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Resenha: Contos de aprendiz, de Carlos Drummond de Andrade

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO

Nascido em uma região rural, Drummond incorpora essa experiência em muitas dessas quinze histórias, a exemplo de “A salvação da alma”, em que a infância e a adolescência de cinco irmãos são atravessadas pelo clima bucólico e ingênuo do interior do país na primeira metade do século XX, e “O sorvete”, no qual dois meninos enfrentam o dilema de experimentar ou não pela primeira vez uma até então desconhecida iguaria.

Aos poucos, as histórias avançam em direção às grandes cidades, mostrando sua lenta transformação. O talento de Drummond para a clareza e a elegância narrativa colabora para a construção psicológica de seus personagens. Na longa narrativa tchekhoviana “O gerente”, o autor vai aos poucos construindo (e desconstruindo) o protagonista Samuel, um bancário que frequenta o jet set carioca e é acusado de um crime bizarro, sendo por isso apelidado pelos jornais de “o Vampiro dos Salões”. Drummond cadencia as revelações e deixa o leitor “espiar” os acontecimentos, ao mesmo tempo que mostra a complexidade de “pessoas comuns”.


RESENHA


O livro "Contos de Aprendiz" de Carlos Drummond de Andrade apresenta uma série de narrativas que exploram temas como a infância, a vida interiorana, as relações familiares e sociais, e o cotidiano de forma geral. Através de contos curtos e objetivos, o autor consegue capturar a essência das situações descritas, levando o leitor a refletir sobre questões profundas e muitas vezes perturbadoras. Em cada conto, Drummond apresenta personagens complexos, muitas vezes confrontados com dilemas morais, sociais e existenciais. A narrativa muitas vezes aborda temas como a solidão, o medo, a morte, a busca por aceitação, a relação com o outro e a própria identidade. Além disso, o autor utiliza uma linguagem simples e direta, mas carregada de significados e simbolismos, o que enriquece a leitura e convida à reflexão.


A variedade de temas abordados nos contos de Drummond mostra a versatilidade e a profundidade do autor, que consegue transitar com maestria por diferentes gêneros e estilos literários. Sua capacidade de criar personagens marcantes e situações impactantes é uma das marcas registradas de sua obra, e em "Contos de Aprendiz" isso não é diferente. 


A salvação da alma: A história narra a relação conturbada entre cinco irmãos em uma cidade onde as brigas eram comuns. Com a partida do irmão mais velho, Miguel, os outros irmãos se viram sozinhos e continuaram com os conflitos entre si. Ester, a única filha, era explorada pelos irmãos para conseguir dinheiro. Com a chegada dos padres, os meninos foram levados para se confessar e Tito, o penúltimo filho, pediu perdão ao irmão mais novo com quem brigava constantemente. No entanto, após um incidente durante a punição, os irmãos não puderam comungar no dia seguinte.


Sorvete: Joel e seu colega moravam em uma pequena cidade e ficaram impressionados ao ver um anúncio de sorvete de abacaxi em uma confeitaria. Eles inicialmente foram ao cinema, mas não conseguiram se concentrar pensando no sorvete. Abandonaram o filme e foram experimentar o sorvete, mesmo odiando. Joel comeu até o fim para não ferir a honra da família, e seu amigo foi obrigado a fazer o mesmo.


A doida: Um grupo de crianças na cidade tem medo de uma mulher considerada louca, que vive isolada em uma casa. Um dia, eles tentam assustá-la, mas um dos meninos acaba descobrindo que ela está muito doente e decide ficar com ela até o final de sua vida.


Presépio: Das Dores era uma jovem ocupada com tarefas dadas pelo pai para que ela não ficasse ociosa. Mesmo assim, ela tinha um namorado chamado Abelardo. Na véspera de Natal, Abelardo foi visitá-la, atrasando a finalização do presépio, tarefa que apenas Das Dores sabia fazer corretamente. Ela estava dividida entre terminar o presépio e ir à missa de galo para ver Abelardo. Enquanto montava o presépio, só pensava nele, mesmo com várias distrações e a pressão do tempo passando rápido.


Câmara e cadeia: Valdemar estava na Câmara Municipal onde todos os homens discutiam sobre impostos, mas apenas ele estava trabalhando. Enquanto o calor abafava a sala, Valdemar foi até a janela e lembrou-se da cadeia que ficava embaixo da câmara. De repente, um preso fugido entrou na sala dos homens, contando sobre a sua fuga e as condições horríveis da cadeia. Valdemar tentou prendê-lo novamente, mas o preso acabou fugindo enquanto os policiais tentavam capturá-lo.


Beira rio: As terras da companhia lideradas pelo capitão Bonerges proibiam bebidas alcoólicas, o que deixava os trabalhadores desanimados. Um negro que vendia bebidas clandestinamente trouxe animação e disposição para o trabalho, mas foi expulso por Bonerges com a ajuda da polícia. Mesmo após ter sua vendinha destruída, o negro partiu calmamente, apesar dos tiros.


Meu companheiro: O homem na estrada pagou mais do que o necessário por um cachorrinho que não passava de um vira-lata, mas tinha traços de cães de raça. Levou-o para casa e o nomeou Pirulito. Sua esposa não era muito fã de animais de estimação, mas o cachorro se aproximava mais do homem, que se tornou seu companheiro. Os dois conversavam e tinham uma conexão especial, apesar dos meninos implicarem que o cachorro gostava de gente "velha". Um dia, Pirulito desapareceu, deixando o homem triste e sem entender o motivo de seu amigo ter ido embora.


Flor, telefone e moça: Uma moça vivia ao lado de um cemitério e arrancou uma flor do chão, lançando-a fora sem pensar. Logo depois, começou a receber ligações de uma voz suplicante pedindo a flor de volta. Mesmo com a ajuda policial, a voz persistia, levando a família a buscar ajuda espiritual. A voz continuou até que a menina, perturbada, faleceu.


A baronesa: Luis vivia na casa da rica baronesa há muito tempo, mas só a viu algumas vezes. Quando ela morreu, correu para buscar Renato, o sobrinho-neto, e juntos foram até a casa da baronesa em busca de suas jóias. Renato pegou um colar que sobrara do corpo da baronesa, incomodando sua posição de morte, e depois eles fizeram a partilha justa das jóias no banheiro.


O gerente: Samuel, o gerente bem-sucedido do banco, vive uma série de incidentes estranhos que envolvem mulheres perdendo a ponta dos dedos após serem cumprimentadas por ele. Apesar de ser acusado, a polícia não encontra provas contra ele, e ele é afastado do banco e vai morar em São Paulo. Anos depois, encontra uma das vítimas que teve que amputar o braço devido a uma infecção. Eles se encontram novamente, mas apenas bebem muito e no dia seguinte Samuel volta a São Paulo sem concluir seus negócios no Rio.


Nossa amiga: Uma menina de três anos vivia entre duas casas e para evitar a mão bisbilhoteira foi criada a personagem Catarina, uma borboleta "bruxa" que quebrou um cachorrinho de vidro. Também havia o personagem Pepino, um velho bêbado que assustava as crianças. Mesmo com medo, a menina acabava indo de uma casa para outra, sendo enganada com a promessa de uma festa com Pepino. Por fim, ela brincava de mamãe, usando frases de adultos em suas brincadeiras.


Miguel e seu furto: Miguel era um homem simpático, mas sem ocupação na vida. Após perder seu sustento, ele dormia em jornais e teve a ideia de roubar o mar. Com as novas regras impostas, Miguel se tornou incrivelmente rico, queimava sua riqueza para ter onde guardar suas aquisições. Mas, um dia, crianças nadaram no mar e o povo retomou sua posse. Miguel depositou sua fortuna em bancos e passou a colecionar conchinhas para lembrar de sua ex-propriedade.


Conversa de velho com criança: Um homem idoso e uma menina chamada Maria de Lourdes conversam em um ônibus. O homem, chamado Ferreira, descobre o nome da menina sem precisar perguntar, e a menina descobre o nome dele da mesma maneira. A menina traz um pacote de balas que parece ser seu tesouro, enquanto o homem carrega sacolas de compras e está em pé. Quando o cobrador vem cobrar a passagem, o homem tem dificuldade em encontrar a moeda e acaba deixando-a cair na rua, mas não precisa pagar a passagem pois não encontraram a moeda. A menina oferece uma bala ao homem, indicando que são amigos próximos, e o homem percebe que ela fez isso para poder comer também. Ao descerem do ônibus, o homem se questiona se são realmente amigos próximos ou apenas avô e neta que se dão muito bem.


Extraordinária conversa com uma senhora de minhas relações: Um homem tem uma conversa com uma senhora conhecida em um ônibus, onde ele tenta lembrar quem ela é através de sua voz. Eles trocam cumprimentos e ele nota o vestido dela e suas curvas. Ela pergunta como ele está e ele responde com versos, mas depois corrigi para uma resposta mais educada. Ela fala sobre suas preocupações, mas ele está mais preocupado em ultrapassar limites. Quando ela desce do ônibus, ele reflete que foi a conversa mais extraordinária que teve com uma dama de sua relação.


Um escritor nasce e morre: Um escritor talentoso nasce em uma cidade pequena após ouvir sobre o Pólo Norte na escola. Se destaca na escrita desde jovem e é reconhecido pela sua professora. Ele cresce, escreve contos e poesias, sempre se mantendo humilde e criticando outros escritores. Uma voz em sua mente o chama de artista nato. Aos trinta anos, ele falece, deixando um legado de obras literárias.


O livro se chama "Contos de Aprendiz" porque cada uma das histórias apresentadas no livro mostra personagens em processos de aprendizagem e transformação. Os contos exploram as experiências dos personagens, suas relações e conflitos, levando-os a enfrentar dilemas morais, sociais e existenciais. Ao longo das narrativas, os personagens são confrontados com situações que os fazem refletir e crescer, aprendendo lições importantes sobre si mesmos, sobre os outros e sobre o mundo ao seu redor. Dessa forma, o título "Contos de Aprendiz" reflete a jornada de aprendizagem e amadurecimento dos personagens ao longo das narrativas apresentadas no livro.


Em resumo, o livro "Contos de Aprendiz" de Carlos Drummond de Andrade é uma obra que explora de forma criativa e profunda as nuances da vida, os dilemas da existência e as complexidades das relações humanas. Através de narrativas envolventes e personagens cativantes, o autor nos leva a refletir sobre questões essenciais do ser humano e do mundo que nos cerca. A leitura do livro é essencial para quem busca entender melhor a obra de Drummond e se aprofundar em sua visão de mundo e de literatura.

5 Poemas de Laura Redfern Navarro, autora de "O Corpo de Laura"

O livro "O Corpo de Laura", da poeta e jornalista Laura Redfern Navarro, é muito mais do que uma obra de poesia; é um exercício de autodescoberta e resgate da voz feminina através da linguagem. Com uma narrativa estruturada e influências da cinematografia de David Lynch, a autora mergulha em uma jornada poética que busca explorar a essência do corpo como linguagem e matéria. Em parceria com a Mocho Edições, Laura Redfern Navarro traz um trabalho que dialoga com a contemporaneidade, mesclando elementos visuais e estéticos da geração atual, como o conceito de Liminal Spaces, para criar uma experiência única e profunda para as leitoras. Através do duplo sentido do título, a autora convida as mulheres a refletirem sobre suas identidades subjetivas e as opressões que permeiam o corpo feminino, em uma obra que ressoa com as experiências e angústias coletivas das mulheres.

Conheça 5 poemas do livro:







Resenha: Terra, céu e mar, de Ivo Barreto

Foto: Arte digital


APRESENTAÇÃO

"Por que deixaram um menino que é do mato amar o mar com tanta violência?", escreveu Manoel de Barros no desfecho do poema "Na enseada de Botafogo". Mineiro do Vale do Rio Doce e morador de Cabo Frio há 15 anos, Ivo Barreto elabora respostas e percepções em Terra, céu e mar — poemas e linhas, seu primeiro livro de poesia. Ivo faz da sutileza uma prática de observação do mundo a partir da memória e das observações cotidianas. Os poemas, breves e delicados, são intercalados por ilustrações do próprio autor, que é arquiteto, pesquisador e professor universitário. Ivo escreve mineirês ("qui nem daltin / bão de papo / coladim / nimim") ao mesmo tempo em que revisita o patrimônio histórico da Região dos Lagos, o que inclui, por exemplo, a Casa da Flôr de São Pedro, a canoa de borçada de Arraial e os casarios históricos da Passagem, em Cabo Frio. Observa Giorge Bessoni no posfácio: "Terra, céu e mar  é um livro de poemas necessários nas durezas dos dias atuais; acompanhados por ilustrações que, mais que enfeitam, complementam a poesia como verdadeiros versos e estrofes que tornam mais bela e satisfatória a leitura. Este livro que se nos apresenta é arte. E, certamente, ao lê-lo, vós haveis de concordar comigo."

RESENHA

Terra, céu e mar é uma obra poética escrita pelo autor e arquiteto Ivo Barreto, publicado pela Sophia Editora. A obra é dividida em quatro capítulos: ar, terra, brisa e oceano. A obra, poética, elucidativa, provocativa e transformadora é uma brisa de verão em dias quentes. Com artes elaboradas pelo próprio autor, o que complementam graciosamente a escrita do autor que percorre locais e revisita a percepção cotidiana através de uma ótica sublime e doce.

No capítulo ar, o autor se debruça na observação do cotidiano por meio da visão inocente da infância, descrevendo situações como a observação de pássaros atobá-pardos, nas andanças de esquadrinhadas das lembranças dos caminhos e das caminhadas, das memórias em terra batida de manga descascada no dente, a beleza do milharal, as andaças através do breve orvalho das paisagens em vista atenta, uma beira de rio e o passar dos tempos.

Em terra, o autor delineia as nuances explicitas nos desenhos da realidade, como em um croqui arquitetônico através do ponto de encontro das linhas pontilhadas, das caminhadas e andanças em volumes de água no interior, dos traços de vida e lembranças de uma casa e de suas lembranças em uma casa de taipa a pique de barro, do afeto e da saudade da infância mineira e das 'gentes' queridas e vividas nos pontos dos contos.

Em brisa, o autor intensifica suas provações elaborando um chamado para os pequeno momentos de valor da vida. ' [...] e marcantes cai a tarde e as memórias do cotidiano, nos amores presentes na vida, no amor, no namoro e na lembrança, dos caminhos do fiel andante, do papel do tempo desconcertante que aquece o peito, dos chamegos em frente fria, a lembrança de uma mina da cria e das árvores plantadas. Um capítulo que, diferente doutros, revisitas as lembranças de uma forma mais madura e assertiva. A leitura deste capítulo configura a obra uma conjuntura de não mais lembranças, mas agora, de vivência, do agora, dos momentos que ocorrem no exato momento em que acontecem, da forma como a qual vivemos e apreciamos o que é palpável, tangível.

Em oceano, as reflexão do autor se intensifica nas emoções presentes do momento do encontro dos olhos com as cores em uma navegação azul do mar, sobre a luz que escapa da janela invadindo a fresta do dia por frente ao breu seduzindo o ambiente, do orgulho expresso na raiz as heranças dos ancestrais da terra pura, da cor e do cheiro da manga rosa, das caminhadas e estrepadas em árvores, do cheiro da manhã, das alegrias presentes nos sorrisos e do universo particular da vivência em mergulho profundo em si e em suas entranhas de forma abstrata.


Foto: Arte digital


A obra evoca, em sua maior parte, grande parte da formação do autor em arquitetura, não somente pelas imagens como referência, mas pelas citações acerca de linhas e criações pontilhadas acerca do desenvolvimento de uma vida, de um sonho e de uma vivência acerca da realização presente na construção de um projeto [arquitetônico, de vida, pessoal]. A obra possui uma linguagem as vezes própria e retinta de personalidade própria, as vezes local, mas sempre atemporal. Percorrer as palavras de Ivo é entender através de suas nuances a certeza de que as lembranças constituem parte do processo de construção de uma casa, de uma identidade e de uma vida. Construir memórias, cultivar momentos e aproveitar o tempo. Uma obra, certamente, incrivelmente linda e cativante para os amantes de uma poesia revigoradora e transformadora.


SOBRE O AUTOR | Arquiteto pela UFF (2004) e especialista em Preservação do Patrimônio Cultural pela UFPE (2010), Ivo Barreto é mestre em Projeto e Patrimônio pela UFRJ (2017) e doutorando em Arquitetura pela mesma instituição. Arquiteto do corpo técnico do Iphan há quase duas décadas, é professor do curso de Arquitetura da UNESA, em Cabo Frio, onde leciona as cadeiras de Projeto de Arquitetura, Desenho e Patrimônio Cultural. Conta com livros publicados nos campos da Arquitetura, do Patrimônio e das Artes Visuais. Navegante das múltiplas linguagens em sua produção, o autor promove em Terra, céu e mar o diálogo entre o desenho e a palavra, abrindo rota para provocações ora semânticas, ora gráficas, costurando uma troca contínua entre letras e traços. Emerge daí uma poética leve e sensível, capaz de tocar, ao longo da leitura, sentidos variados da percepção e dos afetos.



[RESENHA #1000] Escamas de Mil peixes, de Maitê Lamesa

 





Escamas de Mil Peixes é cardume de poesias escritas entre 2009 e 2023, entroncamento de rios que correram apartados no tempo e no espaço, até serem transpassadas por uma lâmina que afia nos dentes a vontade de falar e que afina a voz de um peixe solitário. É dessa forma que Maitê dosa as diversas forças necessárias para o arremesso dos poemas, escamas que se propõem a refletir as incontáveis nuances da poesia: a coragem da escrita, subjetividades que se cruzam com a coletividade, amores, dissabores, o correr do tempo, a voz feminina e maternal, o mar e a morte. São poemas que se revelam nas margens inacessíveis, na superfície embriagante do oceano e, sobretudo, nas profundezas de um rio turvo, na pele de peixe. Não são paisagens paradisíacas que estão em jogo, mas as paisagens para além do alcance da vista: os vales escondidos, as fossas abissais, as cavernas de morcegos, locais onde se opera um sutil descolamento a partir do encontro entre essa paisagem (realidade) e o pensamento. É um convite à poesia como a outra margem do rio, das pessoas, da vida e que, assim como ele, segue inventando caminhos possíveis por onde correr.

RESENHA






Escamas de Mil peixes é o primeiro livro da autora jauense Maitê Lamesa. A obra, descrita pela autora como um cardume de poesias é um convite à experimentação. Aqui, Lamesa, reúne textos de diferentes épocas de sua vida, em um forte movimento de coragem [metaforicamente acionada como o salto de um peixe nas águas de um rio]. A obra é uma miscelânea simbólica orientada por eixos poéticos que descrevem suas nuances entre metáforas em relação aos peixes e o movimento das águas que narram a vida como poemas que vão contra a maré, como correntezas que seguem um fluxo inconstante, como felicidade, luto, maternidade, crescimento, dor e mememórias.

A obra é dividida em sete capítulos: Os poros por onde nascem as escamas; pele de peixe; nadando contra a correnteza; um peixe de água salgada; descamado; desova; lambaris e um rio marrom onde moram os peixes. A voz do peixe usada pela autora é uma forma de trazer a tona em sua obra uma voz marginalizada e sufocada, quanto para descrever a coragem de descer o rio em uma jornada.

Nas palavras de Tatiana Lazzarotto, escritora e jornalista: O livro é dividido em muitas partes – muitas escamas – e há muitas mulheres em suas páginas. Uma que lava a louça, outra que observa a chuva. Ou uma mulher-estátua, que testemunha o esquecimento. Mas em “Desova”, quem canta é a indelegável mãe e todas as nuances de suas três letras, e é à Teresa que este livro é dedicado. Testemunhemos a poesia de Maitê como a multiplicação dessas mulheres-cardume, por meio de suas imagens-milagres. Uma poeta que nasce assim é um acontecimento.


Confira alguns trechos do poema da autora:


Campo de lavandas

é como andar por um campo de lavandas

escrever estas linhas recuadas

frutos de um pensamento único

uma sensação inacabada



recorte de sonhos em papel colunado

com emoções preenchi um dos lados

o outro resta branco com reminiscências

é o fundo do armário



as bolinhas brancas de naftalina

são as entrelinhas das ideias minhas

e o que não escrevi, já está escrito

num dia porvir, n´algum canto vivido



uma só coluna basta

para que flutuem as miragens

junto com as lavandas pendentes – lilases

esbanjando a alma calma

de quem faz poesia

para que balancem com o vento



depois de tantas elocubrações

em puro, em puríssimo devaneio

resta sempre uma coluna aberta

esperando as palavras certas

costuradas às emoções no meio




O poema Campo de lavandas é uma metáfora sobre o processo criativo do poeta, que compara a escrita de versos com o andar por um campo de flores aromáticas e coloridas. O poeta expressa seus sentimentos e pensamentos em uma coluna de papel, deixando a outra em branco para representar o que ainda não foi dito ou vivido. As bolinhas de naftalina são as entrelinhas, as ideias que não são explicitadas, mas que estão presentes na poesia. O poeta também fala das miragens, as imagens que surgem na sua mente e que se misturam com as lavandas, símbolo da calma e da beleza. O poeta reconhece que sua obra é fruto de um devaneio, de uma fantasia, mas que sempre há espaço para novas palavras e emoções. O poema é uma celebração da poesia como forma de expressão e de arte.




da (r) dos

Lançando dados

sobre o tabuleiro

são dardos que atiro

no alvo certeiro



Jogo o jogo

e pego em armas

se preciso for



Sempre foi assim

se não estou em guerra

estou nos jogos de azar

O poema da (r) dos é uma reflexão sobre a vida como um jogo de riscos e desafios, onde o poeta lança dados e dardos, buscando acertar seus objetivos. O poeta se mostra disposto a lutar e a se defender, se necessário, mas também reconhece que sua sorte depende do acaso. O poeta usa a repetição da letra R e do som /d/ para criar um efeito sonoro de força e determinação. O poema também sugere uma contradição entre a guerra e os jogos de azar, que podem ser vistos como formas de violência e de diversão, respectivamente. O poeta afirma que sempre viveu assim, entre a tensão e a aventura, sem saber o que o destino lhe reserva. O poema é uma expressão da coragem e da incerteza do poeta diante da vida.

O poema “Peles mortas” expressa a sensação de vazio e desilusão após o fim de um relacionamento amoroso. O autor usa a metáfora da poeira para representar os vestígios da união que se desfez com o vento, ou seja, com a força das circunstâncias. A poeira paira no apartamento, simbolizando a memória e a nostalgia que ainda persistem no ambiente. O autor também usa a palavra “inútil” para mostrar o quanto ele se sente frustrado e desesperançado com a mistura de suas peles mortas, que não gerou nada de positivo ou duradouro. O poema transmite uma atmosfera de tristeza, solidão e desapego.

O poema “Ofício mãe” é uma homenagem à maternidade e ao papel da mulher na sociedade. O autor usa várias imagens e metáforas para exaltar a força, a dedicação e a importância da mãe, que é vista como uma caçadora, uma guardiã, uma oficiala, uma soberana, uma credora, uma horta e uma aorta. O autor também mostra as dificuldades e os desafios que a mãe enfrenta no seu cotidiano, como o cansaço, o casamento, a cria, as costas costuradas, o colo ocupado, os sustentáculos, as articulações, os músculos, os tendões e as fibras do coração. O poema transmite uma atmosfera de admiração, gratidão e reconhecimento pelo ofício mãe, que é o responsável pela renovação, pelo futuro e pelo legado da humanidade.

O poema “Mulher-peixe” pode ser interpretado como uma metáfora da identidade e do conflito de uma mulher que se sente dividida entre dois mundos: o das águas e o do ar. Ela é uma sereia, uma figura mítica que representa a sedução, a beleza e a ambiguidade. Ela deseja respirar o ar, mas ao mesmo tempo teme perdê-lo. Ela se arrisca a sair das águas, mas se afoga na tentativa. Ela é um peixe fora d’água, uma expressão que significa alguém que não se adapta ou não se sente à vontade em um ambiente. O poema transmite uma atmosfera de angústia, solidão e incompreensão.

A obra fala de diversos assuntos como a escrita;. maternidade; luto ; sentimentos internos; resiliência; força; coragem; memórias; solidão e calmaria. Como toda poesia lúdica, estas, por sua vez, nos possibilitam uma gama de inúmeras interpretações que nos conectam com suas linhas como em uma onda interminável onde uma maré se alterna conforme o movimento das águas.

Uma obra atemporal.

A AUTORA

Maitê Lamesa é natural de Jaú/SP, e atualmente reside em São Paulo, capital. Formada em Direito (Universidade Estadual de Londrina) e mestra em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (UNESP-UNICAMP-PUC/SP), assumiu a escrita em 2022, quando a publicação tornou-se urgência face a face, face à fase de silêncios agudos: da maternidade, da pandemia e do campo, onde morou durante esse período. Integra o portal Fazia Poesia e o Coletivo Escreviventes. Este Escamas de Mil Peixes é um livro de poesia e, também, seu livro de estreia.

[RESENHA #980] Leveza do efêmero, de Raquel Lopes

À medida que nos deliciamos com a leveza do tempo, podemos contemplar a beleza da vida. Pela janela, assistimos ao mundo em constante movimento, com as suas cores e formas únicas. Os raios de luz que se infiltram pelas frestas nos lembram que, mesmo nas situações mais difíceis, sempre há um vislumbre de esperança. E a vela bruxuleante simboliza a esperança que nunca deve se extinguir dentro de nós. Como uma linda flor que desabrocha na primavera, devemos nutrir essa esperança em nossos corações e deixá-la florescer para iluminar nosso caminho. Na leveza do tempo, aprendemos que a vida é um dom precioso, e devemos aproveitar cada momento e vivê-lo ao máximo. Poemas que abraçam a beleza da vida e aproveitam ao máximo cada segundo efêmero.


RESENHA

A obra "Leveza do Efêmero" é uma coletânea de poemas que nos convida a refletir sobre a vida em constante movimento. Com uma linguagem poética marcada por figurativos metafóricos, a autora Raquel Lopes nos conduz por uma trilha desafiadora, onde somos impregnados tanto pelo racional quanto pelo emocional. Nesse caminho, somos confrontados com a dureza do tempo, que nos tatuam sem nossa escolha. No entanto, a poeta nos incentiva a não cansar de sonhar em nosso mundo fantástico e a não dar espaço para a dor. Em um momento de incertezas e perdas, a obra nos proporciona uma redescoberta dos valores, nos convidando a trilhar novos caminhos e a entender que, quando unidos, encontramos abrigo mesmo nas nuvens mais escuras. A autora nos mostra que o tempo é livre e voa tranquilo como um passarinho, nos convidando a deixar a lua encher nosso olhar e aprender a amar. Com uma linguagem sensível e musical, Raquel Lopes nos leva em uma jornada poética que não é meramente lúdica, mas sim uma ocupação séria e desafiadora. A autora demonstra ser uma esgrimista diante dos desafios da vida, tratando-os com a necessária seriedade. Os poemas presentes em "Leveza do Efêmero" dispensam qualquer comentário prévio, impondo-se aos olhos e coração dos leitores.


O poema "Leveza do efêmero", de nome homônimo à obra, retrata a apreciação da autora pela natureza e a constante transformação que ocorre ao seu redor. Através de imagens vívidas como "botões de rosas" e "pétalas das flores", a poeta exprime sua admiração pelas delicadezas e belezas presentes nas coisas simples da vida. Ela destaca também o prazer que encontra no cheiro das árvores e no vento que refresca, ressaltando a importância de estar conectada com o mundo natural.


A ideia de transformação é um tema presente ao longo do poema. A autora observa que a vida está em constante movimento e que tudo se refaz com o passar do tempo, desde pequenos momentos do dia a dia ("Um dia ou dois sem pressa ou depois") até períodos mais longos ("Um ano a mais / Mil séculos"). Essa noção de eterno recomeço sugere uma visão otimista sobre a vida, evidenciando a crença da autora na possibilidade de renovação e no ciclo contínuo de transformação.


Além disso, o poema menciona as aves migratórias, animais domésticos e selvagens, assim como a presença do veneno e sua ausência, enfatizando a diversidade e complexidade da natureza. Essa variedade de elementos reforça a conexão entre todos os seres vivos e destaca a importância de valorizar e respeitar a biodiversidade.


Através da simplicidade e singeleza da linguagem poética, o poema "Leveza do efêmero" nos convida a refletir sobre a beleza e as transformações presentes na natureza, assim como nos faz lembrar da importância de nos conectarmos com o mundo natural e apreciar as coisas simples da vida.


O poema "Morena Rosa" retrata uma figura feminina, simbolizada pela cor morena, que é exaltada e admirada pelo eu lírico. Através de metáforas e imagens poéticas, o poema transmite uma sensação de encantamento e beleza.


No primeiro verso, "Morena Rosa, de amor e gotas de orvalho", o eu lírico descreve a personagem central como sendo repleta de amor e pureza, representada pelo orvalho. Essa personificação cria uma atmosfera romântica e encantadora em torno da personagem.


O segundo verso, "O dia faz tua música uma lira na verdade e amor", utiliza a imagem da música e da lira para descrever a harmonia e beleza que emanam da personagem. Através dessa metáfora, o eu lírico demonstra como a presença da personagem transforma a realidade em algo poético e harmonioso.


O terceiro verso, "Escrita sobre as águas do destino que cruzou teu caminho", sugere que a personagem tem uma história marcada por encontros e desafios. A expressão "águas do destino" remete à ideia de que as experiências vividas moldam a personalidade da personagem, tornando-a mais interessante e complexa.


Os versos seguintes ressaltam a delicadeza e a bondade presentes no coração da personagem, que são comparadas às pétalas de uma flor. Essa imagem evoca a ideia de fragilidade, mas também de beleza e suavidade.


Em relação à cor da personagem, o eu lírico afirma que a admira, o que sugere que essa cor desempenha um papel especial na atração que a personagem exerce sobre o eu lírico.


O poema também menciona o sorriso contagiante da personagem, que é destacado como algo mágico e encantador. Essa imagem reforça a ideia de que a personagem possui um charme especial e é capaz de influenciar positivamente aqueles ao seu redor.


Por fim, o poema conclui com uma mensagem de otimismo e incentivo, ao sugerir que a personagem não deve permitir que a dor ocupe espaço em sua vida.


Em resumo, o poema "Morena Rosa" retrata uma figura feminina encantadora e admirada, descrevendo sua beleza, bondade e otimismo. Através de imagens poéticas e metáforas, o poema transmite uma atmosfera de encantamento e beleza, destacando as qualidades especiais da personagem central.


O poema "Cantando Calmaria" retrata a visão do sono como um refúgio para os inocentes, aqueles que ainda não foram corrompidos pelo conhecimento do mundo e pelas dificuldades da vida. O autor destaca a ingenuidade das crianças, que apenas desejam sonhar sem carregar os fardos que o mundo impõe. 


O sono é apresentado como uma dádiva, um estado de tranquilidade que oferece alívio das preocupações e responsabilidades cotidianas. É um momento de descoberta da sua utilidade, de renovação das energias e de escapismo. 


Por meio da metáfora das nuvens, o poeta sugere que no sonho não existem pesos ou lembranças dolorosas que assombrem o indivíduo. O tempo no sono é percebido como lento e contínuo, permitindo uma fuga temporária da agitação e das pressões da realidade. 


O poema também traz a presença do vento, que circula em casa do autor, personificando-o como um elemento que também está em um estado de repouso. O vento, assim como o sono, contribui para a criação de um ambiente tranquilo e sereno, cantando uma canção de calmaria. 


No geral, o poema transmite uma ideia de nostalgia e de desejo por um momento de paz e leveza, onde o sono se apresenta como uma fuga temporária dos problemas e uma forma de manter a inocência e a serenidade diante das dificuldades do mundo.


O poema "Início do Fim" é um olhar melancólico sobre a passagem do tempo e o fim de um relacionamento. O eu lírico expressa a sensação de ter perdido o controle sobre o tempo, representado pelo relógio do sol que arde em suas mãos. As horas da pessoa amada voaram rapidamente, sem prazo para contagem, como se tivessem sido levadas por uma tempestade desconhecida.


A partir desse ponto, o poema sugere uma separação entre o eu lírico e a pessoa amada. O tempo se desfez, as horas acabaram, e o eu lírico lamenta não conseguir mais ver os olhos da pessoa amada, nem mesmo a sua sombra que o acompanhava. Essa sombra simboliza a ligação entre eles, o destino que havia sido traçado.


No entanto, o poema termina com uma nota de esperança. O eu lírico afirma que voltarão, talvez por ali, um dia. Essa referencia sugere a possibilidade de um reencontro ou uma reconciliação futura. O termo "chuvoso início do fim" fecha o poema com uma atmosfera melancólica, indicando que o fim do relacionamento está se aproximando ou já começou. A chuva, símbolo de tristeza e renovação, contribui para reforçar o tom nostálgico e depressivo do poema.


No seu conjunto, "Leveza do Efêmero" revela a sensibilidade e a capacidade de Raquel Lopes em abordar temáticas universais através de imagens poéticas e atmosferas marcantes. A escritora consegue transmitir suas emoções e pensamentos de forma precisa, evocando nos leitores sensações de melancolia, esperança, nostalgia e tranquilidade. A obra convida o leitor a refletir sobre a passagem do tempo, os relacionamentos humanos e a busca por momentos de paz, serenidade e leveza em um mundo cada vez mais efêmero.

[RESENHA #968] Exátomos, de Vitor Miranda


"Exátomos", de Vitor Miranda, é uma obra que nos convida a ponderar a respeito da vida, das relações humanas e do mundo em que vivemos. O livro é uma seleção de poemas que revelam a precisão dos átomos em todas as coisas existentes, nos fazendo questionar o que fizemos com essa existência.

Dividido em cinco partes, o livro abarca uma ampla gama de sentimentos e temas, desde a ironia e a descrença até a crítica social, o amor, a esperança e o desespero. É uma obra que nos leva a reconsiderar nossa própria existência e nos ajuda a crescer como indivíduos.

Logo no início, o autor nos presenteia com uma frase impactante: "a terra não é plana, mas é chata". Essa frase apenas arranha a superfície da sagacidade e do humor irônico de Vitor, que por vezes pode nos fazer crer que ele é um poeta niilista. Porém, ao ler com mais atenção, percebemos que por trás de seu deboche e raiva, há uma profunda mágoa pelo que o mundo poderia ser.

Exátomos nos incentiva a refletir sobre a finitude de cada momento preciso e nos incita a descobrir a beleza oculta na crueldade. Vitor expõe as mazelas do mundo em sua poesia, mas também se nutre dela, florescendo em meio ao caos. É uma poesia profunda que nos leva a repensar a vida e nos faz questionar nossas próprias ações e escolhas.

A versatilidade de Vitor como escritor é evidente nessa obra, na qual ele transita entre diferentes emoções e contextos. Exátomos é um convite à reflexão e uma demonstração do poder da poesia como uma arma para desafiar a finitude. É uma leitura que nos desafia e nos enriquece como seres humanos.

Em "poema", o autor descreve o poema como um sentimento fossilizado, uma matéria arqueológica. Ele o compara a um signo paleolítico, uma representação primitiva. A escuridão da árvore amazônica é mencionada, onde o escorpião dorme, associando o poema a algo que está adormecido e escondido. O autor também menciona o pião, que gira eternamente, simbolizando a vitalidade e movimento contínuo do poema.

O poema é descrito como um esqueleto de sonhos, representando as ideias e imagens que o compõem. A arcada dentária dos dinossauros é mencionada, sugerindo a antiguidade do poema e a presença de elementos poderosos e fortes. A expressão "ácido nucleico religião" sugere que o poema possui uma força vital, algo essencial para a existência e fé.

O poema é descrito como um objeto ausente de átomos, o que pode significar que ele não possui uma presença física palpável, mas sim uma natureza imaterial e intangível. Ele é descrito como o indizível intocável, algo que não pode ser explicado totalmente, mas que tem o poder de explodir, causar um impacto profundo. Isso sugere que o poema possui uma força explosiva, capaz de despertar emoções e reflexões intensas.

Já em derrota, o dramaturgo expressa a ideia de que a dor faz parte do percurso da vida. Para o poeta e a poesia, a dor é uma armadura que os protege contra a amargura que emerge. Isto significa que a expressão artística pode ser um refúgio e uma forma de lidar com os momentos difíceis. Porém, o poema ressalta que o amor é mais duradouro do que a derrota, mostrando que apesar das adversidades, o sentimento amoroso é capaz de superar as dificuldades e oferecer um renascimento emocional.

Em eterna cadência (p.78):

me disseram que já não sou adolescente para fazer loucuras de amor
me disseram que haviam coisas mais importantes na vida
me disseram que tempo é dinheiro e deus ajuda quem cedo madruga
me disseram que pássaros voam por fome e não por paixão
me disseram que amor não põe comida na mesa
me disseram desde o princípio que necessitava de uma profissão que me
desse dinheiro
me disseram que a vida é uma merda e que a poesia não serve pra nada
só não me disseram que ao escutar a eterna cadência de sua voz
deixaria de crer em tudo que me disseram

Este poema expressa a contradição entre as expectativas e pressões sociais e o poder transformador do amor verdadeiro. O eu lírico é confrontado com conselhos racionais, baseados em ideias de pragmatismo e sucesso financeiro, que o desencorajam de seguir seus desejos emocionais. No entanto, ao ouvir a voz da pessoa amada, o eu lírico é capaz de se libertar dessas ideias limitantes e começa a questionar tudo o que lhe foi dito. A "eterna cadência" da voz do ser amado representa a verdadeira paixão, que transcende as expectativas impostas pela sociedade e torna todas as suposições anteriores sem sentido. A poesia, nesse contexto, assume um significado poderoso, oferecendo uma perspectiva alternativa à ideia de que a vida é apenas uma "merda", sugerindo que é através do amor e da arte que podemos encontrar beleza e realização verdadeiras.

Já em as crianças do mundo:

as crianças de gaza
não são as crianças
da nossa sala de estar

as crianças de gaza
não estão mais

as crianças de gaza
não são as crianças
de auschwitz

as crianças de auschwitz
não estão adultas

as crianças adultas
não são as crianças
brasileiras do piauí

as crianças do piauí
não estão mais

não estão mais
as crianças do congo

as crianças do mundo
não estão em paz

Este poema que surge como um a onda protestante, aborda a triste realidade das crianças ao redor do mundo que estão sofrendo devido a conflitos e injustiças. O autor compara a situação dessas crianças com as crianças em ambientes mais privilegiados, como a sala de estar ou mesmo a infância mais segura em Auschwitz, ressaltando a diferença entre suas realidades.  O poema também menciona crianças adultas, sugerindo que muitas delas se viram obrigadas a crescer rapidamente, perdendo a inocência e a oportunidade de aproveitar a infância. O autor menciona especificamente as crianças brasileiras do Piauí, indicando que mesmo em locais onde há pobreza e dificuldade econômica, a situação pode não ser tão precária como em outros lugares do mundo.

Por fim, o poema destaca que as crianças ao redor do mundo não estão vivendo em paz, provavelmente aludindo a conflitos armados, guerras e outras formas de violência que afetam as crianças em várias regiões. A mensagem central é que, infelizmente, muitas crianças estão privadas de uma infância tranquila e segura, sendo impactadas por problemas globais.

Em suma, Exátomos é uma obra magnífica e bela, que nos faz repensar nossa própria existência e nos ajuda a enxergar a vida de forma mais profunda e significativa. Vitor Miranda se revela um poeta talentoso e versátil, capaz de provocar emoções e reflexões por meio de suas palavras. Ler este livro é uma experiência transformadora e inspiradora.

O AUTOR

Sobre o poeta Vitor Miranda:

Estreou na literatura com o livro de contos “Num mar de solidão”, um dos contos, “Pise fundo meu irmão”, virou curta-metragem e Vitor recebeu um prêmio de melhor ator. Em 2016 aparece com sua primeira publicação independente, “Poemas de amor deixados na portaria”, livro que deu origem a Banda da Portaria. Como letrista tem parcerias com artistas como Alice Ruiz, Rubi, Luz Marina, Dani Vie, João Mantovani, João Sobral, Touché, Zeca Alencar e Heron Coelho. Em sua aproximação com figuras da poesia curitibana, lança pela Editora Kotter o livro “A gente não quer voltar pra casa”. Experimenta na linguagem em 2019 com o romance poema “A moça caminha alada sobre as pedras de Paraty”. Inicia o projeto de entrevistas “Prosa com Poeta” no qual entrevista figuras como Alice Ruiz, Maria Vilani, Bobby Baq, Dionísio Neto, entre outros artistas. Organiza o Movimento Neomarginal onde exerce o ofício de agitador cultural. Volta aos contos com “O que a gente não faz para vender um livro?” pelo Selo Neomarginal onde destila todo seu sarcasmo. Em 2023 surge com “Exátomos” novamente pelo Selo Neomarginal.

Mais informações:
Instagram: https://www.instagram.com/vitorlmiranda/
Facebook: https://www.facebook.com/vitor.miranda.775/

[RESENHA #962] Noveletas – Sigbjørn Obstfelder

Noveletas reúne as novelas Liv e As Planícies, do escritor norueguês Sigbjørn Obstfelder (1866-1900). Esse é o 1º título da Coleção Norte-Sul, organizada e traduzida por Guilherme da Silva Braga.

RESENHA

Noveletas é uma coletânea de duas novelas do escritor norueguês Sigbjørn Obstfelder (1866-1900), considerado um dos pioneiros do modernismo literário em seu país. O livro, traduzido diretamente do norueguês por Guilherme da Silva Braga, é o primeiro título da Coleção Norte-Sul, que pretende apresentar ao público brasileiro autores e obras de países nórdicos ainda pouco conhecidos.

As novelas Liv e As Planícies são exemplos da prosa inovadora e experimental de Obstfelder, que explora aspectos psicológicos e abstratos dos personagens, em contraste com a narrativa realista e naturalista predominante na época. Influenciado pela poesia de Charles Baudelaire, Obstfelder cria atmosferas sombrias, melancólicas e simbólicas, que refletem sua própria angústia existencial e sua busca por um sentido para a vida.

Liv conta uma história narrada em primeira pessoa de um homem que cuida de uma mulher de nome homônimo ao conto. Ela vive em um internato e encontra-se doente, e ele toma para si a obrigação de cuidar dela. A narrativa é marcada pela subjetividade e pela fragmentação, que expressam o conflito interno e a instabilidade emocional da protagonista. O final é algo inesperado pelo leitor e marca toda leitura com um enredo emocionante e tocante.

Liv é islandesa. Ela, essa alva e bela figura, cuja mão desliza como uma sombra por cima das cobertas, em cujos olhos há um brilho de maciez, fala com erres ríspidos e estrangeiros, que soam estranhamente pesados na língua ademais suave. (p.19)

As Planícies narra a viagem de um homem através das planícies, onde ele descreve, com destreza mais do que os olhos podem enxergar. Ele conhece uma mulher de nome Naomi ao qual se encanta à primeira vista, ela é, segundo ele, pálida como um cadáver. A escrita do autor é prolífica em suas nuances e descreve com clareza e expertise um enredo inovador e intrínseco. O autor trabalha a noção de psicologia e lembrança em seus enredos, as descrições e aventuras de suas personagens revelam muito além do que o enredo pode proporcionar fora das entrelinhas, é necessário descortina-los, ler, reler e refletir. Sinto como se cada descrição do autor fosse um universo particular dentro de uma criação única e singular.

É estranho pensar que todos os outros estiveram com ela ao longo da vida inteira, e que no entanto, fui o primeiro a vê-la. Nenhuma pessoa no mundo viu Naomi (p.48) 

Noveletas é um livro que nos surpreende pela originalidade e pela beleza de sua escrita, que nos envolve e nos emociona com suas histórias de amor, dor e loucura. É uma obra que nos faz conhecer e admirar o talento de Sigbjørn Obstfelder, um autor que influenciou grandes nomes da literatura mundial, como Rainer Maria Rilke, e que merece ser lido e apreciado por todos os amantes da boa literatura.

[RESENHA #960] O cordeiro e os pecados dividindo o pão, de Milena Martins Moura

Nas palavras de Priscila Branco, que assina o prefácio do novo livro de Milena Martins Moura, “[em] O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, o único milagre possível é o ato poético […]: ‘Eu estou escrevendo / Isso é um milagre’”

Exercício de subversão, Milena Martins Moura faz o cordeiro – símbolo da castidade – sentar à mesa com os pecados. E gozar da companhia um do outro, “de corpo inteiro no indevido”.

Para a professora Paula Glenadel da Universidade Federal Fluminense (UFF), Milena “assume para si uma voz incomum entre sua geração”, tratando de temas bíblicos, ou dos “mistérios gregos”.

Neste O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, a opressão é esmagada e as palavras são desnudadas sem culpa, como aponta Anna Clara de Vitto na orelha.

A Eva de Milena é “serpente e desfrute” e vai “lambendo o caminho desviado”, dando atos de sujeito à primeira mulher. Em certo momento, Eva afirma: “estou nua e disso não me envergonho”.

RESENHA

A poeta enfrenta temas como religião, erotismo, profanação do sagrado e as proibições ligadas à liberdade feminina, em versos que usam a palavra como instrumento de independência. Priscila Branco ressalta, logo no início do prefácio, que essa coletânea de poemas é transgressora, pois propõe uma total inversão da tradição judaico-cristã, estabelecida em nossa sociedade por milhares de anos. E afirma: “O próprio ato de escrita e, agora, de leitura deste livro é a luta contra o sacrifício. Que a poesia possa sempre dar voz ao cordeiro e aos pecados, e que todo leitor ache um pedaço desse pão, mesmo que o cobertor esteja úmido em dias gelados.” Nessa mesma direção, Paula Glenadel oferece, no posfácio, uma análise sobre a abordagem ousada de Milena nessa obra. De acordo com ela, a fome e a sede são imagens que percorrem quase todos os poemas do livro. Para a professora, essas cenas se organizam em duas grandes séries de substâncias, a do pão, do vinho ou da água; e a da carne e do sangue, nas quais o sujeito se exercita na ocupação de lugares mutáveis. E essa transubstanciação, em suas palavras, “põe em destaque a ineficácia da transferência sacrificial tradicional, incapaz de saciar essa sede e, principalmente, essa fome”. Em O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, as mulheres existem como seres que desejam e é do desejo que o direito à subjetividade emerge. Para a autora, trabalhar esse tema sob essa perspectiva era algo inevitável, além de um ato político em desejo de si e de outras: “Eu sou uma mulher que foi criada sob o peso da culpa e que se cansou de ver seu desejo como um erro e seu corpo como impuro.”

Em uma análise ao poema LUTA:

apenas dois
olhos
fracos
se interpõe
entre mim
escuro

e eu que nunca fui muito forte existo novembro e flores mortas pintadas do sangue de flamboyants tenho dois olhos cor de tempestade e um cansaço ancestral nos ossos do não
dito 

O poema é um texto lírico que expressa a angústia e a solidão do eu lírico, que se sente fraco e cansado diante da escuridão da vida. O poema tem uma estrutura irregular, sem rimas ou métrica definida, o que sugere uma ruptura com as formas tradicionais e uma busca por uma linguagem mais livre e pessoal.

O poema se divide em três partes, cada uma iniciada por uma referência aos olhos do eu lírico. Na primeira parte, ele diz que tem apenas dois olhos fracos que se interpõem entre ele e o escuro, o que indica uma sensação de impotência e vulnerabilidade diante do desconhecido. Na segunda parte, ele afirma que nunca foi muito forte e que existe novembro e flores mortas pintadas do sangue de flamboyants, o que remete a uma atmosfera de melancolia e decadência, marcada pelo fim do outono e pela cor vermelha que simboliza tanto a beleza quanto a violência. Na terceira parte, ele revela que tem dois olhos cor de tempestade e um cansaço ancestral nos ossos do não dito, o que sugere uma emoção intensa e reprimida, que carrega consigo há muito tempo e que não consegue expressar.

O poema, portanto, é uma manifestação de um sentimento de desesperança e de incomunicabilidade, que revela a fragilidade e a complexidade do eu lírico.

Adquira O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão via site da editora Aboio: https://aboio.com.br/produto/o-cordeiro-milena-martins-moura/

[RESENHA. #961] O sorriso do erro, de Eduardo rosal

Em um mundo tomado pela disputa entre aprovação e reprovação, Eduardo Rosal defende o erro pelo erro. Não como um passo a caminho para o sucesso, mas uma escolha de maneira consciente: a fuga de qualquer rota totalitarista que desconsidere nossas singularidades e diferenças.

“Ser escritor”, diz o poeta, “é um esforço destinado ao erro; é trabalhar com as ruínas do fracasso”. No entanto, é preciso continuar escrevendo, buscando, ou melhor, criando um sentido para nossas vidas. “Assim como é preciso ver Sísifo contente, precisamos ver o sorriso no erro”, sentencia.

O Sorriso do Erro apresenta 42 poemas divididos em seis seções – Os muros do nome, Dentro e fora, Os gestos no escuro, Croque de concretude, Lições de fragilidade e Errâncias. Embora cada uma tenha seu próprio mote, elas dialogam entre si, fomentando uma conversa que culmina em um questionamento para o leitor: afinal, o que é o erro?

RESENHA

O Sorriso do Erro é um livro de poesia de Eduardo Rosal, publicado pela Editora Aboio em 2023. O autor defende o erro como uma forma de resistência e criação, contrapondo-se à lógica da aprovação e da reprovação que domina o mundo contemporâneo. Rosal propõe uma poesia que celebra as singularidades, as diferenças e as dúvidas, em oposição ao totalitarismo, ao fascismo e à uniformidade.

O livro é dividido em seis seções (os muros do nome; dentro e fora; os gestos no escuro; croqui de concretude; loções de fragilidade e errância), cada uma com um tema específico, mas que se relacionam entre si. Os poemas exploram questões como a identidade, a linguagem, a violência, a fragilidade, a memória e a esperança. Rosal utiliza uma linguagem simples, mas não simplista, que busca provocar o leitor a questionar o que é o erro e qual o seu papel na construção de um sentido para a vida.

O Sorriso do Erro é um livro que convida à reflexão, à crítica e à ação, através de uma poesia que não se conforma com o status quo, mas que busca transformá-lo. É um livro que sorri para o erro, não como um fracasso, mas como uma possibilidade de renovação e de liberdade.

O primeiro poema da primeira seção, os muros do nome, é completamente forte e poético:

Desde que não sei quem sou
começo a me entender
entre a sede
           e o são
    um nome
que não sei dizer
e se refaz 
vão de voo
terreno entre
um natimorto acerto
e os erros de quem
não se rende aos modelos

O poema começa com uma afirmação paradoxal: “desde que não sei quem sou, começo a me entender”. O sujeito poético revela que a sua ignorância sobre si mesmo é o ponto de partida para o seu autoconhecimento. Ele se coloca entre a “sede” e o “são”, ou seja, entre o desejo e a razão, entre a falta e a plenitude, entre o incompleto e o completo. Ele não se define por nenhum desses extremos, mas pela tensão entre eles.

O segundo verso mostra que o sujeito poético está em constante transformação: “um nome que não sei dizer e se refaz”. Ele não tem uma identidade fixa e estável, mas uma que se renova e se reinventa. Ele não sabe dizer o seu nome, pois ele não é um rótulo ou uma etiqueta, mas uma experiência e uma vivência.

O terceiro verso repete a expressão “vão de voo”, que pode ter dois sentidos: um de movimento, de ir e vir, de deslocamento; e outro de vazio, de ausência, de lacuna. O sujeito poético se situa nesse vão, nesse espaço entre, nesse intervalo que não é nem um nem outro, mas que possibilita a criação e a resistência.

O quarto verso reforça essa ideia de estar no “terreno entre”, no limiar, na fronteira, na margem. O sujeito poético não se conforma com o “natimorto acerto”, ou seja, com o que é dado como certo, mas que já nasce morto, sem vida, sem sentido, sem potência. Ele se identifica com os “erros de quem não se rende aos modelos”, ou seja, com as falhas, as diferenças, as singularidades, as subversões, as transgressões, as invenções.

O poema, pode ser considerado uma afirmação da identidade como um processo, uma construção, uma experimentação, uma errância, uma poesia. É um poema que sorri para o erro, como uma forma de liberdade e de expressão.

outro poema bastante interessante do autor está presente na quarta seção, croqui de concretude, loucura:

Locura de astrônomo,
de biólogo:
de binóculo na veia, ver
no mínimo o macro.
Microscopicamente, ver
no macro o micro

Loucura de arqueólogo, 
de catalogador, de colecionador:
movidos mais
pela próxima busca,
apaixonados pelo jogo com a perda,
com fome de fragilidades.

Loucura de escritor que manuseia
um grão de areia e um astro,
com a mesma intimidade
com que entrevista a morte,
uma planta dormideira
e um gato.

Sou louco pelo gelo derretendo,
pelos capachos de bem-vindo
(com ou sem hífen),
pela água ventando na poça.

Louco pelas montanhas com vacas.
Louco por outras pegadas.

Nesse poema, o autor explora as diferentes formas de loucura que se manifestam na curiosidade, na criatividade e na sensibilidade dos seres humanos. Ele usa como exemplos as profissões de astrônomo, biólogo, arqueólogo, catalogador, colecionador e escritor, que representam a busca pelo conhecimento, pela arte e pela memória. Ele também se inclui nessa lista, revelando suas próprias loucuras, que são detalhes simples e cotidianos que o encantam.

O poema é construído com versos livres, sem rima ou métrica fixa, mas com uma certa musicalidade e ritmo. Ele usa repetições, anáforas, aliterações e assonâncias para criar efeitos sonoros e enfatizar as ideias. Por exemplo, ele repete a palavra “loucura” no início de cada estrofe, criando uma espécie de refrão. Ele também usa anáforas como “de” e “pela” para introduzir os objetos de loucura de cada profissão ou pessoa. Ele usa aliterações como “binóculo na veia”, “movidos mais pela próxima busca” e “com fome de fragilidades” para criar sons consonantais que reforçam o sentido dos versos. Ele usa assonâncias como “astrônomo, de biólogo”, “arqueólogo, de catalogador, de colecionador” e “grão de areia e um astro” para criar sons vocálicos que harmonizam os versos.

O poema também usa imagens e metáforas para expressar as loucuras dos sujeitos. Por exemplo, ele usa a imagem do “binóculo na veia” para sugerir a intensidade e a paixão dos astrônomos e biólogos pelo que observam. Ele usa a metáfora do “jogo com a perda” para indicar o desafio e o risco dos arqueólogos, catalogadores e colecionadores que lidam com objetos frágeis e efêmeros. Ele usa a imagem do “grão de areia e um astro” para mostrar a amplitude e a diversidade dos temas que o escritor pode abordar. Ele usa a metáfora da “entrevista” para revelar a proximidade e a curiosidade do escritor com relação aos seus objetos de escrita, que podem ser desde a morte até um gato.

O poema, portanto, celebra a loucura como uma forma de resistir à normalização e à padronização que o autor critica em seu livro. Ele defende a loucura como uma forma de liberdade, de expressão e de criação, que valoriza as singularidades e diferenças humanas. Ele convida o leitor a se identificar com as loucuras apresentadas no poema e a reconhecer as suas próprias loucuras.

O sorriso do erro é um livro que nos convida a refletir sobre o papel do erro na vida humana, na arte e na sociedade. Eduardo Rosal, com sua poesia sensível, criativa e engajada, nos mostra que o erro não é apenas um desvio, um fracasso ou uma falha, mas também uma forma de resistir, de expressar e de criar. Ele nos propõe uma ética do erro, que valoriza as singularidades, as diferenças e as possibilidades de cada ser humano.

O livro é composto por 42 poemas, divididos em seis seções, que abordam temas como o nome, o corpo, o amor, a linguagem, a fragilidade e a errância. Cada seção tem um título que remete ao erro, como Os muros do nome, Dentro e fora, Os gestos no escuro, Croque de concretude, Lições de fragilidade e Errâncias. Os poemas são escritos em versos livres, sem rima ou métrica fixa, mas com uma musicalidade e um ritmo próprios. O autor usa recursos estilísticos como repetições, anáforas, aliterações, assonâncias, imagens e metáforas para criar efeitos sonoros e visuais, e para enfatizar as suas ideias.

O livro é uma obra original, inovadora e provocativa, que nos faz pensar sobre o nosso próprio conceito de erro, e sobre como lidamos com os nossos erros e os dos outros. É um livro que nos desafia a questionar os padrões, as normas e as verdades impostas pela sociedade, e a buscar a nossa própria voz, o nosso próprio caminho, o nosso próprio sorriso. É um livro que nos ensina a errar com coragem e consciência.

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