do brasileiro.

Com sua fé no futuro da tecnologia, Santos Dumont não previu o poder destrutivo de suas máquinas e testemunhou com grande desgosto a capacidade de destruição dos aviões durante a Primeira Guerra Mundial. A consagração dos irmãos Wright foi outro motivo de contrariedade. Os distúrbios psicológicos e as circunstâncias de sua morte precoce são revelados integralmente neste livro.

No aniversário de 150 anos do nascimento de Santos Dumont, a Editora Record traz de volta Asas da loucura, a biografia deste extraordinário pioneiro, personagem brilhante na história da aviação. Com uma narrativa arrebatadora, o premiado jornalista americano Paul Hoffman conta a memorável vida do aviador brasileiro, que contribuiu de forma decisiva para a modernidade e simbolizou o espírito torturado do século XX.“Quando os nomes daqueles que ocuparam posições de destaque no mundo forem esquecidos”, declarou o Times londrino em 1901, “um nome permanecerá em nossa memória, o de Santos-Dumont.”

RESENHA

“Asas da loucura: A extraordinária vida de Santos Dumont” é uma obra magistral que mergulha nas profundezas da vida e das conquistas de um dos maiores pioneiros da aviação, Alberto Santos-Dumont. Escrito pelo renomado autor de biografias, Paul Hoffman, o livro oferece uma narrativa envolvente e detalhada que apresenta um retrato fascinante do homem por trás das asas. A obra foi publicada primeiramente no Brasil integrando o catálogo da editora Objetiva, e hoje, faz parte do catálogo da editora Record, também do Grupo Editorial Record.

[...] ele possuía o céu da França. Era o único que estava sempre voando em uma aeronave. Quando o copeiro serviu vinho aos convidados, Cartier e a princesa Isabel fizeram um brinde à engenhosidade do anfitrião. Ninguém mais estava perto de dominar o ar — ou assim parecia.

Alberto Santos-Dumont nasceu durante o reinado de D. Pedro II, em 20 de julho de 1873, em um local remoto de Minas Gerais. Os pais de Alberto, Henrique Dumont e Francisca de Paula Santos, foram a primeira geração de brasileiros a viver no distrito de João Aires, na minúscula cidade de Cabangu. No início, Cabangu consistia em apenas sua casa. Henrique era engenheiro e fora contratado para construir uma extensão da estrada de ferro D. Pedro II até essa longínqua região de Minas Gerais. A estrada de ferro fazia parte de um vasto projeto de obras públicas do imperador, e foi uma honra para Henrique receber essa incumbência. A desvantagem era a vida tão isolada. (p.12).

Hoffman demonstra uma habilidade excepcional em retratar a personalidade complexa de Santos-Dumont, explorando suas motivações, ambições e desafios enfrentados ao longo de sua jornada. Desde sua infância apaixonada por máquinas até sua busca incansável pela invenção do avião, o autor traz uma visão íntima do gênio visionário e sonhador que Santos-Dumont era.

Uma das principais qualidades de “Asas da Loucura” é a meticulosa pesquisa realizada por Hoffman. Através de uma extensa análise de documentos, cartas e relatos históricos, o autor reconstrói com precisão os eventos que moldaram a vida de Santos-Dumont. Citando diretamente as palavras do próprio protagonista, o livro nos transporta para a época e nos permite compreender as emoções e os desafios enfrentados por ele.

Ao contrário das inúmeras biografias acerca da vida de Santos Dummont, esta, por sua vez, foi a primeira a retratar os feitos como sendo algo inédito, não desmerecidamente como estamos acostumados a ver em relação à invenção dos irmãos Wright acerca de um voo. O sonho de Dummont era que as pessoas fossem livres como pássaros nos céus, já o incentivo dos irmãos Wright eram totalmente opostos:

A motivação dos irmãos Wright ao desenvolver o avião era diferente da de SantosDumont. Eles não eram idealistas nem sonhavam reunir pessoas distantes umas das outras. Não buscavam emoções fortes nem romantizavam o prazer de voar, ou tinham uma certa espiritualidade aérea [...] Eles pretendiam construir aeronaves com intuito financeiro, e quando inicialmente o governo dos Estados Unidos recusou-se a financiá-los, eles não tiveram escrúpulos em se aproximar de militares estrangeiros.

A iniciativa dos homens em incluir aviões como arma de guerra durante a ascenção da primeira grande guerra mundial deixou Dummont extremamente triste e desmotivado com o uso de sua criação, que, por vez, estava sendo cogitada para um uso totalmente oposto ao qual se esperava em seu seio.

Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, quando era evidente que o avião poderia ser usado como uma arma de destruição em massa, Santos-Dumont foi o primeiro aeronauta a manifestar-se contra a militarização das aeronaves. Era uma voz solitária, conclamando os chefes de Estado a desativar suas bombas. Orville Wright não se juntou a esse apelo.

Durante a maior parte dos anos da primeira grande guerra mundial, Santos-Dumont permaneceu no Brasil, afastado do cenário aeronáutico internacional. No entanto, ele participou de conferências sobre aviação em Washington e Santiago, e concedeu algumas entrevistas à imprensa, nas quais tentou reivindicar o título de verdadeiro inventor do avião. Ele lembrava a todos que nenhum representante oficial de renomados aeroclubes havia testemunhado os voos dos irmãos Wright antes de ele decolar com seu 14-Bis.

No entanto, em meio à turbulência da guerra, suas declarações passaram despercebidas. Santos-Dumont também escreveu um opúsculo intitulado “O que eu vi, o que nós veremos”, no qual procurava justificar sua carreira e reafirmar suas conquistas. No entanto, tanto suas declarações quanto seus escritos eram mal-humorados e confusos. Ele não exibia mais a alegria de viver que o caracterizava e distorcia alguns fatos históricos. Por exemplo, ele mencionou erroneamente a data do prêmio Deutsch e afirmou que o voo inaugural de sua primeira aeronave ocorreu em uma tempestade de neve em fevereiro, quando, na verdade aconteceu em um dia tranquilo no final do verão. Ao longo da obra, Hoffman exibe uma escrita elegante e envolvente, capaz de cativar o leitor desde as primeiras páginas. Ele nos conduz pelas diversas etapas da vida de Santos-Dumont, desde seus primeiros experimentos com balões até suas conquistas revolucionárias na aviação. Com uma narrativa fluida e bem estruturada, o autor mantém o interesse do leitor em cada capítulo.


Diagnosticado com esclerose múltipla aos 36 anos, Santos-Dumont também ficou profundamente deprimido com o uso de suas invenções para bombardeios aéreos durante a Primeira Guerra Mundial. Infelizmente, ele cometeu suicídio em 1932. É um momento oportuno para lembrarmos desse notável pioneiro sul-americano que, há um século, usou sua mente fértil, engenhosidade e recursos provenientes de suas plantações de café brasileiras para criar as primeiras máquinas voadoras motorizadas.

Em suma, "Asas da Loucura: A extraordinária vida de Santos Dummont" é uma obra-prima biográfica que oferece uma visão profunda e envolvente da vida e das realizações de um dos maiores nomes da história da aviação. Com uma pesquisa minuciosa, uma narrativa envolvente e uma abordagem jornalística séria, Paul Hoffman nos presenteia com uma obra imperdível para os entusiastas da aviação e para aqueles que se interessam pela história de grandes mentes visionárias.

[RESENHA #509] Vale tudo - O som e a Fúria de Tim Maia, de Nelson Motta


Nelson Motta, em 2007, editou a biografia "VALE TUDO - O Som e a Fúria de Tim Maia", pela Objetiva, dirigida a todos os amantes da boa música e da história musical brasileira. Nelson Cândido Motta Filho, natural de São Paulo, nasceu em 29 de outubro de 1944. Aos seis anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro. É um renomado jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical e letrista. Ele biografou Tim Maia e Glauber Rocha, além de publicar várias outras obras, como "Noites Tropicais", os romances "Ao Som do Mar e à Luz do Céu Profundo", "O Canto da Sereia" e "Bandidos e Mocinhas", o livro de histórias "Força Estranha" e "Nova York é Aqui", todos pela editora Objetiva. Motta Filho também foi autor de "Memória Musical", pela editora Sulina.


Somente alguém como Nelson Motta, amigo íntimo e que trabalhou ao lado de Tim Maia, poderia retratar na obra toda a paixão deste brasileiro, conhecido como Sebastião Maia, mas que gostava de se intitular Tim Maia. Este livro visa captar os momentos criativos e talentosos da vida de Tim Maia, mas também expõe de forma aberta e sem reservas, as altas e baixas da sua vida pessoal conturbada.

Aos 17 anos, Tim deixou a Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, para iniciar sua aventura nos Estados Unidos. Ele só tinha um endereço de um americano que havia passado pelo restaurante de seu pai e nove dólares no bolso. Após muitas incertezas, Tim encontrou a família americana que procurava e foi acolhido como filho. No entanto, um ano depois ele decidiu abraçar seu sonho de independência e deixou a segurança da casa de seus anfitriões para morar sozinho com amigos durante o frio inverno americano. Essa jornada é narrada em 29 capítulos da obra.

O músico passou algum tempo nos Estados Unidos, percorrendo o país sem destino e tendo a oportunidade de conhecer o Rock and Roll americano, rhythm and blues e soul. No entanto, foi preso e deportado, regressando ao Brasil sem um dólar. Ele então contou uma história para encobrir sua deportação, dizendo que suas malas e presentes para todos sumiram no avião. Esse conhecimento adquirido na América permitiu que ele introduzisse esses estilos musicais no Brasil alguns anos mais tarde.

Ao chegar em São Paulo, ele percebeu que os músicos que havia dispensado de seu grupo quando cantava em bares da Barra da Tijuca, como Roberto Carlos e Erasmo Carlos, estavam sendo sucesso e sacudindo o país com a Jovem Guarda na TV. Decidido a encontrar seu lugar nesta cena, ele deixou sua cidade natal, o Rio de Janeiro, e foi para São Paulo.


Nos relatos de Nelson Motta, Tim Maia era conhecido por ter fama de encrenqueiro e maconheiro, o que geralmente o prejudicava. No entanto, também tinha fama de ser alguém que não tinha medo de expressar sua opinião. Vivendo em São Paulo, procurava trazer o rhythm and blues e o soul para a cena musical brasileira, mas seu esforço era em vão pois muitos músicos não conseguiam entender o que ele queria fazer. Esta luta, para conseguir que as pessoas compreendessem a mistura destes dois gêneros musicais com a batida brasileira, tornou-se um desafio para Tim Maia.

Tim, um gordinho, pobre e desconhecido, morava de favor em São Paulo com um cantor de sucesso da época. Enquanto isso, ele via meninas entrarem e saírem dos quartos do amigo e de seu produtor, várias, diariamente. No entanto, nenhuma delas queria ficar com ele, nem por dinheiro nem por favor. A sorte só mudou quando ele gravou a música "Não vou Ficar" com Roberto Carlos e finalmente alcançou o sucesso.

Tim saiu do sofá, onde ele sofreu por muito tempo, e compartilhou um quarto com seu amigo. Lá, eles encontraram um cartaz grande que trazia uma mulher saindo do mar. Essa imagem inspirou Tim a escrever uma canção que rapidamente se tornou famosa em todo o país. A música, intitulada Azul da Cor do Mar, falava sobre a vida e como é preciso entender que enquanto alguns estão sofrendo, outros estão rindo. A parte mais divertida era que essa parte do hit de Tim se referia a ele sofrendo no sofá e seus amigos rindo nos quartos.

Depois de anos no ostracismo, Tim finalmente se tornou uma estrela. Seus álbuns eram uma mistura inteligente de músicas sofisticadas, românticas e dançantes, que conquistaram o público. Ele ganhava muito dinheiro, mas gastava tudo rapidamente.

Tim Maia fazia uma loucura atrás da outra, xingava a Globo em todas as entrevistas, mas não deixava de frequentar os programas do Chacrinha. Quando a atração passou para o Faustão, foi anunciado como convidado, porém não compareceu. Faustão disse no ar que ainda dava tempo de Tim Maia acordar. Como ele não foi, a Globo resolveu proibir que qualquer programa da emissora chamasse o cantor.



TIM MAIA, do BRASIL, era conhecido por sua fúria e talento. Ele não se envergonhava de sua dependência de maconha, uísque e cocaína. Deu entrevistas fumando maconha, e quando a revista VEJA publicou que ele fumou durante toda a entrevista, ele não hesitou em brigar com ela. Infelizmente, isso o levou a acumular processos judiciais, brigas e escândalos.

A saúde e as finanças de Tim Maia começaram a decair e, em 15 de Março de 1998, aos 56 anos, ele partiu deixando saudades. Seu amigo Jorge Bem descreveu seu lado protetor e cuidadoso cantando sobre ele na música W/Brasil, de 1991, e o considerava como um síndico. Segundo Nelson Motta, Tim Maia viveu seu personagem até o último momento, sem conseguir se separar dele.

VALE TUDO O Som e a Fúria de Tim Maia, de Nelson Motta, é uma biografia completa que descreve o processo criativo do artista e a maneira como ele trouxe o rhythm and blues e o soul americanos à música popular brasileira. Além disso, é também uma narrativa rica e engraçada sobre a vida cheia de drogas, brigas e polêmicas de Tim Maia. O livro é, portanto, indispensável para entender a música popular brasileira dos anos 80 e 90, pois é descrita com muitos detalhes, e é também muito divertido de ler. Eu adorei o livro 'Vale Tudo, o Som e a Fúria de Tim Maia'. É uma leitura fascinante que conta a história de um dos maiores artistas de todos os tempos. O livro é bem escrito e abrange todos os principais aspectos da vida e carreira de Tim Maia, desde sua infância no Rio de Janeiro, até suas incríveis conquistas na música, passando por todos os altos e baixos de sua vida tumultuada. É um livro leal, franco e emocionante que certamente agradará aos fãs do cantor. Recomendo vivamente!
© all rights reserved
made with by templateszoo