APRESENTAÇÃO
Em seu mais recente livro, Terry Eagleton, um dos intelectuais mais celebrados de nossa época, considera a menos considerada das virtudes. Sua instigante reflexão sobre a esperança começa com uma rejeição firme do papel do otimismo no curso da vida. Assim como seu parente próximo, o pessimismo, o otimismo é mais um sistema de racionalização do que uma lente confiável através da qual mirar a realidade, refletindo uma postura do temperamento em vez de verdadeiro discernimento. Eagleton então se volta para noção epistemologicamente mais promissora, a esperança, sondando o significado dessa palavra familiar, mas elusiva: trata-se de uma emoção? Como se diferencia do desejo? Fetichiza o futuro? Finalmente, o autor aborda o conceito de esperança trágica – talvez a única genuína forma de esperança –, em que essa velha virtude persiste mesmo após o confronto com uma perda devastadora. Em uma ampla discussão que abrange o Lear de Shakespeare, as considerações de Kierkegaard sobre o desespero humano, Tomás de Aquino, Wittgenstein, Santo Agostinho, Kant, a filosofia da história de Walter Benjamin e uma longa reflexão sobre o “filósofo de esperança” Ernst Bloch, Eagleton exibe sua magistral e altamente criativa fluência em literatura, filosofia, teologia e teoria política. Esperança sem otimismo está repleto do senso de humor e da clareza costumeiros deste escritor cuja reputação não se baseia apenas na notável originalidade de suas ideias, mas também em sua capacidade de envolver o leitor diretamente nas questões urgentes da vida.
RESENHA
EAGLETON, Terry. Esperança sem otimismo / Terry Eagleton: traduzido por Fernando Santos. - São Paulo: Editora UNESP, 2023.
Terry Eagleton é filósofo, professor e um dos maiores nomes em crítica literária no mundo. Leciona literatura na Universidade de Lancaster, onde é professor emérito, e na Universidade de Notre Dame. As obras do professor Eagleton se desdobram em tópicos de grande relevância e debates mundiais, sempre fomentado com filosofia e contribuições significativas dos mais variados campos de estudo. Nesta obra, em específico, o autor se desdobra ao desvencilhamento do pensamento da existência unilateral da esperança com o otimismo, para tal, o autor traça um paralelo entre as diferenças de cada significado real das palavras e das mudanças sofridas ao longo do ano. Como todo filósofo, a obra sustenta-se em diversas questões que vão surgindo de acordo com as descrições e explicações elaboradas pelo autor em cada tópico. Em primeira instância, o autor analisa a banalidade do otimismo nos dias atuais, logo após, a banalidade da esperança e as divergências entre seus significados e a presença dos tópicos por meio do tempo, obras e estudos de grandes figuras históricas da filosofia.
Nesta obra, Eagleton, desvencilha os indicativos de uso de sinônimo de esperança atribuídos ao otimismo, como sendo parte de um todo, onde a crença de algo fomenta-se através do pensamento otimista de que tudo ficará bem. Para ele, possuir otimismo em determinadas ocasiões é como possuir um pensamento limitado, não havendo motivos para pensar que algo dará certo pela desculpa de que somos otimistas, tornando o pensamento como sendo algo ilimitado, como acreditar que algo ficará ou se dará bem por um motivo ou outro banal, limitando o pensando, e o tornando irracional em certos pontos. Partindo deste ponto, não havendo uma significância plausível e satisfatória pelos quais as coisas vão dar certo, também não há motivo insatisfatório para crer que não dará certo, tornando assim, o otimismo algo infundado e inaceitável. O otimismo então torna-se, em tese, fruto da confiança do indivíduo em si próprio durante a tomada ou caminho de decisões, pautando-se mais sobretudo em crença, mas não em esperança.
[...] Numa espécie de astigmatismo moral, o individuo distorce a verdade para adapta-la para as suas inclinações naturais, que já tomaram todas as decisões essenciais em seu mundo. Como o pessimismo envolve, em grande medida, o mesmo tipo de capricho intelectual, os dois estados mentais tem mais em comum do que geralmente se acredita [...] (p.14) - grifos meus.
assim sendo...
otimismo e pessimismo podem ser características de visões de mundo bem como de indivíduos. (p.19)
Otimismo e pessimismo são lados de uma mesma moeda e surgiram ao mesmo tempo, um contrapondo ao outro, mas somando em diferenças e irrelevância. Ambos são determinações de crença estabelecidas pelo indivíduo para reafirmação de seu caminho por meio do exercício da crença, não sendo pautados em nenhum motivo específico sólido ou relevante, ou determinado por questões de importância, apenas por sua vontade de que algo ou alguém dará certo ou errado por motivos impostos naquele momento oportuno. O outro, pessimismo, é uma crítica fatídica e tendenciosa ao desfavorecimento de algum beneficiamento ou relevância de um ato, ação ou acontecimento, entre outras palavras, o ato de sempre enxergar o pior em cada situação específica.
Já a esperança, para o autor:
As três chamadas virtudes teologais da fé, da esperança e do amor tem cololarios deturpados. A fé corre o risco de virar credulidade, o amor, sentimentalismo e a esperança, autoengano. Na verdade, é difícil pronunciar a palavra "esperança" sem evocar a possibilidade de que ela seja adulterada, na medida em que nos lembramos instintivamente, de adjetivos como "tênue" ou "perdida". (p.58)
Ao analisarmos a fala do autor, poderemos traçar um paralelo das divergências entre o pensamento que evoca o significado real de credulidade e esperança. A esperança está ligada à fé ao sobrenatural por meio do exercício e pensamento religioso, enquanto a credulidade é uma forma simples e menos elaborada de se exercer a própria vontade por meio do exercício de crença de que algo ou alguma coisa se dará por meio do poder do acreditar, ou seja, sem uma base sólida e sustentável como propõe a esperança que se sustenta por meio da fé, porém, para o autor, tanto o otimismo quanto a esperança são vistos com maus olhos nos dias atuais, sendo a esperança nada mais que o exercício da fé de forma temerosa e melancólica:
A esperança sugere uma expectativa hesitante e meio temerosa, o mero fantasma de uma autoconfiança. (p.59).
A esperança é, se não, a prima pobre das virtudes teologais, sendo menos investigadas que a fé e o amor (p.61). E segue sua linha de raciocínio dizendo que as pessoas dotadas de fé são menos empenhadas em se obter o que se quer do que as pessoas que não possuem fé, isso talvez, se dê ao fato de que a fé é carregada pela determinância religiosa na crença de que tudo dará certo, embora seja uma saída plausível melhor que o pessimismo. (61).
Nos capítulos seguintes da obra, o autor debruça-se em analisar o otimismo e a esperança sob as visões de grandes precursores da filosofia como Bloch, Nietzsche, dentre outros. A obra é um convite para uma reflexão mais profunda acerca dos sentimentos ligados à esperança e ao otimismo, separando a divisão nada palpável existente entre seus significados, estudando de forma clara e objetiva suas características e aspectos de forma mais filosófica e objetiva.