Resenha: Amar elos vermelhos, de Márcia Meira Bastos
Resenha: O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos, de Rodrigo llari e Renato Basso
Foto: Arte digital / Divulgação |
APRESENTAÇÃO
O português do Brasil é falado por mais de 170 milhões de pessoas em um imenso território, mas muita gente teima em afirmar que ele não existe, ou, pior, não deveria existir. Ilari e Basso, seguindo uma tradição iniciada nos anos 20 por Mário de Andrade e Amadeu Amaral, oferecem-nos, em O português da gente, um estudo da língua que nós falamos e que pouco a pouco vai conquistando seus direitos. Este é um livro para ler, estudar e discutir, na sala de aula e fora dela.
Foto: Arte digital / Divulgação |
[RESENHA #1004] Maria Quitéria de Jesus: uma heroína da independência, de Marianna Teixeira Farias
Foto: Detalhes da diagramação da obra / divulgação / Ed. Contracorrente |
[RESENHA #1002] bom menino homem dinossauro, de Guilherme Andretta Pompermayer
SINOPSE
"Bom Menino Homem Dinossauro", obra de Guilherme Andretta, nos leva a refletir sobre o percurso de um menino que se transforma em homem, mas não abandona sua paixão por dinossauros. Nessa autobiografia em poesia, o autor mergulha nas angústias e desafios da geração Y, em meio a uma região metropolitana de um país de terceiro mundo. Com sua formação em literatura e experiência como autor e ilustrador, Andretta nos presenteia com uma obra que nos convida a nos assumirmos como somos: homens, brasileiros, artistas, filhos, netos, irmãos, sobrinhos e amigos, mas acima de tudo, meninos e dinossauros.
A obra também conta com relatos comoventes, como o do Urso na escola, que rouba as pontas de lápis porque acha todas as cores bonitas, ou as memórias do protagonista jogando bola com sua irmã e sendo chamado de Sonic pelas tias da secretaria. Esses elementos humorísticos e nostálgicos adicionam camadas à narrativa e nos fazem sentir identificados e conectados com o personagem.
A obra é uma obra literária que nos leva a refletir sobre a inocência e a pureza da infância, contrastando com a pressão e as expectativas da vida adulta. O autor nos apresenta a história de um garoto, Guilherme, que se identifica mais com os dinossauros do que com os humanos, preferindo o mundo pré-histórico ao contemporâneo.
A metáfora da extinção dos dinossauros é utilizada de forma brilhante para destacar a sensação de deslocamento e estranheza que o protagonista sente em relação à sua própria identidade. O desejo de permanecer criança e o confronto com as expectativas impostas pelos adultos são temas sensíveis e bem explorados ao longo da narrativa.
O texto também aborda a questão da reencarnação e da pressão social para que Guilherme seja como seu falecido tio Adhemar. A busca pela própria identidade e a resistência em se moldar aos padrões estabelecidos são elementos que nos fazem refletir sobre a importância de sermos fiéis a nós mesmos, mesmo diante das adversidades. A narrativa envolvente nos transporta para a mente criativa e curiosa de Fae, na página 1+9, que nos faz refletir sobre a importância da fantasia, da inocência e da beleza nas pequenas coisas da vida. A relação do personagem com a sua amada Fae, que só lhe conta coisas bonitas, nos faz questionar as fronteiras entre a realidade e a ilusão, entre a razão e a emoção.
O livro também traz referências culturais e históricas que enriquecem a narrativa, como o ano do penta do Brasil e a eleição de Lula, situando o leitor no contexto em que a história se desenvolve. Esses elementos contribuem para a construção de um cenário vívido e realista.
Além disso, a forma como o autor aborda temas como solidão, amizade e superação é tocante e nos faz refletir sobre a importância de se manter esperançoso mesmo diante das adversidades. Fae consegue transmitir com maestria as emoções e os conflitos internos do protagonista, nos aproximando de sua jornada de autodescoberta e crescimento.
Em suma, 'Bom Menino Homem Dinossauro' é uma obra que encanta e emociona, mostrando que mesmo diante das rupturas e das perdas, sempre há espaço para a esperança e para novos começos. Uma leitura indispensável para quem busca se conectar com as nuances da experiência humana."
O AUTOR
[RESENHA #998] Os miseráveis, de Victor Hugo
Um clássico da literatura mundial, esta obra é uma poderosa denúncia a todos os tipos de injustiça humana. Narra a emocionante história de Jean Valjean ― o homem que, por ter roubado um pão, é condenado a dezenove anos de prisão. Os miseráveis é um livro inquietantemente religioso e político, com uma das narrativas mais envolventes já criadas.
RESENHA
A história se passa na França, durante a primeira metade do século XIX. Neste período, o país está imerso em um clima de profundo descontentamento social devido à restauração da monarquia na França após a queda do Império Napoleônico na Batalha de Waterloo. A Revolução Francesa de 1789 havia consolidado na sociedade a ideia de um país mais equitativo, baseado nos princípios de "igualdade, fraternidade e liberdade". A reintrodução de um sistema antiquado como a monarquia é acrescida de uma situação de extrema pobreza e desigualdade social. Neste contexto, algumas células revolucionárias começam a surgir gradualmente buscando acabar de uma vez por todas com a monarquia na França.
Os miseráveis começam com a história de Jean Valjean, um ex-presidiário que foi encarcerado por roubar um pão. Após ser libertado, ele percebe que é tratado como um pária onde quer que vá, até que o bispo Myriel o ajuda a reconstruir sua vida. Valjean adota o nome de Senhor Magdalena e se torna um bem-sucedido dono de fábrica. No entanto, ele é perseguido pelo obstinado oficial de polícia Javert, que acredita que nenhum criminoso pode se reformar.
Fantine é uma jovem pobre e bonita que se apaixona por um jovem estudante presunçoso, que a abandona logo após ela dar à luz sua filha. Fantine chama esta menina de Cosette e a deixa aos cuidados dos Thenardier para poder procurar trabalho. Os Thenardier tratam Cosette com crueldade e exigem de Fantine grandes somas de dinheiro pelo cuidado de sua filha. Após descobrirem que sua filha é ilegítima, Fantine perde seu emprego na fábrica de Valjean e é obrigada a se prostituir.
O oficial Javert prende Fantine depois dela agredir um jovem que lhe atirou uma bola de neve na blusa. Valjean intercede e leva Fantine a um hospital; após o incidente da bola de neve, ela adoece gravemente. Valjean promete a Fantine que cuidará de sua filha Cosette, mas logo descobre que um homem chamado Champmathieu foi erroneamente identificado como ele e foi condenado à prisão perpétua por ser um criminoso reincidente. Depois de refletir muito sobre isso, Valjean decide testemunhar no tribunal e esclarecer que na verdade ele é Valjean. Fantine falece e Valjean é novamente preso.
Valjean foge da prisão após cair de uma corda e resgata Cosette dos malvados Thenardier. Juntos, eles começam uma nova vida em Paris, mas logo são interrompidos por Javert, que descobre que Valjean conseguiu escapar da prisão com vida. Os dois se refugiam no convento de Petit-Picpus, e Cosette cresce para se tornar uma jovem.
Marius é um jovem rico que adora seu avô Gillenormand. No entanto, Gillenormand separou Marius de seu pai, Georges Pontmercy, devido às diferenças políticas irreconciliáveis entre os dois homens. Marius achava que seu pai o havia abandonado, mas o gentil porteiro Mabeuf revela a verdade a ele, e Marius começa a idolatrar seu pai (que já está morto). Isso resulta em uma briga entre Marius e seu avô Gillenormand, e Marius começa uma nova vida. Ele se torna amigo da sociedade revolucionária ABC e se apaixona por uma bela jovem que vê em um jardim de Luxemburgo (Cosette). Marius não consegue encontrar essa jovem novamente e fica desesperado.
Valjean e Cosette tentam levar uma vida tranquila, longe dos problemas do passado. No entanto, eles não conseguem: os Thenardier tentam extorquir Valjean sequestrando-o, mas Marius intervém e o salva. A filha mais velha dos Thenardier, Eponine, se apaixonou por ele. Marius só tem olhos para Cosette, e os dois iniciam um relacionamento quando Marius deixa um caderno com cartas de amor no jardim dela. Seu romance é interrompido quando Valjean decide que ele e Cosette devem deixar a França e se mudar para a Inglaterra, devido à agitação social.
Desesperado, Marius se junta a um levante contra o governo. Ele encontra seus amigos da sociedade ABC em uma barricada, onde estão lutando contra a polícia e o exército. Javert tentou se infiltrar em suas fileiras como espião, mas foi descoberto e amarrado a um poste. Eponine morre protegendo Marius na barricada.
Valjean, que descobriu o amor de Marius por Cosette, se junta ao grupo na barricada. Ele se oferece como voluntário para executar Javert, mas depois o deixa ir, deixando Javert desconcertado. Valjean volta justo quando o exército está sitiando a barricada. Valjean pega Marius, que está gravemente ferido, e os dois escapam pelos esgotos. Javert está esperando Valjean na saída, mas em vez de prendê-lo, ele mostra misericórdia e permite que Valjean leve o ferido Marius para um lugar seguro (Marius nunca descobre a identidade do homem que o salvou). Desgostoso e horrorizado por ter falhado em sua missão, Javert comete suicídio.
Marius se recupera de seus ferimentos e, com a bênção de Gillenormand e Valjean, casa-se com Cosette. Valjean confessou seu passado criminoso a Marius, que não consegue acreditar que o homem tenha sido um criminoso. À medida que Valjean e Cosette se distanciam um do outro, Marius e Cosette consolidam sua união. A vida de Valjean perde sentido sem Cosette e sua saúde se deteriora. No entanto, o heroísmo de Valjean é revelado para Marius quando o Sr. Thenardier, sem saber, revela que foi Valjean quem o salvou na noite em que a barricada caiu. Marius e Cosette chegam a tempo de consolar Valjean em seu leito de morte, e o idoso falece em paz, com a satisfação de ter vivido uma boa vida.
"Os Miseráveis" é uma obra-prima da literatura que aborda temas profundos como redenção, misericórdia e bondade. Victor Hugo conseguiu capturar de forma magistral a essência da natureza humana em meio a uma sociedade marcada pela desigualdade social e injustiças. A complexidade dos personagens, suas lutas internas e a evolução ao longo da narrativa são incrivelmente bem construídas, cativando o leitor do início ao fim. O enredo envolvente, os dilemas morais enfrentados pelos protagonistas e a descrição vívida da Paris da época transportam o leitor para dentro da história de forma emocionante. Uma leitura obrigatória para todos que apreciam uma trama envolvente e reflexiva.
[RESENHA #977] Ossada Perpétua, de Anna Kuzminska
Livro de estreia de Anna Kuzminska, fotógrafa e autora fluminense, Ossada Perpétua tateia um tipo peculiar de luto. A ausência dita comportamentos, o passado está eivado nas entranhas do vivos, mas a existência segue um compasso de normalidade.
As personagens de Anna parecem sempre querer fugir da realidade (ou do sonho) por meio do falatório vazio, do silêncio transfigurado em nota musical, da recusa do conforto fraternal, e, às vezes, da arte.
O jogo que se trava entre os desejos e as crenças das personagens é confrontado pelo insólito de desenterrar um pai sem túmulo, ou pela aprendizagem dos limites e transgressões durante a infância.
Anna circula Deus e o amor, as memórias germinando desejos, o cotidiano da morte, o avesso da morte, a negação da morte, a recusa da morte.
RESENHA
O livro “Ossada Perpétua” da autora Anna Kuzminská é uma obra que representa uma escrita profunda, reflexiva e estimulante. Com uma narrativa fragmentada e poética, a autora constrói uma trama repleta de simbolismos e metáforas, explorando temas como a busca pelo sentido da existência e a complexa relação com a finitude.
A escrita de Kuzmin se caracteriza pelo caráter crítico, lidando com situações polêmicas que criam conflitos entre personagens e provocam reflexões sobre autoridade, moralidade e como cada pessoa lida com a morte. A relação dos filhos com o pai falecido e a figura da mãe como elemento assertivo central da família são aspectos que o livro enfatiza.
A profundidade das perguntas e a linguagem poética utilizada permitem ao leitor mergulhar no pensamento dos personagens. Trechos do diário de quarentena revelam uma introspecção intensa, a exploração de pensamentos sombrios e o impacto da solidão e da incerteza no estado emocional do narrador. A escrita de Kuzmin desperta um sentimento de identificação com as ambigüidades da condição humana.
Uma característica distintiva da escrita do autor é também a criação de imagens vivas e uma atmosfera envolvente. A descrição da figueira como elemento constante e imperturbável representa a resiliência e a presença constante da morte na vida de cada pessoa. Os vitrais da igreja, representando a história de Jesus, reforçam a abordagem da finitude e da morte como temas centrais da obra.
Comparada a autores consagrados como Karl Ove Knausgård e Elena Ferrante, a escrita de Kuzminsky se destaca pela honestidade, reflexividade e abordagem às complexidades das relações familiares. A autora traz sua voz distinta, explora questões existenciais e a relação interna entre vida e morte de forma original.
[RESENHA #562] Homens (não) choram, de Joan Turu
APRESENTAÇÃO
Nil é um garotinho, mas agora ele precisa se tornar um homem! Mas o que isso quer dizer? Não ter medo? Não demonstrar sentimentos? Não chorar? Acompanhe Nil em seu processo de autodescoberta sobre o que realmente é ser um homem nesta tocante história ilustrada. Chega a hora em que todo menino precisa virar homem. Quando Nil percebe que está ficando mais velho, surge a preocupação: o que significa ser homem? Olhando os homens ao seu redor, os da televisão e os das revistas, parece que as respostas já vem prontas.Então por que, logo após começar a agir como um verdadeiro homem, Nil se sente tão mal?Homens choram é a leitura ideal para mostrar aos meninos a importância de serem fieis a quem eles são de verdade, e de demonstrar os seus sentimentos, inclusive chorando, sempre que for necessário.
RESENHA
Nil é um garotinho que está crescendo, e com a idade vem as dúvidas, afinal, quando os meninos crescem, eles se tornam homens, mas...como era um homem? o que constitui o homem? Dá para aprender como ser homem, se sim, será que ensinam na escola? se não, como sabem como se constitui um homem? As dúvidas começam a pairar sobre a cabeça de Nil, até que ele decide pesquisar como são os homens, afinal, ele precisava aprender de algum lugar.
Em sua família, seu avô lhe contou que servir ao exército o tornou homem, incrédulo, ele começa pesquisar outros modelos de como se tornar homem, assistindo televisão, filmes, debates políticos e tantos outros programas, a partir dai, ele começa a pontuar tudo o que aprendera em um desenho no quarto: homem não usa rosa, homem não chora, homem tem que ser macho, viril, indiferente, e etc. Após colecionar alguns aspectos, Nil decide colocar em prática, porém, ao se tornar autossuficiente e independente de suas emoções, ele transformou-se em uma pessoa da qual não tinha nenhum orgulho. Ele passa a não querer brincar com sua amiga, afinal, homem brinca com coisa de homem, ele deixa de aproveitar os jogos de futebol para caçoar dos amigos...e, até se mete em uma briga, mas tudo isso o deixa mal consigo mesmo.
Após entrar em um conflito interno sobre como era ser homem, Nil fica cabisbaixo e triste, não somente por não ter se dado conta em como era ser homem, mas por não ter se transformado em um bom exemplo de homem naquele dia, então Nil é amparado por um médico da escola que o vê chorar, naquele momento, após uma conversa, Nil entendeu que tudo bem demonstrar sentimentos e fazer certas coisas, que nada disso o tornava menos homem.
uma excelente história ilustrada para ensinar os meninos sobre sentimentos, choro e demais aspectos que constituem não apenas o homem, mas o ser humano. Educar é preciso, e este é um ótimo livro-roteiro para tal.
O AUTOR
Joan Turu nasceu em 1984 e é um ilustrador profissional dedicado à literatura infantojuvenil. Com uma caixa de lápis em mãos, Turu aprendeu que, mesmo não conseguindo mudar o mundo, podia criar no papel, nem que por apenas alguns momentos, um mundo onde palavras como respeito, solidariedade, empatia, paz e, principalmente, amor, fossem vividas no dia a dia. Ao concluir o curso de ilustração na Escola de Arte Manresa, entendeu que, assim como o desenho, se mudarmos a nossa perspectiva do mundo, podemos realmente mudar o mundo!
[RESENHA #534] O fato e a coisa, de Torquato Neto
Neto, Torquato, 1944-1972 / O fato e a coisa / Torquato Neto. -- São Paulo: Círculo de poemas, 2022.
Hoje, 50 anos após a trágica morte de Torquato Neto, sua coleção de poemas é uma homenagem ao seu grande legado. Seu amor por sua cidade natal, Teresina, bem como suas viagens por Salvador e Rio de Janeiro, são retratados em seus versos. Referências de Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes aparecem em suas obras, refletindo o intenso período de produção literária. Torquato também abraçou a jornada tropicalista, compartilhando amizade com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Nara Leão, e cantando em seus poemas: "Viva Caetano e Bethânia / (...) Viva que eu os conheço / E eu os amo de longe ou perto". Esta coletânea de versos é uma homenagem ao trabalho de Torquato Neto e às vidas que tocou.
“Tenho rins e eles me dizem que estou vivo”, escreve Torquato num de seus versos. Passado todo esse tempo, sua obra segue viva e se espalha cada vez mais entre nós, fazendo a cabeça e o coração de gerações.
Torquato Neto nasceu em 1944, em Teresina, Piauí. Foi poeta, letrista e colunista de jornal. Sempre ligado às vanguardas artísticas, participou ativamente do Tropicalismo ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Nara Leão etc. É autor de algumas das letras mais inventivas da música popular brasileira, como “Geleia geral”, “A coisa mais linda que existe” e “Todo dia é dia D”. Faleceu em 1972, no Rio de Janeiro.