FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
SOBRE O AUTOR
O autor da obra Pedagogia do Oprimido Paulo Freire, é considerado um professor de renome, pois suas obras possui valor relevante a partir das questões abordadas em relação a transformação da nossa realidade sociocultural, bem como ao fato de evitar e combater a marginalização da cultura brasileira através da promoção à liberdade por parte da classe oprimida. Sendo a educação utilizada como promotora da liberdade.
Paulo Freire se destacou como professor na Universidade Federal de Pernambuco, foi consultor especial de assuntos da educação no Ministério da Educação e Cultura, foi ainda contratado pela Unesco onde formulou o plano de educação em Massa durante a vigência do governo Frey.
Freire elaborou novos métodos de ensino e publicou obras literárias importantes para a área de educação.
OBJETIVOS DA OBRA
Essa obra é destinada para profissionais da área educacional, pode ainda ser utilizada como fonte de pesquisa universitária e consultas acadêmica. Possui como objetivo descrever e relatar os métodos de ensino vigentes e as correção cabíveis. Quanto aos mecanismos presentes nessa obra, esses priorizam a promoção da conscientização referente ao tipo de educação existente em vigor, pondo em evidencia a libertação do oprimido, através do combate a opressão, mediante a inserção de um novo método de ensino mais conscientizado e humanista.
ANÁLISE DA OBRA
O livro Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, apresenta análise acerca da pedagogia voltada para a questão do opressor em detrimento do oprimido. Propõe a inserção de uma metodologia de ensino critico voltada para o combate a opressão. Paulo Freire desenvolve uma crítica sobre o modelo de educação vigente, a qual reproduz um modelo alienatório do oprimido. Ressalta a autonomia do sujeito em relação a tomada de consciência do sujeito como liberto e autor de sua própria história. Vale ressaltar que essa obra mesmo antiga, continua dando respaldo para a nossa sociedade atual, pois aborda e interroga questões da atualidade.
Paulo Freire critica o modelo de educação produzido nas escolas, seguido de conformismo, de autoritarismo (ausência de diálogo) e ainda de inflexibilidade. Juntamente com a crítica ele traz a ideia contraditória do opressor X oprimido, sendo o professor o responsável por “desintoxicar a opressão” através de conceitos humanizadores que unem a ação e a reflexão. Pois esse processo deve acontecer com cautela para que não se inverta a posição entre opressores e oprimidos. Dessa maneira o processo de liberdade deve ser percebido e sentido por ambas as partes. A ação libertadora do estado de opressão é uma ação social, por isso não pode ocorrer de maneira isolada, nesse caso o sujeito é um ser social e sua consciência e transformação do meio onde vive deve acontecer em contato com a sociedade.
Com o método de alfabetização Paulo Freire o homem sai da condição de depósito de informações e passa ser visto como ser pensante capaz de construir uma consciência reflexiva, com esse método o ato do aprendizado passa a ser uma construção crítica promotora de cultura, e desse modo a alfabetização desperta a ação de aprender a construir as palavras e não apenas as reproduzi-las.
O primeiro capítulo da obra “Pedagogia do oprimido” intitulado “justificativa da pedagogia do oprimido”, faz jus ao título, pois trata a questão do oprimido a partir de sua ótica, sua defesa de forte pressão política em um momento histórico. Tendo em vista que demonstra a existência das massas dominantes em contraposição com os excluídos e manipulados. Freire ressalta que o fator epistemológico e a luta pela ética e justiça para os oprimidos fugia dos padrões conformistas, sendo assim essa obra representa a busca pela liberdade humanizadora e justa, a partir da relação entre a ética e a educação, através da práxis educativa. Nesse capítulo Paulo Freire demonstra dois conceitos fundamentais, os quais são: a revolução e a contradição. O conceito de revolução no campo da opressão, reflete a buscar por mudanças já através da concepção de contradição o opressor possui consciência de seu papel e o oprimido conhece sua condição subordinação pelo outro, e com isso gera a consciência própria e do outro.
A partir da descoberta da opressão promove-se a tomada de consciência e transformação na prática. Com isso precisa-se ter cautela quanto ao fato de não se criar novos opressores e oprimidos, pois se o oprimido ao adquirir uma visão legitima do mundo, e promover revoluções e consequente mudanças essa imposição provocará novos dependentes, sendo assim surge a teoria contraditória, pois não há libertação solitária nesse sentido o opressor e oprimido deveriam se unir para alcançar na reflexão e na ação a autonomia para reconstrução da realidade.
No segundo capítulo existe a concepção de educação bancária, na qual o professor considera o seu aluno incapaz da construção do conhecimento próprio, fazendo-o de depositário da educação, desse modo o aluno se torna instrumento de opressão e panas reproduz mecanicamente as informações recebidas. Para se evitar tal problemática seria necessário ensinar o aluno a pensar e a problematizar sua realidade, como um ser social em formação contínua.
Hierarquização e distância do professor/aluno são características da educação bancária, nesse modelo de educação o professor aliena, pois se coloca como sendo o único detentor do saber. Esse modelo não permite que a construção do conhecimento seja feita através do processos de busca e sim mediante o recebimento, armazenamento e reprodução de informações. Sem levar em conta a história de vida, a cultura, a linguagem e com isso promove a fuga da realidade.
Freire afirma que para evitar a fuga da realidade se faz necessário a prática do diálogo libertário de forma contínua promovendo um elo entre o conhecimento adquirido tanto pelo professor quanto pelo aluno. Sendo assim para o autor ensinar a pensar e problematizar sobre a realidade vivida é a maneira mais eficaz de se reproduzir conhecimento.
O método de educação libertadora proposto por Paulo Freire promove a interação entre o ensino e aprendizagem, construídos pelo professor e aluno, os quais se tornam sujeitos do processo de aprendizagem através de um compartilhamento de experiências ou sistema de troca, pois ao ensinar se aprende e aprendendo se ensina também, ou seja, ambos ensinam e aprendem a refletir criticamente.
O capítulo III trata da “Dialogicidade – essência da educação como prática de liberdade” nele o diálogo é visto como palavra chave para a promoção da educação como prática da liberdade. Nesse modelo a comunicação é expressa por palavras e ações, de modo que a verdade precisa ser constante nos processos de educação, tanto por parte do aluno quanto do professor. De acordo com o tema, o diálogo no processo educativo se faz fator crucial. E esse deve ser pensado desde o preparo das aulas na programação dos conteúdos levando em conta de maneira humanitária a historicidade do aluno, bem como relacionando com o cotidiano dos mesmos através de conexão com o real. Paulo Freire adverte que o ato de ensinar e aprender é uma constante investigação, porém ele ressalta que deve haver cuidado para que o homem que não se torne, um mero objeto de investigação, que aprenda sem perder sua essência de ser humano.
No quarto e último capítulo se apresenta a ideia da teoria da ação antidialógica, por meio da qual se dá a pratica da opressão, apresenta ainda a importância do homem como ser pensante de práxis ou consciência de transformação. Nesse capítulo Freire critica a teoria antidialógica, a qual visa o status da classe dominadora desqualificando a identidade dos oprimidos.
A revolução promovida pela união da massa de oprimidos em sua busca de transformação através de ações pedagógicas promovem renovações sociais,
O autor cita que são quatro os elementos utilizados para a dominação dos oprimidos, são eles: conquista, nesse método o opressor impõem sua cultura sobre o opressor; A divisão das massas facilita ao opressor uma melhor dominação, pois, o povo unido representa perigo de desordem social, discurso feito pelo dominante oprime; já na manipulação o opressor controla e conquistam as massas oprimidas objetivando a realização própria; outro mecanismo de opressão é a invasão cultural, no qual a minoria dominante impõem sua visão aos demais (oprimidos).
Por fim, Paulo Freire encerra esse capítulo com a inserção dos elementos da ação dialógica que são: a colaboração (respeito a cultura), união (ganhar força para transformação), organização (liberdade para os oprimidos) e síntese cultural (compreensão e confirmação da dialeticidade, permanência-mudança), tais fatores são fundamentais para garantir a transformação.
Paulo Freire nessa obra traz conceitos pedagógicos que favorece a ação do educador para a promoção da transformação do contexto social em termos de dominação. Traz a ideia de que opressores e oprimidos são vítimas da mesma inconsciência, e ainda de que aos poucos se conquistam uma conscientização crítica em busca da liberdade. Freire demonstra ainda que um líder revolucionário da opressão não deve impor o seu ponto de vista, antes necessita transmitir a palavra fiel daqueles a quem ele representa, para com isso promover inovação em meio aos sistemas arcaicos da sociedade dominante.
Ocorreram muitas mudanças no campo da pedagogia, embora se perceba que surgiu novos tipos de oprimidos em números crescentes, pois a sociedade atual promove vários tipos de exclusão. Com isso a educação não é vista como deveria, pois a implementação da educação problematizadora não foi efetivada ficando a cargo do professor repassar informações impostas pelo sistema de educação, sendo assim o ato de ensinar a pensar tornam-se um drama para o educador. Freire ressalta ainda que com menos investimentos em educação facilita a manipulação das massas desfavorecidas e aumenta o poderio da elite promissora e dominadora.
Atualmente fica claro a distinção de classes, pois atualmente a educação no Brasil vem reproduzindo a desigualdade, a marginalização e a miséria, desse modo em sua obra pedagogia do oprimido, Paulo Freire lança as bases para se refletir e repensar a educação, de modo a promover nova metodologia de ensino capaz de formar cidadãos críticos atuantes na sociedade de maneira reflexiva capazes de serem autores de sua própria história.
SILVANIA FERREIRA NUNES
RESENHA DO LIVRO "PEDAGOGIA DO OPRIMIDO" DE PAULO FREIRE. Campos Belos. 2014