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Como escreve: George Luiz, autor de evolução 2.0

Foto: o autor George Luiz
Hoje temos o prazer de conversar com George Luiz Araújo de Lemos, autor do incrível livro "Evolução 2.0 - o super-homem". Nesta obra, somos apresentados a uma sociedade futurista onde a desigualdade tecnológica é uma realidade e os acessos mais privilegiados têm modificações genéticas para aprimorar a espécie humana. Ao longo da trajetória de Frank, um homem comum em busca de mudanças, somos levados a refletir até que ponto a tecnologia pode realmente melhorar o ser humano.

George Luiz Araújo de Lemos, nascido e criado no Rio de Janeiro, mas atualmente residindo em Pernambuco, traz consigo uma diversidade de experiências e conhecimentos. Com formação em Administração, Bacharel em Sistemas de Informação e atualmente graduando em Filosofia, o autor possui uma rica bagagem que se reflete em suas obras. O livro "Evolução 2.0 - o super-homem" é seu segundo romance, lançado agora em 2021, sucedendo o sucesso de seu primeiro livro, "Os Espelhos''.

Hoje, o autor nos conta um pouco de seu processo criativo.

Foto: Acervo pessoal / reprodução


1. Quando decidiu que se tornaria um escritor?

Na adolescência. Gostava de escrever letras de música, cheguei a montar uma banda para tentar a carreira, mas não deu certo. Meu plano era ser escritor quando me aposentasse da música, porém tive que mudar os planos.

2. Qual foi o seu primeiro livro escrito? Você chegou a concluí-lo? Já abandonou algum projeto de escrita?

"Os espelhos" que conclui e lancei em 2016. Mas o primeiro livro que comecei a escrever, acabei não terminando.Era sobre a terceira guerra mundial, porém acabei desistindo do assunto.  

3. Como você escolhe os temas e o enredo dos seus livros?

Os temas são totalmente aleatórios, não planejo. Já o enredo eu simplesmente começo a imaginar a parte principal da história do protagonista pouco a pouco. Então quando começo a escrever, preencho com detalhes.

4. Você se inspira em algum autor ou obra específica para escrever?

O autor que mais me influencia sem dúvida é Kafka.

5. Existe algum ritual para se escrever um livro? Qual funciona para você?

Não, acho que cada escritor precisa encontrar a sua própria maneira de escrever. Gosto de escrever no máximo umas duas paginas por dia.

6. Quais são seus livros publicados atualmente? Qual foi o mais complexo?

"Os Espelhos" e "Evolução 2.0 - o super-homem". O segundo foi mais difícil, pois tive que pesquisar bastante para poder amarrar vários assuntos.

7. Você utiliza rascunhos, anotações ou esboços para não se perder na escrita?

Sim. Antes de começar a escrever a história, escrevo uma sinopse super sintética do livro e vou me guiando por ela.

8. O que não pode faltar durante seu processo criativo? Como você lida com a ausência de inspiração?

Não tenho nada específico para a criação. Ela é aleatória. As vezes escrevo todos os dias ou posso ficar uma semana sem fazer nada. Acho que a inspiração é a menor parte do trabalho. Ela é como um recheio de um doce saboroso, não está lá na maior parte do tempo, mas tudo gira ao redor dela.

9. O que podemos esperar para os seus próximos livros?
Temas diferentes. Não gosto de ficar escrevendo sobre a mesma coisa.

10. Como você enxerga a vida dos autores no cenário político atual?

Toda época possui temas proibidos e quem dá as cartas sobre isso são os grupos que possuem o poder em certos setores da sociedade. Cada autor de cada época precisa sempre se ater a isso.

11. Que conselho você daria para alguém que quer escrever o primeiro livro?

1-Se for aqui no Brasil, faça por amor. Não há grande retorno financeiro.
2- Escrever é só uma parte do processo. Divulgar a obra é tão importante quanto criá-la.

[RESENHA #984] Destino Varanasi, de Patrícia Ruhman Seggiaro

SINOPSETudo o que acontece tem um sentido? Até que ponto podemos influenciar o nosso destino? Devemos aceitá-lo para atingir certa paz e, talvez, também a felicidade? Nina, brasileira, inicia uma viagem à Índia, desejando esquecer um passado perturbador e retomar o controle de sua vida. Um fotógrafo argentino, Pedro, viaja ao subcontinente para concretizar um projeto junto a Noah, escritor e jornalista israelense. Enquanto Noah anseia curar traumas de guerra, Pedro luta contra seus fantasmas pessoais. Mas a Índia recebe os peregrinos com seus próprios planos. Ao trio de viajantes, se somará Vishnu, indiano que Nina conhece assim que chega a Mumbai e que lhe transmite as tradições de seu país, misteriosamente próximas à sua alma. Cidade após cidade, os viajantes descobrirão um povo de costumes fascinantes. Quando os quatro caminhos confluírem em Varanasi e no Ganges imortal, cada um deles levará uma oferenda para encontrar o sentido de sua própria busca. As palavras de Borges, assim como as de Gandhi e de Buda, encontram em Destino Varanasi um eco longínquo, que a autora nos aproxima sob a forma deste romance cativante, que propõe uma maravilhosa aventura de autoconhecimento.


RESENHA


"Destino Varanasi" é um romance de estreia da escritora e advogada Patricia Ruhman Seggiaro, que narra a história de Nina, Pedro, Noah e Vishnu, quatro personagens cujos caminhos se cruzam na Índia. Cada um deles possui seus objetivos e motivações pessoais para viajar para este país tão fascinante.

A autora utiliza uma rica descrição da Índia desde o início da narrativa, apresentando ao leitor um país repleto de cores, aromas e sabores. Através dessa ambientação detalhada, somos transportados para as cidades caóticas como Déli e Mumbai, os monumentos históricos como Chand Baori e as cavernas de Ajanta e Ellora, e as regiões exóticas do Rajastão. A autora demonstra um profundo conhecimento e apreço pela cultura e religiosidade locais, o que enriquece ainda mais a história.

Ao longo da jornada dos personagens, o leitor acompanha não apenas suas experiências na Índia, mas também uma profunda reflexão sobre a busca por um sentido de vida e a superação de traumas pessoais. A autora explora a ideia de que o destino possui um propósito e busca questionar até que ponto nós podemos influenciar em nosso próprio destino. Através das experiências vividas pelos personagens, Patricia Ruhman Seggiaro provoca uma reflexão sobre a aceitação e a busca pela felicidade em meio às adversidades.

O romance se destaca pela sua narrativa fluida e envolvente, que mescla a história dos personagens principais com a história da Índia e suas tradições milenares. A autora utiliza a viagem como um elo entre os personagens e a cultura indiana, explorando os ensinamentos espirituais e as diferenças culturais que eles encontram ao longo do caminho.

"Destino Varanasi" é um livro que vai muito além de uma simples história de viagem. É uma obra que nos convida a refletir sobre o sentido da vida, a importância da superação e a busca pela felicidade. Com uma narrativa envolvente e uma ambientação rica em detalhes, Patricia Ruhman Seggiaro nos presenteia com uma história única e cativante. Certamente, seu romance de estreia é um grande sucesso e uma leitura imperdível para os apaixonados por literatura e pela cultura indiana.


Sobre a autora

Patricia Ruhman Seggiaro nasceu em 1965 em São Paulo, Brasil, onde passou a sua infância e juventude. Viveu alguns anos em Londres e Nova York, com seu marido, antes de se estabelecer na Argentina, onde reside com seus filhos e seu cachorro nos arredores de Buenos Aires. Advogada, é apaixonada pela literatura, pela história, pela arte, o contato diário com a natureza, a natação e a ioga.

Destino Varanasi é o seu primeiro romance, já publicado na Argentina em espanhol e disponível como Camino a Varanasi.

[RESENHA #983] Pedro vira porco-espinho, de Janaina Tokitaka


ISBN-13: 9788561695590 ISBN-10: 8561695595 Ano: 2017 Páginas: 32 Idioma: Português Editora: Jujuba

SINOPSE: Que tal discutir com as crianças de onde vêm as emoções? Do que se alimenta a raiva? Por que estamos calmos e de repente - pum - não estamos mais? A autora Janaina Tokitaka conta a história de Pedro, um menino comum que vai levando a vida em suas rotinas de criança. Porém, quando uma dessas coisas não acontece como ele espera, Pedro vira porco-espinho. Com uma metáfora sutil e divertida sobre as transformações do humor e as sensações que experimentamos na vida - que muitos pais podem chamar de 'birra' ou 'manha', o livro convida o pequeno leitor a refletir sobre a origem dos sentimentos.


RESENHA


"Pedro Vira Porco-Espinho" é um livro encantador que nos convida a explorar as complexidades das emoções e a maneira como elas nos afetam. Com uma narrativa envolvente e tocante, a autora Janaina Tokitaka nos apresenta Pedro, um menino comum que vivencia as alegrias e as frustrações do dia a dia. No entanto, quando algo não sai como o esperado, algo mágico acontece: Pedro se transforma em um porco-espinho. Essa metáfora sutil e divertida nos instiga a refletir sobre a origem de nossos sentimentos e como eles podem nos transformar rapidamente. Através dessa história cativante, Tokitaka nos convida a conversar com as crianças sobre a importância de compreender e expressar nossas emoções de maneira saudável. Por isso, convido você a embarcar nessa aventura emocional e descobrir junto com Pedro todos os segredos por trás dos nossos sentimentos.

O livro é uma iniciativa do Itau Cultural na ação Leia com uma criança. No site, há diversos livros animados que podem ser baixados ou lidos online para uma criança. As histórias são carregadas de lições de vida e possuem um enredo acessível e claro com uma história curta de poucas páginas, mas bastante práticas na adoção de práticas docentes.

O que são as abordagens didáticas na prática docente?

Foto: FORME

As abordagens didáticas na prática docente são estratégias e métodos utilizados pelos professores para promover a aprendizagem dos alunos. Essas abordagens visam facilitar a assimilação dos conteúdos, estimulando o interesse e a participação ativa dos estudantes. Elas são fundamentais para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o mais dinâmico e eficaz. Neste artigo, discutiremos o conceito e a importância das abordagens didáticas, explorando algumas das principais estratégias utilizadas pelos professores para engajar e motivar os alunos no processo de ensino. Existem diversas abordagens didáticas que os professores podem utilizar na sua prática docente, dependendo do contexto e dos objetivos de ensino. Alguns exemplos são:

1. Abordagem tradicional: Nessa abordagem, o professor é o centro do processo de ensino, transmitindo os conteúdos de forma expositiva, com foco na memorização e repetição. É um modelo mais formal e hierárquico, com pouca participação dos alunos.

2. Abordagem construtivista: Nessa abordagem, o aluno é protagonista do seu aprendizado, sendo incentivado a construir o conhecimento a partir das suas próprias experiências e interações com o ambiente e com os outros alunos. O professor atua como mediador, estimulando o pensamento crítico e a reflexão.

3. Abordagem interdisciplinar: Nessa abordagem, os conteúdos são tratados de forma integrada, explorando as conexões entre diferentes disciplinas. O objetivo é proporcionar aos alunos uma visão mais ampla e contextualizada do conhecimento, estimulando a interdisciplinaridade.

4. Abordagem socioconstrutivista: Nessa abordagem, valoriza-se a interação entre os alunos e a construção coletiva do conhecimento. O professor cria situações de aprendizagem colaborativas, estimulando a troca de ideias, debates e trabalhos em grupo.

5. Abordagem lúdica: Nessa abordagem, são utilizados jogos, brincadeiras e atividades lúdicas como estratégias de ensino. O objetivo é tornar o aprendizado mais motivador e prazeroso, favorecendo a participação e o engajamento dos alunos.

Essas são apenas algumas das abordagens didáticas existentes e os professores podem combinar diferentes abordagens de acordo com as características da turma e dos objetivos de ensino. O importante é encontrar maneiras de tornar o processo de ensino e aprendizagem mais significativo e estimulante para os alunos.

Didática

A didática em sala de aula refere-se às estratégias e abordagens utilizadas pelos professores para facilitar a aprendizagem dos alunos. Ela envolve a seleção e organização de conteúdos, métodos de ensino, uso de recursos didáticos, interação entre professor e alunos, entre outros aspectos.

Existem várias abordagens didáticas que são comumente usadas pelos professores. Algumas das mais frequentes são:

1. Aula expositiva: é uma das formas mais tradicionais de ensino, na qual o professor apresenta oralmente conteúdos para os alunos. Nesse formato, o professor é o centro do ensino, transmitindo informações de forma direta.

2. Aula dialogada: nessa abordagem, o professor estimula a participação dos alunos em um diálogo conjunto. Os alunos são envolvidos na discussão do conteúdo, fazendo perguntas, expondo ideias e contribuindo para a construção do conhecimento.

3. Aprendizagem baseada em problemas: nesse método, os alunos são expostos a situações-problema que requerem a aplicação do conhecimento. Eles são incentivados a trabalhar em equipe para buscar soluções, o que promove a autonomia e a construção do conhecimento.

4. Aprendizagem cooperativa: essa abordagem enfatiza o trabalho em grupo como forma de aprender. Os alunos são divididos em equipes e trabalham juntos para atingir objetivos comuns. Isso estimula a cooperação, a troca de ideias e o desenvolvimento de habilidades sociais.

5. Ensino por projetos: nessa estratégia, os alunos desenvolvem projetos que envolvem a aplicação prática do conhecimento adquirido. Esses projetos podem abordar temas diversos e permitem que os alunos trabalhem de forma investigativa, promovendo a aprendizagem significativa.

6. Tecnologia na educação: o uso de recursos tecnológicos, como computadores, tablets e softwares educativos, tem se tornado cada vez mais comum nas salas de aula. Essa abordagem permite que os alunos tenham acesso a diferentes recursos de aprendizagem, estimulando a interação e a descoberta.

É importante ressaltar que a escolha da abordagem didática deve considerar não apenas o conteúdo a ser ensinado, mas também as características dos alunos e o contexto em que a aprendizagem ocorre. Cada abordagem possui vantagens e desvantagens, e cabe ao professor selecionar aquela mais adequada para o objetivo de ensino proposto.

As abordagens pedagógicas 

As abordagens pedagógicas tradicionalista, comportamental, humanista, cognitivista, histórico-crítica, libertadora e libertária são diferentes maneiras de entender e aplicar a educação, cada uma com suas perspectivas e ênfases em relação ao processo de ensino-aprendizagem.

A abordagem pedagógica tradicionalista é baseada na transmissão de conhecimento de forma autoritária e unidirecional, em que o professor é o detentor do conhecimento e o aluno é visto apenas como receptor passivo. Há uma ênfase na memorização e repetição de informações, e pouca valorização da participação ativa dos estudantes.

A abordagem comportamental, também conhecida como behaviorismo, considera o comportamento observável como o foco principal da educação. Baseia-se no estímulo-resposta, em que o professor apresenta estímulos, como instruções e experiências de aprendizagem, e os alunos respondem a esses estímulos por meio de comportamentos desejados. O objetivo é moldar comportamentos por meio de recompensas e punições.

A abordagem humanista coloca o ser humano no centro do processo educativo, valorizando suas emoções, experiências e interesses. Acredita-se que o aluno deve ser protagonista de sua própria aprendizagem, tendo liberdade para explorar e expressar suas ideias. O professor é visto como um facilitador, oferecendo apoio e incentivando o desenvolvimento integral do aluno.

A abordagem cognitivista concentra-se nos processos mentais envolvidos na aprendizagem, como a percepção, memória, pensamento e resolução de problemas. Essa abordagem busca compreender como o aluno processa e interpreta as informações, dando ênfase ao desenvolvimento de habilidades cognitivas complexas, como análise, síntese e avaliação.

A abordagem histórico-crítica baseia-se na análise social, política e econômica das relações de poder presentes na educação. Ela busca conscientizar os alunos sobre as desigualdades sociais e injustiças presentes na sociedade, incentivando a reflexão crítica e a transformação social.

A abordagem libertadora, desenvolvida pelo educador brasileiro Paulo Freire, tem como objetivo principal emancipar os indivíduos por meio da educação. Ela enfatiza a problematização da realidade vivida pelos alunos, incentivando o diálogo e a participação ativa. A intenção é que os estudantes se tornem sujeitos críticos e reflexivos, capazes de agir e transformar a sociedade.

A abordagem libertária defende a liberdade total no processo educativo, em que os alunos têm autonomia para escolher o que e como aprender. Desenvolve-se a partir do princípio de que a educação deve ser voluntária e não hierárquica, permitindo que as crianças e jovens explorem seus interesses individuais e se envolvam em atividades autodirigidas.

Cada abordagem pedagógica possui características e princípios distintos, refletindo diferentes concepções de educação e necessidades específicas dos estudantes. É importante compreender essas abordagens para poder escolher e aplicar estratégias pedagógicas adequadas, visando promover um aprendizado significativo e construtivo.

[RESENHA #982] Norton, de T.R. Sacoman

Norton é um garoto que, como toda criança nascida no início da década de 1980, gosta de jogar bola na rua com os colegas, subir nas árvores da praça e olhar as estrelas, mas que vê sua vida mudar quando, aos sete anos, ouve seu avô chamá-lo de “mariquinhas”.

Entre a descoberta do significado dessa palavra e o entendimento de seus sentimentos, Norton travará uma luta contra quem ele realmente é. Na tentativa de atender às expectativas de sua família, irá magoar a si e aos amigos mais próximos, até descobrir o verdadeiro amor.

Uma história emocionante de descobertas e de busca por identidade numa época em que ser diferente era arriscar a própria existência. Mas o que é a vida senão um grande risco?


RESENHA


Norton é um livro interessante em sua premissa, mas, que, infelizmente, não se destaca muito dos outros livros do mesmo gênero. O autor busca em seu livro com 396 páginas desenvolver a caminhada da história de Norton, desde a descoberta de sua sexualidade até a chama do primeiro amor. Norton mora com seus pais, ele é descrito um garotinho meigo e atencioso, o que acaba provocando em sua mãe pensamentos de que, talvez, seja necessário fazer algo a respeito, uma vez, que, ele precisava ser influenciado por hábitos de homens, dentre outras coisas que estamos habituados à ouvir em relação à descoberta da sexualidade. O comportamento da mãe rente ao filho desperta comentários na família que se torna ainda mais incomodada com o filho pelas diversas conversas que pairam no ar sobre o fato de Norton andar rodeado de garotas e gostar de fofocar, como diz sua mãe. O pai de Norton é o típico pai que não quer acreditar em nada do que estão espalhando, então, desta forma,  ele busca inserir o garoto em seu dia-a-dia para apresentar à ele o universo masculino com mais afinco, como leva-lo para assistir um jogo de futebol em sua companhia, o que faz Norton querer entrar em um time de basquete, uma vez, que, seu pai acha, que, de alguma forma, seria um esporte de homem.


Deixando um pouco de lado a vida de Norton com a família, do outro lado, temos a vida escolar de Norton que é rodeada de preconceito, chacotas e abusos. Norton possui algumas amigas com nomes peculiares: a Rê, a Lu, e a outra Lu, Lu R. A partir deste ponto, o autor trabalha a proximidade entre os personagens e os encontros fomentados pela sexualidade entre Norton e seu primo Caio. Caio é descrito como uma figura masculina respeitada pela mãe de Norton, por sempre estar acompanhado de uma garota diferente. Caio é enrustido, e abusa de Norton em diversos momentos da narrativa. Norton chora em todos os encontros, mas, pasmem, ele acaba gostando (uma narrativa problemática que levanta questões e debates acerca da existência de que, talvez, ele só seja gay por ter sido, em síntese, fruto de abuso).


Norton estava com raiva. E nojo. Caio havia abaixado suas calças, deixando seu pau à mostra. Ereto. Duro. [...]

- Não precisa chorar. É só um beijinho! Além disso, eu disse que faríamos coisas de homem. Homens brincam com outros homens, só não beijam na boca. Eu e seu irmão brincamos sempre.

Caio colocou as mãos dentro das calças de Norton. Palpou-lhe. Lágrimas corriam pelo seu rosto. Caio ria. Parecia estar se divertindo com a situação. Mais do que isso, parecia gostar do que estava fazendo.

- Vamos, faz em mim também. Vamos fazer juntos.

Norton obedeceu. Apesar do medo que sentia de ser pego e do ódio que nutria por Caio, a sensação do toque da mão do primo era agradável. [...] Norton sentiu, pela primeira vez, a sensação do gozo. Era bom.


Após este encontro, a insistência de Caio e de uma de suas amigas, Rê, em ficar com Norton são latentes e nojentas. Ela sabe que ele é gay, mas suas insistência doentia em querer-lhe é algo extremamente estranho, sobretudo, se levarmos em consideração de que eram amigos de longa data. Caio, primo, namorava e insistia freneticamente usando o discurso de amar Norton para possuí-lo novamente. A narrativa segue acrescentando novos personagens, novos garotos, novos romances, e novos relacionamentos que se desfazem por conta de segredos, intrigas e revelações. Caio chega defender Norton de um outro rapaz, Fernando, de uma nova tentativa de abuso, sob a justificativa, claro, de amor.


O autor também realiza a introdução de uma outra figura na narrativa, Hugo. Norton o conhece no time de basquete e eles desenvolvem uma química, que em suma, é interessante, eu diria que é o melhor ponto da narrativa de toda obra. Hugo namora uma moça de nome Lívia. Apesar do bullying sofrido por Hugo, a narrativa ganha forma com a evolução das conversas e da forma como o autor construiu a revelação da sexualidade de Hugo. A obra se finaliza com um final que deixa possibilidades para uma continuação. Espero eu, que, nesta nova obra, o autor trabalhe um relacionamento mais maduro e menos repleto de tantos tabus relacionados ao meio gay. A questão da família de Norton também é muito bem elaborada e toda ausência de apoio da família é apenas um quadro frequente do que a maioria dos gays passam em casa ao se revelarem ou demonstrarem diferentes dos outros garotos.



Ah, e a diagramação da obra está impecável. 
 Adquira o livro no site oficial da editora Flyve: https://flyve.com.br/387/norton

5 livros para você conhecer a Códice Editorial


A Códice Editorial é uma editora nova no mercado que tem se consolidado e ganhado espaço nas redes com a apresentação de seu catálogo, que tem se mostrado promissor e rico em diversidade. Pautada não somente na publicação de livros, mas também na prestação de serviços editoriais, como leitura crítica, publicação, impressão sob demanda, entre outros, a Códice Editorial tem se mostrado cada vez mais abrangente na diversificação do catálogo e dos gêneros publicados. Isso revela que seu catálogo será vasto e extremamente competitivo. Uma editora para acompanhar de perto.

Alguns dos livros publicados pela Códice  Editorial podem vistos abaixo:


Bia quer ser fada


Autor: Josy Souza
Sinopse: “O que você quer ser quando crescer?” Bia tinha a resposta na ponta da língua quando a professora fez a pergunta para toda sala de aula. Era claro para ela: queria ser fada. No entanto, como fazer isso quando todos os colegas riem e insistem que esses seres cheios de encanto não existem? Após ganhar um presente especial, Bia vai descobrir que as fadas têm uma missão muito importante e que a magia pode estar escondida por trás de uma simples atitude. Basta procurar

É que essa pequenez do (nosso) universo sempre me assustou um pouco

Autor: Rafaella Pastore Miotto

Sinopse: "É Que Essa Pequenez do (Nosso) Universo Sempre Me Assustou Um Pouco" é uma jornada poética e introspectiva que mergulha nos mais profundos sentimentos e reflexões sobre o universo, o lugar que ocupamos nele e a sua imensidão (ou a falta dela). Desde o primeiro texto, somos apresentados a uma escritora que se vê refletida nas palavras que ela própria compõe. Ao abordar a solidão e a dor que carrega consigo, a autora revela a sua própria luta interna, compartilhando as dificuldades enfrentadas para superar as mágoas e tristezas. Ela explora a ideia de que cada pessoa é responsável por salvar-se, por encontrar sua própria luz em meio à escuridão, assim como também oferecer uma mão amiga a si mesma. Ao longo do livro, a prosa poética continua a explorar essas questões existenciais, levando os leitores a uma jornada tocante e profunda. Com uma linguagem poética rica em emoções e simbolismos, o livro convida o leitor a refletir sobre a vastidão do universo e nossa conexão com ele, destacando como nossa pequenez nesse cosmos pode ser assustadora, mas ao mesmo tempo, uma fonte inesgotável de maravilhas e descobertas interiores. "É Que Essa Pequenez do (Nosso) Universo Sempre Me Assustou Um Pouco" é uma obra que ressoa com aqueles que buscam uma conexão mais profunda consigo mesmos e com o universo, desvendando as complexidades da alma humana e as reflexões sobre nossa existência no vasto e misterioso cosmos.


Cartilha Ecumênica - Ritual das Exéquias

Autor: Cláudio Jr.
Sinopse: Iniciada em 2019, esta obra inédita carrega orientações para leigos, religiosos e todas as pessoas com interesse ao movimento celebrativo no prisma ecumênico e inter religioso. Esta obra vem para auxiliar nas mais distintas modalidades de ritos em celebrações e bençãos das exéquias em funerais humanos e pets (cremação e sepultamento). Distinta dos demais rituais, esta contempla diversas expressões religiosas, filosofias de vida ou modos de fé, são elas: Cristianismo; Judaísmo; Espiritismo, Matriz africana; maçonaria; agnosticismo; ateísmo; protestantismo; entre outras. A leitura proporcionará uma profunda reflexão, viandantes para as principais esferas religiosas, o leitor é convidado para ler com os olhos do coração o ritual das exéquias, com a certeza de que o Espirito do Senhor é o grande condutor. Assim como vários líderes religiosos, elucidando Jesus como modelo, que mesmo sendo leigo na sua época, revolucionou seu tempo e é a inspiração e farol para o grande desafio da contemporaneidade. Que possamos encontrar em nossos corações, o ardor ecumênico do qual o mundo está tão sedento, irmanados ao amor que nos impulsiona!


O patrulheiro literário

Autor: Vinícius Lima Costa

Sinopse: Todos os escritores permanecem vivos em suas obras para além de sua existência, mas será que eles vão para algum lugar após deixarem o nosso mundo? A cada quatro meses, um navio atraca no porto de Bela Leitura e dele desembarcam as mentes criativas por trás das histórias que permeiam nosso imaginário desde o início dos tempos. Com exceção de uma rusga entre vizinhos, afinal Sir Arthur Conan Doyle e Maurice Leblanc talvez nunca cheguem a uma trégua, e algumas festas que saem do controle no bairro do Terror, a paz aparentemente impera nesse universo fantástico, até que uma ameaça surge disposta a destruir o lugar e toda a preciosa literatura produzida por seus habitantes. Quando várias tentativas de combater o mal que se aproxima se mostram infrutíferas, caberá a Arquimedes, um bibliotecário um pouco nerd, muito fã dos Beatles e dono de uma mente singular, salvar a todos nessa aventura com pitadas de mistério e ficção cientifica.


Rompendo Fronteiras

Autor: Beto Buckmann
Sinopse
ANDRÉ COMTE-SPONVILLE ESCREVEU:..."muitos são filósofos sem serem profissionais da filosofia, e é melhor assim; e alguns são profissionais ou professores de filosofia, sem que por isso sejam filósofos, e azar deles." Nos primeiros citados por Sponville, se enquadra Beto Buckmann, que nesse livro aborda o tema da fronteiras, tanto físicas como intelectuais e filosóficas, que impactam a evolução e desenvolvimento da humanidade, destacando a importância de seguir o intelecto para chegar a conclusões significativas. O ensaio menciona como as fronteiras evoluíram ao longo do tempo, passando das barreiras físicas até a criação de fronteiras mais complexas e abstratas, como a propriedade privada e as divisões sociais. Destacando a importância da educação como uma das principais fronteiras a serem derrubadas para alcançar um mundo melhor, traz um histórico sobre o nascimento e os rumos da educação no mundo e em particular, como ocorreu e ocorre no Brasil, desde a colonização até aos dias atuais. A religião também é mencionada como uma grande fronteira, com suas próprias sub-fronteiras e barreiras. Abordando as várias religiões e suas influências históricas, traz registros históricos sem oferecer soluções, mas incentivando aos leitores a tirarem suas próprias conclusões. A perspectiva cósmica é introduzida como uma maneira de ressaltar a insignificância dass fronteiras terrestres diante da vastidão de cosmos. Numa escrita direta e clara, com uma abordagem filosófica para analisar o conceito de fronteiras em várias dimensões, reconhece o papel das pesquisas e das leituras para embasar o conteúdo do livro.

[RESENHA #981] Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista, de José de Souza Martins


Segundo a Organização Internacional do Trabalho, hoje ainda há 27,6 milhões de trabalhadores, no mundo inteiro, sob diferentes formas de escravidão. Destes, quase quatro milhões estão nas Américas. Neste livro, o autor se propõe a desvendar e explicar essa anomalia social e moral no contexto brasileiro, com base na informação empírica já abundante sobre o tema da continuidade disfarçada da escravidão no período pós-escravista.


RESENHA

[...] o nome correto do que é o trabalho de quem vive sob a violência da injustiça: escravidão. (in - prólogo, p.8)


A obra Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista é um estudo minucioso do autor José de Souza Martins em relação as diversas faces da escravidão na contemporaneidade. O autor inicia sua análise comparando os trabalhos atuais aos trabalhos exercidos no período da escravidão citando casos de exploração de mão de obra humana em condições análogas à escravidão. 


Ainda agora, em 2023, dois fazendeiros do sul do Pará foram condenados a cinco anos de prisão pela submissão de 85 trabalhadores a trabalho análogo ao de escravidão. A ocorrência é de 2002, mas o crime de escravidão  é imprescritível. (p.10)


A condenação é uma vitória para o Brasil, levando em consideração a condição capitalista no Brasil, que, em outras palavras, leva-nos a uma contradição, uma vez que, estes trabalhadores explorados, na maioria das vezes, levados por sua condição e posição social, estudo, desinformação ou segregação, se submetem à trabalhos exaustivos pela sobrevivência. Este fato faz-nos pensar que dentre os diversos casos de exploração de mão de obra de forma desumana é, em síntese, uma ausência de escolha para alguns trabalhadores em nome dos fatores econômicos que movem a sociedade. Desta forma,  podemos elucidar que esta obra não é apenas um estudo da escravidão, mas das engrenagens que tornam o capitalismo uma ferramenta fomentadora da desigualdade, levando-nos a entender como o capital se organiza nas áreas econômicas da quase ausência total de intervenção dos governos.


[...] trata-se de um estudo sobre o modo como o capital se organiza, empreendimentos econômicos em áreas de condições sociais, econômicas e ambientais de quase ausência do Estado, em face das quais não tem sido incomum o recrutamento de trabalhadores, já antemão previsto, mas não relevado, que trabalharão como escravos. (p12)


Ao falarmos de escravidão atual - ou contemporânea -, estamos falando claramente de uma problemática social inserida no seio das contradições em nome de um capitalismo parasitário, claudicante, problemático que atravessa, acima de tudo, os interesses econômicos acima da racionalidade, de forma que, a sociedade, em maior parte, acabe por ser condenada pela ausência de apoio, estudo ou força maior que pare o parasitarismo do capitalismo no campo social na exploração desregrada de trabalhadores. Desta forma, podemos entender que a escravidão se recria sob as tensões da transformação social e ao mesmo tempo não se recria apenas. (p.19).


Para tal, o autor analisa a obra capital,  de Karl Marx, situando de forma clara o desafio interpretativo das análises de Marx sobre os lugares e os processos e determinações da totalidade. 


Marx se defrontou com a mesma incerteza no trato da questão da renda da terra e sua importância no desenvolvimento do capitalismo na Rússia e que o desfecho teria para configurar um possível histórico de tipo socialista [...] No Brasil, também temos um período de incerteza quanto ao tipo de capitalismo que aqui se desenvolveria a partir da crise da escravidão no século XIX. Boa parte dela na mesma época das análises de Marx. (p.25)


Só no regime militar e em decorrência do golpe de Estado em 1964 a questão agrária brasileira ficará definida com a reforma constitucional que deu viabilidade legal a função social da propriedade prevista na Constituição de 1946, com o Estatuto da Terra e com a política de incentivos fiscais à ocupação econômica de um território de cerca de mais da metade do país que foi definido como Amazônia Legal. Desta forma, durante a expansão do capitalismo brasileiro, os trabalhadores escravizados detinham dois cumprimentos frequentes para ampliação do capital: a mão de obra barateada e a função de criador de capital constante com a exploração da mão de obra no processo de barateamento dos meios de produção, criando assim, uma paralisação dos valores criados durante o trabalho para agregação na terra ao qual se era - ou é - investido.


 se o capitalismo fora uma possibilidade contida na escravidão, no capitalismo pós-escravista o não capitalismo de relações retrógradas era e é uma necessidade histórica do próprio capitalismo, o outro lado do processo do capital (p.33). Em outras palavras, o capitalismo já estava presente, de algum modo, no sistema de escravidão. Isso significa que, mesmo na estrutura de propriedade de escravos, havia algum aspecto de acumulação de capital, embora baseado na exploração de trabalho escravo.


No entanto, após o fim da escravidão, surgiu a necessidade histórica de relações não capitalistas como uma resposta ao próprio capitalismo. Isso significa que, para se manter e se perpetuar, o capitalismo precisava de outros mecanismos econômicos que não dependessem exclusivamente das relações capitalistas, que seriam retrógradas. Essas outras formas de relações econômicas podem incluir o trabalho assalariado, economias informais ou outros tipos de relações que não se baseiam unicamente na propriedade privada e na busca de lucro. Sugerindo que essas relações não capitalistas são uma parte essencial do processo capitalista, funcionando como um contraponto necessário para a sua continuidade.

O autor ainda cita um exemplo claro dessa relação não capitalista: No Brasil decorrente da abolição da escravatura, em particular na economia do café, era o caso da autorização do cultivo próprio de alimentos pelo colono, nas leiras do cafezal, pagando-o ele, assim, com renda em trabalho no trato do café em vez de receber pagamento pelo trabalho nelas realizado simultaneamente ao trato dos cafeeiros. (p.34).

A escravidão contemporânea não é um detalhe de um segmento do capitalismo, que possa ser estudado à parte como se fosse um todo como legalidade própria. Na verdade, trata-se de mediação constitutiva da totalidade do processo do capital. Escravidão contemporânea e capitalismo se determinam reciprocamente. (p.41).

A partir destes pressupostos, o autor trabalha o sujeito sociológico; o problema decorrente da problemática na sociologia; o desenvolvimento desigual do trabalho livre; trabalho cativo e as contradições dos cativeiros na história social.


O AUTOR 
José de Souza Martins é sociólogo. Professor Titular aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, da qual se tornou Professor Emérito em 2008. Foi professor visitante da Universidade da Flórida (EUA) e da Universidade de Lisboa, havendo sido eleito professor da Cátedra Simón Bolívar da Universidade de Cambridge e fellow de Trinity Hall (1993-1994). Em 2015, foi eleito para a Cadeira nº 22 da Academia Paulista de Letras. Autor de mais de duas dezenas de obras, publicou, pela Editora Unesp, o livro de crônicas O coração da Pauliceia ainda bate (2017, em coedição com a Imprensa Oficial), que em 2018 recebeu menção honrosa no Prêmio Abeu e foi finalista do Jabuti. É autor também de Sociologia do desconhecimento (2021), 2º colocado na categoria Ciências Sociais do Prêmio Abeu 2022, e As duas mortes de Francisca Júlia (2022).

[RESENHA #980] Leveza do efêmero, de Raquel Lopes

À medida que nos deliciamos com a leveza do tempo, podemos contemplar a beleza da vida. Pela janela, assistimos ao mundo em constante movimento, com as suas cores e formas únicas. Os raios de luz que se infiltram pelas frestas nos lembram que, mesmo nas situações mais difíceis, sempre há um vislumbre de esperança. E a vela bruxuleante simboliza a esperança que nunca deve se extinguir dentro de nós. Como uma linda flor que desabrocha na primavera, devemos nutrir essa esperança em nossos corações e deixá-la florescer para iluminar nosso caminho. Na leveza do tempo, aprendemos que a vida é um dom precioso, e devemos aproveitar cada momento e vivê-lo ao máximo. Poemas que abraçam a beleza da vida e aproveitam ao máximo cada segundo efêmero.


RESENHA

A obra "Leveza do Efêmero" é uma coletânea de poemas que nos convida a refletir sobre a vida em constante movimento. Com uma linguagem poética marcada por figurativos metafóricos, a autora Raquel Lopes nos conduz por uma trilha desafiadora, onde somos impregnados tanto pelo racional quanto pelo emocional. Nesse caminho, somos confrontados com a dureza do tempo, que nos tatuam sem nossa escolha. No entanto, a poeta nos incentiva a não cansar de sonhar em nosso mundo fantástico e a não dar espaço para a dor. Em um momento de incertezas e perdas, a obra nos proporciona uma redescoberta dos valores, nos convidando a trilhar novos caminhos e a entender que, quando unidos, encontramos abrigo mesmo nas nuvens mais escuras. A autora nos mostra que o tempo é livre e voa tranquilo como um passarinho, nos convidando a deixar a lua encher nosso olhar e aprender a amar. Com uma linguagem sensível e musical, Raquel Lopes nos leva em uma jornada poética que não é meramente lúdica, mas sim uma ocupação séria e desafiadora. A autora demonstra ser uma esgrimista diante dos desafios da vida, tratando-os com a necessária seriedade. Os poemas presentes em "Leveza do Efêmero" dispensam qualquer comentário prévio, impondo-se aos olhos e coração dos leitores.


O poema "Leveza do efêmero", de nome homônimo à obra, retrata a apreciação da autora pela natureza e a constante transformação que ocorre ao seu redor. Através de imagens vívidas como "botões de rosas" e "pétalas das flores", a poeta exprime sua admiração pelas delicadezas e belezas presentes nas coisas simples da vida. Ela destaca também o prazer que encontra no cheiro das árvores e no vento que refresca, ressaltando a importância de estar conectada com o mundo natural.


A ideia de transformação é um tema presente ao longo do poema. A autora observa que a vida está em constante movimento e que tudo se refaz com o passar do tempo, desde pequenos momentos do dia a dia ("Um dia ou dois sem pressa ou depois") até períodos mais longos ("Um ano a mais / Mil séculos"). Essa noção de eterno recomeço sugere uma visão otimista sobre a vida, evidenciando a crença da autora na possibilidade de renovação e no ciclo contínuo de transformação.


Além disso, o poema menciona as aves migratórias, animais domésticos e selvagens, assim como a presença do veneno e sua ausência, enfatizando a diversidade e complexidade da natureza. Essa variedade de elementos reforça a conexão entre todos os seres vivos e destaca a importância de valorizar e respeitar a biodiversidade.


Através da simplicidade e singeleza da linguagem poética, o poema "Leveza do efêmero" nos convida a refletir sobre a beleza e as transformações presentes na natureza, assim como nos faz lembrar da importância de nos conectarmos com o mundo natural e apreciar as coisas simples da vida.


O poema "Morena Rosa" retrata uma figura feminina, simbolizada pela cor morena, que é exaltada e admirada pelo eu lírico. Através de metáforas e imagens poéticas, o poema transmite uma sensação de encantamento e beleza.


No primeiro verso, "Morena Rosa, de amor e gotas de orvalho", o eu lírico descreve a personagem central como sendo repleta de amor e pureza, representada pelo orvalho. Essa personificação cria uma atmosfera romântica e encantadora em torno da personagem.


O segundo verso, "O dia faz tua música uma lira na verdade e amor", utiliza a imagem da música e da lira para descrever a harmonia e beleza que emanam da personagem. Através dessa metáfora, o eu lírico demonstra como a presença da personagem transforma a realidade em algo poético e harmonioso.


O terceiro verso, "Escrita sobre as águas do destino que cruzou teu caminho", sugere que a personagem tem uma história marcada por encontros e desafios. A expressão "águas do destino" remete à ideia de que as experiências vividas moldam a personalidade da personagem, tornando-a mais interessante e complexa.


Os versos seguintes ressaltam a delicadeza e a bondade presentes no coração da personagem, que são comparadas às pétalas de uma flor. Essa imagem evoca a ideia de fragilidade, mas também de beleza e suavidade.


Em relação à cor da personagem, o eu lírico afirma que a admira, o que sugere que essa cor desempenha um papel especial na atração que a personagem exerce sobre o eu lírico.


O poema também menciona o sorriso contagiante da personagem, que é destacado como algo mágico e encantador. Essa imagem reforça a ideia de que a personagem possui um charme especial e é capaz de influenciar positivamente aqueles ao seu redor.


Por fim, o poema conclui com uma mensagem de otimismo e incentivo, ao sugerir que a personagem não deve permitir que a dor ocupe espaço em sua vida.


Em resumo, o poema "Morena Rosa" retrata uma figura feminina encantadora e admirada, descrevendo sua beleza, bondade e otimismo. Através de imagens poéticas e metáforas, o poema transmite uma atmosfera de encantamento e beleza, destacando as qualidades especiais da personagem central.


O poema "Cantando Calmaria" retrata a visão do sono como um refúgio para os inocentes, aqueles que ainda não foram corrompidos pelo conhecimento do mundo e pelas dificuldades da vida. O autor destaca a ingenuidade das crianças, que apenas desejam sonhar sem carregar os fardos que o mundo impõe. 


O sono é apresentado como uma dádiva, um estado de tranquilidade que oferece alívio das preocupações e responsabilidades cotidianas. É um momento de descoberta da sua utilidade, de renovação das energias e de escapismo. 


Por meio da metáfora das nuvens, o poeta sugere que no sonho não existem pesos ou lembranças dolorosas que assombrem o indivíduo. O tempo no sono é percebido como lento e contínuo, permitindo uma fuga temporária da agitação e das pressões da realidade. 


O poema também traz a presença do vento, que circula em casa do autor, personificando-o como um elemento que também está em um estado de repouso. O vento, assim como o sono, contribui para a criação de um ambiente tranquilo e sereno, cantando uma canção de calmaria. 


No geral, o poema transmite uma ideia de nostalgia e de desejo por um momento de paz e leveza, onde o sono se apresenta como uma fuga temporária dos problemas e uma forma de manter a inocência e a serenidade diante das dificuldades do mundo.


O poema "Início do Fim" é um olhar melancólico sobre a passagem do tempo e o fim de um relacionamento. O eu lírico expressa a sensação de ter perdido o controle sobre o tempo, representado pelo relógio do sol que arde em suas mãos. As horas da pessoa amada voaram rapidamente, sem prazo para contagem, como se tivessem sido levadas por uma tempestade desconhecida.


A partir desse ponto, o poema sugere uma separação entre o eu lírico e a pessoa amada. O tempo se desfez, as horas acabaram, e o eu lírico lamenta não conseguir mais ver os olhos da pessoa amada, nem mesmo a sua sombra que o acompanhava. Essa sombra simboliza a ligação entre eles, o destino que havia sido traçado.


No entanto, o poema termina com uma nota de esperança. O eu lírico afirma que voltarão, talvez por ali, um dia. Essa referencia sugere a possibilidade de um reencontro ou uma reconciliação futura. O termo "chuvoso início do fim" fecha o poema com uma atmosfera melancólica, indicando que o fim do relacionamento está se aproximando ou já começou. A chuva, símbolo de tristeza e renovação, contribui para reforçar o tom nostálgico e depressivo do poema.


No seu conjunto, "Leveza do Efêmero" revela a sensibilidade e a capacidade de Raquel Lopes em abordar temáticas universais através de imagens poéticas e atmosferas marcantes. A escritora consegue transmitir suas emoções e pensamentos de forma precisa, evocando nos leitores sensações de melancolia, esperança, nostalgia e tranquilidade. A obra convida o leitor a refletir sobre a passagem do tempo, os relacionamentos humanos e a busca por momentos de paz, serenidade e leveza em um mundo cada vez mais efêmero.

[RESENHA #979] Mogens, de Jens Peter Jacobsen

No final do século XIX, a Dinamarca viveu um período de intensa efervescência intelectual e literária, sendo que essa época foi marcada por influências significativas. Enquanto George Brandes proferia discursos sobre as principais correntes da literatura do século XIX, Henrik Ibsen questionava de maneira profunda e incisiva a teoria evolucionária e o darwinismo que encontravam eco na Inglaterra, do outro lado do Mar do Norte. Nesse cenário de conflitos e controvérsias entre o velho e o novo, teorias eram defendidas e atacadas com extrema violência. Entretanto, nesse contexto, Jens Peter Jacobsen se destacou como um artista singular, preocupado unicamente em ser um criador de beleza e um buscador da verdade.


As suas obras, repletas de cores vívidas e que jamais desbotam, mostram a paixão de Jacobsen pela forma e estilo, estampando-os suavemente, mas com força e intimidade, assemelhando-se ao toque singular de um violino ao interpretar a leitura da vida. Além disso, Jacobsen é muito mais do que um simples estilista; ele é preciso em sua observação e minucioso nos detalhes, revelando uma compreensão profunda e íntima do coração humano. Os seus personagens são construídos a partir de uma combinação entre experiência e imaginação, revelando como são moldados e modificados por fatores físicos, hereditários e ambientais.


Jacobsen acreditava que todo livro de verdadeiro valor deve incorporar a luta de uma ou mais pessoas contra tudo o que tenta obstruir sua existência única. Esse espírito essencial permeia toda a sua obra, sendo presente em personagens como Mogens. Nascido em 1847, em uma pequena cidade dinamarquesa, Jens Peter Jacobsen já demonstrava talento para a ciência desde jovem, mas acabou optando pela literatura após contrair tuberculose. O restante de sua vida foi vivido de maneira simples e corajosa, sendo marcada por uma devoção apaixonada à literatura e batalhas constantes contra problemas de saúde.

O seu método de trabalho era lento e meticuloso, evitando os círculos literários da capital para ter tempo de realizar a sua obra antes que o tempo lhe fosse tirado. Sob a influência de George Brandes, que o encorajou, Jacobsen publicou diversos romances. Embora de pequena quantidade, a sua contribuição para a literatura escandinava foi monumental, já que ele criou um novo método de abordagem literária e uma nova forma artística que influenciou diversos escritores desde então.


Mogens é uma obra de contos escrita pelo autor dinamarquês Jens Peter Jacobson, a obra marca a passagem do romantismo para o naturalismo. A escrita é marcada pela presença da descrição rica e detalhada do espaço ao qual o enredo se desenvolve, tendo suas descrições do tempo e do espaço em quase toda a obra ao qual os acontecimentos se discorrem. A princípio, a obra narra a vida de um homem, de nome Mogens, que está apreciando a natureza e a chuva, ele molha-se, canta e dança despretensiosamente enquanto é observado por uma pequena garotinha em um arbusto próximo, ele então observa seu cachecol preso e decide vê-la mais de perto enquanto seu rosto e corpo estão molhados pela água da chuva que cai. Ela assusta-se e corre desesperadamente entre a floresta e desaparece, ele, após percorrer um longo trajeto em busca da garota, decide adiar sua busca e cai na gargalhada rindo de todo acontecimento, que, em primeira análise, causa estranhamento no leitor não somente pela reação do homem, mas por sua implacável decisão de busca pela garota em meio à floresta. 


Fazia um calor sufocante, o ar tremulava e tudo ao redor guardava silêncio; as folhas dormitavam nas árvores, e nada se mexia além das joaninhas nas urtigas e das folhas murchas que se espalhavam pela grama [...] (p.6)


Tudo cintilava, luzia e chapinhava. Troncos, galhos, tudo brilhava de umidade, cada pequena gosta que caía na terra, na grama, na escada junto à cerca, no que quer que fosse, dividia-se e espalhava-se em mil pérolas delicadas [...] (p.7)


A história segue narrando o encontro do Magistrado do Cabo de Trafalgar e sua filha com Mogens. Ao caminharem até a porta da casa do guarda da floresta, Nikolai, a menina assustou-se pois viu nele o reconheceu nele o homem que cantarolava na floresta. Eles então decidem sair para velejar em seu barco, trocando breves conversas com a filha do magistrado.


“Mas poesia? Oehlenschlager, Schiller e os outros?”
“Oh, claro que os conheço; tínhamos uma estante cheia deles em casa, e a Srta. Holm —  — lia-os em voz alta depois do almoço e à noite; mas não posso dizer que me importei com eles; Eu não gosto de versos.
“Não gosta de versos? Você disse que sim, sua mãe não está mais viva?
“Não, meu pai também não.”
Ele disse isso com um tom um tanto taciturno e hostil, e a conversa foi interrompida por um momento e tornou possível ouvir claramente os muitos pequenos sons criados pelo movimento do barco na água. A garota quebrou o silêncio:
“Você gosta de pinturas?”


O conto segue entre os discursos proferidos por Kamilla e Mogens que se mostra cada vez menos interessado nos tópicos, pois suas vontades e desejos eram o oposto dos quais a Kamilla poderia prever, até mesmo seu gosto pela matéria e pela natureza era um ponto distinto em sua consciência. A obra também narra um relacionamento marcado por poucas palavras, mas com uma admiração latente que se forma entre os dois. Com o tempo, o relacionamento de ambos amadurece em admiração, fazendo-o criar coragem e pedi-la em namoro:

[...] Eu quero perguntar uma coisa à senhorita, mas antes prometa que não vai rir de mim [...] Aqui está a mesa e lá está a cerca. Se a senhorita não quiser ser minha noiva, eu vou sair correndo, pular com o cesto por cima da cerca e desaparecer. Um. (p. 26)

Kamilla continua - Dois. A expressão do rapaz é de pura palidez - eu quero, ela diz. A partir deste ponto a história se debruça sobre a relação de ambos, um acontecimento que remete ao luto e ao inesperado, ao encontro de uma jovem moça chamada Laura, ao destino e desatino entre o caminho de Mogens e uma moça de nome Tora.

Como o próprio período da obra propõe como estética e influência, a obra de Jacobsen é profundamente focada em eventos traumáticos - a criação longe do pai, a morte da mãe, a perda do primeiro amor, os momentos de fraqueza e reflexões dolorosas - como imaginar a morte de uma amante mesmo com ela viva - até mesmo seus devaneios e cânticos em meio ao nada na natureza. As descrições da natureza e dos arredores ocupam grande parte da narrativa, o que pode ser, para alguns, cansativo, mas para os apreciadores da boa arte de escrever e viver um clássico, esta característica é a primazia da felicidade do leitor, que permite que sintamos e nos conectemos de forma mais íntima com o autor e com sua vida.


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