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[RESENHA #593] Também eu danço, de Hannah Arendt

 

APRESENTAÇÃO

Quem imaginaria que um dos maiores nomes da filosofia política do século XX nos legaria também poemas? Originalmente não destinados à publicação, temos nesta antologia 71 poemas escritos ao longo da vida de Hannah Arendt. Tendo por base a edição alemã estabelecida apenas em 2015 – uma publicação póstuma e recente, como se vê –, os poemas reunidos aqui atuam também como sinalizadores da biografia da filósofa, marcando suas alegrias, amores, amizades, perdas e reminiscências.

Segundo Patricia Lavelle, em seu texto de orelha: “Escritos entre 1924 e 1961, com uma longa interrupção entre 1933 e 1942, o lugar destes poemas líricos é a vida interior de Hannah, seus amores e amizades. Mas embora não fosse uma ‘profissional’, para usar a expressão irônica da poeta Ana Cristina César, a jovem precoce de Königsberg, que aos quatorze anos já lia Kant, Kierkegaard e os românticos alemães, também não era poeticamente ingênua.

A escrita poética prolonga a correspondência de Hannah Arendt, em endereçamentos a interlocutores que também foram intelectuais importantes. Um primeiro ciclo de poemas, que vai de 1924 à 1927, está relacionado à paixão de juventude que ela viveu com Martin Heidegger, então um carismático professor casado, mas ainda não comprometido com o nazismo. Mais tarde, compartilhou o gosto pela poesia com seu colega de estudos Gunter Anders, com quem se casou. No exílio, dedicou versos ao grande amor de sua vida, o também filósofo Henrich Blütcher, seu segundo marido.

Entre seus poemas, encontramos também homenagens a amigos como Walter Benjamin, que Arendt dizia pensar poeticamente, o escritor Hermann Broch ou ainda o sionista Blumenfeld, líder do movimento de resistência ao nazismo no qual ela atuou. Versos surgem ainda no seu ‘diário de pensamento’, em releituras de Goethe ou Platão, entre outras referências.”

RESENHA


O livro "Também eu danço" é uma coletânea de poemas da renomada filósofa e teórica política Hannah Arendt. Publicado postumamente em 1995, o livro apresenta uma faceta menos conhecida da autora, que é a sua habilidade como poeta.

Os poemas exploram uma variedade de temas, incluindo amor, solidão, natureza, morte e a condição humana. Através de sua linguagem poética, Arendt expressa suas reflexões profundas sobre a existência humana e as complexidades da vida moderna.

Além dos poemas, "também eu danço" também contém alguns ensaios e reflexões da autora. Essas reflexões ampliam nosso entendimento das ideias e preocupações de Arendt, abordando questões como a natureza da liberdade, a importância da ação política e a necessidade de pensar criticamente em tempos de crise.

Hannah Arendt é mais conhecida por suas obras filosóficas e políticas, como "Origens do Totalitarismo", "A Condição Humana" e "A Vida do Espírito". Ela foi uma das mais influentes pensadoras do século XX, contribuindo para o campo da filosofia política e para a compreensão das estruturas de poder, autoridade e liberdade.

Suas obras são caracterizadas por uma abordagem multidisciplinar, combinando elementos da filosofia, política, história e sociologia. Arendt foi uma crítica contundente dos regimes totalitários e do conformismo político, enfatizando a importância da ação individual e do engajamento político para a preservação da liberdade e da dignidade humana.

O poema "também eu danço" de Hannah Arendt é uma obra poética excepcional que merece ser apreciada e elogiada. Através de sua linguagem poética rica e evocativa, Arendt consegue transmitir uma profunda introspecção e uma reflexão sobre a existência humana.

Uma das grandes qualidades do poema é a sua capacidade de nos transportar para um mundo de imagens e emoções intensas. Arendt utiliza metáforas e analogias de forma magistral, criando uma atmosfera poética envolvente que nos faz refletir sobre os mistérios e as complexidades da vida.

Além disso, o poema aborda uma variedade de temas universais, como amor, solidão, morte e a busca por significado. Arendt mergulha profundamente nesses temas, explorando-os de maneira sensível e provocativa, o que nos leva a uma reflexão profunda sobre nossa própria existência e experiências.

A linguagem poética de Arendt é poderosa e cativante. Seus versos fluem harmoniosamente, criando um ritmo e uma musicalidade que adicionam uma dimensão adicional à experiência de leitura. Sua habilidade de escolher as palavras certas para expressar emoções complexas é notável e nos permite nos conectar de maneira íntima com suas reflexões.

Além disso, o poema "também eu danço" nos convida a uma jornada de autodescoberta e autoconhecimento. Arendt nos lembra da importância de nos conectarmos com nossas emoções e de nos permitirmos dançar com a vida, mesmo em meio às incertezas e desafios que enfrentamos.

Em suma, o poema "também eu danço" é uma obra de arte poética que nos convida a mergulhar em uma reflexão profunda sobre a existência humana. A linguagem poética de Hannah Arendt, combinada com sua sensibilidade e profundidade de pensamento, fazem deste poema uma leitura enriquecedora e inspiradora.

Um poema bastante marcante da obra ganha destaque na capa traseira da obra, sendo este, sonho:

Pés flutuando em brilho patético

Eu mesma,

também eu danço, 

livre do peso

no escuro, no imenso.

Espaços cerrados de eras passadas

distâncias trilhadas

começam a dançar, a dançar.


Eu mesma,

também eu danço,

Irônica e destemida

de nada esquecida

eu conheço o imenso

eu conheço o peso

eu danço, e danço

em brilho irônico.

O poema "Sonho" de Hannah Arendt é uma obra que carrega um significado profundo e complexo, refletindo a natureza da experiência humana e a busca por um sentido de liberdade e identidade. Através de sua poesia, Arendt explora temas como a alienação, a solidão e a esperança.

Arent usa de sua prosa prolífica e altamente fervorosa para descrever o caminho da vida por meio das tensões e dos resquícios do passado e do livre cargo das emoções e do peso do escuro e dos arrependimentos:

também eu danço, livre do peso, no escuro, no imenso. Também eu danço, irônica e destemida

A obra é extremamente visceral e dilacera o leitor de dentro para fora, usando de suas influências literárias profundas, Arent nos arrebata em sua essência para a transição do agora e do exercício de reflexão âmago que rege a vida e os momentos. A maioria de seus poemas não tem título, pois não se titula sentimentos, apenas sente-se. Indicado para todos, não há aqui exceção. HANNAH É E SEMPRE SERÁ, a poetisa mais prolífica e completa que este mundo já conheceu.

A AUTORA

Hannah Arendt foi uma filósofa e teórica política contemporânea. Judia nascida na Alemanha, Arendt vivenciou os horrores da perseguição nazista, o que motivou a sua pesquisa sobre o fenômeno do totalitarismo. Suas principais obras são “As Origens do Totalitarismo”, “Eichmann em Jerusalém”, “Entre o Passado e o futuro” e “A Condição Humana”.

[RESENHA #592] Procurando encrenca, de Virginia Cowles


APRESENTAÇÃO

Brilhante reportagem e livro de memórias, Procurando encrenca narra a experiência da jornalista Virginia Cowles nas trincheiras da Guerra Civil Espanhola e no início da Segunda Guerra Mundial.

Virginia Cowles tinha apenas 27 anos quando decidiu mudar drasticamente de carreira: de colunista social de revista à correspondente de guerra na Europa. Procurando encrenca conta a história dessa evolução, através dos relatos de Cowles diretamente de ambos os lados da Guerra Civil Espanhola, de Londres no primeiro dia da Blitz, de Munique ocupada pelos nazistas e da resistência violenta e amarga da Finlândia à invasão russa. Durante esse percurso, Cowles conhece Adolf Hitler ('um homenzinho comum'), Benito Mussolini (que tinha uma personalidade 'agressiva e exuberante demais', Winston Churchill, Martha Gellhorn e Ernest Hemingway, além das mais variadas e extraordinárias personalidades que conheceu pelo caminho. Seu estilo de reportagem mescla análise política afiada e acessibilidade do jornalismo de fofoca, e sua prosa reflete a empatia de um romancista.

Durante sua carreira, Cowles testemunhou: a Guerra Civil Espanhola de ambos os lados; a Tchecoslováquia na crise de 1937; Praga antes e depois do Acordo de Munique; os Sudetos e a marcha dos nazistas; a Rússia enganada pelos nazistas; Roma sob pressão alemã; Berlim no dia em que a Segunda Guerra Mundial estourou; a Finlândia invadida; Paris nas últimas 24 horas antes da invasão alemã; Londres enquanto a batalha decisiva se acirrava; e muitos outros momentos cruciais da Segunda Guerra Mundial.

Ela entendeu ainda em 1937 – antes de muitos políticos da época – que o fascismo na Europa era uma ameaça à democracia no mundo todo. O ponto de vista de Procurando encrenca sobre o extremismo é tão relevante e marcante hoje em dia quanto era mais de oitenta anos atrás.

RESENHA

Em março de 1937, oito meses após o início da Guerra Civil Espanhola, Virginia Cowles, uma jornalista de 27 anos natural de Vermont, conhecida por seu trabalho em fofocas da alta sociedade, apresentou uma proposta audaciosa a seu editor nos jornais Hearst: ela desejava viajar para a Espanha e relatar sobre os dois lados do conflito. Apesar do fato de que a única qualificação de Cowles para o jornalismo de combate era sua confessa "curiosidade", surpreendentemente, seu editor concordou. 

Durante os quatro anos que se seguiram à sua chegada à Espanha e à publicação de "Procurando encrenca", Cowles percorreu toda a Europa. Sendo uma admiradora fervorosa da cultura britânica, ela foi cativada desde criança pelas histórias do Rei Arthur e seus Cavaleiros, o que a levou a se mudar para Londres com grande entusiasmo, enfrentando com estoicismo as inconveniências da vida na cidade - como a falta de aquecimento central, os nevoeiros e o tráfego pela esquerda. No entanto, ela considerava tudo isso um pequeno preço a pagar em troca de estar na primeira fila para testemunhar o "som e fúria através do Canal". Nas palavras dela, viver na capital inglesa no final dos anos 1930 era como "sentar-se muito perto de uma orquestra e ficar ensurdecido pelo crescente crescendo dos instrumentos de sopro".

Ela esteve em Praga durante a crise de Munique e em Berlim no dia da invasão da Polônia pela Alemanha. No início de 1939, ela iniciou uma jornada de seis semanas à Rússia soviética, buscando escapar de Londres, ansiando por um período que poderia ser um período de descanso. Entretanto, a realidade lhe foi imposta rapidamente, ao constatar que Moscou era uma cidade envolta na mais profunda tristeza. Um ano depois, ela encontrava-se na Finlândia, usando um terno espesso, botas forradas de pele e um casaco de pele de carneiro, viajando rumo ao norte, em direção ao Círculo Polar Ártico, com o intuito de relatar a Guerra de Inverno, sangrenta batalha travada pelos finlandeses contra os invasores russos. Em junho de 1940, enquanto todos fugiam da cidade, ela ousadamente voou para Paris, visando cobrir a queda da cidade nas mãos dos alemães. Três meses depois, ela estava em Londres, no primeiro dia da Blitz.

Uma ideia interessante da autora em republicar esta compilação de ensaios jornalísticos sobre a Europa no final dos anos 1930 até a primeira metade de 1941. No entanto, Cowles tinha ambições maiores. Enquanto trabalhava na Europa, testemunhou o tumulto político e estava determinada a vivencia-lo em primeira mão e escrever sobre o assunto. Muitos a subestimaram, o que frequentemente lhe permitiu se aproximar da ação - e até mesmo obter uma entrevista individual inesperada com Mussolini. Ao mesmo tempo, sua posição social a colocava em contato regular com figuras como Winston Churchill e sua família, bem como a infame família Mitford.

Cowles tinha o hábito de conversar com qualquer pessoa que pudesse sobre suas opiniões em relação aos seus países - especialmente em momentos de crise - incluindo a revolucionária Espanha, Tchecoslováquia, Alemanha e a URSS. Ela era capaz de fornecer aos seus superiores, como Chamberlain, uma perspectiva à qual eles não teriam acesso de outra forma.

Cowles fazia o possível para manter uma postura neutra em suas reportagens. Essa neutralidade muitas vezes tornava difícil para ela se comunicar com pessoas envolvidas em conflitos. Ela era pressionada a declarar sua lealdade e, ao recusar, era rotulada de "vermelha" pelos fascistas e de fascista, por exemplo, pelos combatentes nacionalistas na Espanha. Em vez de levar isso para o lado pessoal, ela aproveitava a oportunidade para discutir a mentalidade binária que rejeitava qualquer empatia ou compromisso, insistindo em retratar qualquer pessoa que não fosse aliada como um inimigo a ser destruído. Ela retrata vividamente um oficial alemão de menor patente que inicialmente descreve os tchecos como bons camaradas, mas assim que os nazistas começam a agitar suas espadas, esse oficial e todos os outros alemães étnicos que vivem em sua região começam a fazer ameaças assassinas contra seus vizinhos tchecos.

Embora Cowles tenha simpatizado com os nacionalistas e camponeses na Espanha, isso de forma alguma a tornava uma "vermelha". Ela visitou a URSS pouco antes da Segunda Guerra Mundial e ficou chocada com o baixo padrão de vida e a pura ignorância dos soviéticos, que insistiam que tudo era perfeito na URSS e terrível no Ocidente. Suas experiências com totalitarismo de esquerda e de direita reforçaram sua crença na democracia.

Cowles possui um estilo de escrita quase coloquial, porém repleto de detalhes históricos vívidos, incluindo sua presença em um dos grandes comícios do partido nazista em Nuremberg, no Círculo Polar Ártico durante a Guerra Russo-Finlandesa, em Paris quando caiu para os nazistas e em Londres durante o Blitz. Este é um livro super interessante para os leitores ávidos de tópicos como política, guerra, ascensão fascista, relatos jornalísticos e uma prosa prolífica acerca dos tópicos abordados em forma de prosa. Recomendo para todo bom leitor de livros acerca da figura de uma mulher forte e ávida pelo registro da verdade.

A AUTORA

Virginia Cowles nasceu nos Estados Unidos em 1910. Começou no jornalismo escrevendo em colunas sociais sobre moda, comportamento e sociedade, e na década de 1930 começou a cobrir a Guerra Civil Espanhola ― sem nenhuma experiência prévia como correspondente. Durante a Segunda Guerra Mundial, cobriu a campanha italiana, a liberação de Paris e a invasão dos aliados na Alemanha, tornando-se uma jornalista renomada junto a outros grandes nomes, como Ernest Hemingway e Martha Gellhorn. Em 1947, recebeu uma Ordem do Império Britânico por seus serviços como correspondente de guerra. Também foi autora de biografias de importantes figuras políticas, como Winston Churchill: the era and the man e Edward VII and his circle. Morreu em um acidente de carro em 1983.

[RESENHA #591] Viola de bolso, de Carlos Drummond de Andrade

Viola de bolso, reunião de poemas de Carlos Drummond de Andrade lançada nos anos 1950, chega a sua terceira edição, com 25 poemas inéditos nas edições anteriores.

Uma das joias que marcam o retorno do poeta Carlos Drummond de Andrade ao catálogo da Editora José Olympio é sem dúvida a nova edição de Viola de bolso. Lançado originalmente em 1952, pelo Ministério da Educação e Saúde, o livro teve segunda edição pela Livraria José Olympio Editora, em 1955, com adição de 56 novos poemas, totalizando 91. Esta terceira edição, de 2022, reúne os poemas da segunda – acrescidos de marcas de revisão feitas à mão por Drummond em seu exemplar – e inclui novas peças, 25 poemas inéditos nas edições anteriores, recentemente encontradas pelos netos do poeta.

Esses poemas, que haviam sido organizados pelo próprio autor em uma pasta intitulada “Viola de bolso (nova)”, aparecem também em versão fac-similar. Tanto para estudiosos de Drummond quanto para leitores de poesia, é possível observar as mudanças feitas em certos poemas de uma edição para a outra. Mudanças que mostram a preocupação do poeta com seus escritos e que provam como uma criação literária é um processo contínuo, que nunca se dá por acabado.

Além de a nova edição apresentar um projeto gráfico caprichado, em capa dura, será uma experiência muito proveitosa ler os escritos que Drummond reúne em Viola de bolso. O livro é uma espécie de inventário sentimental do poeta em homenagem a lugares, afetos, pensamentos e, em sua maioria, a pessoas próximas; amigos, artistas e personalidades importantes – dentre estes, o próprio José Olympio,  que conquistaram o coração do grande escritor itabirano.  As dedicatórias compõem uma constelação que evidencia a rara destreza de Drummond para construir belas peças poéticas amarradas à própria vida.

RESENHA

"Viola de Bolso" é um livro de contos do renomado poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade. Publicado em 1962, o livro apresenta uma coleção de histórias curtas que exploram temas variados, como amor, solidão, cotidiano e reflexões sobre a condição humana.

Carlos Drummond de Andrade, conhecido por sua poesia marcante e reflexiva, buscou inspiração em diferentes fontes para compor "Viola de Bolso". O autor foi influenciado por sua própria experiência de vida, observação do mundo ao seu redor e pela literatura brasileira e estrangeira. Drummond de Andrade tinha um olhar atento para as nuances da existência humana, e isso se reflete nas histórias do livro.

Em relação à recepção crítica, "Viola de Bolso" foi bem recebido pela crítica literária da época. A obra foi elogiada por sua originalidade e pela maneira como o autor abordou questões universais de forma poética e sensível. Drummond de Andrade é considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX, e sua escrita inovadora e profunda contribuiu para a boa recepção do livro.

A construção do enredo em "Viola de Bolso" é caracterizada pela brevidade e concisão. Cada conto apresenta uma história autônoma, com personagens distintos e situações diversas. Drummond de Andrade utiliza uma linguagem precisa e poética para transmitir suas reflexões sobre a vida, o amor, a morte e a sociedade. O autor também faz uso de metáforas e simbolismos, criando uma atmosfera lírica e profunda em cada conto.

Em termos históricos, "Viola de Bolso" foi publicado em um momento de efervescência cultural e política no Brasil. A década de 1960 foi marcada por transformações sociais e pelo surgimento de movimentos artísticos e culturais importantes. Nesse contexto, a obra de Drummond de Andrade se destacou como uma voz crítica e reflexiva, trazendo à tona questões fundamentais sobre a condição humana em meio a um mundo em constante mudança.

No livro "Viola de Bolso", Drummond de Andrade apresenta uma seleção de poemas que refletem sua habilidade em abordar temas universais de maneira poética e profunda. Alguns dos principais poemas do livro incluem:

1. "Poema de Sete Faces": Neste poema, Drummond de Andrade explora a dualidade da existência humana, retratando diferentes facetas de uma mesma pessoa. O poema reflete sobre a complexidade e a multiplicidade de sentimentos e experiências que compõem a vida.

2. "No Meio do Caminho": Este é um dos poemas mais famosos de Drummond de Andrade. O poema apresenta uma situação aparentemente banal - um obstáculo no meio do caminho - e a transforma em uma reflexão profunda sobre a inevitabilidade do enfrentamento dos desafios da vida.

3. "Mãos Dadas": Neste poema, Drummond de Andrade aborda a solidão e a busca por conexão humana. O poema explora a importância do contato físico e emocional entre as pessoas, enfatizando a necessidade de compartilhar a existência e enfrentar juntos os desafios da vida.

4. "Sentimental": Este poema retrata a dualidade entre o sentimento e a razão. Drummond de Andrade explora a complexidade dos relacionamentos e a dificuldade de conciliar a emoção com a racionalidade, destacando a vulnerabilidade e a intensidade dos sentimentos humanos."Viola de Bolso" é, portanto, uma obra que reflete a genialidade de Carlos Drummond de Andrade como escritor. Com sua escrita poética e reflexiva, o autor proporciona ao leitor uma experiência literária única, repleta de significados e reflexões sobre a vida e a sociedade.

O AUTOR

Carlos Drummond de Andrade foi poeta, contista e cronista brasileiro do período do modernismo. Considerado um dos maiores escritores do Brasil, Drummond fez parte da segunda geração modernista. Foi precursor da chamada "poesia de 30" com a publicação da obra "Alguma Poesia".

[RESENHA #590] A anatomia do crime, de Val McDermid


APRESENTAÇÃO

Val McDermid pega o bisturi para desvendar os segredos da ciência forense, da cena do crime até o tribunal. Vencedor do Anthony Award de Melhor Livro Crítico/Não Ficçã, A anatomia do crime revela detalhes de casos terríveis e desafiadores que chocaram o mundo.

Os mortos falam. Pelo menos para o ouvinte certo, eles contam tudo: quem são, como morreram e quem os matou. Cientistas forenses conseguem revelar os mistérios do passado e ajudar a fazer justiça a partir de pistas deixadas num cadáver, na cena de um crime, ou com base nos menores vestígios humanos.

A anatomia do crime traça uma trajetória desde o início do estudo forense até o auge da ciência moderna e fundamenta-se em entrevistas com profissionais renomados, pesquisas inovadoras e experiências de campo da própria autora para revelar os segredos dessa fascinante ciência. Val McDermid investiga como larvas em cadáveres podem ajudar a determinar a hora da morte, como um vestígio de DNA do tamanho de um grão de sal pode ser usado para condenar um assassino e como uma equipe de jovens cientistas argentinos, liderada por um antropólogo americano, identificou vítimas de um genocídio.

Em seus romances policiais, os protagonistas de Val McDermid solucionam crimes complexos e enfrentam males inimagináveis. Agora quem protagoniza este livro são as pessoas reais que trabalham com isso. Em A anatomia do crime, a autora nos leva para zonas de guerra, cenas de incêndio e salas de autópsia. O true crime como você nunca viu.

“Moscas que se alimentam de sangue, estômagos exumados e rigor mortis voluntário: Val McDermid analisa como as intrigantes ferramentas da ciência forense têm resolvido assassinatos terríveis ao longo dos anos” The Guardian

“Fascinante. Val McDermid é uma das escritoras de romance policial mais habilidosas e supera todas as expectativas ao escrever como uma verdadeira autoridade sobre os fatos por trás de eventos abomináveis” The Washington Postt


RESENHA

A anatomia do crime, de Val Mcdermid é uma obra de teor não-ficção, onde a autora desdobra-se à explicar o estudo e a importância de pistas no desenvolvimento da solução de um problema em uma cena do crime através de vestígios pelo cenário, como, insetos, manchas de sangue, queimaduras, impressões digitais, DNA, dentre outros inúmeros resquícios que acabam passando despercebido pelos autores no decorrer de suas atrocidades.

A noção de que o direito penal deve se basear em provas é relativamente nova -- prefácio, pag. 9

A ciência forense surgiu como uma luz no fim do túnel para investigação empírica e profunda acerca do cenário do crime para solução das problemáticas advindas do crime hediondo à se ser julgada. Essa técnica, relativamente nova foi a forma encontrada para driblar os antigos métodos ortodoxos de punição e condenação antes em vigor, como: o tom da pele dos indivíduos, parentescos com pessoas ligadas ao ocorrido, suposições e descrições imprecisas acerca dos motivos para concretização do laudo pericial acerca do óbvio, que foi se decaindo e dando espaço para uma ciência que surgiu aos poucos pretendendo-se alinhar as pistas e o estudo do cenário criminal para estabelecer a ordem dos acontecimentos e condenar de forma mais justa os envolvidos no desfecho em julgamento.

Já no primeiro capítulo temos a oportunidade de analisar uma frase provocadora: a cena é a testemunha silenciosa, de Peter Arnold [perito criminal]. Em síntese, a cena do crime é a responsável pelo alinhamento do estudo da sequência de fatos no dia do ocorrido, ela é responsável por dizer com precisão a ordem dos acontecimentos, as armas usadas durante o procedimento e as possíveis lutas corporais desenvolvidas durante todo processo, bem como descoberta dos envolvidos por meio de DNA, sangue ou qualquer pista que ligue de forma concreta aos participantes do crime em determinada cena.

A obra aborda questões como a investigação de um cenário de incêndio; Entomologia; patologia; toxicologia; impressões digitais; manchas de sangue e DNA; Antropologia; Reconstrução facial; Computação forense; O tribunal e conclusões acerca do desenvolvimento da investigações.

No capítulo quatro, patologia, a autora desdobra-se nas explicações acerca da patologia forense, embora a patologia seja seja frequentemente caracterizada como o estudo da doença, nesta ramificação de estudo, ela liga-se mais aos efeitos da doença no corpo do que em seu desenvolvimento, assim sendo, a pericia forense analisa com cautela não somente a doença em si e seu desenvolvimento, mas os vestígios que a provocaram, bem como seus efeitos no pós morte. As pessoas se impressionam mais com uma morte violenta e repentina do que com qualquer outra, porque de uma forma ou de outra, ainda que tangencialmente falando, atribui-se culpa ao estilo de vida ou por decisões que ocasionaram em tal acontecimento. Entre outras, a outra utiliza um caso para ilustrar a frase, uma garota foi encontrada morte e seu corpo não demonstrava, aparentemente, nenhuma causa plausível para tal, desta forma, a pericia forense encarregou-se de examinar o corpo, concluiu-se que, ela havia morrido por enforcamento e luta corporal, de uma forma ou de outra, o relacionamento dela com o réu ocasionou este trágico final. Claro, há exemplos que podem ser mais precisos e claros, mas todos tomam um único caminho: as escolhas da vítima, parentesco ou amizade com o réu, dentre outros aspectos lúdicos que fomentaram a investigação. PARA MIM, o melhor capítulo do livro, embora toda sua estrutura seja grandiosa.

Já em toxicologia (p.102), a autora explica que o pior veneno para a morte é a dosagem. Em síntese, há substâncias que ao serem ingeridas em uma dosagem recomendada, cura feridas e ameniza sintomas de outras doenças, mas uma superdosagem podem ter efeitos colaterais permanentes, ou até mesmo morte. A toxicologia é a ciência responsável por estudar os efeitos dos agentes químicos no corpo, ela explica de forma cautelosa e pericial os efeitos que causaram o óbito do indivíduo, bem como as causas primárias.

Em síntese, a obra da autora é extremamente rica e lúdica em seus propósitos, uma obra que certamente fará qualquer leitor se apaixonar pela pericia forense, uma obra magnífica e sem precedentes, a mais completa até o momento, e o melhor, explicada de forma clara e acessível com exemplos claros de acontecimentos que fomentam ainda mais a explicação.

[RESENHA #589] Se a cidade fosse nossa, de Joice Berth

APRESENTAÇÃO

Nos últimos anos, Joice Berth angariou posição importante na opinião pública com argumentos preciosos sobre os desafios que as lutas antirracista e feminista enfrentam para avançar em pautas fundamentais de igualdade social – seja nos costumes, no mercado de trabalho ou na política institucional. Suas colocações a tornaram referência nas redes, fazendo com que a arquiteta e urbanista de formação fosse rapidamente reconhecida como uma das influenciadoras mais requisitadas para analisar fatos e comportamentos que escancaram nossas questões sociais mais alarmantes.

Em Se a cidade fosse nossa, Joice Berth se volta para o tema principal de seus estudos e preocupações: o direito à cidade. Neste livro, as disciplinas de arquitetura e urbanismo são singradas pela crítica racial e feminista. A autora, através de uma escrita propositiva e acessível, conta a história da formação das cidades brasileiras desde a colonização, para deixar evidente o quanto nossos projetos de urbanização, mesmo os mais recentes, carregam uma herança higienista que teima em se perpetuar. Dessa maneira, o pensamento e os projetos de arquitetos e urbanistas de renome, como Lúcio Costa, Lina Bo Bardi e Diébédo Francis Kéré, são pareados às referências de Angela Davis, bell hooks, Patricia Hill Collins, Paulo Freire e Milton Santos.

Após a leitura deste Se a cidade fosse nossa, dificilmente o espaço urbano continuará sendo visto como modelo uniforme que distancia centro e periferia, ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres. Aqui, Joice Berth propõe alternativas aos municípios brasileiros do século 21, para que possam se transformar em espaços de sinergia de saberes, congregação dos diversos modos de vida e de oportunidade de uma existência melhor para todos, sem distinção de gênero, raça, classe e orientação sexual.

RESENHA


Se a cidade fosse nossa é um ensaio primoroso acerca do pertencimento da cidade e das grandes metrópoles à todos, em uma provocativa série de questões que tornaram as grandes cidades um centro monopolizado de exclusão seletiva e imparcial.

Em conversas, eu inicio perguntando: A cidade tem gênero? E todo mundo fala que não, [que], a cidade é um espaço livre que a gente pode transitar por todos os cantos. Mas, não é bem assim, as percepções das pessoas com relação aos espaços das cidades precisam ser provocadas. A gente sabe que existem questões relacionadas ao assédio sexual nas ruas, nos transportes públicos, mas isso é só a pontinha do iceberg, que está imerso em muitos outros problemas. - Joice Berth

Arquiteta e Urbanista, Joice Berth traça em seu novo livro uma nova linha de análise da desigualdade econômica e social existentes no campo social. Sua escrita atomiza de forma significativa os inúmeros questionamentos acerca do desenvolvimento das grandes metrópoles e dos meios socioeconômicos e mercantis que potencializam, de forma crescente, as diferenças sociais que se estabelecem na mesma proporção de crescimento das metrópoles, quanto dos envolvidos no seio de seu desenvolvimento - ainda que de forma indireta - responsáveis pela produção desacelerada do capital e da urbanização de grandes centros superlotados da indiferença pela classe C, D & E.

A violência cresce de acordo com o capital inserido em um espaço-tempo, o que adere ao local um estilo de vida diferente de centros menos capitalizados, o que infla a grande massa que separa os poderes econômicos que estabelecem entre as ruas e os grandes centros as diferenças palpáveis da desigualdade. Essa diferença tensiona as chamados violência urbana direta e indireta, que obriga cidadãos de menor poder aquisitivo à se deslocarem de forma contínua às imposições exigidas pelo grande escalão, dentre outras palavras, quando o capital cresce de forma desacelerada surge um novo delineado de comportamento social. Este espaço tende à sofrer alterações não somente em suas estruturas, mas no comportamento de todos os envolvidos. Este percurso altera o seio do comportamento daqueles que não acompanham as nuances das transformações, que sempre - sempre -, são envoltos da exclusão social e paradigmática dos indivíduos em seus meios de vivência, ocasionando em expulsões de moradores de grandes áreas, derrubada de campos de acampamento, desabrigo de sem-tetos e agressões à pessoas em situação de vulnerabilidade. 

Nos últimos anos, Joice Berth ocupou posição de destaque na opinião pública com argumentos valiosos sobre os desafios enfrentados pela luta contra o racismo e pelos direitos das mulheres para fazer avançar as causas princípios fundamentais da igualdade social - seja na cultura, no mercado de trabalho ou na sociedade. Suas declarações fizeram dele uma referência, fazendo com que arquitetos e urbanistas rapidamente se tornassem um dos facilitadores mais requisitados para analisar acontecimentos e comportamentos que expõem nossos mais alarmantes problemas sociais.

A autora também explica que a sociedade é também um grande consolidador das grandes problemáticas envoltas dentro desta questão, pelo simples fato de não estarem de forma à se compreenderem no meio ao qual estamos inseridos, desta forma, nenhuma luta que visa a transformação coletiva de forma eficiente pode ser alcançada. Desta forma, falar de cidade e construção envolve uma série de questionamentos à se serem analisados de forma cautelosa levando em consideração inúmeros fatores que mesclam e tensionam a busca por uma resposta de forma satisfatória e concreta.

No capítulo 2 da obra, se a cidade fosse negra?, a autora nos convida à abrir nossos olhos para uma ação de performance acerca do conceito de raça, que atualmente, exclui de forma categórica e seletiva à participação e marginalização dos povos negros no desenvolvimento e participação social, causando o chamado racismo urbanista e racismo ambiental. Os capítulos seguintes analisam de forma mais abrangente os estudos da autora acerca de como seriam as cidades se elas fossem negras (p.109), das mulheres (p.155) e a possibilidade de manter o empoderamento e o direito à cidade em pauta unilateral, seria isso uma possibilidade?

Em Se a cidade fosse nossa, Joice Berth volta-se para o tema central de suas pesquisas e interesses: o direito à cidade. Neste livro, princípios de arquitetura e espaço urbano são combinados com críticas de raça e mulheres. A autora, descreve a história da construção das cidades no Brasil desde a formação das colônias, para esclarecer que os projetos de urbanização, mesmo os mais recentes, carregam um legado de exclusão avançando.

Depois de ler Se a cidade fosse nossa, a região metropolitana não seria mais vista como o mesmo padrão entre centro e periferia, ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres. Aqui, Joice Berth propõe vários caminhos para que as cidades autônomas do Brasil do século 21 se tornem um local de encontro de conhecimento, convergência de diferentes modos de vida e oportunidades de uma vida, para todos, independentemente de gênero, raça e classe. 

A obra é um poderoso convite à refletirmos sobre o espaço-tempo e o desenvolvimento dos grandes centros urbanos e das cidades, bem como seus reflexos racistas, excludentes e inapropriados para o desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária. Uma obra magistral.

A AUTORA

Joice Berth (São Paulo/SP, 1976) é arquiteta e urbanista, escritora, curadora e psicanalista. Voz firme e atuante nos debates antirracistas e antipatriarcais no Brasil, Joice Berth soma milhares de seguidores nas redes sociais e é colunista da revista Elle Brasil e do portal Terra. Em 2018, publicou Empoderamento, na coleção Feminismos Plurais, organizada por Djamila Ribeiro (selo Sueli Carneiro/Editora Jandaíra)  um dos livros mais importantes para o feminismo negro brasileiro da última década   , também lançado na França no ano seguinte. Em 2020, foi eleita pela revista Wired uma das cinquenta mentes mais criativas do Brasil. Se a cidade fosse nossa, obra que inaugura sua crítica sobre direito à cidade, opressões urbanas e luta por moradia, é seu livro de estreia no catálogo da Editora Paz & Terra.

[RESENHA #588] A rainha, de Andrew Morton


APRESENTAÇÃO

Em A rainha, o biógrafo Andrew Morton, autor best-seller referência em biografias sobre a monarquia britânica, apresenta ao leitor detalhes inéditos a respeito da monarca mais singular e consagrada da Grã-Bretanha.

Após a morte prematura do pai, George VI, Elizabeth Alexandra Mary se viu como Elizabeth II, a mais nova rainha da Grã-Bretanha.

A rainha relata como, tendo ascendido ao trono aos 25 anos, a discreta monarca enfrentou uma série de contratempos e conflitos familiares, mas também protagonizou importantes triunfos, sempre com muita seriedade, comprometimento e respeito à tradição ― características que se tornaram símbolos marcantes dos setenta anos de seu reinado.

Ao mesmo tempo chefe de Estado e da Igreja da Inglaterra e líder da Grã-Bretanha e da Commonwealth, Elizabeth II provou sua resiliência e seu comprometimento ao dar tudo de si para manter a monarquia britânica relevante cultural, social e politicamente ― enfrentando, por vezes, resistência dentro da própria instituição. Ainda assim, as maiores crises que ela precisou administrar surgiram em sua família, sempre sob intenso escrutínio da opinião pública: os rumores sobre a infidelidade do marido, o príncipe Philip, o lapso conjugal da irmã, a princesa Margaret, a trágica morte da princesa Diana, na época sua nora, e o recente distanciamento de Harry e Meghan dos deveres reais.

Em A rainha, Andrew Morton, autor do best-seller Diana: Sua verdadeira história, celebra o longo reinado de Elizabeth II com um compilado de todas as polêmicas, os desafios e também os méritos da singular soberana; além de contar com um encarte que atravessam toda a vida da soberana e trazer um Epílogo com considerações e previsões a respeito das futuras gerações da monarquia britânica após essa segunda era elisabetana.


RESENHA

Uma vida repleta de segredos e mistérios, mas construída de forma majestosa em seu caminho até o fim de seu reinado, a vida de Elizabeth II iniciou-se após a abdicação de seu tio, David, para casar-se com Wallis Simpson, conseguinte, Elizabeth tornou-se rainha por ser a próxima de sucessão na linha do trono.

Elizabeth teve o reinado mais longo da história da Inglaterra, tendo se mantido no poder por sete décadas. Após o falecimento precoce de seu pai, ela começara a enfrentar um novo caminho como mulher, mãe, esposa e chefe da casa de Windsor: seu reinado abarcou os principais acontecimentos sociais, mundiais e políticos, dentre eles : A descoberta do antibiótico e do DNA; Ascensão e queda da segunda guerra mundial; o primeiro homem à pisar na lua; luta e prisão de Nelson Mandela; início da internet, wi-fi e smartphones estão entre os acontecimentos abarcados durante o reinado da rainha.

A vida da rainha era conturbada no seio familiar, diariamente, milhares de especulações e dados curiosos rondaram sua família, como a morte do pai, divórcio de dois filhos, rumores da suposta infidelidade do marido e o rompimento conturbado do casamento da irmã.

Em 2022, iniciou-se o Jubileu de Palatina, o evento que comemorava os setenta anos de vida e reinado da rainha, ao invés de afastar-se de suas funções, encarou-as com vigor, operando toda uma nação à uma sucessão de acontecimentos que a tornaram única para todo o planeta por seus posicionamentos, decisões e pelo crescimento econômico considerável da Inglaterra. 


A obra de Morton é mais um marco em suas várias biografias ao redor do mundo, e uma das mais fiéis e aclamadas pela crítica em tópicos de assuntos de interesse coletivo.

O livro editado pela editora Best Seller, selo de autoajuda e biografias do Grupo Editorial Record, é uma obra primorosa com uma tradução extremamente precisa e elaborada feita por Alessandra Bonrruquer. A obra consta com quatorze capítulos que vão desde à vida antes da coroa à sua descrições mais polêmicas acerca da princesa Diana, os funerais familiares, os escândalos e os segredos advindos de sua coroação.

Uma obra para se ler em uma única sentada. Simplesmente fantástico.

O AUTOR

Andrew Morton estudou História na Universidade de Sussex, Inglaterra, com foco na aristocracia e na década de 1930. Escreveu diversas biografias de celebridades, assim como de alguns membros da família real britânica, como as do duque e da duquesa de Windsor e de Meghan Markle. A biografia que escreveu em colaboração com a princesa de Gales, Diana: Sua verdadeira história, alcançou o topo da lista de mais vendidos do New York Times e foi descrita pelos críticos como “um clássico moderno” e a obra “que mais perto chega de uma autobiografia da princesa”.

[RESENHA #587] Esfarrapados: Como o elitismo histórico-cultural moldou as desigualdades no Brasil, de Cesar Calejon


 APRESENTAÇÃO

Em Esfarrapados, Cesar Calejon destrincha em detalhes os mecanismos culturais e históricos que explicam como as elites se formaram, como atuam para dominar a sociedade e como conseguem manter sua posição de comando e ampliar seus ganhos econômicos exponencialmente. Para que se compreenda como essas dinâmicas de exploração se dão, o autor nos apresenta o conceito “elitismo histórico-cultural”. Trata-se de uma força social que organiza os arranjos sociais com base em categorias de distinção, de forma a criar uma gramática da desigualdade e, em última instância, uma hierarquia moral que rege o funcionamento sociopolítico e socioeconômico de uma comunidade.

Cesar Calejon defende que as raízes do elitismo histórico-cultural estão presente nas sociedades humanas desde os tempos remotos, anteriores mesmo à Revolução Agrícola. O autor nos conduz ao longo do tempo e demonstra como seu conceito se aplica às diferentes sociedades em diferentes momentos históricos, indicando as Grandes Navegações e o advento da Revolução Industrial como trampolins que intensificaram radicalmente a sanha elitista. Assim, chegamos até o Brasil contemporâneo, onde as expressões do elitismo histórico-cultural – racismo, machismo, misoginia, LGBTQIA+fobia, capacitismo, viralatismo, entre outras – se consolidam como formas permanentes de dominação cultural e alicerçam nossa tradição em segregar, excluir e estigmatizar as minorias, tal é feito pelas ideologias brasileiras autoritárias, como o bolsonarismo.  

Por fim, o autor explica como os debates sobre determinação natural e os estudos culturais nos ajudam a entender de que maneira essas construções ideológicas da superioridade são disseminadas. E, principalmente, como essas estruturas de poder bem estabelecidas podem ser desmontadas, de modo a se distinguir quais são os problemas reais que devem ser superados para que a desigualdade social seja extinta de uma vez por todas.

RESENHA



Autor faz uma espécie de genealogia da elite no Brasil e descreve os mecanismos usados por ela para se manter no comando.

A obra do autor é mostra como os mecanismos da desigualdade se propagam entre as elites que criam as diretrizes da moral predominante nos fatores culturais e históricos para se estruturalizar e se manter no poder. Calejon, descreve que o elitismo histórico-cultural se mantém por meio do poder da ação no seio das questões políticas pré-existentes, subsistindo de forma categórica e arbitrária sobre os mais fracos, como forma de categorizar e arranjar os seios fundacionais das diretrizes do poder.

Cada aspecto do privilégio extremo, não apenas nacional, mas globalmente, começa com a premissa de que existem pessoas fortes e outras biologicamente fracas. O desenvolvimento humano é a base da cultura. Isso acontece culturalmente com base na biologia de nossa espécie. Quando você entende isso, você se apropria para entender que isso se aplica à forma como nossa sociedade é organizada

A obra se inicia com uma frase de Louis-Arnand de Lom d'Arce, de Lahontan, sobre os nativos ameríndios que haviam visitado a França, no livro mémoires de l'Amérique Septentrionale [Memórias da América Setentorial], 1705:

Eles estavam continuamente nos provocando com as falhas e desordens que observação em nossas cidades, como sendo ocasionadas por dinheiro. Não adianta tentar repreendê-los sobre o quão útil é a distinção de propriedade para o sustento da sociedade: eles não discutem, nem brigam, nem caluniam uns aos outros, eles zombam das artes e das ciências e riem das diferenças de classes que observa entre nós. Eles nos marcam como escravos e nos chamam de almas miseráveis, cuja vida não vale a pena, alegando que nos degradamos ao nos sujeitarmos a um homem [o rei] que possui todo o poder e não está sujeito a nenhuma lei, exceto a própria vontade [...].

A observação elaborada por Louis-Arnand é uma descrição clara e objetiva de como os fundamentadores das grandes elites enxergam e observam as diferenças existentes entre um povo e sua visão predominantemente pequena acerca da desigualdade social e coletiva. Um retrato conhecido e difundido na política, sobretudo, brasileira.

O segundo texto de abertura é um trecho do poema/música, guerra, de Bob Marley, onde o autor e músico faz alusão entre as diferenças existentes entre os povos dentro da sociedade responsáveis por atomizar não somente as diferenças dentro de uma nação, mas para existência da própria guerra, uma vez que falta-lhe o entendimento acerca da importância da variação de culturas em uma sociedade, na íntegra:

Até que a filosofia que considera uma ração superior e outra inferior seja final e permanentemente desacreditada e abandonada, em todos os lugares há guerra, digo guerra. Até que não haja cidadãos de primeira e segunda classe de qualquer nação. Até que não haja cidadãos de primeira e segunda classe de qualquer nação. Até que a cor da pele do homem não tenha mais importância do que a cor de seus olhos, digo guerra. Até esse dia, o sonho de paz duradoura, a cidadania mundial e o domínio da moralidade internacional permanecerão uma ilusão fugaz a ser perseguida, mas nunca alcançada, agora em todos os lugares há guerra.

Entre outros pontos, poderemos dizer que a sociabilidade atual se dá por meio da construção existente na diferença do povo, seja ela econômica ou racial, de todo modo, essa existência se dá pela acepção da relação entre os sujeitos econômicos, entre outras palavras, pode-se afirmar que a grande existência vertical do acúmulo predefinido pelo capitalismo é a zona crescente da oposição entre os povos.

Os capítulos da obra se dividem em 11 partes, cada qual desdobra-se sobre descrições precisas e históricas acerca da construção do elitismo no seio social, os capítulos analisam a desigualdade por diferentes óticas, o uso da ciência como descrição da seleção natural pré-existente e suas nuances, genética, o funcionamento e surgimento do elitismo, matrerialismo histórico e dialético e suas construções; política histórica e social, análise dos efeitos do elitismo histórico e cultural nos povos e na sociedade através do tempo, dentre outros.

A obra foi lida e indicada por Fernando Haddad como um tópico de extrema importância para leitura e informação, e devo acrescentar, ele está certo. Uma obra magistral que deve percorrer todo o seio social para que se alcance o maior número de leitores ao redor do mundo, uma análise precisa e cirúrgica.

O AUTOR

Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela Fundação Getulio Vargas, e mestre em Mudança Social e Participação Política pela Universidade de São Paulo. É autor dos livros A ascensão do bolsonarismo no Brasil do século XXITempestade perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil e Sobre perdas e danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil.

[RESENHA #586] O próximo e o distante, ensaios sobre a cultura afro brasileira, de Roger Bastide


APRESENTAÇÃO

Os contatos entre diferentes povos remontam aos tempos pré-históricos, com as grandes migrações, trocas comerciais, guerras de dominação etc. Apesar disso, os indivíduos tendem a preferir se enraizar em uma terra, a ficar entrincheirados dentro de uma casa, a diferenciar os “seus” e os “outros” ― estes frequentemente tratados como estrangeiros, bárbaros, seres que provocam medo e afastamento, pela diferença física ou de costumes. Ao longo da história da humanidade, notamos uma aproximação progressiva entre os povos. Com o avanço tecnológico, nos últimos séculos, dos meios de transporte e comunicação, houve uma redução da distância entre diferentes culturas. E, ao ocupar cada vez mais os mesmos espaços públicos e privados, poderíamos esperar maior fraternidade e unidade mundial entre povos distintos. No entanto, o contato com o outro costuma ser atravessado por uma mentalidade de fechamento, carregada pelos nossos preconceitos, pelas nossas ignorâncias e pela nossa dificuldade de deixar de lado o desejo de dominação e de hegemonia.

O próximo e o distante reúne artigos, conferências e cursos produzidos no período de 1950 a 1965, aos quais o autor acrescenta dois capítulos originais e alguns textos que os conectam. O livro se articula em torno do conceito de aculturação, que Bastide associa à “interpenetração das civilizações”. Ele analisa o que acontece quando os homens encontram outros homens de cultura diferente, quando seu “próximo” é também um “distante”. Na primeira parte do livro, trata do “encontro dos homens”, em que interfere o preconceito racial. Em seguida, aborda o “encontro das civilizações”, com as diferentes formas subsequentes de aculturação. E, finalmente, se debruça sobre o “encontro das religiões”, com a emergência do messianismo e do nacionalismo.

O próximo e o distante é um belo livro antirracista, sem angelismos e surpreendentemente atual, que nos permite refletir também sobre o momento em que vivemos: um encontro de civilizações, com a presença “próxima”, agora realizada, dos outrora “distantes” povos africanos e asiáticos.

RESENHA


"O Próximo e o Distante" é uma obra magnífica escrita por Roger Bastide, um renomado sociólogo e antropólogo francês. Publicado pela primeira vez em 1957, o livro explora de forma profunda e reflexiva as dinâmicas sociais e culturais presentes nas sociedades brasileiras.

Bastide apresenta uma abordagem única ao estudar a relação entre o "próximo" e o "distante", conceitos que se referem às interações e conexões entre os diferentes grupos sociais dentro de uma sociedade. Ele argumenta que a compreensão dessas relações é essencial para entender a estrutura social e a diversidade cultural de uma nação, como o Brasil.

Ao longo do livro, o autor utiliza uma vasta gama de exemplos e estudos de caso para ilustrar suas ideias. Ele explora temas como a hierarquia social, as relações raciais, as práticas religiosas e as manifestações culturais, examinando como esses elementos se entrelaçam e influenciam a vida cotidiana dos brasileiros.

Uma das contribuições mais importantes de "O Próximo e o Distante" é a análise profunda e sensível do fenômeno do racismo no Brasil. Bastide destaca como as relações raciais são complexas e multifacetadas, e como a hierarquia racial molda a vida das pessoas. Ele também enfatiza a importância de uma abordagem antropológica para entender, combater e superar o racismo. A divisão de sua obra faz um enfoque profundo e atento aos problemas de raça no Brasil sob diversas óticas distintas, desde cotidianas à históricas.

A obra do autor divide-se em três partes, sendo elas:

1. O encontro dos homens: Um capítulo que volta-se para uma análise aprofundada acerca do preconceito racial brasileiro, os problemas das relações raciais no ocidente, a dimensão da problemática no campo econômico, sexual (à vênus) e à dimensão religiosa.

2. O encontro das civilizações: Neste capítulo o autor desdobra-se à explicar como se deu o processo de aculturamento (introdução de uma nova cultura à outra) na esfera formal; jurídica, folclórica, culinária, literária e religiosa.

3. A tempestade mística: Introdução dos mitos e utopias acerca da cultura afro em território brasileiro; o messianismo e a fome; o messianismo inconcluso;  nacionalismo  e o desenvolvimento social e econômico.

Uma das principais ideias abordadas por Bastide é a noção de "próximo" e "distante" como categorias que influenciam as interações sociais. De acordo com o autor, o "próximo" se refere àqueles que compartilham das mesmas experiências e valores culturais, enquanto o "distante" representa aqueles que estão fora desse círculo de familiaridade. Bastide argumenta que essas categorias são fundamentais para compreender as relações sociais e as dinâmicas de inclusão e exclusão no Brasil.

No livro, Bastide também discute o tema das relações raciais no Brasil, destacando a complexidade da questão e as diferentes formas de discriminação e preconceito presentes na sociedade. Ele argumenta que o racismo no país é estrutural e cultural, e que a miscigenação não é suficiente para eliminar as desigualdades raciais. Bastide enfatiza a importância de políticas públicas que promovam a igualdade racial e a valorização da cultura afro-brasileira. Em síntese, a obra de Bastide é um convite incrivelmente necessário ao fomento dos estudos nas áreas de ciências sociais e história para uma compreensão mais assertiva acerca do desenvolvimento do campo social e suas contribuições analíticas das relações interraciais.

O AUTOR

Roger Bastide (1898-1974) foi um sociólogo e antropólogo francês, considerado uma das maiores referências da sociologia no Brasil e na França. Chegou ao Brasil em 1938, acompanhando a missão francesa que havia implementado o curso de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, onde substituiu Lévi-Strauss e lecionou até 1954. Alguns de seus alunos foram Antonio Candido, Gilda de Melo e Souza e Florestan Fernandes. Com este último, inclusive, coordenou um estudo da Unesco sobre a questão racial do Brasil. Bastide dedicou-se ao estudo das religiões afro-brasileiras, da arte e da literatura nacionais e do sincretismo religioso no país. Entre suas principais obras, estão Brasil: terra de contrastes, O candomblé da Bahia e Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo (com Florestan Fernandes).

[RESENHA #585] O primeiro indígena universitário do Brasil, de Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira e Marcelo Sant'Ana Lemos


APRESENTAÇÃO

José Peixoto Ypiranga dos Guaranys viveu entre os anos de 1824 e 1873 e foi o primeiro bacharel indígena formado na Faculdade de Direito de São Paulo. Sua história e luta pelo direito de acesso ao ensino superior, que se inicia no Rio de Janeiro oitocentista, na outrora aldeia de São Pedro, numa Cabo Frio do século XIX, ressoa ainda na sociedade de hoje, quando o Brasil chega à celebração do bicentenário de sua independência de Portugal.

É o que mostram os historiadores Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira e Marcelo Sant'Ana Lemos, que resgatam neste livro a instigante e complexa trajetória desse personagem.

Ypiranga dos Guaranys atuou como advogado, foi vereador e ocupou importantes cargos públicos em Cabo Frio e Macaé. Em São Paulo, foi colega de classe do escritor José de Alencar. Destacou-se por sua participação nos debates políticos, ideológicos e literários sobre os povos indígenas.

Esta é sem dúvida uma publicação de relevância para nossa historiografia, como destacam Maria Regina Celestino de Almeida e José R. Bessa Freire em seus textos introdutórios. A obra tem, entre outros, o mérito de mostrar a importância de se considerar a presença e participação indígena nos processos intrínsecos que ajudaram a construir o Estado e a identidade do povo brasileiro.

RESENHA


Moreira, Luiz Guilherme Scadaferri: O primeiro indígena universitário do Brasil: Dr. José Peixoto Ypiranga dos Guaranys (1824-1873) // Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira, Marcelo Sant'Ana Lemos. -- 1ed. -- Cabo Frio, RJ: Sophia Editora, 2022.

A obra o primeiro indígena universitário do Brasil, de Luiz Guilherme Scaldaferri e  Marcelo Sant'Ana Lemos é um relato histórico acerca vida e formação do primeiro indígena brasileiro a se formar na faculdade de Direito de São Paulo, em 1850, onde ingressou em 1846. A obra foi editada pela Sophia editora e consta com um trabalho gráfico editorial impecável, que torna a leitura ainda mais histórica, imponente e forte em seu propósito.

A obra se inicia com uma descrição breve do império ao qual o Brasil era comandado no ano entre 1840 e 1849, durante o reinado de D. Pedro II, que desenvolveu uma tarefa árdua de se  civilizar os povos não categorizados como civilizados ou hostis, uma tarefa complexa, mas ao qual acreditavam ser possível.

Ao longo do curso, reafirmou a sua identidade de indígena, ao mudar de nome para José Peixoto Ypiranga dos Guaranys. Após se formar, o “índio, cristão, ci-vilizado”, súdito e, agora, bacharel em direito se apresentava a serviço do impe-rador/Estado, o que lhe permitiu manter a família na elite política, econômica e social do Império. [Trecho do artigo O primeiro indígena universitário do Brasil]

A história de Ypiranga dos Guaranys é uma forma de desmontar a história do Brasil durante o processo e percurso de construção social da independência do Brasil, fomentando ainda mais a participação histórica do povo indígena durante todo este processo, com suas contribuições para a democracia, bem como para o desenvolvimento da pluralidade de povos e oportunidades que se sucederam a partir dai, uma vez que o mesmo encontrou durante o período de formação acadêmica alguns pontos que somaram de forma significativa em sua vida social e construção política, como, o bacharel e as constantes apresentações como representante do império, o que manteve sua família na elite, dentre outros feitos.

A colonização era uma forma de trazer os indígenas para a civilização, de acordo com um texto de Januário da Cunha Barbosa, esse feito se daria por meio do contato frequente dos povos com os homens brancos, como uma forma de miscigenar o povo em uma política constante de branqueamento, porém, os indígenas eram dotados de uma riqueza particular de vida, o que dificultava o trabalho de civiliza-los de forma satisfatória, ainda que o recurso buscasse uma miscigenação [mistura de raças], o processo encontrou alguns percalços. Os índios considerados uma raça inferior ameaçavam, segundo eles, o processo civilizatório e econômico do país, desta forma, foi-se necessário iniciar uma tática que permitisse uma integração deste povo de forma pacífica ou violenta. 



Detalhes da diagramação da obra 

Pouco se conhecia acerca dos índios e seu modo de vida, desta forma, era necessário traçar uma nova perspectiva que permitisse um estudo mais abrangente acerca das táticas tomadas para o processo civilizatório deste povo.

Desta forma através das linha de acontecimentos temporais:

[...] O ensino secundário acabou por ser influenciado pelo viés humanístico do ensino superior, sobretudo o do curso de direito, que era o mais procurado. No geral, ficou quase que restrito à iniciativa privada e, portanto, grande parte da população, sobretudo, das camadas mais baixas, estava excluída de qualquer instrução escolar (Ferreira Jr. 2010, p.33 e Romelli, 1986, p.39). (p.70) [grifos meus]

Desta forma, aprendeu alguns princípios gramaticais, geometria e o contato com o desenvolvimento da moral cristã que estava em voga, bem como a ideologia oficial do estado, o que o levou para São Paulo para o ingresso no curso de direito (p.75).

Aos 22 anos, Ypiranga dos Guaranys, matriculou-se na Faculdade de Direito. Durante os estudos, ele se envolveu ativamente no mundo acadêmico, onde se debatiam direito, política e literatura. O principal objetivo desse ambiente era fornecer uma educação clássica, voltada para a formação de bacharéis destinados a ocupar cargos políticos (p.74). Além das matérias específicas da área jurídica, o curso de Direito, assim como outros cursos superiores, também oferecia uma formação humanista, englobando disciplinas como filosofia e retórica. A maioria dos estudantes era composta pela elite da aristocracia agrária, que buscava garantir títulos de "doutores" em Direito para seus filhos.

Além do controle ideológico exercido pelo Estado sobre o curso, que envolvia o currículo, os programas das disciplinas e os livros adotados, havia ainda a presença de outra estrutura conhecida como padroado. Essa estrutura se manifestava na disciplina de "direito público eclesiástico", que abordava a institucionalização do cristianismo romano como religião oficial do Estado.

Em 1854, pediu a seu pai [Joaquim Rodrigues Peixoto] que solicitasse o ressarcimento dos gastos que teve com ele durante sua formação, o que foi o estopim para que se começassem os debates acerca da importância da formação acadêmica dos indígenas.

Todavia, podemos perceber como Joaquim Rodrigues Peixoto apresentava a sua família como 'civilizada', por meio da 'boa educação', e que tinha o dever de 'tutelar' os indígenas 'pobres', 'viciosos' e 'degradados', da antiga aldeia colonial de São Pedro rumo a 'civilização'. (p. 99)

Os dois pedidos mostram como os indígenas, de forma isolada / familiar (1854) ou como aldeados (1872), traçaram estratégias para obter ganhos. Para isso, precisavam ter amplo conhecimento da burocracia e finanças do Estado, uma vez que, dependiam de respostas dos mais alto níveis de administração imperial, provincial e municipal e do uso de recursos que estavam à sua volta - foros pagos à conservatória dos índios - para o pagamento das mensalidades dos cursos superiores, que eram todos particulares no Brasil Império (p. 99).

A obra também analisa toda árvore genealógica de Ypiranga dos Guaranys, desde seu pai à seus avós, bem como todos os proventos por ele herdado e todas as conquistas no meio jurídico e social, levando em consideração sua forte influência para enfatizar e levar ao foco público a importância do ingresso em cursos de nível superior aos indígenas. Os autores preocuparam-se em estabelecer uma linha cautelosa de acontecimentos que marcam todo o processo do contato e encontro entre os indígenas locais e o ideal da educação comum para todos.

O que podemos observar é que está obra é simplesmente histórica e necessária, que precisa ser lida por todos, para conhecimento e entendimento acerca do percursos adotados no meio acadêmico brasileiro dentro das fontes históricas, bem como o desenvolvimento de uma sociedade mais miscigenada, mista e única em propósitos civilizatórios arraigados à educação e na iniciativa de um povo por meio do processo de perfomance em prol do bem comum social coletivo.

Análise de Livro
Capa do Livro

Avliação geral

O primeiro indígena universitário do Brasil é um estudo apaixonante. A obra escrita por Scaldaferri e Sant'Ana Lemos é, certamente, uma das obras mais complexas acerca da vida e existência de Ypiranga dos Guaranys. O autor preocupou-se em estabelecer uma linha cronológica que possibilitasse ao leitor conhecer todos os caminhos da importância da história da persona, tornando a obra rica em detalhes e documentos históricos. Uma obra para usar como referência para futuras biografias pelo mundo, um zelo notável.

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