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10 livros que falam sobre tragédias reais

As tragédias reais sempre exerceram um fascínio sobre os leitores ávidos por conhecer histórias impactantes e dolorosas. Diante disso, decidimos trazer uma lista com os 10 livros mais marcantes que abordam essas tragédias, retratando eventos que marcaram a humanidade de forma profunda. Prepare-se para se emocionar e refletir com histórias autênticas e surpreendentes, que revelam a capacidade de superação e resiliência do ser humano diante das adversidades mais intensas. Acredite, essas obras vão muito além da simples curiosidade, oferecendo uma oportunidade única de compreender o peso e a complexidade das tragédias reais e as lições que podemos aprender delas. Conheça agora os 10 livros que capturam a essência desses eventos trágicos e mergulhe nessas histórias repletas de emoção, verdade e aprendizado.

Holocausto - Gerald Green



HOLOCAUSTO é o relato de uma das décadas mais negras em toda a história da humanidade. O romance de Gerald Green é ficção apenas na forma. Reconstitui com a fidelidade de um documentário os anos entre 1935 e 1945: a escalada do nazismo, o delírio expansionista de Hitler, o esmagamento da Europa sob os exércitos do Reich, o frio e impiedoso planejamento da "solução final" - o massacre de seis milhões de judeus nos campos de extermínio. Estes tempos trágicos são vistos através da saga da família Weiss, de judeus berlinenses, e da carreira paralela de Erik Dorf, jovem advogado empobrecido que, pressionado por uma esposa ambiciosa, ingressa nas SS e se torna um dos principais arquitetos do monstruoso projeto hitlerista.



Os Meninos que Enganavam Nazistas - Joseph Joffo


Paris, 1941. O país é ocupado pelo exército nazista e o medo invade as casas e as ruas francesas. O poder de Hitler se mostra absoluto e brutal na França… É durante um dos períodos mais turbulentos da História que a emocionante narrativa de Joseph e Maurice se desenrola. Irmãos judeus de 10 e 12 anos de idade, eles perambulam sozinhos pelas estradas, vivendo experiências surpreendentes, tentando escapar da morte e em busca da zona livre para ganhar a liberdade.

Essa é uma história real, autobiográfica, cuja espontaneidade, ternura e humor comprovam o triunfo da humanidade e da empatia nos momentos mais sombrios, quando o perigo está sempre à espreita... Os meninos que enganavam nazistas conta a fantástica e emocionante epopeia de duas crianças judias durante a ocupação, narrada por Joseph, o mais jovem."A Lista de Schindler" - Thomas Keneally

A Casa do Céu - Sara Corbett

Quando criança, Amanda escapava de um lar violento folheando as páginas da revista National Geographic e imaginando-se em lugares exóticos. Aos dezenove anos, trabalhando como garçonete, ela começou a economizar o dinheiro das gorjetas para viajar pelo mundo. Na tentativa de compreendê-lo e dar sentido à vida, viajou como mochileira pela América Latina, Laos, Bangladesh e Índia. Encorajada por suas experiências, acabou indo também ao Sudão, Síria e Paquistão. Em países castigados pela guerra, como o Afeganistão e o Iraque, ela iniciou uma carreira como repórter de televisão. Até que, em agosto de 2008, viajou para a Somália - "o país mais perigoso do mundo". No quarto dia, ela foi sequestrada por um grupo de homens mascarados em uma estrada de terra. Mantida em cativeiro por 460 dias, Amanda converteu-se ao islamismo como tática de sobrevivência, recebeu "lições sobre como ser uma boa esposa" e se arriscou em uma fuga audaciosa. Ocupando uma série de casas abandonadas no meio do deserto, ela sobreviveu através de suas lembranças - cada um dos detalhes do mundo em que vivia antes do cativeiro -, arquitetando estratégias, criando forças e esperança. Nos momentos de maior desespero, ela visitava uma casa no céu, muito acima da mulher aprisionada com correntes, no escuro e que sofria com as torturas que lhe eram impostas.


O Diário de Anne Frank - Anne Frank


O diário de Anne Frank, o depoimento da pequena Anne, morta pelos nazistas após passar anos escondida no sótão de uma casa em Amsterdã, ainda hoje emociona leitores no mundo inteiro. Suas anotações narram os sentimentos, os medos e as pequenas alegrias de uma menina judia que, como sua família, lutou em vão para sobreviver ao Holocausto.

Uma poderosa lembrança dos horrores de uma guerra, um testemunho eloquente do espírito humano. Assim podemos descrever os relatos feitos por Anne em seu diário. Isolados do mundo exterior, os Frank enfrentaram a fome, o tédio e a terrível realidade do confinamento, além da ameaça constante de serem descobertos. Nas páginas de seu diário, Anne Frank registra as impressões sobre esse longo período no esconderijo. Alternando momentos de medo e alegria, as anotações se mostram um fascinante relato sobre a coragem e a fraqueza humanas e, sobretudo, um vigoroso autorretrato de uma menina sensível e determinada.

A príncipio, escreveu seu diário apenas para si. No entanto, ao ouvir no rádio um membro do governo holandês sugerir que diários e cartas documentando a ocupação alemã fossem publicados após a guerra, ela resolveu que, assim que o conflito acabasse, iria publicar um livro, tendo seu diário como base. Então começou a reescrevê-lo, melhorando o texto, omitindo algumas passagens e acrescentando outras.

Após a captura dos moradores do anexo secreto, as secretárias que trabalhavam no prédio encontraram o diário. Quando a guerra acabou, entregaram tudo a Otto Frank, que continuou o desejo da filha, selecionando seus escritos e organizando-os numa versão mais concisa do diário, publicado em 1947.

Os Filhos de Hitler - Gerald Posner

Por meio deste relato surpreendente, o autor Gerald L. Posner nos revela, como os filhos de nazistas proeminentes julgam os pecados dos pais como testemunhas oculares da história e como familiares. Muitos deles cresceram na atmosfera privilegiada do círculo íntimo de Hitler e evocam o Terceiro Reich pelos olhos da infância.

Rolf Mengele, por exemplo, conta como descobriu o pai vivo no Brasil e viajou até aqui às escondidas para confrontar o "Anjo da Morte" sobre os crimes em Auschwitz. Wolf Hess defende com orgulho o pai, Rudolf, o vice-Führer, e seu surpreendente voo solitário em 1941 para a Grã-Bretanha. Ilustradas com fotografias reveladoras, muitas delas inéditas, estas são histórias cruciais, que proporcionam uma nova visão da vida privada e das ações públicas daqueles que trabalharam próximos de Adolf Hitler e foram testemunhas oculares do regime de terror mais perverso de todos os tempos.

A Noite - Elie Wiesel


Em uma cidade que hoje é parte da Romênia, Eliezer se dedicava aos estudos judaicos quando, em 1944, sua família foi transferida para os guetos e, depois, aos campos de concentração.

A mãe e a irmã mais nova foram mortas logo ao chegar, enquanto Elie e o pai seguiram juntos na luta pela sobrevivência. Com apenas 15 anos, ele enfrentou a fome, o frio e a tortura, testemunhando a morte das piores formas possíveis.

Neste livro, Elie narra suas memórias em um relato conciso, com uma linguagem direta que surpreende pela intensidade.

Mas ele vai além, ao expressar a perda da inocência, a sensação de abandono quando deixa de acreditar em Deus e a vergonha de ter sua dignidade arruinada pela banalização do horror

Foi com A noite que ele enfim reencontrou sua voz dez anos após o Holocausto, descobrindo na preservação da memória um sentido para sua sobrevivência."Depois de Auschwitz" - Eva Schloss

Operação Valkíria - Philipp von Boeselager


Em 18 de julho de 1944, Philipp von Boeselager, jovem oficial alemão, liderou 1.200 cavaleiros da Wehrmacht. O objetivo deles, conhecido apenas por Philipp, era retomar a capital alemã e tirar o poder do Reich depois de um atentado contra Hitler. A história deste complô, designado Operação Valquíria, é narrada neste livro pelo último sobrevivente e um dos principais integrantes da conspiração. Quando a Segunda Guerra Mundial irrompeu, Philipp von Boeselager - criado em uma aristocrática e tradicional família católica de Renânia, onde a liberdade de pensamento e o senso de responsabilidade eram as bases da educação - lutou entusiasticamente por seu país como oficial da cavalaria. No verão de 1942, no entanto, ao testemunhar a brutalidade do regime contra judeus e ciganos, seu patriotismo transformou-se rapidamente em desprezo, e Philipp tomou o caminho da desobediência e da resistência - uma alta traição para os alemães da época. Em Operação Valquíria, ele conta seu itinerário sinuoso, notadamente na França e depois na União Soviética, que culminou com o convencimento da necessidade de matar Hitler. O percurso do autor é bastante parecido com o de outros oficiais rebelados: filhos da burguesia ou da aristocracia, que começaram a apoiar lealmente o regime antes de integrarem a resistência. A decisão de entrar para a dissidência foi fruto de longo amadurecimento, e o fato de o complô ter seguido em frente, resultado de circunstâncias fortuitas, como o encontro providencial com o carismático Henning von Tresckow - um dos membros da resistência que pertencia ao centro do Exército - executado em 1944, aos 33 anos. Após uma tentativa frustrada, em que uma bomba destinada ao Führer não explodiu, Boeselager conseguiu retirar sua tropa antes que os outros conspiradores fossem detidos, torturados e executados. Nenhum deles o traiu.

Todo dia a mesma noite, de Daniel Arbex


Ao reconstituir de maneira sensível e inédita os acontecimentos da madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando a cidade de Santa Maria perdeu de uma só vez 242 vidas, Daniela Arbex constrói uma obra que homenageia as vítimas e dá voz aos envolvidos em um dos episódios mais estarrecedores da história do país. Agora, dez anos após a tragédia, o livro dá origem a uma minissérie produzida pela Netflix e dirigida por Julia Rezende, com estreia marcada para o dia 25 de janeiro. No elenco, há nomes como Thelmo Fernandes (Os Salafrários) e Leonardo Medeiros (O Mecanismo) e Bianca Byington (Homem Onça).

Para sentir e entender a verdadeira dimensão de uma catástrofe sobre a qual já se pensava saber quase tudo, foram necessárias centenas de horas dos depoimentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde ― ouvidos pela primeira vez neste livro. Daniela Arbex produziu um memorial para as vítimas dessa noite tenebrosa, que nos transporta até o momento em que as pessoas se amontoaram nos banheiros da Kiss em busca de ar, ao ginásio onde pais foram buscar seus filhos mortos, aos hospitais onde se tentava desesperadamente salvar as vidas que se esvaíam. A autora também foi em busca dos que continuam vivos, dos dias seguintes, das consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos.

A leitura de Todo dia a mesma noite é uma dolorosa e necessária tomada de consciência, um despertar de empatia pelos jovens que tiveram o futuro barbaramente arrancado. Enxergá-los com tanta vivacidade no livro é um exercício que afasta qualquer apaziguamento que possamos sentir em relação ao crime, ainda impune.

Livros da literatura russa para conhecer em 2024

Este ano surgiu com uma ótima oportunidade para explorar e se envolver em novas leituras fora da curva, e neste contexto, conhecer novas culturas e obras de outros países. No fascinante mundo da literatura russa, célebre por sua profundidade e riqueza, há uma infinidade de tesouros a serem descobertos. Entre os clássicos eternos e as obras contemporâneas, cinco livros se destacam como imperdíveis para aqueles que desejam desvendar as complexidades da cultura russa. Junte-se a nós nesta cativante jornada literária e mergulhe em histórias que seduzirão sua imaginação, desafiarão seus pensamentos e o transportarão para um universo tão vasto quanto a própria Rússia.

Desde os clássicos de Tolstói e Dostoiévski até as jóias escondidas da nova geração de escritores russos, esteja preparado para entrar em um universo literário único e cheio de surpresas. Nas páginas destes livros, pontuadas por melodrama, romance e intriga política, você encontrará um cenário repleto de personagens inesquecíveis e reflexões profundas sobre a condição humana. Portanto, junte-se a nós e descubra os cinco livros da literatura russa que estão destinados a conquistar seu coração e marcar seu ano de 2024 com histórias que transcenderão o tempo e o espaço. Previna-se para se apaixonar pela literatura russa e embarque em uma jornada literária extraordinária.

1. O mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov

O mestre e Margarida narra a fantástica chegada do diabo em plena Moscou comunista dos anos 1930. Tudo começa em uma tarde de primavera, quando Satanás e seu séquito diabólico decidem visitar a cidade e encontram poetas, editores, burocratas e todo tipo de pessoas tentando levar a vida em pleno regime comunista. Depois dessa visita, nada será como antes: um rastro de destruição e loucura mudará o destino de quem cruzá-lo. A brilhante narrativa de Bulgákov vai muito além de seus aspectos fantásticos e cômicos. Com um estilo absolutamente original, Bulgákov aborda a liberdade da escrita e a força do amor em tempos adversos, e faz uma sátira devastadora da vida sob o regime soviético. Bulgákov levou cerca de dez anos para terminar o livro e chegou a queimar uma versão inicial. Apenas seu círculo mais íntimo de conhecidos sabia da existência do romance e, também, da impossibilidade de lançá-lo durante o regime stalinista. O livro sobreviveu por mais de duas décadas e, contra todas as previsões, tornou-se um fenômeno. Acabou, assim, por confirmar uma frase dita no romance pelo próprio diabo, e que na Rússia se tornou proverbial: "Manuscritos não ardem".


2. Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski


Os irmãos Karamázov é o último romance de Dostoiévski. No fundo, ele resume toda a criatividade do escritor, trazendo à baila as “malditas” questões existenciais que o afligiram a vida inteira, com especial relevo para a flagrante degradação moral da humanidade afastada dos ideais cristãos. Cheia de peripécias, a narrativa põe em foco três protagonistas irmãos, representantes dos mais diversos aspectos da realidade russa – o libertino Dmítri, o niilista Ivan e o sublime Aliocha –, a fim de alumiar as profundezas insondáveis do coração entregue ao pecado, corrompido por dúvidas ou transbordantede amor.

3. Meninas, de Liudmila Ulítskaia (Editora 34, 2021)

Ambientados em Moscou na década de 1950, próximo da morte de Stálin, os contos que compõem “Meninas” têm como protagonistas garotas que vão dos nove aos onze anos. Sua juventude se confunde com as lembranças da própria autora, que viveu a infância e adolescência nesse mesmo período. Traduzido para o português por Perpétuo, esse é o primeiro livro da autora publicado no Brasil. Ainda que seja uma ilustre desconhecida para os leitores brasileiros, Ulítskaia é uma das principais escritoras russas em atividade, vem sendo cotada todos os anos para o prêmio Nobel e integra o que o jornalista e tradutor considera como uma forte tendência feminina dentro da literatura contemporânea do país.

4. “Os Sonhos Teus Vão Acabar Contigo”, de Daniil Kharms (Kalinka, 2013)

Se o papo é sobre obras de escritores menos conhecidos da literatura russa, o trabalho da editora Kalinka pode ser considerado um grande destaque no cenário brasileiro, aponta Perpétuo. E, dentro de seu rico catálogo, uma das principais joias é este livro de Daniil Kharms (1905-1942), “um brilhante escritor satírico, vanguardista e absurdista da primeira metade do século 20, cuja produção só foi publicada na Rússia a partir da glasnost de Gorbatchov.” Por sua vez, “Os Sonhos Teus Vão Acabar Contigo” é uma coletânea que engloba sua produção infantil, pela qual ficou mais famoso na União Soviética, além de contos, peças de teatro, poesias e a conhecida novela “A Velha” — encenada no teatro no Brasil por ninguém menos que o ator Willem Dafoe e o bailarino Mikhail Baryshnikov.

5.“Era uma Vez uma Mulher que Tentou Matar o Bebê da Vizinha”, de Liudmila Petruchévskaia (Companhia das Letras, 2018)


Quem andou frequentando livrarias nos últimos anos não vai estranhar o título quilométrico nem a capa em vermelho vivo estampando um ameaçador gato preto. Autora best-seller e altamente premiada, Petruchévskaia chegou às estantes brasileiras com pompa neste bizarro livro de contos. Considerada uma das maiores escritoras russas vivas, aqui ela remete às tradições folclóricas de seu país para criar assombrações, pesadelos e acontecimentos macabros dotados de um humor bastante contemporâneo e com um fundinho político. Vista por Vassina como a mãe do pós-modernismo literário russo, na opinião da especialista a escritora “dialoga com vários arquétipos da literatura clássica russa”.

6.“Parque Cultural”, de Serguei Dovlátov (Kalinka, 2016)

Citado por ambos os especialistas, Dovlátov (1941-1990) foi um escritor satírico russo que só conseguiu publicar depois de emigrar para os EUA. O que é compreensível, já que, segundo Perpétuo, “seus livros hilariantes são sátiras demolidoras e dilacerantes do modo de vida na URSS”. Dentre sua obra ainda pouco publicada no Brasil, Vassina destaca “Parque Cultural”. A novela se passa num parque-museu fictício, dedicado à memória do clássico escritor russo Aleksándr Púchkin (1799-1837). Ali, o narrador, alter ego do escritor, desconstrói a aura soviética que se formou em torno de Púchkin, desfiando de forma mordaz questões sociais importantes da era Brejnev, nos anos 1970, como o alcoolismo, a censura, o antissemitismo e a emigração. “Uma desconstrução dos mitos soviéticos”, declara Vassina.

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7 Livros para compreender o autismo

O autismo é um transtorno complexo do desenvolvimento que afeta a forma como uma pessoa percebe o mundo, interage com os outros e processa informações. Tendo sido reconhecido pela primeira vez na década de 1940, o autismo tem despertado cada vez mais interesse e atenção nas últimas décadas, à medida que se busca compreender melhor essa condição e encontrar formas de melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo. Não é surpreendente, portanto, que a literatura sobre o assunto também tenha se multiplicado, fornecendo uma ampla gama de livros informativos que visam educar e conscientizar o público sobre o autismo. Nesta matéria, apresentaremos uma seleção de livros que podem ser uma fonte valiosa de conhecimento e esclarecimento para aqueles que desejam se informar sobre o autismo, oferecendo uma visão abrangente e atualizada sobre esse transtorno ainda cercado de muitas dúvidas e estereótipos.

o menino que nunca sorriu (Fábio Barbirato & Gabriela Dias)

Um menino que até os 7 anos nunca deu um sorriso. A adolescente vítima de ansiedade e bullying que perdeu 20 quilos e passou a sofrer de anorexia. Um jovem que se recusava a entrar em ônibus cheio mas sabia os nomes de todas as ruas num percurso de 500 quilômetros. Personagens verdadeiros como esses frequentam o Ambulatório da Psiquiatria Infantil da Santa Casa, no Rio de Janeiro, referência no país, que tem à frente o renomado psiquiatra infantil Fabio Barbirato. Neste livro, ele e sua mulher, a também médica Gabriela Dias, reúnem emocionantes histórias de jovens portadores de autismo, ansiedade, depressão, hiperatividade e outros transtornos que levam sofrimento não só a eles, mas também às suas famílias. São 32 crônicas da vida real, surpreendentes, que jogam luz sobre um universo pouco falado e cercado de preconceitos.


O cérebro autista (Temple Grandin& Richard Panek)

Em O Cérebro Autista, os autores Temple Grandin e Richard Panek refletem e explicam sobre questões que nem sempre são comentadas em uma obra de 252 páginas. O livro apresenta pesquisas sobre o autismo e terapias disponíveis. De acordo com os autores, os leitores são apresentados a cientistas e que exploram teorias inovadoras sobre as causas do transtorno. No Brasil, a obra é publicada pela editora Record, com tradução de Cristina Cavalcanti. O livro pode ser adquirido por cerca de R$ 47 em capa comum. Já a versão mobile tem valores que partem de R$ 44.


Autismo: Humano à sua maneira – Um novo olhar sobre o Autismo (Prizant & Meyer)


Nesta obra, o doutor Barry M. Prizant apresenta um guia essencial para orientar pais, familiares e profissionais de saúde, sempre pautado na ciência, de forma humanizada e inclusiva, com estratégias extremamente eficazes. E vai além, ao expandir a compreensão do que é o autismo e do modo como este impacta a vida das pessoas que convivem com ele.

Em vez de buscar suprimir os “sintomas”, Prizant concentra-se em desvendar as causas emocionais do comportamento da criança e do adulto autista, proporcionando ferramentas efetivas de desenvolvimento. Humano à sua maneira oferece uma nova perspectiva sobre o autismo, propondo que a linguagem social de pessoas dentro do espectro apenas se assemelha a um idioma estrangeiro. Dessa forma, sua compreensão desvela que o autismo não é uma doença, mas, sim, um jeito próprio de ser humano.

Simplificando o Autismo: Para pais, familiares e profissionais (Thiago Castro)


"Simplificando o Autismo" é uma obra completa e abrangente que aborda o transtorno do espectro autista (TEA) de maneira cuidadosa, compreensiva e sensível. Coordenado pelo renomado médico Dr. Thiago Castro, que traz não apenas sua expertise profissional, mas também sua vivência única como pai de uma criança autista, o livro oferece uma perspectiva rara e autêntica sobre o tema.

Por meio de uma linguagem acessível e embasada, o Dr. Thiago e coautores especialistas exploram diversos aspectos do autismo, desde os primeiros sinais e o diagnóstico precoce, até as dificuldades enfrentadas na busca por profissionais capacitados, terapias, inclusão escolar e convivência social. A obra é destinada tanto a pais que desejam compreender melhor o transtorno e lidar com seus desafios, quanto a profissionais que trabalham na área e buscam aprimorar seus conhecimentos.

"Simplificando o Autismo" é uma leitura que ensina o que é o autismo, sua história, os diferentes níveis do espectro e o tratamento adequado para cada um deles. Ainda, oferece orientações práticas para vencer dilemas do dia a dia, como a realização de tratamentos domiciliares de baixo custo, explora os direitos e a inclusão escolar, e proporciona clareza sobre a genética, exames, comorbidades, medicações e mitos relacionados ao autismo.

A obra é uma referência indispensável para pais e profissionais que buscam compreender e lidar com o transtorno do espectro autista. Leitura fundamental para quem deseja mergulhar nesse universo e promover uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para todos.

O que a ciência nos diz sobre o transtorno do espectro autista: fazendo as escolhas certas para o seu filho (Bernier, Dawson, Nigg, Maria & Rosa)


Em O que a ciência nos diz sobre o transtorno do espectro autista: fazendo as escolhas certas para o seu filho, Raphael A. Bernier, Geraldine Dawson e Joel T. Nigg reúnem as mais recentes descobertas científicas a respeito do autismo e as apresentam em linguagem acessível. Este livro, também disponível em formato eletrônico (e-book), aborda desde as características essenciais do espectro autista, passando pelo diagnóstico do transtorno, os níveis de severidade e prejuízo, as comorbidades mais comuns e o transtorno do espectro autista (TEA) em diferentes fases da vida – na infância, na adolescência e na vida adulta. Além disso, configura-se como recurso fundamental para pais e psicólogos ao tratar temas como melhores práticas para ajudar uma criança com autismo; exercício, sono e autismo; nutrição e problemas gastrintestinais e alimentares; promessas e perigos do uso da tecnologia; inserção acadêmica e no mercado de trabalho.


O autismo como estrutura subjetiva: Estudo sobre a experiência do autista na linguagem e com a palavra (Cirlana Rodrigues de Souza)


O que a autora oferece à leitura é fruto de seu intenso esforço em registrar o que sua prática com crianças, efetivamente clínica, lhe transmitiu. Assinala-se que ela não trata das crianças conformadas aos ideais sociais, mas, justamente, aquelas que desde a primeira infância se contrapõem a padrões de normalidade perseguidos pelo discurso vigente.


Cirlana propõe considerar algumas apresentações pelas quais a linguagem pode incidir numa modalidade de corpo, conjugando-se na estruturação de um sujeito qualquer, focalizando formas surpreendentes. Assim, a autora se dedica a destacar, nos autistas, os efeitos paradoxais incomensuráveis que tangenciam certas operações de linguagem que se redobram sobre ela mesma para negá-la, assim, perpetuando-a.

A densa trajetória aqui tramada fisga o leitor, exigindo interesse e esforço, posto que convoca o clínico a transitar por uma constelação tensionada por conceitos pouco tratados que resistem à biunivocidade e ao mero encobrimento. É o que acirra o necessário debate sobre o furo da linguagem que, num só tempo, mantém-se incluído e em exterioridade a ela.


O autismo em meninas e mulheres: Diferença e interseccinalidade ( Sílvia Ester Orrú)


Esta obra apresenta os estudos mais recentes sobre o autismo no feminino e a importância de que toda a sociedade tenha consciência disso, especialmente as famílias e profissionais da educação e da saúde. A autora destaca a Diferença e a Interseccionalidade como elementos constitutivos da subjetividade de cada mulher, de cada menina. As investigações sobre como o autismo impacta o feminino são muito recentes e há muitas inquietações e desafios por vir. Com linguagem clara, esta é uma leitura necessária para conhecer mais do universo feminino permeado pelo autismo.

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Saltburn: Erótico e provocativo

Saltburn é um thriller erótico ousado e provocante, dirigido e escrito por Emerald Fennell, a vencedora do Oscar por Promising Young Woman. O filme é uma releitura moderna de The Talented Mr. Ripley, ambientada na Inglaterra dos anos 2000, e conta a história de Oliver Quick (Barry Keoghan), um estudante de Oxford que se infiltra na família rica e decadente de Felix Catton (Jacob Elordi), um aristocrata bonito e carismático. O filme explora os temas da obsessão, da identidade, da classe e do desejo, com um estilo visual deslumbrante e um humor ácido. O elenco é excelente, com destaque para Keoghan, que interpreta Oliver com uma mistura de vulnerabilidade e perversidade, e Elordi, que encarna Felix com uma elegância natural e uma inocência quase ingênua. O filme também conta com a participação de Rosamund Pike, que rouba a cena como Elspeth, a mãe de Felix, uma ex-modelo glamourosa e cruel. Saltburn é um filme que desafia as expectativas e surpreende com seus momentos chocantes, que vão desde o nojento ao hilário. É uma obra que diverte e perturba, e que mostra o talento e a ambição de Fennell como cineasta. Saltburn é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano

[RESENHA #977] Ossada Perpétua, de Anna Kuzminska

Livro de estreia de Anna Kuzminska, fotógrafa e autora fluminense, Ossada Perpétua tateia um tipo peculiar de luto. A ausência dita comportamentos, o passado está eivado nas entranhas do vivos, mas a existência segue um compasso de normalidade.

As personagens de Anna parecem sempre querer fugir da realidade (ou do sonho) por meio do falatório vazio, do silêncio transfigurado em nota musical, da recusa do conforto fraternal, e, às vezes, da arte.

O jogo que se trava entre os desejos e as crenças das personagens é confrontado pelo insólito de desenterrar um pai sem túmulo, ou pela aprendizagem dos limites e transgressões durante a infância.

Anna circula Deus e o amor, as memórias germinando desejos, o cotidiano da morte, o avesso da morte, a negação da morte, a recusa da morte.


RESENHA


O livro “Ossada Perpétua” da autora Anna Kuzminská é uma obra que representa uma escrita profunda, reflexiva e estimulante. Com uma narrativa fragmentada e poética, a autora constrói uma trama repleta de simbolismos e metáforas, explorando temas como a busca pelo sentido da existência e a complexa relação com a finitude.

A escrita de Kuzmin se caracteriza pelo caráter crítico, lidando com situações polêmicas que criam conflitos entre personagens e provocam reflexões sobre autoridade, moralidade e como cada pessoa lida com a morte. A relação dos filhos com o pai falecido e a figura da mãe como elemento assertivo central da família são aspectos que o livro enfatiza.

A profundidade das perguntas e a linguagem poética utilizada permitem ao leitor mergulhar no pensamento dos personagens. Trechos do diário de quarentena revelam uma introspecção intensa, a exploração de pensamentos sombrios e o impacto da solidão e da incerteza no estado emocional do narrador. A escrita de Kuzmin desperta um sentimento de identificação com as ambigüidades da condição humana.

Uma característica distintiva da escrita do autor é também a criação de imagens vivas e uma atmosfera envolvente. A descrição da figueira como elemento constante e imperturbável representa a resiliência e a presença constante da morte na vida de cada pessoa. Os vitrais da igreja, representando a história de Jesus, reforçam a abordagem da finitude e da morte como temas centrais da obra.

Comparada a autores consagrados como Karl Ove Knausgård e Elena Ferrante, a escrita de Kuzminsky se destaca pela honestidade, reflexividade e abordagem às complexidades das relações familiares. A autora traz sua voz distinta, explora questões existenciais e a relação interna entre vida e morte de forma original.


[RESENHA #976] Jiboia, de Cecília Garcia


Animalescos, os 16 contos de Cecília Garcia nessa coletânea misturam o fantástico, o cotidiano, passagens bíblicas e panteões de outras fés. Com doses de terror, as histórias de Jiboia nos mantêm alertas, saboreando cada linha com curiosidade e receio.

Jiboia são os bichos internos e externos que Cecília Garcia alimentou ao longo dos anos reunidos em um único livro-selva.Abrir estas páginas é se perder no coração pulsante de um labirinto de obsessões, paixões frustradas, loucuras e medos de toda sorte. Para Ana Rüsche, que assina a orelha desta edição, “os dezesseis contos de Cecília Garcia encaixam-se perfeitamente” ao abordar “personagens curiosos, como biólogas em selvas urbanas, cujas artes não se distinguem de magos, curandeiras e bruxas, e paisagens incomuns na literatura, como madeireiras ou um bunker de um pecuarista”.

RESENHA

Jibóia é, como descrito, um livro de contos animalescos. A obra de Cecília Garcia é um mistério como sua capa, seu enredo é meticulosamente escrito para nos entreter por horas sem fim. A obra é um emaranhado de contos variados em confusões internas e cotidianas. No primeiro conto, a mãe verde, a autora nos convida à experienciar a vida de uma mulher negra de cabelos ruivos dona de um salão de beleza, ela, que antes era devota de Iansã, se vê cristã. Vivendo entre a margem da marginalização e da pobreza, a autora descreve com maestria pratos quebrados, medo, terror e desconhecido. A personagem é resiliente, firme e morada contante de vibrações espirituais, que como narradas pelos filhos, demônios que a fazem subir, cambalear, saltar entre o chão e o lustre e falar palavras indecifráveis. O retrato construído entre os personagens é caótico e completamente único.

No segundo conto, cerol na galinha, narra um episódio de um garoto que decepa a cabeça de um motoqueiro enquanto brinca de pipa, ele não sente culpa no ato, mas reflete na similitude entre o corte do motoqueiro e o corte da cabeça de uma galinha, que, ainda sem a cabeça consegue andar. A ladeira jorrava sangue, menstruada e sem calcinha [...] depois do corpo retirado, o menino jurando nunca mais empinar pipa. (p.15 - grifos meus). O encontro cruel que o destino preparou entre o fim da inocência de um garoto que não compreende a morte e deseja no fundo de seu coração que o motorista se levante e saia andando como uma galinha, ainda que para morrer depois. Um conto visceral.

O conto, Jiboia, narra a vida de uma bióloga aposentada que deixou a floresta para morar no centro de São Paulo em um apartamento abarrotado de plantas e jiboias que descem do teto ao chão. Ela é solitária, mas gosta da vida. A narrativa ocorre em primeira e terceira pessoa de forma simultânea, narrando os pensamentos e episódios da moradora, bem como seu encontro com o boitatá que grava tudo em um gravador e escreve sua história toda em um caderno, que como ela diz, tem uma história que precisa ser contada como um furo, como as histórias das mulheres loucas e desacreditadas. Em síntese, um conto emblemático.


"Sultanas esquecidas": Fatima Mernissi recupera passado apagado de mulheres chefes de Estado no Islã

Existe um feminismo islâmico? Editora Tabla lança livro de Fatima Mernissi, uma das figuras mais importantes e influentes do feminismo árabe.

Somando-se ao livro Dez mitos sobre Israel, do historiador israelense Ilan Pappe, a Tabla, editora especializada em literaturas do Oriente Médio e do Norte da África, lança agora seu segundo título de não-ficção. Trata-se do livro Sultanas esquecidas: mulheres chefes de Estado no Islã, da socióloga marroquina Fatima Mernissi.

Em busca de evidências históricas sobre mulheres chefes de Estado no Islã, Fatima Mernissi nos convida a um mergulho no coração do império muçulmano. Atravessando mais de treze séculos de história e diversas sociedades com variadas culturas, ela descobre casos curiosos de rainhas muçulmanas esquecidas (ou apagadas) pela história oficial.

Nas páginas de Sultanas esquecidas, adentramos os palácios, as cortes, os haréns; acompanhamos as disputas de poder, as histórias de amor, as paixões arrebatadoras e intermináveis cortejos de intrigas e mistérios. Conhecemos mulheres poderosas, resistentes, resilientes; escravizadas, cortesãs, rainhas, sultanas; árabes, persas, mongóis, mamelucas. Cada uma tinha sua própria maneira de tratar o povo, fazer justiça e administrar os impostos. Algumas permaneceram no trono por muito tempo, outras mal tiveram tempo de se instalar nele. Muitas foram mortas por envenenamento ou apunhaladas. Raras são as que morreram calmamente em sua cama.

É pela evidência histórica, comprovada pelas fontes, pelos fatos e pelos cargos ocupados por essas mulheres que Mernissi desconstrói os discursos religiosos feitos por homens para obliterar o papel das mulheres no Islã, como coadjuvantes, pouco importantes ou relegadas ao confinamento e ao esquecimento. 

“Essa obra, traduzida para o português, permitirá às leitoras e aos leitores no Brasil conhecer sobre o feminismo islâmico — que existe! — e sobre Fatima Mernissi, que ajudou a construir esse movimento emancipatório como um importante legado para o papel das mulheres no Brasil, no Islã e no mundo.” 

Samira Adel Osman

Ao  escrever a história do Islã a partir do protagonismo feminino, Mernissi contribui para a escrita da história das mulheres, independente de lugar, época ou religião. Muito além de  defender que se escrevesse sobre as mulheres na história e sobre a história das mulheres, Mernissi advogava para que sobretudo as mulheres escrevessem a história porque, para ela, o maior equívoco foi permitir que não só a história, mas a memória, o coletivo e o espaço da produção do conhecimento fossem dominados por homens.

Um levantamento histórico, uma análise sociológica e uma reflexão sobre o poder e seus paradoxos, Sultanas esquecidas: mulheres chefes de Estado no Islã trata de uma questão sempre atual sobre o estatuto das mulheres e sua emancipação.

 

Para saber mais e comprar o livro, acesse o site da Tabla:

 

Leia um trecho da obra:

“Nossa reivindicação ao pleno gozo de nossos direitos universais, aqui e agora, passa necessariamente por uma nova apropriação da memória, uma releitura — a reconstrução de um passado muçulmano amplo e aberto. Fazer incursões a nosso passado pode não apenas nos divertir e nos instruir, mas também inspirar ideias preciosas sobre os modos de viver com alegria quando se é mulher, muçulmana e árabe — três características que tentam nos apresentar como um triângulo maléfico, um abismo de submissão e de abnegação em que nossas vontades devem inevitavelmente se dissolver.”


Sobre a autora:

Fatima Mernissi nasceu em 1940, em Fez, no Marrocos. Foi socióloga, escritora e ativista pelos direitos da mulher nas sociedades muçulmanas. 

Com formação na França e nos Estados Unidos, Mernissi foi professora de sociologia na Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade Mohamed V, em Rabat. Sua obra acadêmica se voltou a identificar as estruturas de poder que se coadunam para oprimir as mulheres ao longo da história, sendo grande crítica do colonialismo, do capitalismo, do imperialismo e da interpretação patriarcal do Islã. 

Fatima Mernissi é considerada a fundadora do feminismo islâmico e figura importante e influente do feminismo árabe. Uma mulher intelectual, imponente e poderosa; ativista e revolucionária, livre-pensadora e humanista, a mais célebre escritora feminista dos tempos modernos, cujo legado inspirou e continuará inspirando gerações de homens e mulheres do Oriente e do Ocidente.

Em 2003, Mernissi ganhou o prêmio Príncipe de Astúrias de Literatura ao lado de Susan Sontag. Escrevia em francês, árabe e inglês, e seus livros foram traduzidos para mais de trinta idiomas.

 

Sobre a tradutora:

Marília Scalzo é jornalista e tradutora. Estudou francês na Aliança Francesa onde também foi professora. Formou-se pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e trabalhou no jornal Folha de S. Paulo e na Editora Abril. É autora, entre outros, do livro Jornalismo de Revista (Editora Contexto), e coautora com Celso Nucci dos livros Uma história de amor à música (Editora Bei) e Grande hotel (Senac). Trabalha como tradutora e coordenadora de Comunicação do Instituto Moreira Salles.

 

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de livros referentes às culturas do Oriente Médio e do Norte da África e seus ecos mundo afora. Com o objetivo de ressaltar os pontos de contato, percorrendo e construindo pontes culturais, nosso desejo é apresentar e representar essas culturas de forma autêntica, longe dos estereótipos.

ENTREVISTA | Escrever em meio às complexidades da maternidade: conheça os processos de criação de Mariana Torres


Autora do romance epistolar  “Depois que a vida chegou” (Caravana Editorial), paulistana fala sobre seu processo de "descobrir-se escritora" 


Uma mulher decide escrever e-mails ao primeiro filho, desde o seu nascimento, como presente de aniversário de 18 anos. Relatos de parto, primeiros dias de vida, celebrações e anotações cotidianas. Porém, pouco a pouco, o exercício de alteridade com a criança – outro corpo, mas tão dependente da mãe – se transforma em fragmentos de angústia e da necessidade em colocar a mulher no centro do universo contado. O romance epistolar “Depois que a vida chegou” (Caravana Editorial, 116 pág.), da paulistana Mariana Torres, narra as dores de uma mulher que passa a questionar seu lugar no mundo quando atravessada pela maternidade. 

Foi só depois de trabalhar como advogada e empreendedora que a autora encontrou nas palavras sua paixão. “Eu me descobri escritora em meio a uma pandemia e a um puerpério. Entre uma mamada e outra, escrevi uma história pela primeira vez, que seria minha estreia: o livro ‘Clube do Abacate’”, conta. Durante o puerpério da segunda gravidez, escreveu seu segundo romance, “Depois que a vida chegou”. Mariana mora em São Paulo (SP) e passa os seus dias criando histórias, além de dois meninos e dois gatos.


Confira a entrevista completa com a autora:


Você escreve desde quando? Como começou a escrever?

Escrevia quando pequena, mas passaram os anos, comecei a ter vergonha e parei. Voltei a escrever durante o puerpério do meu primeiro filho, que coincidiu com o isolamento da pandemia. Era uma época em que me encontrava perdida, inclusive profissionalmente. Tinha acabado de fechar uma empresa e estava desesperada por não saber o que fazer. Minha analista sugeriu que resgatasse coisas do meu passado, coisas que gostava de fazer. Voltei a ler mais intensamente (minha vida de advogada e depois de administradora não davam muito tempo para essa atividade). Um dia, abri o computador, abri o Word e comecei a escrever de maneira despretensiosa. Todo dia um pouquinho, entre as mamadas do meu filho. Quando me dei conta, tinha escrito bastante. Enviei para meu irmão, que disse que tinha feito um livro. Foi chocante rs.


Como é o seu processo criativo? 

Acho que varia bastante. Quando escrevo algo novo, por exemplo, não sei ainda o que será e qual será o fim, a evolução dos personagens. Já tentei fazer isso e não deu certo, ficou artificial. Mas se estou escrevendo uma história longa, procuro revisitá-la todos os dias, nem que seja para escrever uma palavra. Caso contrário, perco o tom. Se volto depois de dois dias, sinto-me uma estranha dentro das minhas próprias palavras. Ao mesmo tempo, não gosto de estabelecer metas diárias, porque sinto como se houvesse uma obrigatoriedade, como se transformasse algo prazeroso em mais uma tarefa dentro de outras milhões que faço durante o dia. Não digo que já não tentei, mas foram épocas de grandes bloqueios. Para escrever preciso estar relaxada e ao mesmo tempo conectada ao momento, vivendo o presente. Tenho meu canto em casa e gosto de acender velas e rodeá-lo de objetos que têm significado para mim, como coisas que compro em viagens, pedras que coleciono desde criança e até brinquedos de infância. Mas claro que às vezes algo acende dentro de mim e posso estar até numa reunião da escola do meu filho, mas pego o que for para anotar as palavras. Quase como se vomitasse um texto que já estava pronto dentro de mim e brigando para sair.



Se você pudesse resumir os temas centrais de "Depois que a vida chegou", quais seriam?

As dores de uma mulher que passa a questionar seu lugar no mundo quando atravessada pela maternidade.


Por que escolher esses temas?

São temas que conheço profundamente, além de pertinentes.

Quais livros influenciaram diretamente a obra? Como foi o processo de escrita?

Difícil dizer livros que influenciaram diretamente a obra. Posso falar sobre uma autora que influenciou diretamente, Aline Bei. Fazia minha segunda oficina de escrita com ela, durante o meu segundo puerpério. A oficina era focada no desenvolvimento de projetos mais longos, como romances. Num de nossos encontros, desabafei sobre a minha incapacidade de escrever e criar um projeto. Chorei, falei sobre a raiva que sentia do meu filho recém nascido naquele momento e o fato de ninguém entender os meus sentimentos, nem mesmo meu marido e minha mãe. Eu fui acolhida não só por ela, como por todo o grupo. Ela me disse: “escreva sobre esse sentimento, você pode se fazer entender pelas palavras escritas”. Assim fiz. Tudo meio bagunçado. Passados alguns meses, revisitei esses escritos e a partir daí criei uma história.

Quais são as suas principais referências como autora?

Acho que a principal seria Elena Ferrante. Antes dela, lia muitos autores masculinos e quando entrei em contato com a sua obra me senti representada como mulher pela primeira vez. Ela abriu a porta para que eu me jogasse nos livros das escritoras, algo raríssimo para mim. Senti até vergonha. Carla Madeira me encanta demais e claro, Aline Bei, meu farol.


Como você definiria seu estilo de escrita?

Diria cru e objetivo.

Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?

No momento, estou trabalhando em algo que pode se tornar outro livro (nunca sei se de fato será rs) sobre a relação entre mãe e filha. Também tenho escrito contos.


Adquira “Depois que a vida chegou” no site da Caravana: https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/depois-que-a-vida-chegou/ 

[RESENHA #975] Deus criou primeiro um tatu, de Yvonne Miller

Alemã de nascença, brasileira de alma, Yvonne Miller reúne nesta obra 50 crônicas e microcrônicas ambientadas em Aldeia dos Camarás, na Mata Atlântica pernambucana.

Com o olhar atento, carinhoso e não ingênuo à vida no Nordeste, Yvonne Miller pincela a realidade cotidiana com a graça e a delicadeza de uma cronista madura.

Tudo para Yvonne Miller é matéria fértil para uma crônica: o dia a dia no Bosque Águas de Aldeia, uma cobra enroladinha na árvore, as descobertas de Chico, “o cachorro mais boa-praça do condomínio”, a caranguejeira em cima da cama etc. Com bom humor, ela nos ensina a perceber a poesia possível do nosso entorno.

Leve e divertido sempre que pode, Deus criou primeiro um tatu também é crítico e político quando precisa.


RESENHA


Deus criou primeiro um tatu é um livro de crônicas da autora Yvonne Miller, publicado pela editora Aboio. A obra é um ensaio intrincado de dúvidas e processos políticos acerca da mudança. Miller narra, com muito bom humor, os aspectos que ignoramos na vida e na natureza, bem como nosso poder de perseverança [e resistência] em meio à mudança. O enredo se inicia com uma passagem da autora revelando um encontro com um pajé, já no prólogo, ele por si, aconselha Miller a desbravar a natureza para se reconectar consigo mesma, em outras palavras, se reencontrar. 

Na sequência, em partiu, a autora nos convida á refletir sobre a resistência humana acerca das mudanças. Ela menciona os pequenos gestos e momentos da vida que não carregamos ou apreciamos com tanto entusiasmo quanto outros. Aqui, ela fala de organizar livros, apreciar o conto dos pássaros, ajeitar a moradia, comemorar os ventos e até mesmo , o prazer de se reconectar através da nudez. Este enredo bem elaborado e construído já começa com suas entrelinhas provocantes, sobretudo, quando uma personagem indaga 'indo embora?', sinalizando o recomeço de uma nova vida, um novo ciclo.

A autora segue suas provocações. O enredo construído de forma que nos leva à pensar apenas nas descrições minuciosas das aventuras de uma nova residência esconde algo em suas linhas. A autora por diversas vezes nos faz refletir sobre os detalhes que passam despercebidos por nós no dia-a-dia,  como mastigando frutinhas agridoces (p.22); ou como admirar a paisagem à nossa volta: A paisagem à minha volta é tão linda que mal dá para acreditar, o sol de verão está aquecendo a minha alma, e estou recebendo uma massagem da cachoeira. O que mais eu poderia almejar? (p. 23)

A autora celebra a vida, as visitas da família, os animais de estimação, o ar puro e as florestas. Seu cântico poético em cada linha revela um talento e uma destreza para ressignificar o poder de uma observadora nata, uma observadora da vida. Os humanos e os animais se dividem em dois grupos: os que pastoreiam e os que se deixam pastorear (p.43), fazendo uma clara alusão à felicidade existente na liberdade daqueles que se deixam pastorear pela vida e pelos momentos. Já em 'eis a pergunta', ela nos leva à uma reflexão acerca do espaço e do uso que cultivamos dele: A vizinha nova já chegou chegando [...] mandou três funcionários para tirar tudo o que não fosse árvore do terreno junto ao nosso. [...] onde antes se alegrava com beija-flores, ora verdes, ora azuis, dançando entre as helicônias, agora se deparava com campo marrom [...] fiquei logo preocupada... (p.61), em uma referência da vizinha não cultivar os mesmos hábitos que ela em relação ao mundo e a natureza. Esta preocupação latente nos mostra o quão indelicado uma intervenção no espaço natural pode ocasionar em momentos de tristeza e dúvida para outros seres, animais ou não. E você, já refletiu sobre o uso do espaço hoje?

Em síntese, a obra de Yvonne Miller é doce, convidativa, alegre, política, efêmera, cativante e extremamente necessária. Ainda que seja um livro repleto de microcontos, a narrativa é, senão, um intricando poético de um ensaio de valoração da vida e da busca por conhecimento e descobertas. Um livro necessário.

[RESENHA #974] Sinto muito por não sentir mais nada, de Tutu Machado

Foto: Arte Digital / Canva / Direitos Reservados

Começar pelo fim pode ser errado, mas também conceitual. Pode ser esquisito, mas também necessário. Pode ser sobre o que já foi, mas também sobre o que é hoje. Partindo de um término abrupto, o poeta recolhe seus cacos e remonta o espelho como quer. Pode ser doído, mas é seu remédio. Em sinto muito por não sentir mais nada, o autor tenta dar sentido ao sentimento (e à falta dele). O jeito que encontrou para amenizar a dor do término de um relacionamento longevo foi escrever enquanto acompanhava a evolução do próprio luto. O que não virou lágrima, virou poesia; e hoje é livro. Hoje é livre. Quem já passou por baixo do rolo compressor que é um “adeus” vai entender tudo nestas páginas. Nelas, o final é triste e feliz — primeiro um, depois o outro.


RESENHA



Em "Desculpe por não sentir mais nada", Tutu Machado nos convida a mergulhar em uma obra que começa pelo fim, desafiando as convenções e nos levando por uma experiência conceitualmente enriquecedora. Pode parecer estranho, talvez até necessário, mas o autor tece suas palavras de forma a construir uma narrativa que nos leva a refletir sobre o que já foi e o que é hoje.

Partindo de um término abrupto, o poeta recolhe os cacos de seu coração partido e reinventa a si mesmo através da escrita. Enquanto acompanha a evolução de seu próprio luto, Machado busca dar sentido ao sentimento e à sua ausência. Através das palavras, ele transforma a dor em remédio, fazendo com que aquilo que não se converteu em lágrima se torne poesia. Assim, o livro nasce, livre como uma ave em pleno voo.

Nestas páginas, o autor nos convida a uma jornada íntima que toca a alma daqueles que já passaram pelo rolo compressor de um "adeus". Com uma mistura única de tristeza e felicidade, Tutu Machado nos conduz por caminhos complexos do coração humano. Suas palavras transbordam de emoção e verdade, levando-nos a compreender profundamente essa experiência universal.

"Desculpe por não sentir mais nada" é mais do que uma obra poética, é um convite à reflexão sobre o amor e as despedidas em uma relação que se findou abruptamente. É uma ode à superação, à resiliência e à capacidade do ser humano de transformar dor em arte. Neste livro, encontraremos palavras que nos desafiarão a encarar nossas próprias dores, a ressignificar nossos términos e, quem sabe, encontrar a liberdade que tanto buscamos. Embarque nessa jornada poética e deixe-se levar pelas profundezas do sentimento e pela força transformadora das palavras de Tutu Machado. "Desculpe por não sentir mais nada" é um lembrete poético de que, mesmo nas maiores despedidas, sempre há uma possibilidade de renascimento.

A obra começa com uma dedicatória ao próprio autor, o que revela que, talvez, a obra tenha sendo escrita durante um período tortuoso de sua vida em um término de um relacionamento paulatinamente frequente e constante. A obra segue com pedidos de desculpa sinto muito por não ser(mos) mais nada, o que revela que, ainda que despedaçado, o autor nos convida à entender a ótica da perda entre dois indivíduos que estão, em igual, sofrendo pela despedida do findar de uma relação.


O autor segue sua poética analisando os motivos pelos quais o término ocorreu:


tentar te mudar foi errado
me mando; você é quem manda
e pra me mudar tô ferrado


Uma forma de ilustrar que as circunstâncias da relação estavam em seu êxtase profundo, onde ambos não se conectavam como antes. No verso 'tentar te mudar foi errado', o autor nos revela que encontrou impedimentos ao deparar-se com uma pessoa completamente oposta ao que se esperava. A narrativa ainda sugere que ambos eram resilientes em dar o braço a torcer pelo outro em 'você é quem manda', revelando assim, que ambos estavam dispostos à mudar o outro, não a si próprio, porém, o verso segue em 'e para me mudar tô ferrado',  revelando que, ambos possuíam problemas e estavam desconexos em não buscar dentro de si motivos que causaram a ruptura no racionamento e a vontade interna de não se mudar pelo outro por não haver reciprocidade.


eu já não conheço mais ninguém
e quem me conhece já sabe
só quero reconhecer alguém
que me lote do que me cabe


Os versos acima revelam que o autor sente-se desconhecido por si de forma profunda, ao afirmar não conhecer mais ninguém, o autor também revela sua dificuldade em entender os outros e as mudanças existentes nas pessoas, mas segue dizendo 'quem me conhece já sabe', revelando, que, todos o conhecem de forma interna para saber como ele funcionava, mas e a si próprio? 'só quero reconhecer alguém', é uma forma de tentar descobrir em palavras e ações de forma automática o que o outro tem a oferecer fazendo-lhe o parceiro que lhe falta. Mas, ainda assim, o eu lírico do poema revela uma dificuldade constante em esquecer o parceiro, o que significa que o relacionamento foi dotado de uma profundidade conexa e firme, mas também rasa e temporária, revelado nos versos 'e se quiser voltar', deixando as expectativas de uma mudança futura em aberto.

Seguindo a poética, ao autor descreve:


mudança forçada
triângulo das permutas
para trocar de endereço
sem pagar multa
sem pagar muito


O eu lírico do poema expressa sua infelicidade em perceber que a relação tornou-se apenas uma série de permutas, onde ambos só se davam por vencidos em prol de uma mudança no outro, não sendo assim, uma relação de cumplicidade, mas de barganha, tornando o relacionamento monótono e problemático. Ao declarar 'para trocar de endereço', o autor refere-se ao sentimentalismo e a forma como ele enxergava a si próprio, em outras palavras, mudar quem se é para agradar o outro, algo que como ele menciona nos próximos versos sem pagar multa/sem pagar muito é estranhamente complicado.


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