Foto: Acervo Pessoal / Rinaldo Segundo |
“O país se buscava, enquanto eu me perseguia. Mas quem eu era? Embora já soubesse a resposta, percorri um longo percurso até viver a minha revelação.”
(Trecho da pág. 58)
O terceiro livro do mato-grossense Rinaldo Segundo ensaia os dilemas do viver e do sentir no livro de contos “Emoções: A Grandeza Humana” (144 páginas, Editora Labrador). Natural de Várzea Grande e atualmente vivendo em Cuiabá, no Mato Grosso, Rinaldo é formado em Economia e Direito com mestrado em Desenvolvimento Sustentável pela Harvard Law School. Além disso, segue carreira profissional como promotor de Justiça atuando na área de homicídios e crimes sexuais contra crianças e adolescentes. Um trabalho intenso onde testemunha histórias que o colocam cara a cara com a dor alheia.
Seu livro apresenta oito contos ficcionais, cada um sobre uma emoção, classificada como tal ou apropriada pela liberdade artística. São histórias permeadas também por dramas sociais, tais como crianças abrigadas, racismo, diferenças sociais e populismo jornalístico.
“Descobri o tema das emoções ao buscar identificar as minhas próprias emoções. Convivo com a dor alheia em meu trabalho como promotor de Justiça, testemunho mães que perderam os seus filhos, crianças sexualmente abusadas e vulnerabilidades sociais”, explica o escritor. “Em alguma medida, tais dores se tornam minhas também, e convertem-se em ilusões e desilusões nos casos em que atuo.”
Para ele, escrever ficção sobre as emoções foi uma libertação, uma vez que seu cargo representa a força estatal e por ser um homem nascido nos anos 70 cujas emoções eram “naturalmente negadas”. “Traduzir a dor alheia e a minha também em histórias realistas me tornou mais humano.”
Um mergulho na complexidade humana
Na obra, o autor expõe como as emoções são capazes de domar e serem domadas. Como as emoções, mesmo que universais, só podem ser medidas e experimentadas na individualidade. Tal como uma minissérie, os capítulos são nomeados como Solidão, Alegria, Vergonha, Esperança, Medo, Raiva, Paixão e Felicidade.
“Evidentemente, os contos têm personagens, mas eu também imaginei as emoções como protagonistas das histórias humanas. As emoções protagonizam mudanças e a própria vida das pessoas, como quando alguém tem um acesso de raiva e mata outra pessoa, ou quando no final da vida, alguém percebe ter sido feliz. Por isso, cada conto tem um título remetendo a elas”, justifica.
Em sua estreia na ficção, o autor concebe personagens ricos e com histórias pregressas que tendem a explorar suas intimidades. Alguns deles, como o protagonista de “Alegria”, demonstram ainda uma sofisticação sarcástica em suas interações. A escrita de Rinaldo traduz a natureza complexa das emoções em situações trágicas e cômicas que podem vir ou não, a acabar em redenção. Seus contos falam, sobretudo, de humanidade.
“Tanto quanto homo sapiens, somos homo motus, seres emocionais. Podemos viver sem ter consciência delas, é verdade, mas elas estão em nossas escolhas e decisões 24 horas por dia. Às vezes, essas emoções são complexas, formadas pela união delas, e às vezes, elas se sucedem rapidamente”, comenta.
A humanidade sempre lidou com as emoções. E um dos argumentos do livro é justamente mostrar como sem elas, qualquer sujeito se resume a um ser unidimensional. As emoções, por meio de seu portador, podem ser aprisionadas ou permitidas.
Novos livros em vista
Rinaldo sempre escreveu contos, mas precisou sentir-se confiante para publicar as histórias presentes em “Emoções”. Aos 45 anos, o autor já publicou “Sonhando com Harvard”, em que compartilha suas memórias e conta os passos e iniciativas que o levaram a uma das melhores universidades do mundo, além da não-ficção “Desenvolvimento Sustentável da Amazônia” que, por sua vez, trata do aquecimento global e do desmatamento amazônico, discutindo um modelo de geração de riquezas e redução do desmatamento que dialoga com os desafios ecológicos globais. O livro é fruto da pesquisa de Rinaldo enquanto esteve na universidade americana.
O autor pretende agora escrever um segundo volume de contos ficcionais. Mais uma vez, relacionado às emoções. Dessa vez, Rinaldo promete tratar de temas mais espinhosos."Quero abordar um lado humano mais esquisito e sombrio, com emoções como a tristeza, o ciúme e o desprezo”, revela. Ele também tem em mente um novo livro de memórias, dessa vez, sobre a experiência de trabalhar com crimes sexuais praticados contra crianças e adolescentes. "Pretendo expor os bastidores e os desafios daquele tipo de trabalho."
Leia um trecho de “Emoções: A Grandeza Humana” (pág. 47):
“Uma criança com um balão não imagina o gás hélio sólido. Se a matéria tem diferentes estados físicos, o ser humano também. A vergonha pode mudar a forma de alguém, de descontraído a tenso, de ereto a encurvado, de confiante a medroso. O envergonhado desvia o olhar do outro, para se desviar de si. Ao redor de seu eu, constrói muralha invisível e cumpre sentença perpétua.”
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O AUTOR
Rinaldo Segundo é promotor de justiça e atua, principalmente, na área de homicídios e crimes sexuais contra crianças e adolescentes, onde sente diariamente as emoções alheias refletidas em si. Formado em Economia e Direito, com mestrado em Desenvolvimento Sustentável (Harvard Law School), também é autor do recém-lançado livro de contos “Emoções: A Grandeza Humana” (144 páginas, Editora Labrador). Inspirada em sua vivência profissional, a obra expõe dramas sociais da atualidade e as emoções como ponto comum na experiência humana.