Responsive Ad Slot

5 obras para conhecer a escrita de Vitor Zindacta

Vitor Zindacta é um escritor, empreendedor e blogueiro brasileiro, nascido em Goiânia, Goiás, em 1995. Desde cedo, ele demonstrou interesse pela literatura, especialmente pelos gêneros de romance, fantasia e autoajuda. Em 2023, ele publicou seu primeiro livro, Ethan & Chace: o dia em que te conheci, uma história de amor entre dois jovens que se conhecem em uma viagem de intercâmbio. O livro foi um sucesso de crítica e público, recebendo elogios de diversos sites e revistas especializados, como o Post Literal, do qual Vitor é o fundador e editor-chefe.

Além de escrever, Vitor também se dedica a ajudar outras pessoas que sofrem de depressão, uma doença que ele mesmo enfrentou no passado. Em seu segundo livro, Caminhando com fé: O Poder da Religião contra a Depressão, lançado em 2023, ele compartilha sua experiência pessoal e mostra como a fé pode ser um instrumento de cura e esperança. O livro também foi bem recebido pelo público, especialmente pelos leitores que buscam inspiração e conforto espiritual.

Alguns dos livros do autor, são:

Confidências e Desilusões: Cartas de Lady Helena e Lady Beatriz

Duas amigas inseparáveis, Lady Helena e Lady Beatriz, compartilham suas confidências e desilusões através de cartas, em uma Inglaterra do século XIX marcada por escândalos e intrigas. Enquanto Lady Helena descobre que seu marido esconde um segredo terrível, Lady Beatriz enfrenta uma traição que abala sua família. As duas damas terão que lidar com as consequências de suas revelações, ao mesmo tempo em que tentam preservar sua amizade e sua honra. Em “Confidências e Desilusões: Cartas de Lady Helena e Lady Beatriz”, você vai se emocionar com uma história de paixão, traição e perdão, narrada com a elegância e o charme dos romances históricos.

Ethan conhece Chace


Ethan conhece Chace é uma envolvente história sobre superação, amor e descobertas. Ethan, um jovem escritor, busca desvendar os segredos obscuros de sua própria jornada após a morte de seu pai. Perdido e confuso, ele encontra em Chace, um misterioso colega de trabalho, a esperança de encontrar a luz em sua escuridão.

Chace, charmoso e irresistível, esconde um passado doloroso e um segredo capaz de transformar tudo. À medida que se aproximam, Ethan e Chace percebem que compartilham muito mais do que imaginavam, criando uma conexão profunda e significativa. Mas será que essa conexão será forte o suficiente para vencer os desafios que surgirão em seus caminhos?

Os leitores mergulharão nesse envolvente romance cheio de reviravoltas e surpresas, acompanhando Ethan e Chace em uma jornada de autodescoberta, enfrentando seus próprios fantasmas e se entregando a um amor verdadeiro. Nessa aventura, eles descobrirão que o destino reserva momentos especiais capazes de transformar suas vidas para sempre.

Com uma narrativa emocionante e cativante, "Entre Mistérios e Emoções" irá prender a atenção do leitor do início ao fim, despertando a vontade irresistível de desvendar os segredos desses personagens e se entregar a uma história que promete ser a mais incrível de suas vidas. Não perca a chance de viver essa emocionante aventura literária!

O poder do agora: como parar de adiar tarefas e aumentar a produtividade

"O poder do agora: como parar de adiar tarefas e aumentar a produtividade" é um livro que oferece um guia prático para ajudar os leitores a entender e superar a procrastinação, aumentando assim sua produtividade. O livro explora as causas e os efeitos negativos da procrastinação, além de fornecer técnicas eficazes para identificar e combater esse hábito. Com uma abordagem passo a passo, o autor apresenta estratégias para melhorar a organização, definir metas e prioridades, eliminar distrações e gerenciar o tempo de forma eficiente. Além disso, o livro aborda a importância da motivação, do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e da consistência na busca pela produtividade. Com dicas práticas e exemplos reais, "A Fórmula da Produtividade" é um recurso valioso para aqueles que desejam alcançar resultados significativos em suas vidas pessoais e profissionais.

A magia do perdão: como curar as feridas do passado e restaurar a paz interior

"A magia do perdão: como curar as feridas do passado e restaurar a paz interior." é uma extraordinária obra que revela os segredos transformadores do perdão. Neste livro emocionante, o leitor será cativado por uma jornada de autodescoberta, mergulhando na compreensão profunda do perdão e aprendendo a libertar-se das feridas que assombram o seu ser. Com técnicas práticas e perspectivas holísticas, este guia essencial levará o leitor a uma transformação profunda e duradoura. Descubra como o poder do perdão pode curar a alma e trazer paz interior, enquanto desvenda os mistérios da cura emocional. Não perca a oportunidade de se libertar da dor do passado e encontrar a paz que tanto anseia. Adquira "A magia do perdão: como curar as feridas do passado e restaurar a paz interior." agora mesmo e embarque em uma jornada extraordinária de autotransformação.

A arte de ser feliz: lições de filosofia, psicologia e espiritualidade para uma vida plena 

"Descubra o segredo para uma vida plena em 'A Arte de Ser Feliz', um livro que mergulha nas profundezas da filosofia, psicologia e espiritualidade. Em oito capítulos reveladores, você será levado em uma jornada de autodescoberta, onde aprenderá sobre a importância da autenticidade e das correntes filosóficas que moldaram nossa percepção da felicidade. Descubra os fatores que verdadeiramente influenciam nossa felicidade e a poderosa conexão entre espiritualidade e bem-estar. Além disso, você encontrará práticas empoderadoras para que possa conquistar uma vida plena. Baseado em ensinamentos profundos de sábios e da sabedoria popular, este livro destaca a importância do autoconhecimento, aceitação e resiliência na jornada em busca da felicidade. Prepare-se para uma leitura transformadora que o motivará a explorar seu potencial e encontrar a felicidade em cada momento. 'A Arte de Ser Feliz' é a chave para despertar a verdadeira felicidade em sua vida - imagine-se vivendo uma vida abundante e significativa. Uma obra que desafia conceitos ultrapassados e convida você a repensar a maneira como busca e enxerga a felicidade. Então, o que está esperando? Embarque nesta jornada inspiradora e descubra o segredo para uma vida plena e feliz."

Conheça a página do autor na Amazon.

[RESENHA #973] Drácula, de Bram Stoker

Um dos maiores clássicos do terror gótico e da literatura universal, Drácula, de Bram Stoker, é responsável por concretizar no imaginário coletivo o vampiro moderno. Utilizando-se do artifício de cartas, diários e telegramas, Stoker dá voz a Mina Harker, Jonathan Harker, John Sweard, Lucy Westenra e ao dr. Abraham Van Helsing, seus célebres personagens, responsáveis por transmitir a gerações de leitores a história do terrível conde.

Acredita-se que, para escrever sua opus magnum, Bram Stoker tenha se inspirado na história real de Vlad III, o infame e cruel nobre que viveu na região da Transilvânia no século XV. A semelhança entre o nome da família de Vlad, Dracul, e drac, demônio, é apontada como provável fonte de inspiração.

Todos os detalhes desta brilhante obra encantam e assombram o público há mais de 120 anos. A tradução de Lúcio Cardoso, um dos mais importantes escritores e poetas brasileiros, vencedor do Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua produção literária, é um deleite à parte. Somado a isso, esta edição especial apresenta ilustrações digitais do também premiado artista gráfico Gustavo Piqueira, que baseou-se em frames do icônico filme Drácula (1931), estrelado por Béla Lugosi – outro grande artista responsável por consolidar na cultura mundial a figura do maior vampiro de todos os tempos.

Leitura imperdível para todos, de colecionadores a curiosos.


RESENHA


O romance de Bram Stoker, Drácula, é uma obra fascinante que nos remete a diferenças notáveis na percepção moderna do livro. Um exemplo disso é o fato de o Conde Drácula não ser ferido pela luz solar, uma característica que só foi introduzida no filme Nosferatu, muitos anos após a publicação do livro. Essa diferença evidencia um problema que os leitores modernos enfrentam ao se depararem com o romance de Stoker: estamos imersos na cultura pop e, portanto, carregamos toda uma bagagem quando tentamos nos envolver com a história.

O que poderia ser considerado uma reviravolta surpreendente para os leitores da época de Stoker, nem sempre possui o mesmo impacto para nós, leitores contemporâneos. No entanto, isso confere à história um nível de ironia dramática, aumentando o sentimento arrepiante de profecias ignoradas e destino predeterminado. O aviso ignorado pelos habitantes locais condenando Jonathan Harker ao seu destino, que na história original era uma mera subtrama, adquire um peso importante que permeia todas as cenas do livro, já que todos nós conhecemos a história.

Além disso, o livro apresenta detalhes e pontos da trama desconhecidos para aqueles que conhecem Drácula apenas através da cultura pop. Isso proporciona ao leitor o melhor dos dois mundos, acrescentando um elemento de horror à abordagem misteriosa de Jonathan Harker ao castelo, ao mesmo tempo em que mantém surpresas e reviravoltas na trama. Pelo menos, essa foi a minha experiência ao lê-lo.

A história começa com a jornada de Jonathan Harker pela Transilvânia até o castelo do Drácula, mesmo após ser avisado por moradores locais de que Drácula não é alguém para se visitar depois do anoitecer. É nessa seção que todo o contexto mencionado anteriormente vem à tona.

A preparação dramática para o encontro com Drácula é tensa e assustadora, especialmente sabendo-se que o aparentemente amigável anfitrião de Jonathan é tudo menos isso. A primeira parte do livro, narrada por meio das anotações em diário, é um exercício de pavor, com Jonathan gradativamente percebendo que seu anfitrião é algo desumano e totalmente maligno. O livro nos permite adentrar a mente de Jonathan, acompanhando sua paranoia e a sensação de algo incompreensível. O leitor se torna parte da história ao vivenciar o medo e a paranóia, ao ser colocado no lugar de Jonathan.

Embora não haja muitos acontecimentos nessa primeira seção da história, é como se muitas coisas estivessem acontecendo ao mesmo tempo. Uma crítica comum aos livros mais antigos é que eles não conseguem prender tanto a atenção quanto os livros modernos. Porém, isso não ocorre com Drácula. Os avisos sobre a escuridão da noite começam nas primeiras páginas e a história nos agarra, aumentando nosso medo pela segurança de Jonathan a cada frase.

Após essa seção inicial, que ocupa cerca de sessenta páginas e nos permite respirar, somos levados de volta a Whitby, na Inglaterra, onde se estabelece uma correspondência entre Lucy Westenra e Mina Murray, nossas duas heroínas. É nessa parte que o livro enfraquece um pouco, com longas passagens que retratam a vida cotidiana durante a era vitoriana. Essa seção é narrada inteiramente por meio de cartas, o que nos oferece duas perspectivas diferentes, libertando-nos da tensa e pegajosa paranoia presente no diário de Jonathan. Isso nos faz ansiosos pelo destino de Jonathan, enquanto observamos sua noiva e sua amiga discutindo assuntos banais. Com o triângulo amoroso envolvendo Lucy, começa a se desenrolar uma trama romântica. No entanto, um navio naufraga e a história se inicia de fato.

Não vou adentrar mais detalhes sobre o enredo, uma vez que a maioria de vocês já conhece o básico e ainda há algumas surpresas que prefiro deixar para aqueles que não estão familiarizados com as nuances da história. Escolhi essa seção específica porque ela é representativa do livro como um todo, apresentando uma alternância entre seções tensas e paranóicas do diário em primeira pessoa e passagens mais leves através de cartas ou múltiplas entradas de diário. O fato de o livro ser contado inteiramente por meio desses documentos contribui para uma sensação de realidade, como se estivéssemos assistindo a imagens encontradas, cientes dos pensamentos de diferentes personagens e obtendo uma visão de como suas mentes funcionam. Isso confere à história um ar de presságio, nos fazendo questionar como todos esses fragmentos se unirão, algo que também é explorado em muitos filmes de terror modernos (como o Projeto Bruxa de Blair).

Além disso, é curioso ver como tantas histórias góticas utilizam esse dispositivo de enquadramento. Frankenstein, por exemplo, começa com cartas, e Confissões de um pecador justificado, de James Hogg, é contada de forma metalinguística por meio de um dispositivo semelhante. No entanto, isso é apenas uma curiosidade à parte. O uso de cartas em Drácula nos permite entender e simpatizar com os personagens, captando seus verdadeiros pensamentos enquanto lutam contra Drácula. O livro brinca com esse formato, contando a história por meio de telegramas, recortes de jornais e anotações de diário diretas.

Os personagens principais são bem construídos, cada um com personalidade, peculiaridades e papéis distintos a desempenhar na trama. A história em si é emocionante, repleta das emoções dos personagens ao lidarem com questões de vida, morte e amor, de forma belíssima. Drácula aborda diversos temas, como selvageria, amor, religião, tecnologia e xenofobia, para citar apenas alguns. Após a leitura, fica-se refletindo por muito tempo, tornando-o leitura obrigatória para qualquer fã de terror ou vampiros. Drácula é para o romance de vampiros o que A Study in Scarlet é para os romances policiais: uma das primeiras, maiores e a história que introduziu o personagem nesses gêneros. Drácula é O vampiro e o romance de vampiros por excelência.

[RESENHA #972] Lição de coisas, de Carlos Drummond de Andrade

Se o gosto de Drummond pela experimentação já se notava em poemas como “No meio do caminho”, de Alguma poesia, seu livro de estreia, neste Lição de coisas esse fazer se intensifica. A partir de provocações colocadas pelo concretismo, o poeta itabirano aqui se abre para explorar de maneira mais intensa forma e conteúdo – em especial, o conteúdo visual e sonoro –, “sem entretanto aderir a qualquer receita poética vigente”, como mineiramente se sublinha na nota da primeira edição.

As nove partes que compõem Lição de coisas – “Origem”, “Memória”, “Ato”, “Lavra”, “Companhia”, “Cidade”, “Ser”, “Mundo” e “Palavra” – representam os fundamentos da poética drummondiana: a terra, a família, as lembranças, os afetos, as amizades, as admirações, a consciência dos problemas do homem e dos perigos do mundo. Os poemas que aqui se encontram são dos mais conhecidos de Drummond: “O padre, a moça”, levado para o cinema pelo diretor Joaquim Pedro de Andrade, e “Para sempre”, belo canto de louvor às mães que circula nas redes sociais sempre que se quer homenageá-las.

Esta nova edição reúne também uma dedicatória do poeta para a esposa, Dolores, e outra para a filha, Maria Julieta, e sua família; a crônica “Livros novos”, que Drummond publicou no jornal Correio da Manhã; e quatro poemas (“A música barata”, “Cerâmica”, “Descoberta” e “Intimação”), constantes, como inéditos, na Antologia poética do autor, publicada em 1962, e incluídos no Lição de coisas a partir da segunda edição, lançada em 1965.

Com esta edição, convidamos leitores e leitoras a desfrutar poemas que, para além da experimentação, compreendem temas caros a nosso querido poeta, como a memória, o humor e a mineração de si mesmo e do outro. Percebe-se assim que, para além de qualquer observação sobre a técnica de seus textos, o que encontramos é muitas vezes a humanidade mais singela. Sua expressão poética simples, porém sempre coesa, ainda nos espanta pela ternura. Esta lição, talvez por isso, fica e permanece. São poemas que, como pequenas joias, tornam-se cada vez mais valiosos “na correnteza esperta do tempo”.

RESENHA

O novo livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade é uma obra que traz consigo uma forte busca pela simplicidade e verdade na expressão dos sentimentos. Dividido em nove partes distintas, cada uma delas dedicada a um tema específico, o poeta revela sua essência de maneira única e profunda.

Nas histórias narradas, tanto fictícias quanto imaginárias, o poeta não se prende à trama, mas sim à busca por um significado transcendental. Em suas palavras, ele faz referências tocantes a figuras humanas, pintores do passado, poetas contemporâneos e personagens cômicos. O Rio de Janeiro, uma cidade com suas próprias circunstâncias históricas, surge como uma personificação, tornando-se uma presença marcante na obra. As reminiscências do autor são reduzidas ao mínimo, como se fosse um ensaio de memórias, onde o objeto é visto de forma rápida e o sujeito se torna um espelho.

O autor, envolvido com o povo do campo e afetado pelos eventos da época, revela-se desiludido e sem esperança. No entanto, ele utiliza a extraordinária palavra, como que para não deixá-la completamente extinta do texto daquele período. Dessa forma, o novo livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade apresenta-se como uma obra poderosa, que abraça a complexidade do mundo e das emoções humanas, revelando-se tanto um espelho da realidade quanto uma busca por algo transcendental. Retratando o Rio de Janeiro como uma presença viva e fazendo referências emocionantes a diversas figuras, o poeta nos convida a refletir sobre a vida e a esperança em meio à desilusão.

Análise do poema os dois vigários:

“Há cinqüenta anos passados,
Padre Olímpio bendizia,
Padre Júlio fornicava.
E Padre Olímpio advertia
e Padre Júlio triscava.
Padre Júlio excomungava
quem se erguesse a censurá-lo
e Padre Olímpio em seu canto
antes de cantar o galo
pedia a Deus pelo homem.
Padre Júlio em seu jardim
colhia flor e mulher
num contentamento imundo.
Padre Olímpio suspirava,
Padre Júlio blafesmava.
Padre Olímpio, sem leitura
latina, sem ironia,
e Padre Júlio, criatura
de Ovídio, ria, atacava
a chã fortaleza do outro.
Padre Olímpio silenciava.
Padre Júlio perorava,
rascante e politiqueiro.
Padre Olímpio se omitia
e Padre Júlio raptava
patroa e filhas do próximo,
outros filhos lhe aditava.
Padre Júlio responsava
os mortos, pedindo contas
do mal que apenas pensaram
e desmontava filáucias
de altos brasões esboroados
entre moscas defuntórias.
Padre Olímpio respeitava
as classes depois de extintos
os sopros dos mais distintos
festeiros e imperadores.
Se Padre Olímpio perdoava,
Padre Júlio não cedia.
Padre Júlio foi ganhando
com tempo cara diabólica
e em sua púrpura calva,
em seu mento proeminente,
ardiam em brasas. E Padre
Olímpio se desolava
de ver um padre demente
e o Senhor atraiçoado.
E Padre Júlio oficiava
como oficia um demônio
sem que o escândalo esgarçasse
a santidade do ofício.
Padre Olímpio se doía,
muito se mortificava
que nenhum anjo surgisse
a consolá-lo em segredo:
“Olímpio, se é tudo um jogo
do céu com a terra, o desfecho
dorme entre véus de justiça.”
Padre Olímpio encanecia
e em sua estrita piedade,
em seu manso pastoreio,
não via, não discernia
a celeste preferância.
Seria por Padre Júlio?
Valorizava-se o inferno?
E sentindo-se culpado
de conceber turvamente
o augustíssimo pecado
atribuído ao Padre Eterno,
sofre — rezando sem tino
todo se penitenciava.
Em suas costas botava
os crimes de Padre Júlio,
refugando-lhe os prazeres.
Emagrecia, minguava,
sem ganhar forma de santo.
Seu corpo se recolhia
à própria sombra, no solo.
Padre Júlio coruscava,
ria, inflava, apostrofava.
Um pecava, outro pagava.
O povo ia desertando
a lição de Padre Olímpio.
Muito melhor escutava
de Padre Júlio as bocagens.
Dois raios, na mesma noite,
os dois padres fulminaram.
Padre Olímpio, Padre Júlio
iguaizinhos se tornaram:
onde o vício, onde a virtude,
ninguém mais o demarcava.
Enterrados lado a lado
irmanados confundidos,
dos dois padres consumidos
juliolímpio em terra neutra
uma flor nasce monótona
que não se sabe até hoje
(cinqüenta anos se passaram)
se é de compaixão divina
ou divina indiferença.”

O poema apresenta uma análise crítica sobre a hipocrisia religiosa e moralidade ambígua. A narrativa descreve a trajetória de dois padres, Padre Olímpio e Padre Júlio, ao longo de cinquenta anos. Padre Olímpio é retratado como um homem religioso e piedoso, enquanto Padre Júlio é um indivíduo imoral e pecaminoso.

Através de contrastes, o poema sugere que ambos os padres, apesar de suas diferenças morais, são igualmente falíveis e sujeitos a tentações. Padre Olímpio desaprova as ações de Padre Júlio, mas se mantém em silêncio e se abstém de interferir. Enquanto isso, Padre Júlio continua a cometer atos imorais e se aproveitar de sua posição clerical.

A crítica à instituição religiosa surge quando fica claro que Padre Júlio, apesar de seu comportamento imoral, não sofre consequências e consegue manter sua posição e autoridade. Enquanto Padre Olímpio, que se esforça para viver de acordo com os princípios religiosos, é consumido pela culpa e não recebe apoio divino.

A última estrofe do poema deixa em aberto se a flor que nasce após a morte de ambos os padres é um sinal de compaixão divina ou indiferença. Isso pode sugerir um questionamento sobre a existência de um julgamento divino justo diante das ações contraditórias e complexas dos seres humanos.

Em suma, o poema critica a falta de coerência moral e a hipocrisia dentro da instituição religiosa através da representação de dois padres com comportamentos morais opostos, que eventualmente são igualados pela morte e deixam em aberto a natureza da compaixão divina.

Análise do poema pombo correio:

Os garotos da Rua Noel Rosa
onde um talo de samba viça no calçamento,
viram o pombo-correio cansado
confuso
aproximar-se em vôo baixo.

Tão baixo voava: mais raso
que os sonhos municipais de cada um.
Seria o Exército em manobras
ou simplesmente
trazia recados de ai! amor
à namorada do tenente em Aldeia Campista?

E voando e baixando entrançou-se
entre folhas e galhos de fícus:
era um papagaio de papel,
estrelinha presa, suspiro
metade ainda no peito, outra metade
no ar.

Antes que o ferissem,
pois o carinho dos pequenos ainda é mais desastrado
que o dos homens
e o dos homens costuma ser mortal
uma senhora o salva
tomando-o no berço das mãos
e brandamente alisa-lhe
a medrosa plumagem azulcinza
cinza de fundos neutros de Mondrian
azul de abril pensando maio.

3235-58-Brasil
dizia o anel na perninha direita.
Mensagem não havia nenhuma
ou a perdera o mensageiro
como se perdem os maiores segredos de Estado
que graças a isto se tornam invioláveis,
ou o grito de paixão abafado
pela buzina dos ônibus.
Como o correio (às vezes) esquece cartas
teria o pombo esquecido
a razão de seu vôo?

Ou sua razão seria apenas voar
baixinho sem mensagem como a gente
vai todos os dias à cidade
e somente algum minuto em cada vida
se sente repleto de eternidade, ansioso
por transmitir a outros sua fortuna?

Era um pombo assustado
perdido
e há perguntas na Rua Noel Rosa
e em toda parte sem resposta.

Pelo quê a senhora o confiou
ao senhor Manuel Duarte, que passava
para ser devolvido com urgência
ao destino dos pombos militares
que não é um destino.

O poema "pombo correio" retrata uma cena em que um grupo de garotos observa a chegada de um pombo-correio cansado e confuso, que voa baixo e se entrelaça entre folhas e galhos de uma árvore. Os garotos questionam qual seria a mensagem que o pombo trazia ou se ele teria se esquecido da razão de seu voo. 

Através dessa situação aparentemente simples, o poema levanta reflexões sobre temas como a comunicação, o amor, a desatenção e a busca por um propósito na vida. O pombo-correio é apresentado como símbolo de uma mensagem a ser entregue, possivelmente de amor, sugerindo um elemento romântico na história. No entanto, a mensagem é perdida ou esquecida, deixando no ar uma sensação de mistério e indagação.

A figura da senhora que salva o pombo e acaricia suas plumagens é uma representação de cuidado e proteção. Ela lhe dá atenção e ternura, assim como os pequenos garotos poderiam fazer, mesmo que de forma desastrada. Por sua vez, a referência aos sonhos municipais e ao Exército em manobras sugere uma tentativa de relacionar o cotidiano com os acontecimentos maiores e mais sérios da vida.

A presença da Rua Noel Rosa como cenário ajuda a ambientar a narrativa, evocando o ambiente urbano e, possivelmente, remetendo a elementos da cultura brasileira, como o samba. A menção à perda de mensagens importantes e segredos de Estado que se tornam invioláveis ressalta a fragilidade da comunicação e a decepção que pode ser causada pela falta de recebimento de uma mensagem esperada.

No último trecho, a referência ao senhor Manuel Duarte e aos pombos militares que não têm um destino definido mostra que, assim como o pombo-correio, todos nós buscamos um propósito em nossas vidas. A sensação de desorientação, perda e busca por respostas permeia toda a narrativa, criando uma atmosfera de incerteza e inquietação.

Os poemas de Carlos Drummond de Andrade são verdadeiras obras-primas da literatura brasileira. Sua escrita é profunda, sensível e poética, capturando os mais diversos aspectos da condição humana. Uma característica marcante de seus poemas é a sua capacidade de abordar temas universais de maneira singular, encontrando beleza nos detalhes do cotidiano.

Além disso, Drummond de Andrade apresenta uma linguagem única e uma habilidade única de contar histórias através de seus versos. Seus poemas têm o poder de transportar o leitor para outros lugares, tempos e emoções, despertando sentimentos e reflexões profundas.

Outro aspecto admirável nos poemas de Drummond de Andrade é a sua constante inovação estilística. O poeta é capaz de experimentar diferentes formas e técnicas poéticas, elevando a sua escrita a outro nível de originalidade e criatividade.

É impossível não se encantar com a poesia de Carlos Drummond de Andrade. Seus versos são atemporais, tocando o coração de leitores de todas as gerações. Sua contribuição para a literatura brasileira é inestimável e seus poemas continuarão a nos inspirar e emocionar por muitos anos.

[RESENHA #971 Sombras Longas, de Patrícia Lavelle

“Articulando o semântico ao semiótico, a visualidade à sonoridade e ao deslocamento, esse movimento chama a atenção do leitor para o caráter performativo de palavras, imagens e pensamentos. Estes, em sua mútua afetação, focalizados muitas vezes narrativamente, enquanto produção contínua, descontínua e hesitante, nos transportam do mito à filosofia e à poesia, através de mãos, vozes e línguas várias. Desde Filomela e Penélope a Safo, Artemísia Gentileschi, Orides Fontela e Adília Lopes, entre outras, vão emergindo as muitas referências femininas que, desentranhadas de um cânone masculino – também representado por pintores, poetas e pensadores – habitam a poesia de Patrícia.”

__Célia Pedrosa

RESENHA

Neste novo trabalho de poesia de Patrícia Lavelle, uma das características mais notáveis é sua ênfase no aspecto simbólico. O uso das imagens é ainda mais proeminente, criando uma atmosfera visualmente cativante. A primeira parte do livro é composta por uma série de poemas que exploram a relação entre palavras e imagens, acompanhados de reproduções dos quadros mencionados. Um exemplo fascinante desse diálogo entre poesia e imagem, um paradigma transformador que mantém sua musicalidade sonora. O poema é habilmente construído, utilizando atributos meticulosamente camuflados. Essa abordagem minuciosa da forma destaca-se em uma produção relativamente revigorante.

A autora utiliza uma variedade impressionante de recursos formais. Ao lado de textos que transitam entre prosa e verso, criando uma teia intrincada, a autora nos leva à poderosas reflexões. Essa combinação entre prosa e verso livre ressoa tanto no nível da forma, como também no paralelo entre a reflexão filosófica e a elaboração poética. Partindo da imagem onde os sonhos escapam da especulação racional, emergimos em uma posição intrigante entre a figura paradoxal e a representação. Temas essenciais e intrinsecamente ligados ao feminino são explorados, como a questão da identidade e a natureza da linguagem. O que distingue a obra da autora, tanto em poesia quanto em ensaio, é sua perspicácia intelectual e o contínuo diálogo com autores que foram fundamentais para sua própria formação.

Navegando entre o ritmo decassilábico e a prosa poética, dialogando com imagens e referências, a autora se estabelece como uma criadora de uma poética lúdica e translúcida da poesia contemporânea brasileira.

Analisando o poema homônimo ao título da obra:

Nas sombras que um foco de luz
projeta no fundo de uma caverna

platão projetou a imagem do saber
ilusório das imagens

o meio-dia é a hora lúcida, a ghora do rigor vigoroso
 pensava Nietzsche, sem a sombra de uma dúvida

Mas ceras verdades sobrevivem às sombras:
são elas que obram nas sobras
 e como sombras se alongam
 quando declina o ângulo
 de incidência
 da luz

Esse poema apresenta uma análise antropológica sobre a relação entre o conhecimento humano e a realidade. O autor utiliza referências a filósofos famosos, como Platão e Nietzsche, para trazer uma reflexão sobre a natureza ilusória das imagens e a busca pela verdade.

A metáfora da caverna de Platão é evidentemente explorada no início do poema, onde a luz projetada cria sombras que representam o conhecimento ilusório das imagens. Isso sugere que aquilo que percebemos como realidade pode ser apenas uma interpretação criada por nossa mente.

Em contraste, Nietzsche é mencionado como alguém que pensa no meio-dia como a hora lúcida, sem dúvida. Aqui, o autor sugere que Nietzsche acreditava na existência de uma verdade absoluta, sem ambiguidade ou ilusão.

No entanto, o poeta argumenta que algumas verdades sobrevivem às sombras, obrigatoriamente trabalhando nas sobras. Essas verdades podem ser interpretadas como perspectivas ou interpretações da realidade que ainda possuem validade mesmo em meio a uma ilusão aparente. O fato de elas se alongarem quando o ângulo de incidência da luz declina sugere que essas perspectivas podem se fortalecer e se tornar mais visíveis quando se afasta da superficialidade e se aprofunda na realidade.

Em suma, essa análise antropológica do poema sugere que a busca pelo conhecimento e pela verdade envolve um constante questionamento sobre a natureza da realidade e a ilusão das imagens. O poeta argumenta que, apesar da ilusão aparente, existem verdades que permanecem e se fortalecem quando se aprofunda na realidade.

Os textos apresentam uma análise profunda e sofisticada das obras de Patrícia Lavelle. A crítica valoriza a habilidade de Lavelle em explorar a relação entre palavras, imagens e formas poéticas. Além disso, os textos destaca a perspicácia intelectual da autora, mostrando como eles dialogam com outros grandes pensadores e artistas. A crítica também ressalta a importância dos temas explorados, como identidade, linguagem e a busca pela verdade, o que contribui para a relevância da poesia contemporânea no Brasil.

[RESENHA #970] No espaço, com Lygia Pape, de Veronica Strigger

SINOPSE

Se, na época de Méliès, Mallarmé e Malevitch, o espaço sideral é ainda algo distante, intangível, aproximado apenas por meio do telescópio, na de Lygia Pape e dos irmãos Campos, esse espaço se torna mais próximo, mais concreto, alcançado por naves e navegado por homens e mulheres. O que há em comum a todos esses artistas é uma imaginação do espaço. Há como que uma captura da imagem do espaço sideral para servir como uma espécie de modelo à constituição do espaço gráfico (da página do livro ou da folha da gravura), pictórico ou até mesmo do espaço real, como no caso do Ballet neoconcreto e do Livro da criação, de Pape. É como se todos estivessem sempre a olhar para o céu, estrelado ou não, em busca não tanto de inspiração, mas de um companheiro de viagem.

RESENHA

No espaço com Lygia Pape é um livro escrito por Veronica Strigger, que proporciona uma visão esclarecedora e inspiradora sobre a vida e obra da renomada artista brasileira Lygia Pape. A obra de Lygia Pape é conhecida por sua originalidade e diversidade, e Strigger faz um excelente trabalho ao explorar as diferentes facetas do trabalho da artista. O livro aborda os principais aspectos históricos das realizações de Pape, incluindo sua performance. A autora vai além das discussões técnicas, ao mergulhar na vida e no contexto social em que Pape viveu. Ela explora as influências culturais que moldaram o trabalho de Pape.

No espaço com Lygia Pape não é apenas uma homenagem à artista, mas também uma reflexão sobre o poder da arte e seu impacto na sociedade. Strigger faz uma análise cuidadosa dos temas abordados por Pape, como pano de fundo principal, a criação de um filme, La Nouvelle Création, ao qual Pape desenvolveu para inscrevê-lo num concurso de curtas metragens, e por fim, sair vencedora, após ser a única brasileira inscrita concorrendo com outros 72 filmes. Sobre sua obra, Pape descreve: ❝Imaginei o homem não mais só sobre a terra, mas no espaço, pois começavam as grandes viagens interplanetárias. Consegui imagens da NASA sobre o primeiro voo de um cosmonauta: - ele surge (em branco/preto) na tela, evoluindo no espaço como um feto ligado à nave/útero por um cordão umbilical. Ele faz algumas evoluções, e de repente, a tela fica vermelha (em uma viragem) e ouve-se o choro de um bebê - nascia o novo homem: La Nouvelle Création.❞ (p.8)

A imagem do cosmonauta surgindo em preto e branco na tela, evoluindo como um feto ligado à nave ou útero por um cordão umbilical, pode representar o nascimento de uma nova era para a humanidade. As evoluções do cosmonauta no espaço podem simbolizar o crescimento e desenvolvimento do ser humano, tanto no aspecto físico quanto intelectual. No entanto, a reviravolta ocorre quando a tela se torna vermelha, provavelmente representando uma mudança significativa. O choro de um bebê pode ser interpretado como o nascimento de um novo homem, "La Nouvelle Création", sugerindo uma transformação profunda e uma nova forma de existência. Essa interpretação traz elementos de progresso, exploração espacial e renascimento do indivíduo e da humanidade como um todo. Ela pode sugerir esperança e potencial para um futuro melhor ou uma visão utópica de uma nova era em que o homem se expande além dos limites terrestres. Além disso, o livro também proporciona um olhar intimista sobre a personalidade de Pape, revelando sua paixão pela arte e seu compromisso em criar obras que desafiam as convenções e estimulam a reflexão. Através de depoimentos de pessoas próximas, Strigger mergulha na mente criativa da artista, revelando os desafios e conquistas enfrentados ao longo de sua carreira.

A obra de Pape é uma forma de elucidar sua genialidade em exprimir os sentimentos de uma nova criação por meio de um roteiro milimetricamente projetado para imersão abstrata do público em relação ao poema expresso na tela.

Uma das principais influências presentes nesta obra é a filosofia existencialista, que busca compreender a existência humana e sua liberdade de escolha. Lygia Pape utiliza elementos como a geometria e a abstração para criar um ambiente que convida o espectador a refletir sobre seu papel no mundo e suas possibilidades de ação.

Outra influência perceptível é a filosofia fenomenológica, que se concentra na experiência individual e na maneira como percebemos e interpretamos o mundo ao nosso redor. A artista utiliza formas e cores para criar uma experiência sensorial única, convidando o espectador a se envolver com a obra e refletir sobre sua própria percepção da realidade.

Além disso, é possível identificar influências do pensamento de Gilles Deleuze, especialmente sua teoria sobre o devir e a diferença. Pape explora a ideia de transformação constante e de como o indivíduo pode se reinventar e se adaptar às mudanças do mundo, refletindo os conceitos deleuzianos de multiplicidade e individualidade.No espaço com Lygia Pape é uma leitura enriquecedora e cativante para qualquer pessoa interessada em arte contemporânea e na história cultural do Brasil. Veronica Strigger oferece uma perspectiva relevante e esclarecedora sobre a obra de Pape, ao mesmo tempo em que nos leva a refletir sobre o poder transformador que a arte pode ter em nossas vidas.

[RESENHA #969] Os dezoito de brumário de Luis Bonaparte, de Karl Marx

SINOPSE

Em O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte, Karl Marx expõe de que modo a França que, mais uma vez, inspirou o mundo a lutar contra o absolutismo monárquico, através da Revolução de Fevereiro de 1848, se revelou um exemplo caricato de suas próprias contradições.

Após frear um refluxo conservador e destituir Luís Felipe I como rei, o país elegeu Luís Bonaparte, sobrinho do seu antigo imperador, Napoleão, como presidente da República recém-declarada. Aquela sociedade permitiu-se enganar pelo ímpeto popular do novo presidente, que, encoberto pelos acenos de ampliação de direitos civis, conduziu o golpe de Estado que o consagrou imperador Napoleão III, refazendo a posição autoritária do poder bonapartista.

É esse o contexto histórico sobre o qual Karl Marx debruçou nesta obra, uma primorosa crítica que revelou as primeiras experiências empíricas de seu materialismo e se tornou um dos textos mais importantes da ciência política. Esta edição, traduzida por Leandro Konder e Renato Guimarães, conta com preparação, introdução e notas de rodapé da socióloga Sabrina Fernandes, que apresenta a importância da obra para nossa época e explica detalhes do original alemão de modo acessível à leitora e ao leitor brasileiros. Assim, ela continua o trabalho de divulgação marxista iniciado com O manifesto comunista, dando seu segundo passo na reapresentação das edições de Karl Marx publicadas pela Editora Paz & Terra.

Temos, portanto, a oportunidade de entender não apenas quais foram as explicações de Marx sobre o golpe de Estado de Napoleão III, mas também como esse tipo de expediente continua sendo receita para líderes carismáticos subverterem insurreições populares em prol de si mesmos. Sabrina Fernandes nos ensina como o famoso enunciado de Marx sobre a tragédia e a farsa é nítido também para acontecimentos políticos recentes no Brasil – dos protestos de junho de 2013 ao governo de Jair Bolsonaro.

RESENHA

O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte" de Karl Marx é uma obra profunda e brilhante que analisa o golpe de Estado que levou Louis-Napoléon Bonaparte ao poder na França em 1851. Marx, com sua abordagem materialista da história, examina os eventos reais e os situa no contexto da luta de classes, revelando as verdadeiras forças motrizes por trás da história.

Ao contrário dos livros didáticos tradicionais de história, esta leitura traz um olhar renovado e desprovido de preconceitos. Marx analisa objetivamente os eventos, utilizando metáforas e recursos literários para transmitir sua visão da realidade diante de seus olhos.

Ao explorar o papel do Estado e da luta de classes, Marx demonstra como as revoluções burguesas apenas aperfeiçoaram a opressão das classes dominantes. Ele propõe, pela primeira vez, a ideia de que o proletariado não deve apenas assumir o aparato estatal existente, mas desmantelá-lo completamente.

Mesmo diante da derrota de movimentos como a Comuna de Paris, Marx mantém a esperança para aqueles que se sentem desesperançados. Sua análise continua sendo uma base importante para o debate político e acadêmico, especialmente em momentos em que variantes bonapartistas surgem na América Latina.

O livro "Os Dezoito de Brumário, de Luís Bonaparte" de Karl Marx é uma obra primorosa que mergulha no contexto histórico da Revolução Francesa, especificamente do golpe de Estado de Napoleão Bonaparte, ocorrido em 1851. Neste livro, Marx analisa em detalhes os eventos que levaram ao estabelecimento do regime bonapartista na França e faz uma série de reflexões sobre a natureza do poder político e a dinâmica das classes sociais.

Uma das principais contribuições do livro é a análise minuciosa que Marx faz do papel das classes sociais e das lutas de poder na consolidação do regime bonapartista. Ele destaca que a burguesia francesa, após a Revolução de 1848, estava dividida e incapaz de resolver seus conflitos internos. Nesse contexto, Napoleão Bonaparte, apoiado pela classe agricultora e beneficiando-se da crise econômica e política em curso, conseguiu se posicionar como uma figura forte e carismática, capaz de unir diferentes classes sociais em torno de seu regime.

Marx também discute a importância do golpe de Estado de Napoleão Bonaparte para a história política da França e do mundo. Ele argumenta que o regime bonapartista representou uma espécie de "retorno ao passado", marcado pela centralização do poder nas mãos de um líder autoritário, em detrimento dos avanços democráticos conquistados durante a Revolução Francesa. Ao analisar os eventos ocorridos no período conhecido como "Dezoito de Brumário", Marx também aponta para questões mais amplas, como a natureza do Estado e o papel da violência política na tomada e na manutenção do poder.

Outro ponto interessante do livro é a forma como Marx utiliza uma vasta gama de fontes históricas para sustentar suas análises. Ele cita inúmeros artigos de jornais, discursos políticos e documentos oficiais para ilustrar os eventos e as disputas de poder da época. Esse rigor metodológico confere uma grande credibilidade às conclusões de Marx e permite ao leitor ter uma compreensão mais ampla e precisa dos acontecimentos.

Além disso, a escrita de Marx é envolvente e marcada por seu estilo característico, que combina erudição, clareza e ironia. Ele é habilidoso em expor contradições e hipocrisias tanto nos discursos políticos quanto nas ações dos atores envolvidos. Sua crítica incisiva aos poderosos e sua defesa dos interesses das classes oprimidas são constantes ao longo do livro, tornando-o uma obra carregada de conteúdo político e social.

Em resumo, "Os Dezoito de Brumário, de Luís Bonaparte" é uma leitura imprescindível para aqueles interessados na história política e social do século XIX, bem como para aqueles que desejam entender mais profundamente a teoria marxista. Karl Marx utiliza uma vasta gama de fontes e oferece uma análise detalhada dos eventos que levaram ao golpe de Estado de Napoleão Bonaparte, explorando aspectos históricos, citando fontes primárias e fornecendo informações pertinentes à compreensão do período.

Marx destaca que os grandes eventos históricos e personagens aparecem duas vezes: uma vez como tragédia e outra como farsa. Ele relaciona o golpe de Estado de Napoleão Bonaparte em 1799 com o golpe de seu sobrinho, chamado de "a segunda edição do 18 de brumário". Marx vê o primeiro golpe como um momento heroico da burguesia e o segundo como uma reação militar repressiva.

O autor busca explicar o movimento da história através das lutas de classes sociais. Sua obra é uma continuação do livro anterior, As Lutas de Classes na França de 1848 a 1850, onde ele discute a dominação da burguesia e analisa o período de 1848 a 1851 sob o ponto de vista do antagonismo de classe.

Marx faz uma crítica negativa ao campesinato, considerando-os como aliados da classe dominante. Ele os compara a um saco de batatas, sem vontade própria, prontos para serem influenciados por forças superiores, representadas pelos Bonaparte. Segundo Marx, a dinastia Bonaparte não representa os camponeses revolucionários, mas sim os conservadores, que desejam consolidar sua condição social e se apoiam na superstição e preconceitos dos camponeses.

Em resumo, Marx vê a história como uma sucessão de eventos trágicos e cômicos, impulsionada pelas lutas de classe, onde o campesinato surge como um aliado da classe dominante.

[RESENHA #968] Exátomos, de Vitor Miranda


"Exátomos", de Vitor Miranda, é uma obra que nos convida a ponderar a respeito da vida, das relações humanas e do mundo em que vivemos. O livro é uma seleção de poemas que revelam a precisão dos átomos em todas as coisas existentes, nos fazendo questionar o que fizemos com essa existência.

Dividido em cinco partes, o livro abarca uma ampla gama de sentimentos e temas, desde a ironia e a descrença até a crítica social, o amor, a esperança e o desespero. É uma obra que nos leva a reconsiderar nossa própria existência e nos ajuda a crescer como indivíduos.

Logo no início, o autor nos presenteia com uma frase impactante: "a terra não é plana, mas é chata". Essa frase apenas arranha a superfície da sagacidade e do humor irônico de Vitor, que por vezes pode nos fazer crer que ele é um poeta niilista. Porém, ao ler com mais atenção, percebemos que por trás de seu deboche e raiva, há uma profunda mágoa pelo que o mundo poderia ser.

Exátomos nos incentiva a refletir sobre a finitude de cada momento preciso e nos incita a descobrir a beleza oculta na crueldade. Vitor expõe as mazelas do mundo em sua poesia, mas também se nutre dela, florescendo em meio ao caos. É uma poesia profunda que nos leva a repensar a vida e nos faz questionar nossas próprias ações e escolhas.

A versatilidade de Vitor como escritor é evidente nessa obra, na qual ele transita entre diferentes emoções e contextos. Exátomos é um convite à reflexão e uma demonstração do poder da poesia como uma arma para desafiar a finitude. É uma leitura que nos desafia e nos enriquece como seres humanos.

Em "poema", o autor descreve o poema como um sentimento fossilizado, uma matéria arqueológica. Ele o compara a um signo paleolítico, uma representação primitiva. A escuridão da árvore amazônica é mencionada, onde o escorpião dorme, associando o poema a algo que está adormecido e escondido. O autor também menciona o pião, que gira eternamente, simbolizando a vitalidade e movimento contínuo do poema.

O poema é descrito como um esqueleto de sonhos, representando as ideias e imagens que o compõem. A arcada dentária dos dinossauros é mencionada, sugerindo a antiguidade do poema e a presença de elementos poderosos e fortes. A expressão "ácido nucleico religião" sugere que o poema possui uma força vital, algo essencial para a existência e fé.

O poema é descrito como um objeto ausente de átomos, o que pode significar que ele não possui uma presença física palpável, mas sim uma natureza imaterial e intangível. Ele é descrito como o indizível intocável, algo que não pode ser explicado totalmente, mas que tem o poder de explodir, causar um impacto profundo. Isso sugere que o poema possui uma força explosiva, capaz de despertar emoções e reflexões intensas.

Já em derrota, o dramaturgo expressa a ideia de que a dor faz parte do percurso da vida. Para o poeta e a poesia, a dor é uma armadura que os protege contra a amargura que emerge. Isto significa que a expressão artística pode ser um refúgio e uma forma de lidar com os momentos difíceis. Porém, o poema ressalta que o amor é mais duradouro do que a derrota, mostrando que apesar das adversidades, o sentimento amoroso é capaz de superar as dificuldades e oferecer um renascimento emocional.

Em eterna cadência (p.78):

me disseram que já não sou adolescente para fazer loucuras de amor
me disseram que haviam coisas mais importantes na vida
me disseram que tempo é dinheiro e deus ajuda quem cedo madruga
me disseram que pássaros voam por fome e não por paixão
me disseram que amor não põe comida na mesa
me disseram desde o princípio que necessitava de uma profissão que me
desse dinheiro
me disseram que a vida é uma merda e que a poesia não serve pra nada
só não me disseram que ao escutar a eterna cadência de sua voz
deixaria de crer em tudo que me disseram

Este poema expressa a contradição entre as expectativas e pressões sociais e o poder transformador do amor verdadeiro. O eu lírico é confrontado com conselhos racionais, baseados em ideias de pragmatismo e sucesso financeiro, que o desencorajam de seguir seus desejos emocionais. No entanto, ao ouvir a voz da pessoa amada, o eu lírico é capaz de se libertar dessas ideias limitantes e começa a questionar tudo o que lhe foi dito. A "eterna cadência" da voz do ser amado representa a verdadeira paixão, que transcende as expectativas impostas pela sociedade e torna todas as suposições anteriores sem sentido. A poesia, nesse contexto, assume um significado poderoso, oferecendo uma perspectiva alternativa à ideia de que a vida é apenas uma "merda", sugerindo que é através do amor e da arte que podemos encontrar beleza e realização verdadeiras.

Já em as crianças do mundo:

as crianças de gaza
não são as crianças
da nossa sala de estar

as crianças de gaza
não estão mais

as crianças de gaza
não são as crianças
de auschwitz

as crianças de auschwitz
não estão adultas

as crianças adultas
não são as crianças
brasileiras do piauí

as crianças do piauí
não estão mais

não estão mais
as crianças do congo

as crianças do mundo
não estão em paz

Este poema que surge como um a onda protestante, aborda a triste realidade das crianças ao redor do mundo que estão sofrendo devido a conflitos e injustiças. O autor compara a situação dessas crianças com as crianças em ambientes mais privilegiados, como a sala de estar ou mesmo a infância mais segura em Auschwitz, ressaltando a diferença entre suas realidades.  O poema também menciona crianças adultas, sugerindo que muitas delas se viram obrigadas a crescer rapidamente, perdendo a inocência e a oportunidade de aproveitar a infância. O autor menciona especificamente as crianças brasileiras do Piauí, indicando que mesmo em locais onde há pobreza e dificuldade econômica, a situação pode não ser tão precária como em outros lugares do mundo.

Por fim, o poema destaca que as crianças ao redor do mundo não estão vivendo em paz, provavelmente aludindo a conflitos armados, guerras e outras formas de violência que afetam as crianças em várias regiões. A mensagem central é que, infelizmente, muitas crianças estão privadas de uma infância tranquila e segura, sendo impactadas por problemas globais.

Em suma, Exátomos é uma obra magnífica e bela, que nos faz repensar nossa própria existência e nos ajuda a enxergar a vida de forma mais profunda e significativa. Vitor Miranda se revela um poeta talentoso e versátil, capaz de provocar emoções e reflexões por meio de suas palavras. Ler este livro é uma experiência transformadora e inspiradora.

O AUTOR

Sobre o poeta Vitor Miranda:

Estreou na literatura com o livro de contos “Num mar de solidão”, um dos contos, “Pise fundo meu irmão”, virou curta-metragem e Vitor recebeu um prêmio de melhor ator. Em 2016 aparece com sua primeira publicação independente, “Poemas de amor deixados na portaria”, livro que deu origem a Banda da Portaria. Como letrista tem parcerias com artistas como Alice Ruiz, Rubi, Luz Marina, Dani Vie, João Mantovani, João Sobral, Touché, Zeca Alencar e Heron Coelho. Em sua aproximação com figuras da poesia curitibana, lança pela Editora Kotter o livro “A gente não quer voltar pra casa”. Experimenta na linguagem em 2019 com o romance poema “A moça caminha alada sobre as pedras de Paraty”. Inicia o projeto de entrevistas “Prosa com Poeta” no qual entrevista figuras como Alice Ruiz, Maria Vilani, Bobby Baq, Dionísio Neto, entre outros artistas. Organiza o Movimento Neomarginal onde exerce o ofício de agitador cultural. Volta aos contos com “O que a gente não faz para vender um livro?” pelo Selo Neomarginal onde destila todo seu sarcasmo. Em 2023 surge com “Exátomos” novamente pelo Selo Neomarginal.

Mais informações:
Instagram: https://www.instagram.com/vitorlmiranda/
Facebook: https://www.facebook.com/vitor.miranda.775/

[RESENHA #967] Antígona: Ela está entre nós, de Andréa Beltrão


Há 2.500 anos, Antígona, de Sófocles, é uma dramaturgia comovente que conquista a atenção dos espectadores. A história da princesa que desafiou um rei para que o corpo do próprio irmão fosse sepultado é reencenada brilhantemente por Andrea Beltrão – neste que é um de seus trabalhos mais audaciosos e que lhe rendeu o Prêmio APCA. Ao reinventar a tragédia grega, Andrea Beltrão não apenas concebe, junto ao diretor Amir Haddad, um sucesso de público e crítica, mas dá novo sentido a uma das personagens mais extraordinárias da história do teatro, posicionando-a frente a frente com as maiores lições de luta deste tempo.

Antígona é um símbolo de insubmissão. Alguém que converteu o luto em ativismo político. A perda, em força de vida. Ao recriá-la, Andréa Beltrão reconhece a magnitude de sua persistência e traz Antígona para o presente.

Neste livro, a atriz, produtora e diretora de teatro conta sobre o processo de criação e destaca os principais trechos que usa para refabular a história da jovem que desafia o Estado. Quem entra em contato com a Antígona de Andrea Beltrão não permanece incólume. A presença da protagonista pode ser vivenciada – através da tradução de Millôr Fernandes do texto de Sófocles, que acompanha integralmente esta edição –, como se estivéssemos no antigo Teatro de Dionísio. Ela está entre nós.

RESENHA

Antígona é uma adaptação teatral do clássico de Sófocles, traduzido por Millôr Fernandes, que narra a história de uma princesa que desafia o poder do rei para sepultar seu irmão morto em guerra. A peça, que estreou em 2017, é fruto da parceria entre a atriz Andréa Beltrão e o diretor Amir Haddad, que assinam juntos a dramaturgia.

A história de Antígona, de Sófocles, é uma tragédia grega que narra o conflito entre a princesa Antígona e o rei Creonte, sobre o destino do corpo de Polinice, irmão de Antígona, que morreu em guerra contra Tebas. Antígona quer sepultar o irmão, seguindo as leis divinas, mas Creonte proíbe, seguindo as leis humanas. Antígona desafia o rei e é condenada à morte, provocando uma série de desgraças na família real de Tebas. A peça é considerada um clássico da literatura mundial, que aborda temas como a liberdade, a justiça, o amor, o destino e a morte.  A obra é uma reflexão sobre a liberdade do cidadão diante do Estado, e sobre os conflitos éticos e morais que envolvem a escolha entre obedecer às leis humanas ou às leis divinas. Antígona representa a resistência, a coragem e a lealdade, mas também a rebeldia, a obstinação e a tragédia.

No palco, Andréa Beltrão interpreta todos os personagens da trama, usando apenas alguns adereços para mudar de identidade. Ela dialoga com a plateia em um ritmo acelerado e envolvente, que mistura humor e emoção. A atriz demonstra sua versatilidade e talento ao dar vida a Antígona, Creonte, Ismênia, Hêmon, Tirésias e outros.

Antígona é uma peça que traz a atualidade de um texto milenar, que fala sobre temas universais e atemporais, como o amor, a justiça, a honra, o destino e a morte. É uma obra que convida o espectador a pensar sobre o seu papel na sociedade, e sobre os valores que norteiam as suas ações.

[RESENHA #966] Ilustrações, de Jailton Moreira


RESENHA

Ilustrações é o primeiro livro de poemas de Jailton Moreira, um artista plástico, professor e curador que conheceu todo o tipo de arte em suas andanças. O livro é fruto de uma relação em que o escrito se submete ao visual, e não o contrário. São 29 poemas que respondem poeticamente e criticamente às experiências vividas pelo autor frente a determinados artistas e suas obras, como Piet Mondrian, Diego Velázquez e Richard Serra.

O livro é uma obra que desafia o leitor a se tornar observador e a ir conhecer por conta própria os trabalhos que inspiraram o autor a escrever. Cada poema é uma tentativa de ordenar as impressões, os sentimentos e as reflexões que as imagens provocam no autor, usando uma linguagem simples, direta e criativa. O autor não se limita a descrever ou elogiar as obras, mas também as questiona, as contraria e as reinventa.

Ilustrações é um livro que mostra a versatilidade e o talento de Jailton Moreira, que transita entre diferentes formas de expressão artística, e que convida o leitor a fazer o mesmo. É um livro que celebra a arte como uma forma de conhecimento, de comunicação e de transformação.

Como descrito no site oficial da obra, este é um convite à experimentação em que o autor se liga ao visual para dar vida as palavras, e não ao contrário. A obra é ilustrada ricamente com imagens que carregam um forte sentimentalismo histórico e simbolista que provoca leitor não somente uma onda reflexiva, mas também uma série de pensamentos acerca da historicidade e das propostas elencadas em seu enredo. 

A obra possui 131 páginas carregadas com 29 poemas e imagens que conversam entre si em sua completude.  A segunda poética do autor é dedicada à uma obra de Giotto (pintor e arquiteto italiano) intitulada legend of St Francis: 15. Sermon to the Birds, que é uma das 28 cenas da Lenda de São Francisco pintadas por Giotto di Bondone na Basílica de São Francisco de Assis, na Itália. A obra retrata um episódio famoso da vida de São Francisco, o santo padroeiro dos animais, que pregou um sermão aos pássaros, exortando-os a louvar a Deus por todas as bênçãos que Ele lhes concedeu. A obra é considerada um exemplo da arte gótica, que se caracteriza pelo uso de cores vivas, pela representação de figuras humanas e pela expressão de sentimentos e emoções. A obra também mostra a habilidade de Giotto em criar perspectiva, profundidade e movimento, usando elementos como a paisagem, as árvores e as nuvens.

A poesia é uma reflexão sobre a arte e a vida, sobre o passado e o presente, sobre o sagrado e o profano. O poeta usa metáforas e imagens que remetem à obra de Giotto, como o berço, a espiga, o óleo, o canto, os pássaros, o céu, o verde e a proa. Ele também faz referências à história de São Francisco, como o santo pobre, o mestre triste e o sonho romano. Ele compara o seu sonho com o de São Francisco, que deslizam na região da Úmbria, onde fica a cidade de Assis.

A poesia é uma forma de homenagear a obra de Giotto e a vida de São Francisco, mas também de questionar o seu significado e a sua atualidade. O poeta se pergunta se o berço da arte pode se transformar em um começo, se é possível superar o vício e a violência, se é possível lubrificar as arestas e colocar a engenharia em movimento, se é possível contar histórias de pássaros e homens famintos, se é possível ver o céu azul e o verde vivo, se é possível sonhar com a paz e a harmonia.

Já na poética guitarras de Picasso, o poema é uma reflexão sobre a arte e a música, sobre o caos e a harmonia, sobre o antigo e o novo. O poeta usa metáforas e imagens que remetem à obra de Picasso, como o berço, o mastro, o âncora, o barco, o casco, a boca, a guitarra, o silêncio e a pátina. Ele também faz referências a diferentes gêneros musicais, como sardanas, cumbias, baladas, fados e fandangos. Ele compara a música tradicional e popular com a música experimental e desconcertante que a obra de Picasso representa.

O poema é uma forma de homenagear a obra de Picasso e a sua inovação, mas também de questionar o seu sentido e a sua beleza. O poeta se pergunta se a guitarra quebrada pode ser consertada, se a música descontínua pode ser ouvida, se a sonora pandora pode reverberar.

Em síntese, podemos dizer que o autor consegue de forma magistral e prolífica inserir em suas reflexões históricas, sociais e urbanas um contexto além da imagem. Essa nova categoria descritiva é uma forma de expor a história e as linhas poéticas em forma de enredo de forma poética e rebuscada. Uma poesia complexa e repleta de nuances quem devem ser sentidas em sua totalidade. Uma obra magistral. 

[RESENHA #965] Tupac Shakur: a biografia autorizada, de Stace Robinson

A primeira e única biografia autorizada pela família do lendário artista Tupac Shakur. Um comovente relato de sua vida e do legado que deixou, ilustrado com fotos pessoais, manuscritos, trechos de seus diários e muito mais!

Artista, poeta, ator, revolucionário... uma lenda.

Tupac Shakur deixou sua marca na cultura mundial. Quase trinta anos depois de sua trágica e precoce morte em 1996, aos 25 anos, Tupac continua sendo presença constante na mídia como uma das figuras mais incompreendidas e fascinantes da história da música.

Em Tupac Shakur: A biografia autorizada pela primeira vez o público tem em mãos uma biografia completa sobre o lendário artista. A autora Staci Robinson ― que conheceu o rapper ainda no ensino médio e foi escolhida por Afeni Shakur, mãe de Tupac, para contar a história do filho ― teve acesso exclusivo a seus diários, suas cartas e conversas, sem censura, com aqueles que o conheciam intimamente. Em Tupac Shakur, Robinson nos oferece uma leitura emocionante e profundamente pessoal sobre os acontecimentos que marcaram a vida de Tupac, e do legado que ele deixou no mundo, com fotografias exclusivas da infância e de bastidores da carreira do artista.

Empreitada de décadas, esta obra mergulha no poderoso legado de uma vida que desde cedo foi definida pela política e pela arte ― de um homem movido tanto pelo brilhantismo quanto pela impulsividade, imerso desde cedo na rica tradição intelectual do movimento negro e no ativismo dos Panteras Negras e sem medo de falar as mais ásperas verdades sobre as questões raciais nos Estados Unidos.

Esta é, ainda, a história de um sucesso vertiginoso, com consequências devastadoras. E, como não podia deixar de ser, traz a obra musical de Tupac e sua mensagem atemporal, que seguem inspirando a juventude até os dias de hoje.

RESENHA

Tupac Shakur: a biografia autorizada é o primeiro e único livro que conta a história do lendário rapper americano com a autorização da sua família. A autora, Staci Robinson, foi colega de escola de Tupac e teve acesso exclusivo aos seus diários, cartas, fotos e relatos de seus amigos e parentes. O resultado é um retrato emocionante e pessoal de uma das figuras mais influentes e controversas da história da música.

O livro narra a trajetória de Tupac desde a sua infância, marcada pela pobreza, pela violência e pelo ativismo político dos Panteras Negras, até a sua ascensão ao estrelato, com sucessos como “California Love”, “Changes” e “Dear Mama”. O livro também revela os bastidores da sua carreira como ator, poeta e revolucionário, e os conflitos que o envolveram em polêmicas, processos e rivalidades, culminando no seu assassinato em 1996, aos 25 anos.

O livro é uma homenagem ao legado de Tupac, que continua inspirando milhões de pessoas ao redor do mundo com a sua música, a sua mensagem e a sua atitude. O livro também é uma reflexão sobre as questões raciais, sociais e culturais que Tupac abordou em suas letras, e que seguem relevantes até hoje.

O livro é ilustrado com fotos exclusivas da vida de Tupac, e também contém citações de suas músicas, de seus poemas e de seus depoimento. A obra contém 22 capítulos e eles descrevem períodos únicos e distintos da vida do músico, como o estilo se suas músicas, sua vida em Nova York, sua história de ascensão, período de fama, dentre outros tópicos explorados pela autora.

Esta é a única biografia de Tupac que tem a aprovação da sua família. Ela celebra a sua trajetória e o seu espírito, sem esconder os seus erros nem diminuir os seus desafios e a sua criatividade para alcançar o sucesso. 

Staci Robinson foi amiga de Tupac na escola. Ela estava na lista de escritores que ele queria trabalhar no futuro, antes de ser morto. Apesar de seu histórico escolar não ser muito brilhante, Afeni Shakur viu a sua honestidade e o seu compromisso quando confiou a história do seu filho a ela. Se Robinson não tinha feito nada de extraordinário antes, ela tirou um dez com este. Parabéns a ela por esta ótima biografia, o esforço valeu a pena. O nível de dedicação em capturar a essência de um artista através de todos que o conheceram fica claro nos detalhes. Staci Robinson não poupou esforços, entrevistando todos, desde seus amigos mais íntimos e familiares até seus colegas de infância, mentores e educadores. Ela honra o lado intelectual de Tupac.

Intensidade e foco são duas palavras usadas para descrever Tupac no final desta biografia que melhor se encaixam no meu caso. Ele estava determinado no seu futuro, tão seguro da sua fama quanto da sua morte precoce pela violência. Às vezes, a sua natureza intensa levava à violência impulsiva e a atitudes defensivas, mas a sua alma equilibrada se manifestava no final, após a reflexão. Ele também foi realista sobre o mundo e o seu futuro, incluindo a sua expectativa de vida. Ele era sincero quando algo era culpa dele, inflexível quando acreditava que estava sendo injustiçado ou acusado falsamente. Ele exigia honra e respeito mútuos de seus amigos e associados, eliminando as pessoas quando elas o traíam ou desapontavam. Ele tinha um código de ética que era fundamental para a sua imagem e a sua mensagem. Ele era absolutamente polêmico, muitas vezes devido ao alvoroço da mídia e aos equívocos sobre a sua filosofia e os seus objetivos, mas às vezes por causa da sua atitude audaciosa. Staci equilibra a representação do seu comportamento, sem justificá-lo, mas também sem condená-lo por isso. Ela mostra a sua complexidade.

Uma obra completa e magistral.

© all rights reserved
made with by templateszoo