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A carta entregue por Mr. Darcy à Elizabeth Bennet


Na manhã seguinte, ao despertar, Elizabeth encontrou no seu espírito os mesmos problemas e meditações que, na véspera, o sono acabara por vencer. Ainda não se recompusera da surpresa. Era-lhe impossível pensar noutra coisa; e, incapaz de encontrar uma ocupação que a distraísse, resolveu, logo após o pequeno-almoço, fazer um pouco de exercício ao ar livre. Encaminhara-se para o seu passeio favorito, quando a deteve a lembrança de que o Sr. Darcy costumava por lá aparecer, e, em vez de penetrar no parque, Elizabeth tomou a azinhaga que o bordejava. A cerca do parque acompanhava a estrada de um dos lados e em breve ela passou por um dos portões.

Após percorrer por duas ou três vezes aquele trecho da azinhaga, sentiu-se tentada, pela beleza da manhã, a parar a um dos portões e contemplar o parque. Durante as cinco semanas que permanecera no Kent, uma grande transformação se operara, e cada dia as árvores ficavam mais verdes. Elizabeth preparava-se para continuar o passeio, quando, no pequeno bosque que limitava o parque, avistou de relance um homem caminhando na sua direcção. Receando que se tratasse do Sr. Darcy, Elizabeth tratou de se afastar, mas a pessoa já se encontrava suficientemente perto para poder vê-la. Apressando o passo, essa pessoa aproximou-se e pronunciou o nome de Elizabeth. Esta estava de costas, mas, ao ouvir o seu nome, embora reconhecesse a voz do Sr. Darcy, voltou a acercar-se do portão. Ele, do outro lado, fizera o mesmo, e, estendendo-lhe uma carta, que ela instintivamente aceitou, disse-lhe com ar altivo:

- Andei pelo bosque na esperança de a encontrar. Quer dar-me a honra de ler esta carta? - E, fazendo uma ligeira vénia, voltou-se e partiu.

Sem qualquer expectativa de prazer, mas com grande curiosidade, Elizabeth abriu a carta e, com um espanto sempre crescente, viu que o envelope continha duas folhas de papel, inteiramente preenchidas por uma letra apertada. Prosseguindo no seu passeio pela alameda, Elizabeth começou a ler. A carta estava datada de Rosings, das oito horas da manhã, e constava do seguinte:

Não fique alarmada, minha senhora, ao receber esta carta, pela apreensão de que ela contenha a repetição daqueles sentimentos ou a renovação daquelas propostas que ontem à noite tanto a maçaram. Escrevo-lhe sem qualquer intenção de a aborrecer, ou de me humilhar, insistindo em exprimir esperanças de que, para a felicidade de ambos, não poderão ser esquecidas cedo demais; e o esforço que esta carta poderá representar, para mim ao escrevê-la e para si ao lê-la, teria sido poupado, acaso o meu carácter não exigisse que ela fosse escrita e lida. Necessito, pois, que me perdoe a liberdade com que exijo a sua atenção; sei que os seus sentimentos me a concederão com relutância, mas não posso deixar de o fazer.


Duas foram as acusações que ontem à noite me fez, diferentes tanto na natureza como pela sua importância. Acusou-me, primeiro, de ter separado o Sr. Bingley de sua irmã, indiferente aos sentimentos de ambos; e, segundo, de ter arruinado a possibilidade imediata e as probabilidades futuras do Sr. Wickham, desafiando abertamente quaisquer direitos, a própria honra e a humanidade. Ter repudiado voluntária e gratuitamente o companheiro da minha infância, o favorito declarado de meu pai, um rapaz que dependia exclusivamente da nossa protecção e a quem esta fora prometida, seria uma perversidade incomparavelmente mais grave do que a separação de duas pessoas cuja afeição, embora verdadeira, nunca poderia ter crescido excessivamente durante aquelas poucas semanas que estiveram juntas. Espero, de futuro, estar salvaguardado da severidade das censuras que me foram feitas com tanta veemência sobre estes dois casos, após a leitura da seguinte explicação dos meus actos e seus motivos. 

Se nesta minha exposição me vir na iminência de exprimir sentimentos que a possam ofender, apenas me resta participar-lhe o meu sincero pesar. A necessidade a isso me obriga - e quaisquer outras desculpas seriam absurdas. Pouco tempo depois da nossa chegada ao Hertfordshire, percebi, juntamente com outras pessoas, que Bingley preferia a sua irmã mais velha a qualquer outra moça na região. Porém, foi só por ocasião do baile em Netherfield que pela primeira vez receei que ele se apaixonasse seriamente. Já várias vezes o vira apaixonado. No baile, enquanto dançava com a menina, soube, através da informação acidental de Sir William, que as atenções de Bingley para com a sua irmã tinham dado azo a um rumor geral acerca do casamento de ambos. Sir William fez-lhe referência como a um acontecimento positivo, do qual só a data era incerta. A partir desse momento dediquei toda a minha atenção à atitude do meu amigo; e reparei que a inclinação dele pela Menina Bennet era mais evidente do que qualquer uma das que lhe tinha visto anteriormente. Observei também a sua irmã. O olhar e as maneiras eram francos, alegres e atraentes como sempre, mas sem qualquer sintoma especial de afeição, o que definitivamente me convenceu de que, embora ela aceitasse as atenções de Bingley com prazer, não as provocava porque participasse do mesmo sentimento. Aqui, se a menina não se enganou, enganei-me eu. O seu conhecimento íntimo de sua irmã tornará mais provável última hipótese. Nesse caso, se o meu erro me levou a inflingir um desgosto a sua irmã, o seu ressentimento não é injustificado.  Porém, nada me impedirá de afirmar que a serenidade do rosto de sua irmã e a tranquilidade dos seus modos eram tais que trariam ao observador mais perspicaz a convicção de que, apesar de toda a amabilidade do seu temperamento, o coração não era dos mais fáceis de atingir. É certo que desejava acreditar na indiferença dela, mas ouso afirmar que as minhas investigações e decisões não são geralmente influenciadas pelas minhas esperanças ou receios. Não foi porque o desejasse que acreditei na indiferença da sua irmã, mas, simplesmente, porque cheguei a esta convicção imparcial, e ela é tão sincera quanto o meu desejo. As minhas objecções contra tal casamento não foram apenas aquelas que ontem à noite lhe expus e que, no meu caso, exigiram toda a força da paixão para serem vencidas; a desigualdade social não representaria um mal tão grande para o meu amigo como para mim. Mas existiam outras causas para a minha resistência; causas que, embora ainda existentes e idênticas para ambos os casos, eu tentei esquecer porque não diziam imediatamente respeito a mim. Tais causas necessitam ser mencionadas, embora sumariamente. A situação da família de sua mãe, se bem que pouco recomendável, nada era em comparação com aquela falta total de delicadeza tão frequente e quase permanentemente demonstrada por tal senhora, pelas suas três irmãs mais jovens e por vezes até pelo seu pai. Perdoe-me. Custa-me ofendê-la. Contudo, qualquer que seja o aborrecimento que os seus parentes mais próximos lhe possam causar ou a tristeza que a presente descrição não deixará de lhe suscitar, espero que a seguinte reflexão lhe sirva de consolo: que o facto universalmente reconhecido de que tanto a menina como a sua irmã mais velha sempre se comportaram de modo a evitar uma censura semelhante é o melhor elogio que se poderá fazer à sensatez e ao carácter de ambas. Acrescentarei apenas que tudo o que se passou naquela noite veio confirmar a minha opinião sobre todas as pessoas em questão e fortalecer a minha resolução de proteger o meu amigo de uma aliança que eu considerava altamente desastrosa. Ele deixou Netherfield no dia seguinte, como decerto está lembrada, com a intenção de regressar em breve. Devo agora explicar qual a minha interferência no caso. A inquietude das irmãs de Bingley fora igualmente despertada e logo descobrimos a coincidência dos nossos sentimentos a tal respeito; e, convencidos da urgência em afastar o irmão, decidimos acompanhá-lo a Londres. Foi o que fizemos, e não perdi tempo em revelar ao meu amigo os inconvenientes da sua escolha. Descrevi-lhos e frisei-os com toda a gravidade. No entanto, por mais que esta advertência possa ter abalado a sua resolução, não creio que ela teria sido suficiente para impedir o casamento, se não tivesse sido apoiada pela afirmação, que não hesitei em fazer, de que a sua irmã lhe era indiferente. Ele acreditara até àquele momento que a Menina Jane correspondia sinceramente à sua afeição, senão com igual intensidade. Mas Bingley é por natureza muito modesto e comovedoramente dependente da minha opinião. Convencê-lo, portanto, de que ele estava enganado, não foi tarefa difícil. Persuadi-lo de voltar ao Herfordshire, após ter firmado o primeiro ponto, foi coisa de um instante. Não me arrependo de o ter feito. Existe apenas uma parte da minha conduta que não me satisfaz inteiramente; pois condescendi em usar de certos artifícios para esconder de Bingley o facto de sua irmã se encontrar em Londres. Sabia dessa presença, bem como a Menina Bingley, mas o irmão desta ainda agora o ignora. É, talvez, provável que eles se encontrassem sem outras consequências; mas o seu afecto não me pareceu suficientemente extinto para que ele pudesse ver sua irmã sem correr algum perigo. Talvez tal encobrimento, tal subterfúgio, seja indigno de mim. Contudo, é um facto consumado e assistido das melhores intenções. Sobre este assunto nada mais se me oferece dizer-lhe, nem outras explicações a dar-lhe. Se acaso causei desgosto a sua irmã, foi sem saber que o fiz, e, embora os motivos que inspiraram a minha conduta lhe pareçam a si naturalmente insuficientes, não vejo ainda razões para condená-los. Quanto à outra acusação que me foi feita, a mais grave e a que diz respeito ao Sr. Wickham, só poderei refutá-la revelando-lhe a história da sua relação com a minha família. Ignoro se ele formulou alguma acusação particular à minha pessoa; mas acerca da verdade do que vou relatar poderei indicar-lhe mais de uma testemunha insuspeita. O Sr. Wickham é filho de um homem muito respeitável, que durante vários anos geriu os bens da propriedade de Pemberley e cuja conduta irrepreensível no desempenho do seu cargo mereceu naturalmente a gratidão de meu pai, que se reflectiu sobretudo em George Wickham, seu afilhado, para com o qual se mostrou de uma generosidade sem limites e lhe devotou grande afeição. Meu pai pagou-lhe os estudos num colégio e mais tarde em Cambridge, auxílio este deveras importante, pois o pai do Sr. Wickham, que as extravagancias da esposa privavam quase sempre do necessário, não estava em condições de dar ao filho uma educação liberal. Meu pai não só apreciava a companhia de George Wickham, cujas maneiras, aliás, eram sempre muito cativantes, como tinha por ele a maior admiração e, alimentando a esperança de que o rapaz abraçasse a carreira eclesiástica, tencionava reservar-lhe um lugar na mesma. Quanto a mim, desde há muito tempo que me desiludira a respeito dele. As suas más inclinações, a falta de escrúpulos, que ele tinha o cuidado de esconder do seu melhor amigo, não poderiam passar despercebidas a um rapaz da sua idade, que o observava e tinha a oportunidade de o ver em momentos de descuido, coisa que ao Sr. Darcy era totalmente impossível. De novo me vejo forçado a magoá-la - até que ponto, só a menina o poderá dizer. Mas quaisquer que sejam os sentimentos que o Sr. Wickham lhe possa ter inspirado, a suspeita que alimento acerca desses sentimentos não me impedirá de lhe revelar o verdadeiro carácter de tal pessoa, e apenas constituirá mais um motivo. O meu excelente pai morreu há cerca de cinco anos e a sua afeição pelo Sr. Wickham manteve-se tão firme até ao fim que nas suas últimas vontades me recomendou que me encarregasse de velar pelo bem-estar do seu afilhado e, acaso ele sempre se ordenasse, providenciasse para que ele fosse ocupar um importante posto, mal este vagasse. Deixou-lhe também um legado de mil libras. O pai dele não sobreviveu muito tempo ao meu, e meio ano após estes acontecimentos recebi uma carta do Sr. Wickham em que ele me informava ter decidido não tomar ordens e me pedia o adiantamento da compensação pecuniária pelo lugar que ele nunca ocuparia. Tencionava, acrescentava ele, dedicar-se ao estudo de Direito e esperava que eu compreendesse que o rendimento das mil libras não bastariam para tal. Apesar do meu desejo em acreditar na sua sinceridade, não o consegui; mas, mesmo assim, mostrei-me favorável à sua proposta. Eu sabia que o Sr. Wickham nunca enveredaria pela carreira eclesiástica. O assunto foi em breve arrumado. Ele desistiu de toda a protecção relativa à sua entrada na Igreja, mesmo se algum dia estivesse em situação de recebê-la, e aceitou em troca a quantia de três mil libras. A partir daí, nada tínhamos que dizer um ao outro. O que eu sabia a respeito dele era suficiente para não o desejar como amigo. Não o convidava para Pemberley, nem procurava a sua companhia na capital. Aí instalado, creio que praticamente sempre, a sua pretensão de estudar Direito não passou de um subterfúgio e achando-se nessa altura liberto de qualquer obrigação, entregou-se a uma vida de indolência e dissipação. Durante três anos poucas notícias tive dele; mas, quando faleceu a pessoa que ocupava o posto que lhe fora destinado, ele tornou a escrever-me, solicitando a sua apresentação para o dito lugar. A sua actual situação, dizia ele, e o que não me custou a acreditar, era bastante precária. Descobrira que o estudo de Direito era pouco proveitoso e estava agora absolutamente resolvido a tomar ordens, acaso eu o apresentasse para o posto que acabara de vagar, coisa de que ele não duvidava, pois estava informado de que não havia outro pretendente e confiava que eu tivesse presente as intenções do meu venerando pai; creio que não me censurará por lhe ter recusado tal pretensão e rejeitado todas as suas tentativas no mesmo sentido. O seu ressentimento foi proporcional à situação desesperada em que se encontrava - e mostrou-se, sem dúvida, tão violento no ataque que à minha pessoa fez na opinião dos outros como nas recriminações que me dirigiu. Após esse período, todas as relações de mera formalidade foram cortadas. Como ele viveu não sei. Mas no Verão passado tornou a atravessar-se no meu caminho, e da forma mais repugnante. Devo agora mencionar certas circunstâncias que eu mesmo desejaria esquecer e que apenas uma obrigação tão forte como a actual me levam a revelá-las a alguém. Depois de ter dito isto, confio inteiramente na sua discrição. A minha irmã, dez anos mais jovem do que eu, foi deixada em tutela ao sobrinho da minha mãe, o coronel Fitzwilliam, e a mim próprio. Há cerca de um ano, ela saiu do colégio e foi morar em Londres, na companhia de uma senhora encarregada de superintender na sua educação. No

Verão passado, ela e essa senhora foram para Ramsgate. O Sr. Wickham, obedecendo sem dúvida a um plano, partiu para o mesmo lugar; descobriu-se depois que houvera um entendimento prévio entre ele e a Sr.a Younge, sobre cujo carácter nos enganámos desgraçadamente. Com o auxílio e a conivência de tal pessoa, George Wickham conseguiu captar de tal modo as boas graças de Georgiana, cujo coração extremamente afectivo conservava ainda viva a impressão da bondade com que ele a tratara em criança, que ela se convenceu de que o amava realmente e consentiu em ser raptada. Ela tinha então apenas quinze anos, o que lhe servirá de desculpa; e, após ter constatado a sua imprudência, tenho o consolo de poder acrescentar que soube disto por ela própria. Cheguei a Ramsgate, inesperadamente, um ou dois dias antes da projectada fuga, e Georgiana, incapaz de suportar a ideia de desgostar e ofender um irmão que ela considerava quase como um pai, confessou-me tudo. Pode bem imaginar como me senti e como agi. A fim de não prejudicar a reputação da minha irmã e não ofender os seus sentimentos, abstive-me de qualquer acto de represália em público; mas escrevi ao Sr. Wickham, que partiu imediatamente. Quanto à Sr.a Younge, não hesitei em despedi-la. O principal objectivo do Sr. Wickham era, sem dúvida, apoderar-se da fortuna de minha irmã, que é de trinta mil libras; mas não posso deixar de pensar que o desejo de se vingar de mim tenha também influído fortemente nele. A sua vingança seria, de facto, completa.

Esta é, minha senhora, a narrativa fiel dos acontecimentos que nos dizem respeito a ambos; e, se não a rejeitar como absolutamente falsa, espero que me sirva de atenuante para a crueldade com que agi contra o Sr. Wickham. Não sei de que modo, nem as falsidades de que ele usou para a atrair à sua causa; mas o êxito por ele alcançado não é de estranhar. Dada a sua ignorância total dos factos e das personagens, não só não estava em seu poder desmascarar essas falsidades, como, além de tudo, o seu temperamento não é dado à desconfiança. Talvez se surpreenda por eu não lhe ter contado tudo isto ontem à noite, mas naquele momento não tinha suficiente domínio sobre mim mesmo para decidir o que devia e o que não devia revelar. Quanto à verdade de tudo o que aqui ficou relatado, posso apelar particularmente para o testemunho do coronel Fitzwilliam, que, dado o nosso parentesco e constante intimidade, e sobretudo a sua qualidade de executor testamentário de meu pai, foi posto necessariamente a par de todos os detalhes concernentes a esses acontecimentos. Se acaso a antipatia que por mim nutre a impedir de dar o devido valor às minhas asserções, o mesmo não acontecerá em relação ao meu primo, e, para que haja a possibilidade de consultá-lo, procurarei entregar-lhe esta carta logo de manhã. Acrescentarei apenas, Deus a abençoe! - Fitzwilliam Darcy.

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A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.

Orgulho & Preconceito: As principais diferenças entre filme e obra


O livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, publicado em 1813, é um dos clássicos da literatura inglesa, que narra a história de amor entre Elizabeth Bennet e Mr. Darcy, em meio às questões de classe, moral e casamento na sociedade da época. O livro é narrado em terceira pessoa, mas com foco na perspectiva de Elizabeth, que é a protagonista e a mais inteligente e independente das cinco filhas do Sr. e da Sra. Bennet. O livro explora os conflitos entre o orgulho de Elizabeth, que se ofende com a arrogância de Mr. Darcy, e o preconceito de Mr. Darcy, que se sente superior à família de Elizabeth por sua origem e fortuna. O livro também acompanha as histórias de amor e desilusão das outras irmãs Bennet, especialmente Jane, a mais velha e mais bonita, que se apaixona por Mr. Bingley, o amigo de Mr. Darcy.

O filme Orgulho e Preconceito, de 2005, dirigido por Joe Wright, é uma das várias adaptações cinematográficas do livro, que tenta trazer a história para o público contemporâneo, com algumas mudanças e simplificações. O filme é estrelado por Keira Knightley como Elizabeth Bennet e Matthew Macfadyen como Mr. Darcy. O filme altera o período histórico do livro, de 1813 para 1790, para mostrar a influência da Revolução Francesa na Inglaterra e para usar um estilo de vestuário mais natural e menos rígido do que o da Era Regência. O filme também muda a linguagem do livro, que é mais formal e refinada, para uma linguagem mais coloquial e acessível, que aproxima os personagens do espectador. O filme ainda acrescenta cenas que não estão no livro, como as que mostram o ponto de vista de Mr. Darcy, para torná-lo mais humano e simpático.

O filme também corta ou condensa alguns personagens e subtramas do livro, para se adequar ao tempo e ao ritmo do cinema. Por exemplo, o filme elimina os personagens do Sr. e da Sra. Hurst, os cunhados de Mr. Bingley, que são pouco relevantes para a trama principal. O filme também reduz a importância da personagem de Lady Catherine de Bourgh, a tia de Mr. Darcy, que é uma antagonista mais presente e influente no livro. O filme ainda simplifica a história de Lydia Bennet, a irmã mais nova e mais imprudente de Elizabeth, que foge com o vilão Mr. Wickham, causando um escândalo na família. No livro, essa história é mais complexa e envolve a intervenção de Mr. Darcy para resolver a situação, o que contribui para a mudança de opinião de Elizabeth sobre ele.

O filme, portanto, é uma adaptação que privilegia o romance entre Elizabeth e Mr. Darcy, em detrimento dos outros aspectos do livro, como a crítica social, o humor irônico e a profundidade psicológica dos personagens. O filme busca ser mais realista e emocionante, enquanto o livro é mais sutil e sofisticado. O filme é uma obra que se inspira no livro, mas que tem sua própria identidade e proposta. O filme pode ser visto como uma homenagem ao livro, mas também como uma interpretação livre e criativa da história de Jane Austen.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA OBRA

Eu posso te falar um pouco sobre a história de Jane Austen, uma das mais famosas escritoras da literatura inglesa, que viveu entre 1775 e 1817. Ela escreveu seis romances, entre eles Orgulho e Preconceito, que retratam a vida da classe média alta da sua época, com ênfase nas questões de amor, casamento, moral e classe social. Ela usou uma linguagem elegante, irônica e realista, que criticava os costumes e as convenções da sociedade inglesa do final do século XVIII e início do século XIX.

Jane Austen nasceu em uma família de clérigos e recebeu uma educação básica, mas leu muito e escreveu desde cedo. Ela nunca se casou, mas teve alguns pretendentes, entre eles Tom Lefroy, que inspirou o personagem de Mr. Darcy. Ela viveu com seus pais e sua irmã Cassandra, que foi sua confidente e amiga. Ela também teve uma boa relação com seus irmãos, especialmente Henry, que a ajudou a publicar seus livros.

Jane Austen enfrentou alguns problemas e dificuldades em sua vida, como a falta de reconhecimento literário, a dependência financeira da família, as mudanças de residência, as guerras com a França, a morte de seu pai e sua própria doença, que a levou à morte aos 41 anos. Ela também teve que lidar com as limitações impostas às mulheres da sua época, que tinham pouca autonomia e liberdade, e que eram julgadas principalmente pela sua aparência, fortuna e casamento.

Os romances de Jane Austen refletem o contexto histórico e social em que ela viveu, que foi marcado por transformações políticas, econômicas e culturais. Ela testemunhou a Revolução Americana, a Revolução Francesa, as Guerras Napoleônicas, o início da Revolução Industrial, o surgimento do Romantismo, os movimentos abolicionistas e feministas, entre outros eventos. Ela também retratou os costumes, as modas, as leis, as religiões, as artes e as ciências da sua época, mostrando como eles influenciavam a vida das pessoas.

Os personagens de Jane Austen são complexos e variados, e representam diferentes tipos e classes sociais. Ela criou protagonistas femininas fortes, inteligentes e independentes, como Elizabeth Bennet, Emma Woodhouse e Anne Elliot, que se destacam por sua personalidade e opinião. Ela também criou personagens masculinos atraentes, nobres e sensíveis, como Mr. Darcy, Mr. Knightley e Capitão Wentworth, que se apaixonam pelas heroínas. Ela ainda criou personagens secundários divertidos, caricatos e críticos, como Mr. Collins, Mrs. Bennet e Lady Catherine de Bourgh, que representam os vícios e defeitos da sociedade.

As implicações históricas da construção do enredo de Orgulho e Preconceito estão relacionadas à forma como Jane Austen abordou os temas do amor, do casamento, da classe social, da moral e da educação na sua época. Ela mostrou como o orgulho e o preconceito podiam atrapalhar ou favorecer o relacionamento entre as pessoas, e como o amor podia superar as barreiras impostas pela sociedade. Ela também mostrou como o casamento era uma questão de sobrevivência e de status para as mulheres, e como elas podiam escolher entre se casar por conveniência ou por afeto. Ela ainda mostrou como a classe social determinava o comportamento, o prestígio e o poder das pessoas, e como elas podiam ascender ou decair socialmente. Ela também mostrou como a moral e a educação influenciavam o caráter, a conduta e o julgamento das pessoas, e como elas podiam ser virtuosas ou viciosas, racionais ou emocionais, cultas ou ignorantes.

Assim, Jane Austen criou uma obra que é ao mesmo tempo um retrato fiel e uma crítica sutil da sua época, que revela os conflitos, os valores e as mudanças da sociedade inglesa do final do século XVIII e início do século XIX. Ela também criou uma obra que é atemporal e universal, que encanta e emociona os leitores de todas as épocas e lugares, que se identificam com os personagens, as situações e as lições de Orgulho e Preconceito.

AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A OBRA X FILME

O filme Orgulho e Preconceito, de 2005, dirigido por Joe Wright, é uma adaptação do romance homônimo de Jane Austen, que fez algumas mudanças para tornar a história mais realista e romântica. O filme tem como protagonistas Keira Knightley, como Elizabeth Bennet, e Matthew Macfadyen, como Mr. Darcy. O filme segue a trama principal do romance, que é o amor entre Elizabeth e Mr. Darcy, que enfrentam as barreiras do orgulho, do preconceito, da classe social e da moral. O filme foi elogiado por combinar elementos tradicionais de filmes de época com uma linguagem e uma estética mais modernas.

O filme altera o período histórico do romance, de 1813 para 1790, para mostrar uma Inglaterra mais rural e menos refinada, influenciada pela Revolução Francesa. O filme também usa uma linguagem mais simples e coloquial do que o romance, que é mais formal e elegante, para aproximar os personagens do público. O filme ainda acrescenta cenas que não estão no romance, como as que revelam os sentimentos de Mr. Darcy, para torná-lo mais humano e atraente.

O filme corta ou simplifica alguns personagens e subtramas do romance, para se adaptar ao tempo e ao ritmo do cinema. Por exemplo, o filme exclui os personagens do Sr. e da Sra. Hurst, os cunhados de Mr. Bingley, que não são essenciais para a história. O filme também diminui a importância da personagem de Lady Catherine de Bourgh, a tia de Mr. Darcy, que é uma antagonista mais forte e presente no romance. O filme ainda resume a história de Lydia Bennet, a irmã mais nova e mais irresponsável de Elizabeth, que foge com o vilão Mr. Wickham, causando um escândalo na família. No romance, essa história é mais detalhada e envolve a ajuda de Mr. Darcy para resolver o problema, o que faz Elizabeth mudar de opinião sobre ele.

O filme, portanto, é uma adaptação que prioriza o romance entre Elizabeth e Mr. Darcy, em detrimento dos outros aspectos do romance, como a crítica social, o humor irônico e a profundidade psicológica dos personagens. O filme busca ser mais realista e emocionante, enquanto o romance é mais sutil e sofisticado. O filme é uma obra que se inspira no romance, mas que tem sua própria identidade e proposta. O filme pode ser visto como uma homenagem ao romance, mas também como uma interpretação livre e criativa da história de Jane Austen. O filme é uma adaptação melhor do que as anteriores, pois consegue captar o espírito e a essência do romance, ao mesmo tempo que o atualiza e o renova.


MUDANÇAS DE TRAJES E DAS AMBIENTAÇÕES

Joe Wright optou por ambientar Orgulho e Preconceito 2005 na década de 1790, em vez de 1813, que foi o ano em que o romance de Jane Austen foi publicado. Ele fez isso para mostrar o contraste entre a Inglaterra e a França pós-revolucionária e explorar como a aristocracia inglesa estava assustada com as mudanças sociais 


AS DIFERENÇAS NA FAMÍLIA BENNET

No livro de Austen, a família Bennet é nobre, mas não tem muita sorte. Eles ainda têm alguma riqueza e status na sociedade. No filme Orgulho e Preconceito (2005), a família Bennet parece muito mais pobre do que no livro. Isso se deve em parte à escolha de Joe Wright de fugir da imagem formal da Era da Regência e mostrar a família vivendo em um lugar mais rural. As irmãs Bennet vestem roupas velhas e descombinadas, e a casa da família está mal cuidada.

O filme também mudou a personalidade do Sr. Bennet para torná-lo mais agradável. Ele é um pai carinhoso e atento, que se diverte com as loucuras da Sra. Bennet. A família Bennet pode ser bagunçada, mas no filme eles se amam muito. Porém, Jane Austen mostra a família como infeliz e problemática. Ao colocar a família Bennet em uma situação financeira difícil, mas mostrando o afeto e a união entre eles, o filme de Joe Wright os torna mais próximos do público de hoje.


MUDANÇAS NO FINAL DO ENREDO

Joe Wright decidiu terminar o filme Orgulho e Preconceito de 2005 de forma diferente do livro de Jane Austen. Ele não mostrou o casamento de Elizabeth e Darcy, mas sim uma cena romântica entre eles em Pemberley, depois de casados. Esse final é parecido com o de Fire Island , uma versão LGBTQ+ do livro.

Essa escolha provocou a indignação da Sociedade Jane Austen da América do Norte, que criticou o filme antes de ele estrear. A cena também foi retirada do filme na Inglaterra, por causa das reclamações do público que assistiu antes (via The New York Times ). Em vez disso, o filme na Inglaterra mostrou uma cena em que o Sr. Bennet dá a sua bênção para o casamento de Elizabeth e Darcy, seguindo o último capítulo do livro que conta como eles ficaram depois do final da história. Mas depois o público pediu para ver o final verdadeiro, e o filme voltou a ter a cena original de Wright.

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