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[RESENHA #981] Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista, de José de Souza Martins


Segundo a Organização Internacional do Trabalho, hoje ainda há 27,6 milhões de trabalhadores, no mundo inteiro, sob diferentes formas de escravidão. Destes, quase quatro milhões estão nas Américas. Neste livro, o autor se propõe a desvendar e explicar essa anomalia social e moral no contexto brasileiro, com base na informação empírica já abundante sobre o tema da continuidade disfarçada da escravidão no período pós-escravista.


RESENHA

[...] o nome correto do que é o trabalho de quem vive sob a violência da injustiça: escravidão. (in - prólogo, p.8)


A obra Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista é um estudo minucioso do autor José de Souza Martins em relação as diversas faces da escravidão na contemporaneidade. O autor inicia sua análise comparando os trabalhos atuais aos trabalhos exercidos no período da escravidão citando casos de exploração de mão de obra humana em condições análogas à escravidão. 


Ainda agora, em 2023, dois fazendeiros do sul do Pará foram condenados a cinco anos de prisão pela submissão de 85 trabalhadores a trabalho análogo ao de escravidão. A ocorrência é de 2002, mas o crime de escravidão  é imprescritível. (p.10)


A condenação é uma vitória para o Brasil, levando em consideração a condição capitalista no Brasil, que, em outras palavras, leva-nos a uma contradição, uma vez que, estes trabalhadores explorados, na maioria das vezes, levados por sua condição e posição social, estudo, desinformação ou segregação, se submetem à trabalhos exaustivos pela sobrevivência. Este fato faz-nos pensar que dentre os diversos casos de exploração de mão de obra de forma desumana é, em síntese, uma ausência de escolha para alguns trabalhadores em nome dos fatores econômicos que movem a sociedade. Desta forma,  podemos elucidar que esta obra não é apenas um estudo da escravidão, mas das engrenagens que tornam o capitalismo uma ferramenta fomentadora da desigualdade, levando-nos a entender como o capital se organiza nas áreas econômicas da quase ausência total de intervenção dos governos.


[...] trata-se de um estudo sobre o modo como o capital se organiza, empreendimentos econômicos em áreas de condições sociais, econômicas e ambientais de quase ausência do Estado, em face das quais não tem sido incomum o recrutamento de trabalhadores, já antemão previsto, mas não relevado, que trabalharão como escravos. (p12)


Ao falarmos de escravidão atual - ou contemporânea -, estamos falando claramente de uma problemática social inserida no seio das contradições em nome de um capitalismo parasitário, claudicante, problemático que atravessa, acima de tudo, os interesses econômicos acima da racionalidade, de forma que, a sociedade, em maior parte, acabe por ser condenada pela ausência de apoio, estudo ou força maior que pare o parasitarismo do capitalismo no campo social na exploração desregrada de trabalhadores. Desta forma, podemos entender que a escravidão se recria sob as tensões da transformação social e ao mesmo tempo não se recria apenas. (p.19).


Para tal, o autor analisa a obra capital,  de Karl Marx, situando de forma clara o desafio interpretativo das análises de Marx sobre os lugares e os processos e determinações da totalidade. 


Marx se defrontou com a mesma incerteza no trato da questão da renda da terra e sua importância no desenvolvimento do capitalismo na Rússia e que o desfecho teria para configurar um possível histórico de tipo socialista [...] No Brasil, também temos um período de incerteza quanto ao tipo de capitalismo que aqui se desenvolveria a partir da crise da escravidão no século XIX. Boa parte dela na mesma época das análises de Marx. (p.25)


Só no regime militar e em decorrência do golpe de Estado em 1964 a questão agrária brasileira ficará definida com a reforma constitucional que deu viabilidade legal a função social da propriedade prevista na Constituição de 1946, com o Estatuto da Terra e com a política de incentivos fiscais à ocupação econômica de um território de cerca de mais da metade do país que foi definido como Amazônia Legal. Desta forma, durante a expansão do capitalismo brasileiro, os trabalhadores escravizados detinham dois cumprimentos frequentes para ampliação do capital: a mão de obra barateada e a função de criador de capital constante com a exploração da mão de obra no processo de barateamento dos meios de produção, criando assim, uma paralisação dos valores criados durante o trabalho para agregação na terra ao qual se era - ou é - investido.


 se o capitalismo fora uma possibilidade contida na escravidão, no capitalismo pós-escravista o não capitalismo de relações retrógradas era e é uma necessidade histórica do próprio capitalismo, o outro lado do processo do capital (p.33). Em outras palavras, o capitalismo já estava presente, de algum modo, no sistema de escravidão. Isso significa que, mesmo na estrutura de propriedade de escravos, havia algum aspecto de acumulação de capital, embora baseado na exploração de trabalho escravo.


No entanto, após o fim da escravidão, surgiu a necessidade histórica de relações não capitalistas como uma resposta ao próprio capitalismo. Isso significa que, para se manter e se perpetuar, o capitalismo precisava de outros mecanismos econômicos que não dependessem exclusivamente das relações capitalistas, que seriam retrógradas. Essas outras formas de relações econômicas podem incluir o trabalho assalariado, economias informais ou outros tipos de relações que não se baseiam unicamente na propriedade privada e na busca de lucro. Sugerindo que essas relações não capitalistas são uma parte essencial do processo capitalista, funcionando como um contraponto necessário para a sua continuidade.

O autor ainda cita um exemplo claro dessa relação não capitalista: No Brasil decorrente da abolição da escravatura, em particular na economia do café, era o caso da autorização do cultivo próprio de alimentos pelo colono, nas leiras do cafezal, pagando-o ele, assim, com renda em trabalho no trato do café em vez de receber pagamento pelo trabalho nelas realizado simultaneamente ao trato dos cafeeiros. (p.34).

A escravidão contemporânea não é um detalhe de um segmento do capitalismo, que possa ser estudado à parte como se fosse um todo como legalidade própria. Na verdade, trata-se de mediação constitutiva da totalidade do processo do capital. Escravidão contemporânea e capitalismo se determinam reciprocamente. (p.41).

A partir destes pressupostos, o autor trabalha o sujeito sociológico; o problema decorrente da problemática na sociologia; o desenvolvimento desigual do trabalho livre; trabalho cativo e as contradições dos cativeiros na história social.


O AUTOR 
José de Souza Martins é sociólogo. Professor Titular aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, da qual se tornou Professor Emérito em 2008. Foi professor visitante da Universidade da Flórida (EUA) e da Universidade de Lisboa, havendo sido eleito professor da Cátedra Simón Bolívar da Universidade de Cambridge e fellow de Trinity Hall (1993-1994). Em 2015, foi eleito para a Cadeira nº 22 da Academia Paulista de Letras. Autor de mais de duas dezenas de obras, publicou, pela Editora Unesp, o livro de crônicas O coração da Pauliceia ainda bate (2017, em coedição com a Imprensa Oficial), que em 2018 recebeu menção honrosa no Prêmio Abeu e foi finalista do Jabuti. É autor também de Sociologia do desconhecimento (2021), 2º colocado na categoria Ciências Sociais do Prêmio Abeu 2022, e As duas mortes de Francisca Júlia (2022).

[RESENHA #618] História do inferno, de George Minois

APRESENTAÇÃO

Neste livro, o olhar arguto e global de Georges Minois traz ao leitor contemporâneo uma súmula das concepções de inferno que acompanharam as principais civilizações humanas. Veremos também que, mesmo em face do declínio das crenças tradicionais e da Igreja católica, dos questionamentos à ideia de inferno nos próprios ambientes eclesiásticos, o conceito ainda se faz presente e relevante, como se a história do inferno fosse também a história do homem confrontado com sua própria existência.

RESENHA

A ideia de inferno é recorrente nas civilizações, encontrada nos textos mais antigos, presente nas concepções religiosas e até mesmo em visões ateístas contemporâneas. O uniforme é multiforme, adaptando-se às diferentes sociedades, e pode ser visto como um lugar sinistro ou como um lugar ou estado de extrema angústia existencial durante a vida. Desde os primórdios da humanidade, a ideia de inferno está associada aos sofrimentos, ódios, às contradições e à impotência inerentes à condição humana — ligada ou não ao julgamento e castigo, a ameaça do inferno contempla os temores de cada civilização, muitas das vezes espelhando seus fracassos sociais e suas ambiguidades. Dentre as diversas concepções de inferno, a mais detalhada e desesperadora talvez seja do inferno cristão, em que o sofrimento permeado por remorso e pela eternidade das penas afeta os sentidos e a mente. É uma construção racional, um contraponto a uma religião baseada na ideia de salvação do espírito, e que supostamente respeita o livre arbítrio humano. Antes da ideação do inferno cristão, porém, outras reflexões religiosas imaginavam um além-como continuação triste da vida terrena, onde os infelizes desta terra continuariam sofrendo. Neste livro, o olhar arguto e global de George Minois traz ao leitor contemporâneo uma sumula das concepções de inferno que acompanharam as principais civilizações do mundo.[texto da orelha da obra]

História do inferno é um livro de estudos/ficção/análise da construção da imagem do inferno em suas múltiplas faces e variáveis existentes na sociedade, religião e/ou pensando popular. Escrito pelo autor e historiador francês George Minois, esta é a terceira edição da obra, publicado no Brasil pela editora Fundação Editora UNESP.

A história do inferno é um dos grandes fomentadores dos debates religiosos acerca do globo. O inferno possui diversas descrições acerca das religiões existentes, algumas, atribuindo o inferno apenas as atitudes de seus frequentadores como sendo uma forma de punição a desobediência. Na religião cristã, o inferno é o local de punição dos impios e dos pecadores, já para religiões como testemunhas de jeová, o inferno nada mais é do que a sepultura e a morte da consciência humana, não existindo punição, paraíso ou inferno. Pouco se sabe acerca da construção da figura do inferno, porém, Minois trabalha com maestria para explicar o seu surgimento nas religiões antigas e contemporâneas. 

O inferno é abordado tanto como uma questão religiosa quanto como uma invenção popular. O autor mescla esses dois conceitos para demonstrar que foi a pressão popular que levou a Igreja a estabelecer uma doutrina oficial sobre o assunto. Mediante imagens narrativas alucinantes, o texto revisita visões macabras e torturas inimagináveis, para depois analisar como os teólogos racionalizaram tudo isso, transformando o inferno em uma arma de dissuasão e prova da justiça divina implacável.

Heróis, poetas e visionários empreenderam jornadas ao inferno e trouxeram consigo descrições horripilantes que refletiam os fantasmas de sua época: um lugar de sobrevivência desesperada, de punição eterna ou simplesmente um espaço abstrato. A diversidade dessas representações constitui um dos aspectos mais transcendentais e enigmáticos da história humana. O que me recorda das mais diversas narrativas religiosas acerca da morte e da punição, uma das características mais marcantes da modernidade atual é a divisão de ideias acerca do final da vida e do pós-morte, e que, claro, é minuciosamente analisado por Minois nesta obra.

O autor analisa o surgimento do inferno nas civilizações orais, como na áfrica, xamânicos, germânico, escandinavo, mesopotâmicos, egípcios, hinduístas e as várias descrições do inferno na literatura e no pensamento filosófico.

Para o autor, o inferno surgiu primeiramente no imaginativo popular caracterizado e atribuído, sobretudo, as categorias mais pobres e afetadas pela escassez de oportunidades, em uma tentativa de seguir uma linha tênue de obediência para adquirirem um lugar ao sol perante o perdão de Deus e fugir da danação eterna, uma vez que, este seria o primeiro passo para driblar a história terrena repleta de pobreza e sofrimento, marcado pela ausência de conhecimento e oportunidades. (p.60).

O desejo de revanche não é estranho a essa curiosidade: os sacrifícios exigidos a essa via pelos fiéis, devem ser compensados tanto por um gozo futuro, tanto, quanto uma punição para aqueles que foram felizes neste mundo. (p.60)

Essa obra é indispensável para aqueles que se interessam pela evolução da cultura, pois “História do Inferno” oferece um diagnóstico preciso da nossa contemporaneidade. Mostra o desaparecimento do inferno tradicional e sua identificação com as angústias cotidianas da consciência moderna. Uma descrição mais detalhada acerca da obra de Minois, culminaria, digo com certeza, em uma série de spoilers que acabariam com os estudos elaborados pelo professor, desta forma, fica a indicação para uma leitura pura e fluida acerca deste genuíno estudo.

O AUTOR

Georges Minois é professor de História e historiador das mentalidades religiosas. Dele, a Editora Unesp publicou História do riso e do escárnio (2003), A idade de ouro (2011), História do ateísmo (2014), História do futuro (2016), História do suicídio (2018), História da solidão e dos solitários (2019), As origens do mal (2021) e Henrique VIII (2022).


[RESENHA #576] Esperança sem otimismo, de Terry Eagleton

 

APRESENTAÇÃO

Em seu mais recente livro, Terry Eagleton, um dos intelectuais mais celebrados de nossa época, considera a menos considerada das virtudes. Sua instigante reflexão sobre a esperança começa com uma rejeição firme do papel do otimismo no curso da vida. Assim como seu parente próximo, o pessimismo, o otimismo é mais um sistema de racionalização do que uma lente confiável através da qual mirar a realidade, refletindo uma postura do temperamento em vez de verdadeiro discernimento. Eagleton então se volta para noção epistemologicamente mais promissora, a esperança, sondando o significado dessa palavra familiar, mas elusiva: trata-se de uma emoção? Como se diferencia do desejo? Fetichiza o futuro? Finalmente, o autor aborda o conceito de esperança trágica – talvez a única genuína forma de esperança –, em que essa velha virtude persiste mesmo após o confronto com uma perda devastadora. Em uma ampla discussão que abrange o Lear de Shakespeare, as considerações de Kierkegaard sobre o desespero humano, Tomás de Aquino, Wittgenstein, Santo Agostinho, Kant, a filosofia da história de Walter Benjamin e uma longa reflexão sobre o “filósofo de esperança” Ernst Bloch, Eagleton exibe sua magistral e altamente criativa fluência em literatura, filosofia, teologia e teoria política. Esperança sem otimismo está repleto do senso de humor e da clareza costumeiros deste escritor cuja reputação não se baseia apenas na notável originalidade de suas ideias, mas também em sua capacidade de envolver o leitor diretamente nas questões urgentes da vida.



RESENHA

EAGLETON, Terry. Esperança sem otimismo / Terry Eagleton: traduzido por Fernando Santos. - São Paulo: Editora UNESP, 2023.

Terry Eagleton é filósofo, professor e um dos maiores nomes em crítica literária no mundo. Leciona literatura na Universidade de Lancaster, onde é professor emérito, e na Universidade de Notre Dame. As obras do professor Eagleton se desdobram em tópicos de grande relevância e debates mundiais, sempre fomentado com filosofia e contribuições significativas dos mais variados campos de estudo. Nesta obra, em específico, o autor se desdobra ao desvencilhamento do pensamento da existência unilateral da esperança com o otimismo, para tal, o autor traça um paralelo entre as diferenças de cada significado real das palavras e das mudanças sofridas ao longo do ano. Como todo filósofo, a obra sustenta-se em diversas questões que vão surgindo de acordo com as descrições e explicações elaboradas pelo autor em cada tópico. Em primeira instância, o autor analisa a banalidade do otimismo nos dias atuais, logo após, a banalidade da esperança e as divergências entre seus significados e a presença dos tópicos por meio do tempo, obras e estudos de grandes figuras históricas da filosofia.

Nesta obra, Eagleton, desvencilha os indicativos de uso de sinônimo de esperança atribuídos ao otimismo, como sendo parte de um todo, onde a crença de algo fomenta-se através do pensamento otimista de que tudo ficará bem. Para ele, possuir otimismo em determinadas ocasiões é como possuir um pensamento limitado, não havendo motivos para pensar que algo dará certo pela desculpa de que somos otimistas, tornando o pensamento como sendo algo ilimitado, como acreditar que algo ficará ou se dará bem por um motivo ou outro banal, limitando o pensando, e o tornando irracional em certos pontos. Partindo deste ponto, não havendo uma significância plausível e satisfatória pelos quais as coisas vão dar certo, também não há motivo insatisfatório para crer que não dará certo, tornando assim, o otimismo algo infundado e inaceitável. O otimismo então torna-se, em tese, fruto da confiança do indivíduo em si próprio durante a tomada ou caminho de decisões, pautando-se mais sobretudo em crença, mas não em esperança.
[...] Numa espécie de astigmatismo moral, o individuo distorce a verdade para adapta-la para as suas inclinações naturais, que já tomaram todas as decisões essenciais em seu mundo. Como o pessimismo envolve, em grande medida, o mesmo tipo de capricho intelectual, os dois estados mentais tem mais em comum do que geralmente se acredita [...] (p.14) - grifos meus.

assim sendo...

otimismo e pessimismo podem ser características de visões de mundo bem como de indivíduos. (p.19)

Otimismo e pessimismo são lados de uma mesma moeda e surgiram ao mesmo tempo, um contrapondo ao outro, mas somando em diferenças e irrelevância. Ambos são determinações de crença estabelecidas pelo indivíduo para reafirmação de seu caminho por meio do exercício da crença, não sendo pautados em nenhum motivo específico sólido ou relevante, ou determinado por questões de importância, apenas por sua vontade de que algo ou alguém dará certo ou errado por motivos impostos naquele momento oportuno. O outro, pessimismo, é uma crítica fatídica e tendenciosa ao desfavorecimento de algum beneficiamento ou relevância de um ato, ação ou acontecimento, entre outras palavras, o ato de sempre enxergar o pior em cada situação específica.

Já a esperança, para o autor:

As três chamadas virtudes teologais da fé, da esperança e do amor tem cololarios deturpados. A fé corre o risco de virar credulidade, o amor, sentimentalismo e a esperança, autoengano. Na verdade, é difícil pronunciar a palavra "esperança" sem evocar a possibilidade de que ela seja adulterada, na medida em que nos lembramos instintivamente, de adjetivos como "tênue" ou "perdida". (p.58)

Ao analisarmos a fala do autor, poderemos traçar um paralelo das divergências entre o pensamento que evoca o significado real de credulidade e esperança. A esperança está ligada à fé ao sobrenatural por meio do exercício e pensamento religioso, enquanto a credulidade é uma forma simples e menos elaborada de se exercer a própria vontade por meio do exercício de crença de que algo ou alguma coisa se dará por meio do poder do acreditar, ou seja, sem uma base sólida e sustentável como propõe a esperança que se sustenta por meio da fé, porém, para o autor, tanto o otimismo quanto a esperança são vistos com maus olhos nos dias atuais, sendo a esperança nada mais que o exercício da fé de forma temerosa e melancólica:

A esperança sugere uma expectativa hesitante e meio temerosa, o mero fantasma de uma autoconfiança. (p.59).

A esperança é, se não, a prima pobre das virtudes teologais, sendo menos investigadas que a fé e o amor (p.61). E segue sua linha de raciocínio dizendo que as pessoas dotadas de fé são menos empenhadas em se obter o que se quer do que as pessoas que não possuem fé, isso talvez, se dê ao fato de que a fé é carregada pela determinância religiosa na crença de que tudo dará certo, embora seja uma saída plausível melhor que o pessimismo. (61).

Nos capítulos seguintes da obra, o autor debruça-se em analisar o otimismo e a esperança sob as visões de grandes precursores da filosofia como Bloch, Nietzsche, dentre outros. A obra é um convite para uma reflexão mais profunda acerca dos sentimentos ligados à esperança e ao otimismo, separando a divisão nada palpável existente entre seus significados, estudando de forma clara e objetiva suas características e aspectos de forma mais filosófica e objetiva. 

[RESENHA #564] As origens do mal, de Georges Minois

APRESENTAÇÃO

Quem é o responsável pelas infelicidades que esmagam a humanidade? Depois de muitas hesitações, os primeiros Pais da Igreja buscaram a explicação no velho mito bíblico de Adão e Eva. Os bispos do concílio de Trento fizeram dele um dogma, afirmando que a falta do primeiro homem corrompeu a natureza humana. Desde então, a doutrina do pecado original moldou a moral cristã e, mais amplamente, a imagem do homem. Construída com cuidado e erudição, esta obra é instrutiva e instigante, feita para pessoas curiosas, crentes ou não, sobretudo numa época em que a distinção entre o bem e o mal ― e sobretudo sua origem ― se articula com dificuldade.

RESENHA

George Minois é um professor francês de história com trabalhos com ênfase em tópicos religiosos, seus livros mais conhecidos ao redor do globo são: história do riso e do escárnio, as origens do mal, história do ateísmo e história do futuro. Nesta obra, o autor desdobra-se sobre as perguntas mais difundidas dentre os tempos: de onde vem o mal e o sofrimento existente? Quem é o responsável pelas infelicidades que esmagam a humanidade? dentre outras questões estudadas pelas mais variadas áreas.

Recorrendo a um amplo universo de referências de filosofia à textos bíblicos, do darwinismo à bioética, Minois analisa aqui as marcas do pecado original sobre a moral cristã e a forma como, mesmo nos dias de hoje, esse tema continua a suscitar debate. Livre arbítrio, pretensão de independência e autossuperação: embora talvez não seja evidente a princípio, não são tão distantes dos motivos que justificariam o cometimento do pecado original das ambições dos homens da ciência.

A obra é uma proposta desafiadora e bastante respaldada, o autor busca por meio de diversos campos explicitar de forma clara e concisa por meio de uma linguagem clara e acessível a existência do mal e do sofrimento humano. Se Deus é bom o tempo todo e tudo o que faz é perfeito, porque temos de pagar pelo pecado primário? A história é conhecida, o desfecho também, mas será que os desdobramentos advindos da criação divina também? Um estudo profundo que busca apresentar uma base sólida de argumentação capaz que trazer a tona à luz do conhecimento por meio do estudo. 

Os primeiros pais da igreja buscaram explicar o mal e o sofrimento humano por meio da análise do texto de Adão e Eva, na bíblia cristã, o comportamento pecaminoso no Éden, moldou toda humanidade, bem como sua noção de certo, errado e do poder de escolhas do homem. Segundo estes estudiosos primários, a culpa decorreu de um único homem por meio do pecado original de Adão, moldando a noção de ética cristã e moral humana.  A partir deste ponto, introduziu-se toda proibição e dogmas impostos pela religião, como a mulher como figura submissa ao homem e os pecados da sexualidade e os agouros advindos destes comportamentos, o que ocasionou em uma centena de intermináveis estudos que alcançaram o Iluminismo e ascenderam aos dias atuais.

A falha inicial de Adão provocou um efeito cascata moral, os homens sentem-se culpados pelo pecado original, mas livram-se da culpa ressentindo-se do futuro e dos efeitos da escolha de outro, o que ascende nos estudos das áreas religiosas e educacionais a alternativa de explicar os efeitos no cotidiano e no âmbito social e moral da sociedade. Mas a ideia de culpa do pecado transferiu-se à figura do diabo, tirando sobre o homem o peso da responsabilidade de sua própria escolha, não sendo mais responsável pelo ocorrido de outrora, mas responsável pelos efeitos futuros das escolhas, o que é, sempre, complicado, levando em consideração que todos os homens esbarram diariamente nos limites impostos pela religião, sobretudo, se analisarmos fortemente os escritos bíblicos advindos do primeiro testamento da bíblia cristã.

O livro conta com a seguinte divisão de tópicos: 

1. De quem é a falta?

2. O processo de Adão

3. Teologia e sociedade

4. A  queda: pomo de discórdia teológico

5. O pecado original

6. Adão sob o fogo das luzes

7. Adão, Darwin e Hegel

8. Os avatares do pecado original

9. Do Adão bíblico ao Adão eugênico 

Cada tópico possui uma particularidade única, o autor unifica arestas de diferentes áreas para explicitação do conteúdo prático explicativo, expondo com clareza e citações de obras ao longo do enredo conteúdos que solidificam os argumentos em linguagem clara e assertiva. O tópico um aborda a falta, a falta de noção do pecado, da ação e de vigilia celeste, o segundo, os processos advindos do processo acusatório de um responsável pelo pecado primário, o terceiro os reflexos na idade média, filosofia e nas demais áreas do conhecimento, o quarto o concílio de trento e a revolta humanista, o quinto à análise do pecado original, a sexta, o estudo do pecado transporido, a sétima, uma análise sob a luz de Darwin e Hegel, dentre os demais tópicos.

Até o final do quarto século, os cristãos tinham visões conflitantes sobre o pecado de Adão e Eva e suas consequências (o crime é frequentemente descrito como obra de Deus). Agostinho de Hipona, um bispo africano apaixonado por demônios, é o criador da expressão "pecado original" e o próprio criador da demonologia literal. Ele organizou concílios em Cartago, que levaram o papa à condenação do pecado original em 418. Desde então, o assunto foi resolvido dentro da Igreja. Simplificando, os teólogos gastarão muita energia para entender, explicar e justificar uma ideia que ao longo dos séculos será muito misteriosa e desconcertante: Deus, o Todo-Poderoso.

No século 16, a interpretação da história da queda tornou-se a "maçã" da controvérsia entre católicos e protestantes. Então a Igreja Romana procurou de alguma forma acabar com o julgamento de Adão. O Concílio de Trento também considerou o pecado original um dogma. Portanto, qualquer católico que rejeita o caráter histórico da história bíblica é um herege e amaldiçoado. Outro ensinamento do mesmo conselho: todas as pessoas - exceto a mãe de Cristo, a "Imaculada Reencarnação" - herdam o pecado original e devem ser batizadas para removê-lo. Crianças não batizadas não podem ir para o céu. Sua alma vai para um lugar imaginado por Tomás de Aquino no século XIII: o limbo.

G. Minois mostra que, ao longo da história do cristianismo, os escritores pensaram em interpretar a história bíblica de forma alegórica: por exemplo, Pelágio no século IV ou Lamenais no século XIX. Essas ideias foram sistematicamente rejeitadas pelas autoridades católicas e pelos fundamentalistas protestantes. A promulgação desses pontos de vista resultou na expulsão de seus autores da Igreja e de outras disciplinas (começando com Pelágio, que foi expulso de Roma e despojado).


A obra de Minois percorre toda a história da cultura cristã. De fato, a doutrina do pecado original moldou a imagem humana do Ocidente. Ele cometeu o pecado da luxúria (em muitas teologias, Adão e Eva pecaram contra a carne), mas também desobedeceu até mesmo ao conhecimento científico. Justifica a ordem social (o ser humano é fundamentalmente mau, a violência é necessária para manter a ordem) e o desrespeito às mulheres - Paulo de Tarso (São Paulo) diz "não" Não foi Adão que foi tentado, mas a mulher que, sendo tentada, tornou-se culpado de transgressão". O pecado original não ocupava apenas os teólogos, mas muitos filósofos também apontavam: Pascal, Leibniz, Kant, Hegel... No século XVIII, tornou-se o objetivo dos racionalistas. No século 19, Adão seria "morto" pelo darwinismo. Os cristãos que aceitam a evolução, a preservação histórica do Adão, terão que se engajar em uma síntese mental que levará ao ensinamento atual da Igreja: o corpo é "tirado de uma matéria viva e pré-existente", mas cada "alma" foi criada por Deus.

Em síntese, devo declarar que esta é uma obra esclarecedora em diversos pontos e sua narrativa é lúdica e clara ao que se propõe: um estudo amplo da origem do mal por meio de análises nos mais variados campos. Uma obra dedicada à amantes de história, teólogos e filósofos.

[RESENHA #557] Eugénie Grandet, de Honoré de Balzac

 

Eugénie Grandet é um romance de Honoré de Balzac publicado pela primeira vez em 1833. A obra retrata os tipos da vida provinciana na França de então e é considerada a obra que exibe maior aprimoramento narrativo na vasta produção de Balzac .

A história se passa na primeira metade do século XIX e é sobre a história da personagem que dá nome ao livro, e o cotidiano de sua família abastada, numa província francesa. Eugênia é filha única de um rico comerciante avarento, o sr. Grandet .

O livro é rico em detalhes, tanto na ambientação como nos próprios personagens. Honoré de Balzac escreve de forma poética os hábitos da sociedade do interior da França, bem como seus costumes tipicamente rurais e econômicos .

Balzac foi um dos grandes retratistas da burguesia francesa do século XIX e possuía extrema habilidade para criar personagens . Ele nasceu em 20 de maio de 1799 em Tours, região de França, e morreu em 18 de agosto de 1850 em Paris Ele foi um grande precursor do movimento da novela realista popular no século XIX .

Além de Eugénie Grandet, Balzac escreveu outras obras notáveis como A Comédia Humana e A Mulher de Trinta Anos .


Esta história se passa na cidade de Saumur. É lá que vivem Eugénie e sua família normal. Seu pai é um ex-tanoeiro avarento que esconde sua fortuna de sua esposa e filha e os obriga a morar em uma casa velha e congelada, que ele não quer consertar porque, bem, dinheiro deve ser gasto e é exatamente isso que ele tenta evitar. Ler este romance me fez rir várias vezes porque, convenhamos, todos nós conhecemos um Felix Grandet na vida real, pelo menos uma vez. Uma pessoa que acumula dinheiro simplesmente para ver seu esplendor na mesa. Ele precisa saber que o dinheiro existe para que ele possa se sentir seguro. Ele não tem um casaco para enfrentar uma tarde gelada, mas com certeza se sente seguro ao contemplar uma pilha de dinheiro em algum lugar sob seu teto. A maneira como essas pessoas pensam é verdadeiramente notável. Querem ganhar muito dinheiro, não Não querem gastar um centavo e, antes que percebam, suas vidas acabaram. Eles apenas existiram, pois nunca viveram. Infelizmente, eles não podem levar sua riqueza para o túmulo - ou para onde formos depois que partirmos deste mundo. Se houver tal lugar. Do ponto de vista prático, apenas os herdeiros podem ser gratos por esse tipo de vida.

Bom, não sei exatamente do que eu estava falando, mas me parece um bom momento para dizer que Balzac descrevia lugares, situações e personagens nos mínimos detalhes, escapando habilmente do tédio, na maioria das vezes. Sua escrita vívida me permitiu sentir como se estivesse lá, morando em uma casa antiga, compartilhando momentos com a pobre Eugénie, conversando sobre como todo homem que se aproxima dela tem uma agenda. Pois esse é o outro lado da história: as pessoas estão perto de outras pessoas apenas para ver o lucro que podem obter, já que a vida é uma transação comercial. Alguns jovens foram enviados para visitar Eugénie para transmitir suas propostas de casamento, porque suas famílias sabiam de sua riqueza. Naturalmente, tais manobras pensativas e hipócritas não são algo que aparece apenas na classe alta, assim como a verdadeira amizade pode ser encontrada em todas as esferas sociais.

No final, a bondade e o espírito nobre de Eugénie tiveram que coexistir com a avareza de seu pai, com o materialismo de seu mundo. Independentemente da atmosfera egoísta em que teve que respirar, ela aprendeu que outra fonte de felicidade está no ato de ajudar o próximo.

Este maravilhoso romance revela muitos aspectos interessantes de nossa natureza. O impacto do dinheiro nas pessoas e em seus relacionamentos. A superficialidade que muitas vezes ajuda a atingir. A busca constante pelo amor em um mundo de posses.

Em resumo, Eugénie Grandet é uma obra-prima que retrata com habilidade a sociedade francesa do século XIX e é uma leitura recomendada para aqueles interessados em literatura clássica.


[RESENHA #556] A relíquia, de Eça de Queiroz

 


A Relíquia é um romance realista escrito pelo português Eça de Queiroz e publicado em 1887. A obra é profundamente sarcástica e protagonizada por Teodorico Raposo, um sujeito que decide escrever um relato memorialista para contar as experiências que viveu.

A história é narrada em primeira pessoa e associa à narrativa de viagem um olhar bem-humorado sobre a condição de adaptação humana, em seus interesses de posse e em suas ilusões sociais e afetivas, por meio de negociações íntimas, por vezes conflitivas, entre o sacrifício e a recompensa.

Eça de Queiroz nasceu em 25 de novembro de 1845, em Póvoa do Varzim, Portugal. Seus pais não eram casados, o que, na época, era algo escandaloso. Por isso, foi batizado em outra cidade — Vila do Conde. Seu pai era brasileiro e sua mãe, portuguesa.

Além de A Relíquia, Eça de Queiroz escreveu outras obras notáveis como O Crime do Padre Amaro e Os Maias .


A Relíquia, é uma obra-prima cómica que merece ser redescoberta. (...) um romance de um génio cómico absoluto, uma invenção que provoca o riso estrondoso.

O relato que Teodorico faz da sua busca sublimemente absurda na Terra Santa é ao mesmo tempo uma sátira soberba e uma viagem espiritual perturbadora que transcende tanto as suas expectativas como as nossas. Quem poderia esperar o tocante retrato de Cristo que se impõe na visão de Teodorico?

Teodorico quer, desesperadamente, ser o beneficiário do testamento da rica tia (titi) e ela é uma fanática católica pouco racional. Teodorico é um desavergonhado: delirantemente hipócrita e caçador obsessivo de mulheres, arquétipo do falso devoto, o órfão sempre à espreita de uma oportunidade para subir na vida. Ele é uma invenção deliciosamente cómica, não tanto pelo estilo, mas pela obstinação, o que nos leva a admirá-lo pela sua vitalidade constante. Não consigo resistir-lhe: de cada vez que finge ter devoção para agradar aos fetiches da tia, recompensa-se com mais uma puta.
A titi é um monstro sublime, cuja única queixa de Deus é ter cometido o erro de criar dois sexos. Teodorico vive sobre o seu reinado de terror, porque um único erro o deixaria sem herança.

Teodorico Raposão é um debochado mulherengo que usa a beatice com o único intuito de esmifrar a fortuna à Titi: a severa titi, a esverdeada titi, a fria, sovina, castradora, pudica titi, que não morre nem abre os cordões à bolsa verde; invólucro cobiçado e permissório de todas as ambições de Teodorico. Tarefa árdua, para mais Teodorico tem um rival de peso: Jesus Cristo.
Perante a concorrência, Teodorico parte para Jerusalém numa viagem de peregrinação. De lá irá trazer à titi a mais sagrada de todas as relíquias, irá amaciar a velha, deitar mão à fortuna e viver em plenitude a devassidão apetecida.

Se na primeira parte impera o humor e a caricatura, após a viagem e chegada a Jerusalém, a narrativa entra num plano fantasioso: um sonho, um regresso ao passado e Teodorico vê-se a acompanhar o julgamento, o julgamento, o calvário e a crucificação de Jesus Cristo.
Aqui a leitura quer-se lenta; a habilidade descritiva transporta-nos para a cidade, para as praças, para os templos, desperta os sentidos; envolve-nos em cores e aromas, entramos nos ritos quotidianos e na vivência da história que fundou o cristianismo. O regresso a casa, à saudosa Lisboa pauta-se por uma sucessão de situações caricatas e culmina com o suprassumo da ironia.

De todas as obras que li do Eça, foi nesta que encontrei a crítica mais evidente e parodiada ao catolicismo exacerbado e à hipocrisia social.
Apesar dessa paródia, esta é uma obra madura e filosófica que afirma Eça como grande pensador e grande escritor. Homem de vasta cultura, dono de um forte admirável do qual tirava partido como poucos.

É bem possível que Eça tenha sido vilipendiado pela Igreja, quer pela ridicularização de algumas práticas (pouco) católicas envoltas em cinismo e oportunismo, quer pelo modo como desmistificou a autoridade de Cristo e lançou dúvidas perante os princípios fundadores das crenças religiosas. 

Em resumo, A Relíquia é uma obra-prima que retrata com habilidade a sociedade portuguesa do século XIX e é uma leitura recomendada para aqueles interessados em literatura clássica.


[RESENHA #554]Oliver Twist, de Charles Dickens

Tentar escrever uma 'resenha', para uma obra clássica da literatura, é até certo ponto uma audácia. É ainda mais, especialmente se for uma crítica de romance de Oliver Twist. O livro – 'Oliver Twist' de Charles Dickens tem um enredo interessante e um apelo atemporal. A história gira em torno de um órfão chamado Oliver Twist, cuja mãe morreu ao dar à luz a ele.

A resenha do livro trata do enredo, personagens e narrativa de Charles Dickens. Também lança luz sobre como o autor desafia as discrepâncias da sociedade no romance. A história se passa na Inglaterra do século XIX durante a Revolução Industrial.

Sendo um reformador social, Charles Dickens lançou luz sobre as questões sociais predominantes. As questões incluem diferenças de classe, exploração dos pobres e do trabalho infantil. Os ricos permaneceram ricos e esnobes, enquanto os pobres sofreram. A sociedade determinaria o destino das pessoas. Não havia espaço para os pobres crescerem e prosperarem.

Eles tinham que ficar do jeito que eram quando eram menosprezados. Os pobres continuaram miseráveis, mas os ricos continuariam prosperando. A escritora também enfocou uma sociedade patriarcal, onde a mulher era oprimida e, em muitos casos, tratada como objeto. No livro, o personagem do jovem Oliver representa as lutas na vida negligenciada de crianças que não têm família, são órfãs e pobres em uma sociedade imperfeita.

O escritor ainda chamou a atenção para a vida sórdida dos criminosos e a prática criminosa da Era Vitoriana. Esta resenha do livro de Oliver Twist contém um resumo da trama, bem como pensamentos sobre o romance em geral.

Oliver Twist nasceu em uma casa de trabalho onde sua mãe morreu deixando-o órfão. O jovem cresceu em um orfanato de onde tirou seu nome. O Sr. Bumble o tirou do orfanato e o colocou para trabalhar.

Na casa de trabalho, seu trabalho era colher e tecer carvalho. O trabalho infantil não era incomum naquela época, então não foi muito surpreendente ver ele e outros órfãos trabalhando o dia todo para o benefício da classe dominante recebendo pouco ou nenhum pagamento, extorquidos, sobrecarregados e morrendo de fome. Oliver tinha nove anos na época.

Ele foi vendido a um fabricante de caixões chamado Sr. Sowerberry como aprendiz do Sr. Bumble mais tarde. A Sra. Sowerberry tinha uma personalidade dominadora e manipuladora e Oliver não demonstrava afeto ou cuidado por ela, embora fosse uma mera criança, ele era visto apenas como ajudante de casa.

Ele fugiu de lá depois que o Sr. Sowerberry o atingiu e o puniu por entrar em uma briga com Noah. Ele viajou até Londres a pé, na esperança de fugir da vida miserável que levava até então.

Depois de chegar a Londres, ele conheceu o 'Artful Dodger'. Acontece que ele faz parte de uma gangue de batedores de carteira de meninos liderada por Fagin, um criminoso idoso. A natureza confiante e inocente de Oliver não considerou nenhuma de suas ações desonesta. Ele foi levado para Fagin pelo batedor de carteira. Fagin é um personagem complexo; mesmo sendo um criminoso, ele simpatiza e nutre as crianças enquanto as treina para se tornarem batedores de carteira experientes. Ele não foi retratado como abusivo com as crianças e tinha um canto suave para o menino, Oliver.

Oliver ficou com a gangue de batedores de carteira em seu covil, acreditando que eles faziam carteiras e lenços sem saber de sua linha criminosa de trabalho. Ele soube que a verdadeira missão deles era roubar lenços quando saiu com o 'Artful Dodger' e Charley Bates. De um velho chamado Sr. Bronlow, Bates e Dodger roubam um lenço. Quando ele percebeu, no entanto, o jovem Oliver chamou sua atenção e ele suspeitou de roubo. Tentando fugir de susto, foi pego e levado ao desembargador.

Mas vendo seu rosto e natureza inocentes, o Sr. Brownlow duvidou do fato de que era ele o ladrão. O dono da livraria onde ocorreu o roubo, esclareceu a confusão ao explicar que não era Oliver quem era o ladrão. O Sr. Brownlow levou a criança para sua casa e ficou sob os cuidados da Sra. Bedwin quando ele adoeceu no tribunal. Oliver floresce e se recupera rapidamente da gentileza inesperada deles.

Fagin, temendo que Oliver revelasse seus erros à polícia, queria Oliver de volta em seu covil. Então, quando Oliver foi enviado para pagar os livros, Nancy e Bill Sikes - ambos trabalhando ao lado de Fagin, fizeram um ato de sucesso para capturá-lo e trazê-lo de volta. Os ladrões levaram os livros, a nota de cinco libras e tiraram suas roupas novas. Oliver tentou fugir novamente chamando a polícia. No entanto, Dodger e Fagin o pegaram. Nancy era a única personagem feminina com um senso de retidão diferente que simpatizava com Oliver.

Para envolver novamente Oliver em atividades criminosas, Sikes planejou um roubo e ameaçou tirar sua vida a menos que ele cooperasse. Ele foi então levado para uma casa, solicitado a abrir a fechadura da porta principal antes de ser empurrado por uma pequena janela para entrar na casa. Eles foram ouvidos e o roubo deu errado. Os habitantes da casa atiraram em Oliver por engano e o deixaram ferido. As pessoas da casa, Mrs. Maylie e Miss Rose, levaram-no para cuidar dele.

Os leitores têm uma ideia sobre a identidade de Oliver quando um homem misterioso chamado Monks aparece. Mais tarde, ele foi revelado como meio-irmão de Oliver. Os monges conspiraram com Fagin para destruir a reputação de Oliver para herdar a riqueza de seu pai. Nancy ouviu quando Monks estava explicando como ele rastreou a identidade de Oliver e decidiu informar os benfeitores de Oliver sobre isso. No dia seguinte, o Sr. Brownlow voltou a Londres de uma viagem quando Oliver o viu e o levou para conhecer os Maylies.

Uma obra clássica que promete arrebatar até mesmo os leitores mais exigentes.

[RESENHA #553]O falecido Mattia Pascal, de Luigi Pirandello

 

Nas primeiras páginas, o autor conta-nos que esta é a história de um homem que "morreu duas vezes". Ele ganha uma pequena fortuna trabalhando como contador em uma remota cidade italiana. Ele vive com filhos barulhentos, uma esposa que não se importa mais com ele e uma sogra malvada que o odeia. Enquanto estava fora da cidade por alguns dias, ele soube pela imprensa que o cadáver em decomposição de um homem que cometeu suicídio no sistema de distribuição de água de sua cidade natal foi confundido com o dele. Você é livre! Você embarca em um navio de jogo e realmente ganha dinheiro e constrói uma nova vida para si mesmo em uma cidade distante. Mas viver uma segunda vida não é fácil, e a estrutura vira uma novela grotesca (ou ópera de verdade, já que a obra é traduzida do italiano).

Reconhecido como um dos fundadores do drama e do teatro modernos, o Prêmio Nobel Luigi Pirandello não é muito conhecido na língua inglesa como romancista e contista, mas é o caso. Este humor escrito em 1904 mostra que ele poderia fazer maravilhas em ambos Campos. . Ele aborda uma série de temas recorrentes ao longo de sua carreira de dramaturgo: o irreal e o real e os mistérios da identidade.

O narrador aqui (provavelmente Mattia Pascal) é um excêntrico, um personagem feito de uma divertida comédia, ele é o filho pobre de uma família rica, mas acabou arruinado por um bandido corrupto. Ele vive uma vida miserável como oficial de registros com um casamento conturbado, torturado por sua ex-sogra e atormentado por credores, então ele foge para Monte Carlo, onde a sorte e a fortuna o encontraram. Enquanto está desaparecido em casa, ele é identificado erroneamente como morto (um pouco rebuscado, mas ei, todo mundo comete erros) e vê uma chance de começar uma segunda vida como um mestre criminoso com uma nova identidade e um novo nome. Mas eventualmente ele percebeu que poderia ser apenas Matia Pascal.

Para a frustração e confusão de todos os outros personagens, este romance se tornou um clichê, com um cenário sombrio, misterioso e bem-humorado com um tom áspero. Esta é a morte na bandeja de prata sem a distração da morte! Com uma cópia criada por Mattia - Adriano Meis, Pirandello nos lembra como começou a enfrentar o debate que chama de "uma metáfora estranha e inadequada para nós" e sobre todos os momentos engraçados que este romance oferece, quando penso profundamente e achá-lo tocante. Mattia Pascal começa a perceber lentamente que sua liberdade é parte de uma ilusão e tem um custo, pois ele perde sua identidade e o controle de seu destino, tornando-se cada vez mais cativo.

A obra célebre do autor é o novo lançamento do catálogo da editora Unesp, e promete cativar até os leitores mais exigentes.

[RESENHA #551] Urupês, de Monteiro Lobato


Urupês é uma coletânea de contos e crônicas do escritor brasileiro Monteiro Lobato, considerada sua obra-prima e publicada originalmente em 1918. Inaugura na literatura brasileira um regionalismo crítico e mais realista do que o praticado anteriormente, durante o romantismo.

RESENHA

Monteiro Lobato (1882/1948) é uma das formas mais marcantes da nossa literatura. Bravo autor, crítico de arte e editor (foi a única pessoa no Brasil a publicar o livro Lima Barreto quando quase ninguém acreditava nele), seu nome é quase que automaticamente associado ao livro infantil, principalmente no ciclo de histórias associado a " Sítio do Pica". - Pau Amarelo" foi adaptado para outras mídias sem literatura e com grande sucesso. No entanto, Monteiro Lobato, como é conhecido o autor, tem um produto que vai além das contribuições impossíveis. fora da web".

"Urupês" é uma das quatro coletâneas de contos que Monteiro Lobato publicou em vida, e seus contos chamam a atenção pelo bom uso do vernáculo e um estilo claro que garante "suas histórias". um recurso que permite uma leitura envolvente do início ao fim, sejam histórias de "ficção realista" ou reflexões de cariz social ou político, económico e/ou filosófico da criação intelectual. escritor.

Lobato era um nacionalista de "quatro caras" e seu nacionalismo o colocou em conflito com tendências atuais, como o modernismo. O cisma desenvolvido pelos estudiosos modernos em relação a Lobato popularizou-se após duras críticas à exposição de Anita Malfatti. Além disso, o nacionalismo do escritor o levou a expressar uma visão bastante negativa e um tanto pessimista do Brasil em que vive. Em suas histórias e em seus pensamentos, o pessimismo, a tristeza e a decepção de Lobato são vistos na relação contrastante entre a riqueza e a beleza de sua terra natal e a imoralidade, hábitos terríveis, pura ignorância e sabedoria tanto da elite quanto das celebridades e esta. O seu sentimento de desilusão com o país que lhe é caro, habitado maioritariamente por gente pouco inteligente, está patente em vários momentos do livro, como no final do livro do maravilhoso conto "Bucólica":


"Luz solar. Depressão, depressão crônica."...

É difícil contar uma história ou outra em uma antologia notável, mas dupla atenção é dada a "A vendetta da peroba" (amarga e perturbadora), "Tortura moderna" (um conto sombrio de desigualdade, elitismo, indiferença e crueldade) , "verso policial" (uma estranha combinação de sátira, raiva e crítica), "O mata-pau" (uma reflexão cruel e pessimista sobre a natureza cruel do homem), "Bocatorta" (uma história maravilhosa com final feliz Edgar Allan Poe), "O Comprador da Fazenda" (uma parte bem simples do livro com fundo humorístico, quase escondendo outra manifestação da grandeza que a ignorância pode ter na natureza humana), "Oh mancha" (que o dono não deve fazer nada; Guy de Maupassant), "Velha Praga" e "Urupês" onde Lobato grita impiedosamente alheio ao caboclo, vulgo "Jeca tatu", conforme o trecho em que fala:


"Nada o acorda. Nenhuma picada o faz ficar de pé. Socialmente, como os indivíduos, em todos os atos da vida, Jeca, antes de fazer movimento, agacha."

Ou:

"Ele não só fala, não canta, não ri, não ama.

Ele é o único, entre tantas vidas, que não vive."

Em defesa do autor, eu diria que ele tentou justificar sua antipatia por "caboclice" com base em sua nacionalidade; ou seja: o "caboclice" é o responsável final pela destruição do meio ambiente e pela falta de progresso tecnológico no século XX, fatores que alimentaram a decadência do Brasil que o escritor tanto amou. Mas, por outro lado, é notável que o autor culpou o caboclo como se suas ações e atitudes fossem inerentemente más e ignorantes, sem levar em conta a desigualdade que existe entre o caboclo e até mesmo os trabalhadores brasileiros. de grandes vítimas.

O próprio autor buscará, então, redimir-se da face do caboclo, defendendo a educação e a higiene pública como formas de melhorar a vida dos pobres no Brasil.

Mas a verdade é que, ainda hoje, Lobato é visto por muitos como um elitista, racista e preconceituoso.

Polêmicas à parte, "Urupês" é um livro de primeira e leitura obrigatória para conhecer, entreter e evocar emoções do nosso país Brasil, que ainda não teve igual.

[RESENHA #541] Discurso de ódio, de Judith Butler

Apresentação da obra: A linguagem poderia nos ferir se não fôssemos, de alguma forma, seres linguísticos, seres que necessitam da linguagem para existir? Essa questão, ao mesmo tempo sensível e premente, é ainda mais relevante em meio às complexidades e à emergência das discussões acerca da liberdade de expressão e da cultura do "cancelamento". Ao problematizar as questões que permeiam o debate sobre a criminalização do discurso de ódio, a autora busca aumentar o poder de ação de dominados e subordinados.


Discurso de ódio é um livro rico, provocativo e desafiador que argumenta que o significado linguístico é fluido e provisório, não fixo ou rígido. O falante não pode exercer controle total sobre a interpretação de um auditor, porque o falante, o auditor, a ocasião para falar e ouvir e, de fato, as próprias palavras são suturadas em relações culturais mais amplas. O locutor sempre-já existe dentro de uma teia de historicidades e formações discursivas que o encorajam a atribuir significados já tomados como certos às palavras conforme ele as articula na esfera pública. A transitoriedade do performativo é, paradoxalmente, também a fonte da sua força, tanto no domínio do direito como em contextos mais ordinários. Os atos de fala são, portanto, limitados dentro e por um conjunto maior de regras ou regulamentos discursivos, mas essas regras são tênues e, até certo ponto, negociáveis. Nessa formação complexa, os falantes nunca podem determinar com certeza a interpretação do público sobre o enunciado do falante.

O discurso de ódio, conforme discutido por Judith Butler, pode ser compreendido nas análises que ela realiza sobre as maneiras pela qual a subjetividade é constituída e regulada retoricamente, historicamente, psicologicamente, filosoficamente e politicamente. Ela se concentra especificamente em como a linguagem podeinterpelar os sujeitos no discurso, delineando a performatividade do discurso político. Assim, o auditor pode encontrar uma maneira de reavaliar e reinscrever o discursocontra seus propósitos originários, reconfigurando acadeia de ressignificação cuja origem e fim permanecem infixos e infixáveis. Por esse motivo, Butler conclui que a fala é muitoescorregadia para que qualquer regulação estatal seja eficaz. Ela está preocupada com a possibilidade de tal regulamentação reorientar o poder do estado contra os membros já marginalizados da sociedade, como indicado pelo debate sobre a fotografia de Mapplethorpe no Congresso. Como resposta a esse discurso opressivo, ela oferece a possibilidade de alguma rearticulação não governamental, subversiva e democrática do discurso, como a reapropriação de epítetos raciais pelo rapper Ice T. Refletindo os pensamentos de Foucault e Derrida, Butler explica que essa rearticulação do discurso odioso e opressivo ainda reencena tal discurso, não conseguindo superar completamente sua força opressiva. Por isso, a mudança progressiva está temperada pela ansiedade sobre as instituições atuais, mas não sem alguma esperança de sucesso futuro parcial. Contudo, a eficácia dessa mudança é temperada por práticas hegemônicas e retificadas de uso da linguagem.

A própria análise começa com a premissa de que aressignificação de enunciados é possível - de fato, Butler enfatiza comoas palavras podem, ao longo do tempo, tornar-se desarticuladas de seu poder de ferir e recontextualizadas em modos mais afirmativos. Isso nos levanta pelo menos duas questões críticas. Primeiramente, em quais bases retóricas essas manifestações afirmativas de discurso podem ser negociadas e produzidas? Em segundo lugar, como seria possível determinar se a ressignificação foi bem-sucedida - ou seja, quais são os parâmetros para reconhecer quando o modo afirmativo se materializa? Implícito aqui está a problemática das relações de poder desigual, abjeção e falta de ethos que influenciam e podem superdeterminar a habilidade de um falante de resistir ou renegociar o significado original. Devido a essas dificuldades, até mesmo as condições de sucesso provisórias podem ser ilusórias e paradoxais, ocorrendo raramente ou talvez nunca.

Butler apresenta três estudos de caso principais para examinar a política de discurso performativo, que é efêmera, mas onipresente. O Capítulo 1 tem como base a Teoria dos Atos de Fala de Austin para examinar o caso R.A.V. v. St. Paul, julgado pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 1992, que anulou uma lei de Minnesota proibindo queimar uma cruz como discurso simbólico direcionado a indivíduos de minorias raciais. O Capítulo 2 fundamenta-se no Poder Foucaultiano e nos Modelos de Consenso Habermasianos para examinar as análises do discurso de ódio de Mari J. Matsuda e Richard Delgado e da pornografia de Catharine MacKinnon. Por fim, o Capítulo 3 fundamenta-se nas Visões Freudianas de Consciência, Masculinidade e Paranóia para examinar as maneiras pelas quais a política denão pergunte, não diga do Exército dos Estados Unidos patologizou o discurso como contagioso.

Pode-se afirmar que esse livro auxilia muito na compreensão da sexualidade, de como ela foi construída e desconstruída social e culturalmente, principalmente por meio das teorias de Freud sobre censura e autoridade, que já eram minha hipótese, mas que foram corroboradas pela autora. Butler descreve como o discurso, a censura e a autoridade fragilizam algumas identidades, impedindo a sua autonomia e agência, desprezando-as socialmente. Isso se aplica não só aos homossexuais, mas também aos negros, indígenas, mulheres, latinos, pobres e outros. Ela demonstra que a influência do discurso tem uma censura implícita, que não é escrita, mas que está presente no "habitus" - termo estabelecido por Pierre Bourdieu - da sociedade. Butler também conseguiu explicar minha paranóia e minha fobia social a partir da situação do "dont ask dont tell" do exército americano, onde as pessoas ficam desterritorializadas, sem legitimidade, sem ter para onde fugir por conta da negação de sua identidade.

A homossexualidade no Exército Americano causa segregação e fragilização na imaginação do soldado gay, que cria imagens de culpa e punição por ser quem é e sentir desejos. De acordo com Butler, a homossexualidade na sociedade atual gera o que Paul Ricoeur chama de Circuito Vicioso do Inferno, isto é, um círculo vicioso de desejo e proibição infinita, que resulta em altos índices de sentimento de culpa e de não-merecimento de participar da sociedade. Esta transformação da homossexualidade em culpa, e portanto na base do sentimento social, ocorre quando o medo do castigo parental é generalizado como o medo de perder o amor dos outros.

Sigmund Freud considerava a paranóia como um meio de reimaginar o amor como sempre quase inalcançável, gerando paradoxalmente o medo de perder esse amor que por sua vez estimulava a sublimação ou introversão da homossexualidade. Essa abordagem também trata das performatividades soberanas, que regem o comportamento moral e de gênero dos seres humanos e, portanto, moldam a sociedade por meio de autoridade e poder. Além disso, ela aborda o discurso de ódio, censura, silêncio e silenciamento, tanto físico quanto espiritual, moral e psicológico das minorias, com destaque para os homossexuais que foram excluídos da História e ainda são perseguidos por pessoas que não têm interesse ou habilidade para ler obras da autora.

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