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Resenha: Um jeito de recomeçar, de Filipe Salomão

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO

Caroline, após perder os pais em uma tragédia, decide se reerguer e encontrar consolo viajando para uma pousada, onde busca se reconectar consigo mesma. Durante sua estadia, ela conhece Berta, Estela, Chico, Augusto, Vavá e Conrado, e embarca em uma jornada de descoberta pessoal enquanto se envolve em um romance.

RESENHA

Carol, antes Caroline, perde seus pais em um caso de assassinato seguido de suicídio. Após a tragédia, ela decide se chamar apenas Carol e se vê confrontada com a necessidade de recomeçar do zero, abandonando a vida de luxo e aparências.  Carol, decide fugir de sua vida passada e busca recomeçar em uma pousada isolada na praia. Ao chegar, é recebida pelo dono da pousada, Seu Vavá, que a hospeda e a apresenta aos outros hóspedes e funcionários. Ela se aproxima de Chico, um pescador local, e aprende a pescar com ele. Conhece também Gustavo, um hóspede que foge de problemas familiares. Durante sua estadia, Carol reflete sobre seu passado e tenta se reconectar consigo mesma. A pousada se torna um refúgio para ela, onde encontra acolhimento e novas perspectivas. Ao conhecer os diferentes personagens, Carol começa a se abrir e a transformar sua visão sobre sua vida.

Após um dia de sol na praia, acaba em uma aula de surfe improvisada. O professor, Augusto, ensina passo a passo os fundamentos do surfe, mostrando-se habilidoso e apaixonado pelo mar. Augusto oferece a aula e, de forma inesperada, um surpreendente Carol com um beijo como pagamento simbólico. Ela acaba se envolvendo com Chico, um pescador local, e seu filho Augusto durante sua estadia na pousada de dona Berta. Chico revela a Carol que sua esposa, Heloisa, o abandonou há 10 anos, deixando-o com o filho. Ele ainda tem esperanças de que ela volte um dia, mesmo sabendo que ela foi embora com um turista da região. Carol se solidariza com Chico e tenta confortá-lo, mas percebe que, apesar da aparente harmonia entre pai e filho, as relações naquela família eram complicadas.

Foto: Arte digital

Durante o dia, Carol pesca com Chico e Augusto, mas acaba se divertindo mais com a limpeza do peixe na cozinha da pousada. Dona Berta prepara um almoço com os peixes pescados por eles, e todos se reúnem para comer juntos, quase como uma família. No entanto, a presença de Conrado e Estela, outros hóspedes da pousada, traz uma tensão ao ambiente. Apesar dos momentos de desconforto, Carol se sente feliz por encontrar seu quarto perfeitamente arrumado após a bagunça que deixou, e reflete sobre a felicidade e observando a dinâmica contraditória do mundo. 

A tensão começa a se desenvolver mais fortemente quando Carol é convidada por Augusto para participar de um luau, onde acaba se envolvendo em uma situação desconfortável com um rapaz que tenta abusar dela sexualmente. Augusto a defende e a salva, revelando seus sentimentos por ela. Mesmo assim, com o passar dos dias, ela começa a se sentir deslocada e começa a compreender de alguma forma os sentimentos de solidão que ela enfrentava com frequência, fazendo-a compreender que, deve se atentar para evitar a solidão na qual ela mesma se colocava. 

A narrativa segue com Carol e Conrado, no qual ela questiona o relacionamento dele com sua esposa, acusando-o de não ser capaz de satisfazê-la. Carol se propõe a ser a amante de Conrado, destacando as diferenças entre uma mulher e uma amante. Ela  então cria um clima de tensão ao confrontar Conrado sobre sua vida pessoal e sexual, insinuando que ele não é capaz de dar prazer à esposa e que ela poderia ser uma opção mais satisfatória.  

Foto: Arte digitasl

Carol acaba se tornando vítima de sua sensualidade envolvendo Augusto e Conrado, gerando uma discussão e confronto com Estela, que a acusa de manipular ambos. Chico, por sua vez, intervém pedindo à Carol que se afaste de seu filho, temendo que ela traga mais problemas do que soluções. O enredo segue uma trama de mistérios que ocasiona na morte de um personagem com um aliado impensado. 

No geral, "um jeito de recomeçar" é uma leitura que aborda questões universais como superação, perdão, amor e redescoberta pessoal. A obra nos convida a refletir sobre nossas próprias trajetórias e a importância de buscar a verdadeira felicidade e autenticidade com boas doses de romance e luto que se entrelaçam na dissolução de um caso latente de depressão. Um enredo imprevisível e interessante.

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O Legado de Harper Lee: Uma Análise de 'O Sol é para todos'

Foto: Arte digital 

APRESENTAÇÃO

Nesta emocionante história ambientada no Sul dos Estados Unidos da década de 1930, região envenenada pela violência do preconceito racial, vemos um mundo de grande beleza e ferozes desigualdades através dos olhos de uma menina de inteligência viva e questionadora, enquanto seu pai, um advogado local, arrisca tudo para defender um homem negro injustamente acusado de cometer um terrível crime.

Uma história sobre raça e classe, inocência e justiça, hipocrisia e heroísmo, tradição e transformação, O sol é para todos permanece tão importante hoje quanto foi em sua primeira edição, em 1960, durante os anos turbulentos da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.

Considerado um dos romances norte-americanos mais importantes do século XX, O sol é para todos surpreende pela atualidade de seu enredo e estilo. A lamentável permanência do tema, o racismo, percorre a narrativa de Scout, criança sensível, filha do advogado Atticus Finch, responsável pela defesa de um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca em Maycomb, pequeno município de Alabama, no sul dos Estados Unidos, no início dos anos 1930.Os sentimentos que cercam a família e a cidade de Scout - desde que Atticus se dispôs a cuidar do famigerado caso - são nossos velhos conhecidos: preconceito racial e social, conformismo diante das injustiças e a mais pura malícia destilada em relações banais e familiares. Apesar da crua humanidade desses personagens, Scout enxerga a realidade com o frescor dos olhos infantis, e conta sua história, deixando um improvável rastro de esperança.

Scout narra a rotina de um ambiente rural e pacato, as férias de verão com o irmão, Jem, e o melhor amigo deles, Dill, a curiosidade com os vizinhos, as travessuras inventadas, as aventuras na escola e a vida em família.

O conjunto de pequenos casos nos transporta a um lugar de aparente quietude. No entanto, esse suposto relaxamento se transforma e desespero quando vemos a reação da população de Maycomb diante de denúncia contra Tom Robinson.

O impacto da publicação e da contínua exposição de O sol é para todos o fez figurar em dezenas de listas e pesquisas, tendo sido escolhido pelo Library Journal como o melhor romance do século XX e eleito pelos leitores da Modern Library um dos 100 melhores romances em língua inglesa desde 1900. O livro apareceu pela primeira vez em uma lista feita por bibliotecários em 2006 como o livro que todos deveriam ler antes de morrer, seguido da Bíblia. Um clássico moderno que continua a emocionar jovens e adultos.


RESENHA



O romance "O sol é para todos", de Harper Lee, inicialmente pode parecer uma história sem muita atratividade. Contando a jornada de duas crianças em uma tranquila cidade do Alabama, o enredo não parece despertar grande interesse à primeira vista. No entanto, eu me vi na mesma situação ao ser obrigado a ler esse livro durante o meu primeiro ano do ensino médio.


Conforme avançava na leitura, fui progressivamente envolvido na história intemporal de Lee. Compartilhando das emoções de Jem e Scout, os jovens irmãos que exploram as complexidades da vida no Sul preconceituoso dos Estados Unidos do início do século XX, o leitor é imerso em uma comunidade afetada tanto pela Grande Depressão quanto pelas tensões raciais.


A transformação pessoal de Jem e Scout ao longo do romance é evidente. Da inocência infantil inicial ao confronto com a realidade do preconceito racial, eles tentam conciliar as normas sociais locais com a moralidade ensinada por seu pai. Enquanto testemunhamos essa evolução, somos também impactados pelas mensagens poderosas transmitidas por Lee.


Embora algumas partes do livro possam parecer simplistas, as reflexões profundas sobre questões sociais e morais superam quaisquer falhas. Recomendo a leitura de "O sol é para todos" para aqueles que buscam uma experiência literária enriquecedora e emocionante. Permita-se ser tocado pelas emocionantes narrativas e pelas poderosas mensagens presentes nesta obra-prima de Harper Lee.


Jean Louise é uma jovem corajosa e brilhante, que desafia as expectativas da sociedade da época. Enquanto se esperava que as mulheres se comportassem de acordo com padrões tradicionais, ela foi criada por um pai que não a limitou a essas normas. Ela é forte, inteligente e adorável, apesar de suas falhas de infância e do ambiente conservador em que cresceu.


Atticus Finch é retratado como um verdadeiro herói, um homem branco educado e culto que sempre faz o que é certo. Ele busca incentivar seus filhos a serem boas pessoas, mesmo que isso signifique agir de forma diferente do que o faria em outras situações. Os personagens secundários do romance também são notáveis, representando uma variedade de visões e origens. Essa diversidade contribui para a riqueza e complexidade da narrativa.


Além disso, a escrita de Lee é magistral, com uma linguagem fluida e envolvente que transporta o leitor para a atmosfera do Sul dos Estados Unidos da época. Sua capacidade de criar personagens autênticos e complexos, bem como de explorar temas relevantes e atemporais, faz de "O sol é para todos" um clássico da literatura que ressoa até os dias de hoje.


Portanto, mesmo que inicialmente possa parecer uma história simples sobre a infância e as descobertas dos protagonistas, este romance de Harper Lee vai muito além. A trama, os personagens e as mensagens profundas que transmite fazem com que seja uma leitura que vale a pena para todos que apreciam uma boa história bem contada. Eu, particularmente, me emocionei e me vi refletindo sobre muitas questões após terminar este livro. Recomendo fortemente a sua leitura.

[RESENHA #1013] O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana, de Maryse Condé

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APRESENTAÇÃO

Ivan e Ivana são irmãos gêmeos tão parecidos, que um olhar desavisado é capaz de confundi-los. Quando nasceram, em Dos d’Âne, um vilarejo pobre em Guadalupe, a pequena ilha caribenha, trouxeram alegrias infinitas à sua mãe, Simone, já acostumada ao advento de múltiplos em sua família. Inseparáveis, eles desfrutam das delícias do mundo nos primeiros anos de vida: o mar, a areia, a música e os carinhos.

O tempo, porém, deixou marcas muito diferentes em cada um. Ivana logo se revela doce e servil – sonha em ser enfermeira ou policial para ajudar as pessoas. Ivan, por outro lado, se revolta com a condição em que vê a si e aos seus – a miséria e o racismo lhe ferem fundo, e ele não consegue compreender por que o mundo é assim. Apesar da distância que se cria entre eles, o amor dos irmãos é tão forte que assusta e chega até mesmo a levantar suspeitas.

O destino dos dois é desenhado entre o fatal e o arbitrário. Quais os caminhos que uma única alma em dois corpos pode traçar? Quais escolhas delineiam as consequências de nossos atos? E quais fatores fogem do nosso controle? Quantas versões cabem em uma história?

Maryse Condé, a premiada escritora caribenha, alia o maravilhoso e o trágico nestas páginas ao misturar a vida singular a grandes questões globais. A autora trata com lirismo temas como racismo, sexismo, desigualdades sociais e econômicas, migração e terrorismo jihadista. O caos contemporâneo emerge entre dúvida, fé, violência e amor. Um livro fabuloso e triste para ressoar em todos – mesmo muito depois terminadas suas páginas.


RESENHA

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Originalmente publicado em 2017 em francês, A vida maravilhosa e trágica de Ivan e Ivana é um romance picaresco que narra as aventuras transcontinentais dos gêmeos desde sua infância em Guadalupe, passando pelo tempo no Mali com o pai ausente, até chegarem em Paris nos dias de hoje. O livro aborda questões como colonialismo, radicalização, migração e exploração, mostrando como esses temas estão interligados. Com uma estrutura circular, o romance questiona se tudo começa e termina no útero.

Neste romance contemporâneo, a história dos irmãos gêmeos Ivan e Ivana começa com o nascimento em Dos d'Âne, um lugar esquecido por Deus em Guadalupe, que é comparado a um sapo atropelado à beira da estrada. Sua única conexão com a elegância está na cor verde esmeralda da cana-de-açúcar que a mãe deles corta. Guadalupe não é um país, mas sim um departamento ultramarino da França, e é visto por um jihadista como mais um lugar a ser libertado.

Ivan, o ingênuo, abandona o circo em protesto contra a crueldade com os animais, enquanto Ivana se dedica à leitura. Em uma ilha com altos índices de desemprego e onde recém-nascidos são negligenciados, Ivana mantém seu otimismo e destaca-se na escola. Condé, porém, destaca a necessidade de fechar os olhos para certas realidades a fim de encontrar a felicidade em Guadalupe.

O narrador acompanha a trajetória de Ivan, que se depara com a radicalização devido aos golpes do destino e as injustiças da vida. Ao se juntar ao pai, um músico mandingo no Mali, os gêmeos se veem em um país sob toque de recolher, dominado por gangues islâmicas que proíbem a música e destroem os estúdios de gravação. Ivan é recrutado para o Exército das Sombras, se converte ao Islã e tem seu passaporte roubado.

Resgatado e seduzido para um ménage à trois por um casal de expatriados, Ivan acaba sendo entregue novamente às mãos dos motociclistas traficantes que o roubaram. Depois de enfrentar diversas dificuldades, os gêmeos se estabelecem em um subúrbio sombrio de Paris. Ivana inicia sua formação na academia de polícia, enquanto Ivan se torna professor do Alcorão para jovens árabes franceses.

Quando um amigo morre sob custódia policial, Ivan é atingido por uma série de revezes que culminam em um banho de sangue terrível. No entanto, sua reabilitação é promovida pelos empáticos escritores de um livro chamado "O Terrorista Relutante".

Condé não faz concessões. O tapete é constantemente puxado de debaixo de nossos pés com uma mistura de verdades estranhas e golpes irônicos. Os alvos variam desde um policial aposentado, com ordens para mirar na cabeça e eliminar qualquer ameaça, até ensinamentos distorcidos sobre a escravidão praticada pelos sultões árabes. Sobre um mundo dividido em dois campos, o romance levanta questões sobre a falsa ideia de vitimização e a brutalidade em ambos os lados.

Com milhões de pessoas em movimento, Ulisses, um migrante somali, faz uma escolha desesperada ao optar por se prostituir em vez de ficar preso em um campo de migrantes. A referência cultural perdida para Ivan sobre sua nova morada na Rue Voltaire é apenas uma das muitas ironias presentes na história.

A provocativa diversão de Condé esconde um desafio: será que o Ocidente está realmente buscando de forma sincera as raízes do radicalismo jihadista, ou está, de alguma forma, fechando os olhos para os males evidentes que contribuem para alimentar o seu fascínio? A frase de despedida do romance, "você pode pegar ou largar", nos deixa a reflexão.

[RESENHA #835] Maré de mentiras, de Roberto Campos Pellanda


Sinopse: Anabela Terrasini vive em Sobrecéu, a mais poderosa das cidades marítimas. A vida previsível que ela leva chega ao fim com a notícia: o pai, o duque de Sobrecéu, está morto. No vazio de poder, em meio a conspirações que transformam velhos aliados em inimigos, Anabela compreende que o perigo que ela — e Sobrecéu — correm é muito real. Theo, o garoto sem sobrenome, vive sob o mantra: Nunca se envolver e nunca tomar partido. Mas quando a pequena Raíssa, uma menina muda que é a sua companheira de golpes nas ruas de Valporto, é sequestrada, Theo decide tomar para si a missão de resgatá-la. Na jornada, talvez ele encontre mais do que imagina e descubra que é hora de enterrar o passado — e o seu mantra — de uma vez por todas. Em Tássia, o comandante reformado Asil Arcan vive assombrado pelo conflito perdido vinte anos antes. Para Asil, a conta dos mortos é sua — e apenas sua. Em meio à miséria de uma existência sem sentido, ele passa a ser atormentado por estranhas visões: em um salão em chamas, uma menina pede por socorro. E se o chamado for verdadeiro? E se, junto com ele, houver também a chance de um recomeço?

RESENHA

Maré de Mentiras é um livro de fantasia adulta, escrito por Roberto Campos Pellanda, que narra as aventuras e conflitos de três personagens em um mundo dividido por guerras, intrigas e religião. O autor, que é doutor em literatura comparada e professor universitário, cria uma obra rica em detalhes, inspirações históricas e elementos fantásticos, que prende a atenção do leitor do início ao fim.

Os protagonistas são Anabela, Theo e Asil, que vivem em diferentes partes do mundo e têm suas vidas transformadas por eventos que os colocam em perigo e em contato com forças misteriosas. Anabela é a filha do duque de Sobrecéu, a mais poderosa das cidades marítimas, que precisa lidar com a morte do pai, as conspirações na corte e a ameaça de uma invasão. Theo é um ladrão que vive nas ruas de Valporto, uma cidade portuária, e que parte em busca de sua amiga Raíssa, sequestrada por um grupo estranho. Asil é um comandante reformado que carrega a culpa pela derrota na Guerra Santa, vinte anos atrás, e que começa a ter visões de uma menina em chamas, que parece pedir sua ajuda.

O estilo do autor é fluente, envolvente e criativo, misturando ação, suspense, drama e humor na medida certa. Os personagens são bem construídos, com personalidades, motivações e conflitos que os tornam humanos e cativantes. O autor também explora temas como política, religião, amizade, amor, lealdade, traição, sacrifício e redenção, que dão profundidade e relevância à obra. Além disso, o autor cria um universo fantástico, com uma geografia, uma história, uma cultura e uma mitologia próprias, que fascinam e surpreendem o leitor.

O livro é o primeiro volume da série Mar Interno, que promete ser uma saga épica e emocionante, com reviravoltas, revelações e desafios para os personagens e para o mundo que eles habitam. O livro termina com um gancho que deixa o leitor ansioso pela continuação, que deve ser lançada em breve.

A simbologia do livro está presente em vários aspectos, como nas cores, nos nomes, nos animais e nos objetos. Por exemplo, o azul é a cor de Sobrecéu, que representa o céu, o mar e a nobreza. O vermelho é a cor de Tássia, que representa o fogo, o sangue e a guerra. Os nomes dos personagens também têm significados relacionados à sua personalidade ou ao seu destino. Anabela significa “cheia de graça”, Theo significa “deus” e Asil significa “protetor”. Os animais que aparecem no livro também têm um papel simbólico, como o dragão, que representa o poder, o mistério e o perigo, e o cavalo, que representa a liberdade, a força e a lealdade. Os objetos que os personagens usam ou encontram também têm um valor simbólico, como o colar de pérolas de Anabela, que representa sua herança e sua identidade, o anel de Theo, que representa seu passado e seu segredo, e a espada de Asil, que representa sua honra e sua culpa.

A importância e a relevância cultural do livro estão em sua capacidade de entreter, educar e inspirar o leitor, que pode se identificar com os personagens, aprender com suas lições e se maravilhar com suas aventuras. O livro também contribui para a valorização da literatura fantástica nacional, que tem crescido e se diversificado nos últimos anos, mostrando que o Brasil tem autores talentosos e originais, capazes de criar obras de qualidade e de alcance internacional.

Maré de Mentiras é, portanto, um livro imperdível para os fãs de fantasia, que buscam uma leitura envolvente, criativa e emocionante. O autor demonstra sua habilidade narrativa, sua imaginação fértil e sua sensibilidade artística, criando uma obra que merece ser lida, relida e recomendada. Maré de Mentiras é um livro que não decepciona, que surpreende e que encanta. É um livro que faz o leitor mergulhar em um mar de emoções e de mentiras, mas também de verdades e de esperanças.

[RESENHA #797] Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

Grande sertão: veredas é um romance publicado em 1956 pelo escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), considerado um dos mais importantes da literatura brasileira e universal. A obra faz parte da terceira fase do modernismo, caracterizada pela experimentação linguística e pela abordagem de temas existenciais.

O livro narra a vida de Riobaldo, um ex-jagunço que conta suas aventuras, seus conflitos, seus amores e suas angústias ao longo de uma extensa conversa com um interlocutor desconhecido. Riobaldo vive no sertão, um espaço geográfico e simbólico que representa o cenário das lutas entre os bandos de jagunços, mas também o palco das reflexões sobre o bem e o mal, o destino e a liberdade, Deus e o diabo.

A obra se destaca pelo estilo inovador de Guimarães Rosa, que cria uma linguagem própria, baseada na oralidade, na inventividade, no uso de arcaísmos, neologismos, regionalismos e estrangeirismos. O autor também explora os recursos sonoros, rítmicos e imagéticos da língua, criando uma prosa poética de grande beleza e expressividade.

Os principais personagens do romance são Riobaldo, o protagonista e narrador; Diadorim, seu amigo de infância e grande amor, que esconde um segredo; Joca Ramiro, o chefe dos jagunços que representa a honra e a justiça; Hermógenes, o inimigo de Riobaldo e Joca Ramiro, que encarna o mal; Medeiro Vaz, o sucessor de Joca Ramiro e mentor de Riobaldo; e Zé Bebelo, o fazendeiro que se rebela contra os jagunços e depois se alia a eles.

O romance é repleto de ensinamentos, que podem ser extraídos das falas de Riobaldo, das histórias que ele conta, das citações que ele faz de autores clássicos e populares, e das metáforas que ele usa para ilustrar suas ideias. Alguns exemplos de citações marcantes são:

- "Viver é muito perigoso..."

- "O diabo na rua, no meio do redemunho..."

- "O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."

- "O sertão é do tamanho do mundo."

- "Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo."

O romance também é rico em simbologia, que pode ser percebida nos nomes dos personagens, nos animais, nas plantas, nas cores, nos números, nos gestos, nos objetos, nos rituais, nos mitos e nas lendas que compõem o universo sertanejo. Por exemplo, o nome Riobaldo remete ao rio e ao fogo, elementos que representam a vida e a morte, a purificação e a destruição, a fluidez e a paixão. O nome Diadorim significa "o que atravessa o rio", o que sugere uma travessia, uma transformação, uma passagem de um estado a outro.

O romance também tem uma importância e uma relevância cultural imensas, pois retrata a realidade e a cultura do sertão brasileiro, valorizando a sua diversidade, a sua riqueza, a sua originalidade e a sua resistência. Além disso, o romance dialoga com outras obras da literatura nacional e universal, como Os Sertões, de Euclides da Cunha; Macunaíma, de Mário de Andrade; Dom Quixote, de Miguel de Cervantes; e Fausto, de Goethe.

Guimarães Rosa foi um escritor, médico e diplomata, que nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, em 1908, e morreu no Rio de Janeiro, em 1967. Foi um dos maiores renovadores da literatura brasileira, criando uma obra única e original, que mescla o regional e o universal, o erudito e o popular, o real e o fantástico. Além de Grande sertão: veredas, escreveu outras obras importantes, como Sagarana, Corpo de Baile, Primeiras Estórias e Tutaméia.

Grande sertão: veredas é, sem dúvida, uma obra-prima, que merece ser lida, relida, estudada e admirada por todos os que amam a literatura e a arte. É um livro que nos desafia, nos emociona, nos ensina e nos encanta, com sua linguagem, sua história, seus personagens, seus temas e seus mistérios. É um livro que nos revela o sertão, o Brasil e o mundo, mas também nos revela a nós mesmos, em nossa complexidade e nossa humanidade.

[RESENHA #706] Os Watson, de Jane Austen


Jane Austen abandonou a escrita de Os Watsons por volta de 1805, deixando a história de Emma, Elizabeth, Margaret e Penélope sem um final. Em 1850, a sobrinha Catherine Hubback o publicou - "The Younger Sister", ainda sem tradução no Brasil -, provavelmente seguindo as confidências de Jane Austen à sua irmã Cassandra sobre as previsões de final.Mais de 200 anos depois, a jovem autora brasileira Lis Wey decidiu reviver as páginas de uma de suas autoras prediletas, propondo uma versão em Língua Portuguesa para a obra e escrevendo um final diferente para o romance. "Emma Watson é a mais nova dos filhos de um viúvo adoecido. Depois de anos vivendo sob a tutela de uma tia na Escócia, foi enviada de volta para casa e encontrou suas irmãs, descobrindo inimizades, desentendimentos, rancores e mal-entendidos. Influenciada pelas percepções da irmã mais velha, Elizabeth, Emma passa a observar as pessoas e formar a própria opinião sobre elas.Elizabeth, a irmã mais velha e responsável pelos cuidados com o pai, sofreu uma desilusão causada por Penélope, outra de suas irmãs, que a afastou de Purvis, o grande amor de Eli. Depois disso, Penélope partiu atrás de um marido. Outra de suas irmãs, Margareth, disputa com todas as moças solteiras o amor do galanteador Tom Musgrave.No primeiro baile que comparece, Emma conhece a família Edwards e os Osbornes, família mais abastada da região, além do antigo tutor de lorde Osborne, o senhor Howard, personagens cruciais no desenrolar da trama."Os conflitos das irmãs fazem desta história de Jane Austen um terreno fértil à criatividade de Lis Wey, autora de "A Herdeira do Título", "O Segredo de Lady Julie" e outros romances de época nacionais ambientados na Inglaterra de Austen.

RESENHA


Os Watsons é um dos dois romances inacabados de Jane Austen (o outro é Sanditon). É um fragmento deserto, com apenas cerca de 7.500 palavras (ou 80 páginas), cerca de um quinto da extensão de seus outros romances. Embora se pense que foi escrito por volta de 1803 (e abandonado por volta de 1805 após a morte de seu pai), o fragmento recebeu o título de Os Watsons e foi publicado após sua morte em 1871 pelo sobrinho do escritor, James Edward Austen-Leigh.

A heroína da história é a filha mais nova da família Watson, Emma Watson. Nossa MC Emma entra na história depois de ser mandada de volta para a modesta propriedade rural de sua família, depois de passar a juventude criada por uma tia rica que fez tudo o que podia para sustentar uma educação elegante para Emma. Infelizmente para Emma, ​​​​ela agora é muito mais educada do que o resto da família, o que sem dúvida deve ser a causa da confusão na história. A ação começa no primeiro baile de formatura de Emma, ​​onde ela imediatamente demonstra simpatia e gentileza para com o menino triste (o que também a aquece com a família dos meninos, que inclui o vizinho rico).

Alguns dos personagens secundários da história são logo apresentados, dando-nos uma ideia de onde a história poderia ter chegado - uma irmã fofoqueira que nos apresenta um pequeno drama, um pai doente, um cavalheiro que rapidamente se torna desagradável, um cavalheiro que parece agradável, e outro cavalheiro que permanece misteriosamente distante.

O fragmento oferece um começo promissor e é uma pena que Jane nunca tenha conseguido terminar a história. O romance termina aqui, mas a irmã de Jane, Cassandra, sugeriu um possível final que foi revelado: Emma deveria se casar com o Sr. Howard após rejeitar a proposta de Lord Osborne! Que reviravolta!

Outras resenhas de Jane Austen que talvez você queira ler:

Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
A abadia de Northanger
Razão e sensibilidade
Emma
Lady Susan
Mansfield Park
A história da Inglaterra
Persuasão


A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #704] História da Inglaterra, de Jane Austen


História da Inglaterra, de Jane Austen, é uma obra escrita quando a autora tinha apenas quinze anos. O livro é uma narrativa ficcional da história da Inglaterra, desde o reinado de Henrique IV até a morte de Carlos I.

A obra é narrada por uma historiadora fictícia, que se apresenta como parcial, preconceituosa e ignorante. A narradora não se preocupa em apresentar uma visão imparcial da história, mas sim em compartilhar suas opiniões e preconceitos sobre os eventos e personagens históricos. O livro é dividido em dois volumes. O primeiro volume abrange o reinado de Henrique IV a Eduardo III. O segundo volume abrange o reinado de Ricardo II a Carlos I. A obra é uma mistura de humor, sátira e crítica social. Austen usa a história para explorar temas como o poder, a corrupção e a hipocrisia.

RESENHA

A História da Inglaterra é um pequeno texto que Austen escreveu em 1791 quando era adolescente. Seu título completo é História da Inglaterra desde o reinado de Henrique IV. até a morte de Carlos I. e pretende ser uma paródia da obra de Oliver Goldsmith de 1771 intitulada História da Inglaterra desde os primeiros tempos até a morte de George II. Você sabe imediatamente que Austen não está escrevendo uma história séria porque a obra é “de um historiador parcial, tendencioso e ignorante”.

Quanto mais me desvio dos romances de Austen para seus trabalhos anteriores, mais impressionada ela fica comigo como escritor. A História da Inglaterra realmente destaca sua inteligência e humor e mostra que ela tinha um talento especial para cativar o público desde tenra idade. Seu amor pela literatura também transparece quando ela cita Shakespeare e outras obras literárias, em vez de basear sua história dos monarcas nas obras de grandes historiadores.

Austen também zomba da ideia de preconceito histórico, particularmente de como as pessoas se lembram do que querem lembrar e de como as crenças pessoais de um historiador podem desempenhar um papel na forma como o passado é percebido. Como em muitos romances de Austen, nos quais o narrador interage com o leitor, ela inclui a si mesma e até mesmo sua família e amigos em sua narrativa histórica e nunca hesita em acrescentar seu ponto de vista.

Não posso dizer muito sobre o Sentido deste Monarca [Henrique VI] - nem o faria se pudesse, pois ele era um Lancastriano. Suponho que você saiba tudo sobre as guerras entre ele e o duque de York, que estava do lado certo; Caso contrário, é melhor ler alguma outra História, pois não serei muito difuso nisso, querendo com isso apenas desabafar meu rancor contra e mostrar meu ódio a todas aquelas pessoas cujos partidos ou princípios não combinam com os meus. , e não fornecer informações. (páginas 139-140)

Não estando muito familiarizado com a monarquia inglesa, muitas das referências feitas por Austen passaram pela minha cabeça. Mesmo assim, entendi o que ela quis dizer e gostei do humor.

A História da Inglaterra é uma leitura obrigatória para os fãs de Austen. Tem apenas algumas páginas e li em cerca de 20 minutos durante meu horário de almoço. É interessante comparar os escritos adolescentes de Austen com suas obras mais maduras, como Persuasão. Gostei de tudo que li de Austen até agora e fico triste ao pensar o quanto ela poderia ter feito mais com a palavra escrita se tivesse vivido mais. (Como observação, ontem, 18 de julho, foi o 194º aniversário da morte de Austen.)

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Amor e Amizade
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A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #703] Mansfield Park, de Jane Austen


Na literatura, esperamos que o herói seja vigoroso, tenha um espírito aventureiro, audácia, bravura, capacidade de superação e uma pitada de imprudência. Ele deve ser ativo, enfrentar obstáculos e afirmar a própria energia. Fanny Price, a heroína de Mansfield Park, é o oposto de tudo isso. Frágil, tímida, insegura e excessivamente vulnerável, a pequena Fanny deixa a casa dos pais pobres para morar com os tios mais afortunados em Mansfield Park. Lá, convive com diversos familiares, mas se aproxima apenas do primo Edmund, seu companheiro inseparável. A tranquilidade de casa, no entanto, é abalada com a chegada dos irmãos Mary e Henry Crawford em uma propriedade vizinha. Edmund se apaixona por ela, enquanto Henry flerta com todas as moças. Mansfield Park é o romance que marca a maturidade de Jane Austen. Apresenta um tom mais contido, sardônico, em comparação com obras idealizadas antes, como Orgulho e preconceito e Razão e sensibilidade. Aqui, mais consciente dos verdadeiros males e sofrimentos inerentes à vida em sociedade, uma das maiores autoras da língua inglesa enaltece, na figura de Fanny, a imobilidade, a solidez, a permanência e a resignação.



RESENHA



“Mansfield Park” de Jane Austen é uma obra que desafia as convenções do romance do século XIX, apresentando uma heroína atípica na figura de Fanny Price. Fanny, uma jovem de origem humilde, é enviada para viver com seus tios ricos em Mansfield Park. Ela é uma personagem complexa e muitas vezes mal compreendida, cuja quietude e modéstia contrastam fortemente com as heroínas mais vivazes de Austen.

A narrativa de Austen é meticulosa e perspicaz, explorando as dinâmicas de classe, moralidade e gênero através de uma lente crítica. A história é rica em detalhes e personagens secundários, cada um com suas próprias falhas e virtudes, contribuindo para a tapeçaria complexa da sociedade retratada.

Um dos aspectos mais controversos do livro é o relacionamento entre Fanny e seu primo Edmund. Embora possa ser desconfortável para alguns leitores modernos, é importante lembrar que o livro foi escrito em um tempo e contexto cultural diferentes.

“Mansfield Park” também se destaca por sua exploração da “economia do casamento”, um tema recorrente nas obras de Austen. Através dos olhos de Fanny, somos levados a questionar as convenções sociais e as expectativas colocadas sobre as mulheres naquela época.

Apesar de algumas falhas percebidas, como um final que parece apressado e a redenção não convincente de certos personagens, “Mansfield Park” é uma leitura fascinante. É uma adição valiosa à coleção de qualquer amante da literatura, oferecendo uma visão única do mundo de Austen.

A história é repleta de reflexões profundas sobre o tempo e as mudanças na mente humana, e como o bom senso sempre prevalece quando realmente necessário. No entanto, o que pode causar desconforto em alguns leitores é a natureza do relacionamento entre Fanny e Edmund. O romance entre primos é um tema delicado, e o fato de Fanny ser, de certa forma, irmã adotiva de Edmund, pode causar desconforto. No entanto, se você conseguir superar esse aspecto, encontrará uma história fascinante.

Fanny, a protagonista, é uma personagem complexa e aberta a várias interpretações. Seus antagonistas, Sr. e Srta. Crawford, são ainda mais interessantes. A história é contada do ponto de vista de Fanny, que julga todos os outros personagens com sua moral inabalável e conduta impecável. Apesar de às vezes cansativas, essas características são preferíveis às de Edmund.

Se você conseguir ignorar o relacionamento entre Fanny e Edmund, encontrará uma história fascinante que gira em torno do casamento e da “economia do casamento”. Austen consegue introduzir uma perspectiva única através de um protagonista silencioso e avaliativo. A história começa com a chegada de Fanny a Mansfield Park e rapidamente avança vários anos, apresentando um conjunto de personagens secundários contrastantes.

No entanto, a história tem suas falhas. A tentativa de redimir Henry Crawford na segunda metade do livro não foi bem-sucedida, e o final da história pareceu apressado. A mudança repentina de opinião de Edmund pareceu uma mudança de paradigma. Apesar dessas falhas, a história é fascinante e vale a pena ser lida.

Em suma, “Mansfield Park” pode não ser o romance mais popular de Austen, mas é certamente um que desafia o leitor a pensar e refletir, tornando-o uma leitura gratificante.

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Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
A abadia de Northanger
Razão e sensibilidade
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Lady Susan
A história da Inglaterra
Os Watson
Persuasão


A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.


A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #702] Razão e sensibilidade, de Jane Austen



Razão e Sensibilidade é um livro em que as irmãs Elinor e Marianne representam uma dualidade, de maneira alternada, ao longo da narrativa. As expectativas vividas pelas duas com a perda, o amor e a esperança, nos aponta para um excelente panorama da vida das mulheres de sua época. As irmãs vivem em uma sociedade rígida, e ambas tentam sobreviver a esse mundo cheio de regras e injustiças. Tanto a sensível e sensata Elinor como a romântica e impetuosa Marianne se veem fadadas a aceitar um destino infeliz por não possuírem fortuna nem influências, obrigadas a viver em um mundo dominado por dinheiro e interesse. As duas personagens passam por um processo intenso de aprendizagem, mesclando a razão com os sentimentos em busca por um final feliz.

RESENHA


“Razão e Sensibilidade” é uma narrativa que gira em torno das irmãs Dashwood, Elinor e Marianne, que são notavelmente diferentes uma da outra. A história se desenrola com a morte de seu pai, Henry Dashwood, deixando as irmãs, sua mãe e a irmã mais nova com heranças modestas, enquanto a maior parte da fortuna e propriedades do Sr. Dashwood é herdada por John, seu filho de um casamento anterior. No leito de morte, Henry pede a John que cuide de sua segunda família, o que John promete fazer.

No entanto, Fanny, a esposa de John, que é egoísta e esnobe, convence John de que ele não tem nenhuma grande responsabilidade para com suas meio-irmãs e sua mãe, e John concorda facilmente. Diante da realidade de terem que deixar sua casa, as mulheres Dashwood lutam para encontrar um novo lar adequado, dentro dos limites de seus rendimentos limitados. Apesar de algum atrito entre elas e John e Fanny, elas logo são acompanhadas em Norland Park pelo irmão de Fanny, Edward Ferrars, que forma um vínculo com Elinor.

Percebendo o carinho crescente entre Elinor e Edward, Fanny intervém para tentar estragar qualquer possível ligação e motivar a mudança das mulheres Dashwood. Felizmente, um primo da Sra. Dashwood, Sir John Middleton, ofereceu-lhes uma casa de campo em Devonshire que lhes serviria bem e elas aceitaram prontamente. Os Dashwoods tentam aproveitar ao máximo sua nova casa e se assimilar na sociedade de Sir John. Não é fácil, pois Sir John e a sua sogra, a Sra. Jennings, têm grande prazer em provocar, cutucar e fofocar com os seus novos jovens companheiros.

Um membro de seu novo círculo social é o Coronel Brandon, que imediatamente gosta de Marianne, de dezessete anos. Embora pareça bastante respeitável e tenha uma riqueza considerável, ele tem trinta e poucos anos e não é nada do agrado de Marianne.

Mas pelo menos, mamãe, você não pode negar o absurdo da acusação, embora possa não considerá-la intencionalmente mal-humorada. O Coronel Brandon […] tem idade para ser meu pai; e se ele alguma vez esteve suficientemente animado para estar apaixonado, deve ter sobrevivido por muito tempo a qualquer sensação desse tipo. É muito ridículo! Quando um homem estará a salvo de tal sagacidade, se a idade e a enfermidade não o protegerem?

Quando Marianne sofre uma queda e torce o tornozelo durante uma caminhada, ela é resgatada, de maneira bastante romântica, por um estranho audacioso chamado John Willoughby. Willoughby e Marianne começam a passar muito tempo juntos, e é evidente que Marianne está se apaixonando rapidamente por ele. Enquanto o 'senso' de Elinor a faz manter seus pensamentos e sentimentos para si mesma, mesmo em relação ao homem por quem tem sentimentos, Marianne acredita na integridade e sinceridade da 'sensibilidade' e compartilha abertamente seus desejos e sentimentos.

Elinor, a filha mais velha cujos conselhos foram tão eficazes, possuía uma força de compreensão e uma frieza de julgamento que a qualificavam, embora tivesse apenas dezenove anos, para ser a conselheira de sua mãe, [...] Ela tinha um coração excelente; – seu temperamento era afetuoso e seus sentimentos eram fortes; mas ela sabia como governá-los: era um conhecimento que sua mãe ainda não aprendera e que uma de suas irmãs resolvera nunca aprender.

As habilidades de Marianne eram, em muitos aspectos, iguais às de Elinor. Ela era sensata e inteligente; mas ansioso em tudo; suas tristezas, suas alegrias, não podiam ter moderação. Ela era generosa, amável, interessante: era tudo menos prudente.

Marianne fica correspondentemente perturbada e sem ajuda quando ela e Willoughby são separados depois que Willoughby é enviado para Londres por sua tia, de quem ele depende financeiramente.

A Sra. Jennings se propõe a auxiliar as duas jovens em suas desilusões amorosas, oferecendo-lhes a chance de acompanhá-la em uma viagem a Londres. Elinor e Marianne embarcam para Londres com a Sra. Jennings, uma viagem que promete aproximá-las de Willoughby, Brandon e da família Ferrars. O que Elinor e Marianne descobrem é que há muitos aspectos das vidas passadas desses três homens, e de seus planos para o futuro, dos quais elas não estavam cientes. Revelações que ameaçam destruir suas esperanças de amor, em vez de inspirar esperança.

“Razão e Sensibilidade” é o quarto romance de Austen que li. Não consigo evitar um sorriso ao abrir um novo e começar a ler os primeiros capítulos; seu estilo é tão único. É a maneira como ela estabelece o cenário com tal família de tal consideração, vivendo em uma propriedade em tal condado e, claro, com tantas libras por ano! Seu estilo é explicar essas coisas ao leitor para que possamos rapidamente apreciar o cenário e suas tensões. Ela até tende a explicitar os traços de seus personagens, pelo menos quando os conhecemos, em vez de permitir que o leitor os descubra.

Onde ela não explica as coisas, e onde me vejo desafiado como leitor, é no que diz respeito ao diálogo entre esses personagens. Aqui, em vez disso, encontram-se as intenções e motivações sutis e não tão sutis, a conformidade e a quebra de normas e costumes sociais, as insinuações e sugestões de turbulência interna, o conflito entre os eus privado e público e os silêncios reveladores. Exige que o leitor leia nas entrelinhas e faz parte da história tanto quanto os eventos da trama.

Isso me fez perceber que faz um tempo que não leio um romance desse tipo e estou um pouco enferrujado. Escritores mais contemporâneos tendem a tornar esses aspectos mais explícitos, o que provavelmente tornou minha leitura um pouco mais preguiçosa. Em particular, onde os personagens parecem estar tendo conversas que não estão diretamente relacionadas à trama principal, não consegui questionar esses casos e descobrir o que Austen está tentando comunicar ali. Além disso, não percebi muitos paralelos e contrastes entre os personagens. Em vez disso, eu precisava de ajuda, mas falaremos mais sobre isso em um momento.

No geral, eu diria que gostei, mas não tanto quanto minha Austen favorita; Orgulho e Preconceito . Fiquei um pouco surpreso com o quanto a história se passa na cidade, já que costumo associar Austen a propriedades rurais e vilarejos. Gostei do arco de história que Austen conduz o leitor, já que no meio do romance as coisas parecem muito sombrias para as irmãs Dashwood. Também gostei do humor, embora houvesse apenas um pouco da minha fonte favorita de alívio cômico; O genro da Sra. Jenning, Sr. Palmer. Mas também achei que o romance apresentava algumas falhas.

Li as introduções da obra após ler o romance e assistir ao filme e devo dizer que me deram muito o que pensar. Se discutir os detalhes de um romance publicado pela primeira vez há mais de 200 anos (1811), que foi amplamente lido e adaptado várias vezes, pode ser considerado ‘spoilers’, então esteja avisado; spoilers a seguir! Uma das razões pelas quais prefiro Penguin Classics é pelo valor da opinião de especialistas e eles não me decepcionaram aqui. Por exemplo, Ballaster aponta que, quase único entre os romances de Austen, “Razão e Sensibilidade” é em grande parte desprovido de figuras paternas, ao mesmo tempo que é sobrecarregado de mães. Mães que parecem mostrar favoritismo por um filho em detrimento dos irmãos e filhos que parecem repetir a experiência da mãe. Mães que também, como as irmãs Dashwood, têm muito bom senso ou muita sensibilidade.

Ballaster também expõe os eventos paralelos nas vidas de Marianne e Elinor, ou Willoughby e Edward e analisa cenas do romance que mostram as intenções temáticas de Austen. Ballaster também discute as conotações políticas de ‘sensibilidade’ na época e os paralelos e contrastes entre “Razão e Sensibilidade” e outros romances do período que Austen leu antes e durante a escrita de “Razão e Sensibilidade”. Tudo isso me fez querer ler o romance novamente, talvez junto com “A Vindication of the Rights of Women” (1792), de Mary Wollstonecraft, e munido dos insights que essas introduções proporcionaram. Também reduziu minha estimativa do filme de 1995, à medida que a simplificação do romance se tornou ainda mais fácil de ver.

Ballaster também destaca a importância de que o “senso” de Elinor é reativo. Ou seja, suas provações seguem as da irmã e ela tem o benefício de observar o comportamento de Marianne e suas consequências. Então, daremos muito crédito a Elinor se atribuirmos seu “senso” à sua maturidade ou força de caráter quando ela pode estar aprendendo lições com a experiência de Marianne? A reviravolta lógica peculiar no centro do romance é que o “senso” de Elinor só faz sentido em contraste com a sensibilidade; na verdade, poderíamos argumentar que ela apenas toma as decisões certas, ou, pelo menos, racionaliza o seu valor, mantendo-se calada e avaliando as decisões erradas de Marianne.

A introdução de Tanner discute a questão que ele acredita estar no cerne do romance; o conflito entre a necessidade de se expressar contra a pressão social para se comportar e o paradoxo de viver numa sociedade que exige que você seja ao mesmo tempo sociável e privado. Ao discutir esta questão e a doença de Marianne, Tanner observa a alta prevalência de doenças do tipo colapso nervoso no final do século XVIII.

Para mim, a maior falha em “Razão e Sensibilidade” é a combinação de Marianne e Coronel Brandon no final. Eu não os compro como uma boa combinação. Acho que Tanner está inclinado a concordar, mas apresenta alguns pontos positivos. Ele nos lembra que Austen diz que a doença de Marianne a mudou. Por chegar tão tarde no romance, podemos não avaliar o quanto ela mudou e talvez ela possa ser uma boa opção para o Coronel, afinal.

“Razão e Sensibilidade”, o primeiro romance publicado de Jane Austen, parece ser um romance direto. Homens e mulheres de caráter contrastante e elogioso são colocados juntos, mas as chances de amor são frustradas pelas convenções sociais da época que impedem a honestidade e a abertura e, em vez disso, geram duplicidade e sigilo. Mas, pensando bem, “Razão e Sensibilidade” é também uma crítica cuidadosamente elaborada da ética social e deixa o leitor com muito em que refletir.

Por outro lado, o final é realmente um novo começo com o casamento de Marianne e Brandon e não podemos prever o que pode acontecer a partir daí. Pode não ser um casamento bem-sucedido. Tanner compara Marianne a duas outras mulheres de caráter semelhante em romances posteriores - Maggie de “The Mill on the Floss” (1860) de George Eliot e Cathy de “Wuthering Heights” (1847) de Emily Brontë. Cada uma delas teve destinos nada felizes. Isso realmente dá muito o que pensar! Costumo dizer que há valor em reler livros. Dostoiévski escreveu romances destinados a serem lidos mais de uma vez. Reler “Crime e Castigo” foi uma experiência muito diferente da primeira vez e minha impressão foi muito mais positiva na segunda vez. Prevejo uma experiência semelhante com “Razão e Sensibilidade”. Esta primeira experiência foi justa, mas deixa muito em que pensar e certamente quero lê-la novamente. Agora que conheço o enredo e posso permitir que o resto seja absorvido, acredito que ficarei muito mais agradecido e acharei muito mais agradável na segunda vez.

Outras resenhas de Jane Austen que talvez você queira ler:

Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
A abadia de Northanger
Emma
Lady Susan
Mansfield Park
A história da Inglaterra
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A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.


A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


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