Resenha: O filho do pescador, de Texeira & Sousa


APRESENTAÇÃO

Esta edição de O filho do pescador, cuidadosamente preparada pela Sophia, tem o objetivo de fornecer aos leitores ferramentas para que apreendam detalhes preciosos do romance de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa. Estão contextualizados, por exemplo, termos em latim, referências à mitologia grega, logradouros do Rio de Janeiro antigo e palavras comuns ao português falado no Brasil durante o século XIX. O filho do pescador foi publicado em 1843. É apontado por estudiosos como o primeiro romance brasileiro. Com a reedição desta obra, a Sophia – cabo-friense, assim como o autor – pretende colaborar com a difusão da obra de Teixeira e Sousa, cujo protagonismo merece ser amplamente reconhecido. Esta edição exclusiva tem 596 notas de rodapé elaboradas por Gustavo Rocha, doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ). Teixeira e Sousa deixou uma vasta produção literária, conforme nos conta Hebe Cristina da Silva no prefácio: romances [O Filho do Pescador (1843), As Fatalidades de Dois Jovens (1846), Tardes de um Pintor ou As Intrigas de um Jesuíta (1847), Gonzaga ou A Conjuração de Tiradentes (1848 — 1851), Maria ou A Menina Roubada (1852 — 1853), A Providência (1854)], poesias [Cânticos Líricos (1841 — 1842), Os Três Dias de um Noivado (1844), A Independência do Brasil (1847 — 1855)], peças teatrais [Cornélia (1844), O Cavaleiro Teutônico ou A Freira de Marienburg (1855)], traduções [Lucrécia, de M. Ponsard (tragédia — 1845), Mazepa, de Lord Byron (novela — 1853)] e obras diversas [Os Coros do Concerto-Monstro (letras de canções — 1845), As Mensageiras de Amor (letras de modinhas — 1851), A Sorte (“livro de divertimento” — 1851)]. Teixeira e Sousa nasceu em 1812 e morreu em 1861, aos 49 anos, vítima de uma hepato-enterite. Seu legado está imortalizado em obras como O filho do pescador, capítulo dos mais importantes da história do romance nacional.

RESENHA

O filho do pescador, obra proeminente do escritor brasileiro Texeira & Sousa, frequentemente considerada, por estudiosos como José Veríssimo e Ronald de Carvalho, o primeiro romance escrito no Brasil, em 1843. A obra, agora recebe uma edição revista e ampliada através da Sophia Editora.

A editora Sophia lançou uma edição revisada de "O filho do pescador" com o objetivo de oferecer aos leitores uma compreensão mais rica dos aspectos deste romance de Teixeira e Sousa. Nesta versão, há explicações de termos em latim, referências à mitologia grega, locais históricos do antigo Rio de Janeiro e vocabulário do português do século XIX no Brasil. Publicado originalmente em 1843, esse romance é considerado por estudiosos como o primeiro romance brasileiro. Sophia, oriunda da mesma região de Cabo Frio que o autor, quer promover a obra de Teixeira e Sousa, um autor que merece mais destaque. Esta edição conta com 596 notas de rodapé feitas por Gustavo Rocha, doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O Filho do Pescador nos envolve de imediato em um cenário primaveril hipnotizante, onde o alvorecer molda a baía de Niterói e a praia de Copacabana com uma beleza de tirar o fôlego. Essa paisagem quase mágica serve de pano de fundo para uma jovem mulher, vestida de luto, que parece encontrar um momento de paz e reflexão em meio à natureza exuberante. A cena é interrompida pela chegada de um jovem, cuja declaração de amor sincero ignora as barreiras financeiras e sociais que poderiam separá-los.

O filho do pescador é uma obra emocionante que narra os percalços e mistérios envolvendo o casamento entre Laura e Augusto, filho do pescador, indicado por um naufrágio, em Copacabana. Laura, que aos treze anos foi raptada por Sérgio, é deixada posteriormente por ele, que leva seu filho consigo. Ela então tenta refazer sua vida ao lado de um novo amante, até que um naufrágio à costa do Rio de Janeiro muda tudo. Seu amante morre na tragédia, enquanto ela é resgatada por Augusto, desencadeando uma nova e intensa fase de sua vida. Os dois se casam, mas o destino parece ter outros planos.


Após o casamento, Laura revela sua leviandade, tendo se casado por interesse. Ela se sente atraída por Florindo, um cantor e amigo de Augusto, e é persuadida a livrar-se do marido. Laura chega a provocar um incêndio, mas seu plano falha graças ao escravo João, que salva Augusto. Em seguida, uma tentativa de envenenamento consegue afastá-lo. Laura também se envolve com outros homens; quando Florindo a abandona, ela incita seu novo amante, Marcos, a matá-lo. Contudo, há alguém que testemunha discretamente todos seus crimes, movido por intenções desconhecidas. Laura encontra um novo amor em Emiliano, um jovem caçador que desperta nela sentimentos nunca antes experimentados. Apesar deste amor ser correspondido e revestido de pureza e honestidade, o Dr. Sinval, padrinho e pai adotivo de Emiliano, guarda um segredo que torna impossível essa união.

A obra de Texeira & Souza ganha novos contornos com a introdução de uma figura de sabedoria e experiência: o pai do jovem, um velho pescador que viveu uma vida honrada. Este contraste entre o impulsivo amor juvenil e a pragmática prudência da velhice enriquece a narrativa, criando um diálogo pungente entre gerações. O pai, com sua vasta sabedoria de vida, tenta dissuadir o filho de um casamento que julga baseado em paixões efêmeras. Ele oferece argumentos robustos sobre a natureza ilusória do amor juvenil e as responsabilidades inevitáveis do matrimônio, que poderiam transformar o encanto inicial em amargura.

No entanto, a determinação do jovem em seguir seu coração realça a profundidade de sua paixão e determinação. Sua resistência às ponderações do pai não é apenas um ato de rebeldia, mas sim uma declaração de que seus sentimentos são genuínos e duradouros. Este embate emocional culmina quando o pai, apesar de todas as reservas, concede a permissão para o casamento, pedindo apenas que o filho se lembre dos conselhos paternos caso a realidade futura não corresponda às expectativas.

Texeira & Souza mescla com maestria os temas da paixão contra a razão, da juventude versus a experiência, criando uma narrativa que, apesar de seu pano de fundo antigo, ressoa com dilemas completamente contemporâneos. A luta entre seguir o coração ou a razão é atemporal e, através de personagens bem delineados e diálogos comoventes, o texto explora essas tensões de maneira profundamente humana e universal. Esta abordagem sensível e honesta faz deste capítulo uma peça cativante e reflexiva na literatura.

A reedição de "O Filho do Pescador" pela Sophia Editora é uma verdadeira celebração da literatura brasileira, trazendo à tona a genialidade de Texeira e Sousa com uma clareza nunca antes vista. Ao incluir 596 notas de rodapé elaboradas por Gustavo Rocha, esta edição se dedica a contextualizar o leitor moderno, oferecendo insights preciosos sobre os termos em latim, mitologia grega e os locais históricos do antigo Rio de Janeiro. Essa abordagem enriquece a compreensão da obra, proporcionando uma imersão mais profunda no universo do século XIX no Brasil.

A narrativa de "O Filho do Pescador" é simplesmente envolvente desde o seu início. A descrição da paisagem, que nos transporta para um cenário hipnotizante da baía de Niterói e da praia de Copacabana, toca as fibras mais sensíveis da imaginação. É neste ambiente quase místico que conhecemos Laura e Augusto, figuras centrais de uma trama marcada por percalços e mistérios. O romance fictício entre os dois, iniciado após o resgate de Laura por Augusto durante um naufrágio, é o fio condutor que nos guia por uma teia de intrigas emocionais, traições e revelações surpreendentes.

Laura é um personagem de muitas camadas, revelando-se uma mulher complexa cujo comportamento oscila entre a leviandade e a busca por sentimentos verdadeiros. Seu relacionamento conturbado com Augusto, agravado por suas paixões por outros homens como Florindo e Marcos, adiciona uma intensidade dramática à trama. A leitura dessas passagens é permeada por um suspense que instiga o leitor a seguir adiante, ansioso por descobrir as próximas reviravoltas.

Texeira e Sousa mostra um domínio impressionante ao contrapor a juventude e a experiência, exemplificado pelo relacionamento de Augusto com seu pai, o velho pescador. A sabedoria pragmática do pai frente ao amor impetuoso do filho tece um diálogo rico em nuance e profundidade, refletindo dilemas perpetuamente atuais. Essa discussão intergeracional não apenas enriquece a narrativa, mas também a torna intemporal, proporcionando reflexões que perduram muito além da leitura.

A luta entre seguir o coração ou ceder à razão é uma tensão universal que Texeira e Sousa aborda com grande sensibilidade. Seus personagens e diálogos são construídos de maneira a humanizar essas escolhas, tornando-as palpáveis e emocionalmente ressonantes para o leitor contemporâneo. A edição da Sophia Editora, ao contextualizar e explicar os elementos históricos e linguísticos da obra, torna essa leitura ainda mais acessível e relevante.

Em suma, "O Filho do Pescador" ganha uma nova vida através desta edição revista e ampliada, permitindo que um número maior de leitores descubra a riqueza e a sofisticação deste clássico da literatura brasileira. As notas de rodapé e as explicações adicionais transformam a experiência de leitura em uma jornada enriquecedora, iluminando aspectos que antes poderiam passar despercebidos. Com isso, a Sophia Editora e Gustavo Rocha realizam uma contribuição inestimável para a preservação e valorização do legado de Texeira e Sousa.

10 Razões Para Ler "Forte como a Morte", de Otto Leopoldo Winck


1. Narrativa Complexa e Envolvente: "Forte como a Morte" é um romance que tece de forma magistral três histórias distintas, criando uma trama fascinante que prende a atenção do leitor.

2. Riqueza de Referências: A obra está repleta de referências teológicas, filosóficas e literárias, oferecendo uma experiência intelectualmente estimulante para o leitor.

3. Abordagem da Teologia da Libertação: O romance explora com profundidade os temas da teologia da libertação, trazendo à tona questões de justiça social e opção preferencial pelos pobres.

4. Diálogo com a Mística Cristã: Winck mergulha nas noções de sofrimento, sacrifício e transcendência presentes na tradição mística cristã, conferindo à narrativa uma dimensão espiritual.

5. Questionamento da Fé e da Razão: A obra convida o leitor a refletir sobre a relação entre fé, razão e mistério, explorando as limitações da linguagem e do conhecimento racional.

6. Influências Filosóficas: O romance dialoga com o pensamento de filósofos como Wittgenstein e Kierkegaard, trazendo à tona questões fundamentais sobre a condição humana.

7. Estrutura Não Linear: A organização não linear da narrativa, com suas intercalações e justaposições, cria uma experiência de leitura desafiadora e enriquecedora.

8. Riqueza Linguística: A escrita de Winck é marcada por um cuidado estilístico e uma riqueza lexical que convidam o leitor a uma imersão na língua portuguesa.

9. Temas Universais: Apesar de suas referências eruditas, a obra aborda questões fundamentais da existência humana, como a busca de sentido, o sofrimento e a solidão.

10. Convite à Reflexão: "Forte como a Morte" é um romance que não se limita a entreter, mas desafia o leitor a mergulhar em uma jornada de reflexão e interpretação, estimulando o pensamento crítico.

Não deixe de explorar essa obra excepcional de Otto Leopoldo Winck, que une profundidade intelectual e sensibilidade narrativa em uma experiência de leitura inesquecível.

10 motivos para ler "Althusser e o materialismo aleatório"

1. Compreender a última fase do pensamento de Louis Althusser

O livro "Althusser e o materialismo aleatório" se debruça sobre a última fase da obra deste influente filósofo marxista, explorando os desdobramentos de suas reflexões sobre encontro, forma e materialismo aleatório na década de 1980. Entender essa etapa final do pensamento althusseriano é fundamental para acompanhar a evolução de suas ideias e sua contínua relevância para o debate marxista contemporâneo.


2. Analisar a relação entre encontro e forma na política e no direito

Um dos eixos centrais da obra é a investigação da relação entre encontro e forma, que perpassa a produção de Althusser e atinge seu ápice em textos como "A corrente subterrânea do materialismo do encontro". Os autores demonstram como essa temática ilumina questões cruciais da política e do direito, revelando a importância da forma jurídica para a compreensão da sociabilidade capitalista.


3. Compreender a crítica althusseriana à noção de gênese

Ao explorar os conceitos de encontro, conjunção e ausência determinada introduzidos por Althusser, a obra evidencia sua contundente crítica à noção de gênese, que pressupõe uma teleologia e um sujeito unificado da história. Essa problematização revela-se fundamental para pensar as transições entre os modos de produção de maneira não linear.


4. Dialogar com o debate da derivação do Estado e do marxismo jurídico

As análises desenvolvidas no livro estabelecem um profícuo diálogo com os debates da derivação do Estado, representados por autores como Joachim Hirsch, bem como com a tradição do marxismo jurídico, exemplificada pela obra de Evguiéni Pachukanis. Essa interlocução evidencia a atualidade do pensamento althusseriano para a compreensão crítica das formas políticas e jurídicas.


5. Acompanhar a trajetória interpretativa de Vittorio Morfino

O segundo capítulo do livro apresenta um minucioso exame da própria trajetória interpretativa de Vittorio Morfino sobre o "materialismo aleatório" de Althusser. Essa retrospectiva permite ao leitor acompanhar o desenvolvimento das leituras deste importante comentador, revelando as nuances e tensões presentes nos escritos althusserianos dos anos 1980.


6. Refletir sobre as tendências lucreciana e escatológica nos textos de Althusser

A partir da hipótese interpretativa de Morfino, o livro identifica a presença de duas tendências distintas nos escritos de Althusser na década de 1980: uma de inspiração lucreciana, proveniente dos anos 1960, e outra de caráter escatológico ou messiânico. Essa constatação abre caminho para uma compreensão mais aprofundada da evolução do pensamento althusseriano.


7. Compreender a articulação entre determinação e acaso na constituição das formas sociais

O livro demonstra como Althusser, ao explorar a temática do encontro e do aleatório, consegue pensar a constituição das formas sociais para além de qualquer teleologia ou determinismo. Essa abordagem revela-se fundamental para a análise crítica do capitalismo e de suas contradições.


8. Situar o pensamento de Althusser no contexto do "novo marxismo"

As reflexões apresentadas no livro dialogam diretamente com a distinção proposta por Ingo Elbe entre o "velho" e o "novo" marxismo. Nesse sentido, a obra permite compreender a contribuição de Althusser para a emergência de novas perspectivas teóricas no campo marxista, superando os limites do "marxismo ocidental".


9. Estabelecer conexões entre a obra de Althusser e autores contemporâneos

O livro insere-se em um movimento mais amplo de resgate e atualização do legado althusseriano, estabelecendo diálogos com trabalhos de pesquisadores como Ingo Elbe, Márcio Bilharinho Naves, Celso Naoto Kashiura Júnior e Stefano Pippa. Essa rede de interlocuções evidencia a relevância do pensamento de Althusser para os debates teóricos e políticos contemporâneos.


10. Aprofundar a compreensão do capitalismo e das formas de subjetivação

Ao explorar a articulação entre encontro, forma e direito, a obra de Mascaro e Morfino oferece ferramentas teóricas valiosas para a análise crítica da sociabilidade capitalista e das formas de subjetivação que lhe são inerentes. Trata-se de uma contribuição fundamental para aqueles interessados em compreender os desafios do presente a partir de uma perspectiva marxista.

10 Razões para Ler "Senhor Cão", de Flávio Ilha

1. Narrativa Intrincada 

O romance "Senhor Cão" de Flávio Ilha apresenta uma narrativa complexa e não linear, que desafia o leitor a acompanhar o fluxo de consciência dos personagens. Essa estrutura fragmentada cativa a atenção e convida o leitor a mergulhar na trama.


2. Personagens Memoráveis

A obra é povoada por personagens ricos e multidimensionais, cada um com sua própria história e perspectiva. Desde o protagonista Pedro Flávio Póvoa até as figuras secundárias, como Dona Leda e Eulália, todos ganham vida de forma marcante.


3. Linguagem Poética e Evocativa

A prosa de Flávio Ilha é marcada por uma riqueza de recursos literários, com uma linguagem metafórica e lírica. Essa abordagem estilística cria um ambiente sombrio e introspectivo, que reflete o estado emocional dos personagens.


4. Exploração da Condição Humana

"Senhor Cão" se debruça sobre temas universais da existência, como a solidão, a busca pela identidade e os conflitos familiares. A obra convida o leitor a refletir sobre a complexidade da vida e as consequências de nossas escolhas.


5. Retrato Realista de Dinâmicas Familiares

O romance retrata de forma crua e reveladora as dinâmicas familiares, explorando a fragilidade dos laços afetivos e as consequências devastadoras dos conflitos domésticos. Essa representação é uma forte crítica social presente na obra.


6. Estrutura Fragmentada

A narrativa não linear e a estrutura fragmentada de "Senhor Cão" exigem do leitor uma imersão ativa e atenta. Essa abordagem formal reflete a própria condição existencial dos personagens, em constante busca por respostas.


7. Exploração da Violência e da Culpa

O romance não se furta a abordar temas delicados, como a violência e a culpa. A forma como esses elementos são retratados suscita reflexões profundas sobre a natureza humana.


8. Riqueza de Detalhes e Ambientação

Flávio Ilha constrói um universo ficcional detalhado e convincente, com uma ambientação que evoca os diferentes espaços e épocas retratados na obra. Essa riqueza de detalhes contribui para a imersão do leitor.


9. Relevância Temática Contemporânea

Embora se passe em um contexto temporal específico, as temáticas abordadas em "Senhor Cão" ressoam com questões relevantes da atualidade, como a solidão, a identidade e os conflitos sociais.


10. Experiência de Leitura Envolvente e Inesquecível

Ao final, a leitura de "Senhor Cão" se configura como uma experiência imersiva e transformadora. O leitor sairá da obra com reflexões profundas e uma impressão indelével dos personagens e de suas histórias.

10 Razões para Ler 'Além do Rio dos Sinos', de Menalton Braff


"Além do Rio dos Sinos", o aclamado romance de Menalton Braff, é uma obra que tem conquistado leitores em todo o país. Com uma narrativa profunda,  uma exploração sensível da condição humana, este livro se destaca como uma leitura obrigatória para os amantes da literatura contemporânea. Neste post, vamos compartilhar 10 motivos para você se aventurar nesta jornada literária.

1. Enredo Cativante: O romance nos transporta para o universo de uma família que enfrenta desafios e transformações em um cenário marcado pela adversidade. Acompanhar essa trajetória é uma experiência envolvente e emocionante.

2. Personagens Memoráveis: Braff cria personagens complexos e multidimensionais, que se destacam pela profundidade psicológica. Você se encontrará profundamente conectado a esses indivíduos.

3. Riqueza Temática: A obra aborda temas universais, como a luta pela sobrevivência, as dinâmicas familiares, as questões sociais e políticas. Isso a torna uma leitura profundamente relevante.

4. Construção Narrativa Inovadora: O autor adota uma estrutura narrativa polifônica, alternando perspectivas e transitando entre passado, presente e futuro. Isso enriquece a experiência de leitura.

5. Linguagem Cuidadosa: A prosa de Braff é marcada por uma riqueza expressiva, com metáforas, imagens e ritmos que conferem à narrativa uma dimensão poética.

6. Retrato Social Relevante: O romance retrata as transformações sociais e políticas que atingem o país durante o período em que se desenrola a história, oferecendo uma perspectiva crítica e engajada.

7. Exploração da Condição Humana: Além do enredo e dos personagens, a obra se destaca pela profundidade com que aborda questões existenciais e a complexidade da vida.

8. Imersão Emocional: Ao acompanhar a jornada da família Teixeira, o leitor é convidado a se envolver profundamente, vivenciando suas alegrias, tristezas, conflitos e superações.

9. Relevância Contemporânea: Embora ambientado em um contexto histórico específico, o romance ressoa com questões e desafios que permanecem atuais, tornando-o uma leitura relevante para os dias de hoje.

10. Experiência Literária: Ler "Além do Rio dos Sinos" é uma oportunidade de se envolver em uma experiência literária única, que vai além do entretenimento, provocando reflexões e ampliando nossa compreensão sobre a condição humana.

Fica evidente que "Além do Rio dos Sinos" é uma obra que merece a atenção de todos os amantes da literatura. Mergulhe nesta jornada narrativa e prepare-se para ser surpreendido, emocionado e profundamente tocado pela maestria de Menalton Braff.

10 Razões para Ler "Ossada Perpétua", de Anna Kuzminska


1. Exploração Profunda do Luto e da Perda

"Ossada Perpétua" mergulha de forma visceral no processo de luto, explorando a maneira como a ausência de um ente querido afeta cada membro da família. A narrativa cativa o leitor ao apresentar uma perspectiva íntima e comovente sobre a dor da perda e a busca por significado após a morte.


2. Estrutura Narrativa Inovadora

O livro apresenta uma estrutura não linear e fragmentada, intercalando trechos de prosa poética com fragmentos de diários de quarentena. Essa abordagem não convencional desafia o leitor a construir sua própria compreensão da história, tornando a experiência de leitura ainda mais envolvente.


3. Linguagem Bela e Evocativa

A escrita de Anna Kuzminska é marcada por uma beleza poética e uma riqueza de imagens metafóricas. A prosa lírica e introspectiva transporta o leitor para o universo emocional dos personagens, criando uma experiência sensorial e profunda.


4. Reflexões sobre Isolamento 

O isolamento dos personagens e a dificuldade de se conectar com os outros são temas centrais na obra. Essa exploração do silêncio e da falta de entendimento mútuo ressoa de forma potente, especialmente em um contexto pós-pandêmico.


5. Questionamento das Fronteiras entre Vida e Morte

A crença da mãe de que o pai falecido precisa ser resgatado desafia as noções convencionais sobre a finitude da existência. Essa premissa convida o leitor a refletir sobre a natureza da realidade e a possibilidade de uma conexão transcendental entre os vivos e os mortos.


6. Perspectiva Intimista 

As seções de diários de quarentena oferecem uma visão íntima e confessional da autora, permitindo que o leitor se aproxime de seus pensamentos e sentimentos. Essa abordagem adiciona uma camada de autenticidade e vulnerabilidade à narrativa.


7. Exploração da Identidade 

A obra aborda a jornada de autoconhecimento da narradora, enquanto ela luta para encontrar um significado em meio à perda e ao isolamento. Essa exploração da identidade e da busca por propósito ressoará com muitos leitores.


8. Representação Única da Experiência Familiar

A dinâmica familiar retratada em "Ossada Perpétua" é complexa e autêntica, refletindo as nuances das relações entre irmãos, pais e filhos. A forma como a autora captura essas interações íntimas é profundamente comovente.


9. Relevância Contemporânea

Embora a narrativa não esteja diretamente ligada à pandemia de COVID-19, os temas de isolamento, adaptação e a relação com a morte ressoam de forma poderosa em um contexto pós-pandêmico, tornando a obra particularmente relevante para os leitores de hoje.


10. Experiência de Leitura Transformadora

Ao mergulhar na narrativa de "Ossada Perpétua", o leitor é convidado a refletir sobre suas próprias experiências de luto, conexão e busca de significado. A obra tem o potencial de provocar uma transformação emocional e intelectual, deixando uma marca duradoura.

"Ossada Perpétua" de Anna Kuzminska é uma obra literária extraordinária que transcende os limites do gênero. Com sua estrutura inovadora, linguagem poética e exploração profunda de temas universais, este livro oferece uma experiência de leitura única e memorável. Seja você um leitor apaixonado por ficção ou simplesmente alguém em busca de uma narrativa que desafia e enriquece, "Ossada Perpétua" é uma leitura imperdível.

Resenha: Althusser e o materialismo aleatório, de Alysson Leandro Mascaro


O livro "Althusser e o materialismo aleatório" reúne as contribuições de dois destacados intérpretes do pensamento de Louis Althusser, Alysson Leandro Mascaro e Vittorio Morfino, em um profícuo diálogo sobre a última fase da obra deste influente filósofo marxista. A obra se estrutura em dois capítulos, nos quais os autores exploram diferentes aspectos da temática do encontro e da forma social, central para a compreensão do materialismo althusseriano dos anos 1980.

No primeiro capítulo, intitulado "Encontro e forma: política e direito", Alysson Leandro Mascaro aborda a relação entre encontro e forma, que perpassa a produção de Althusser e alcança seu ápice em textos da década de 1980, como "A corrente subterrânea do materialismo do encontro". O autor argumenta que essa temática, que já se fazia presente nos escritos althusserianos sobre ideologia e reprodução social nas décadas de 1960 e 1970, encontra no campo do direito um terreno fértil para ser explorada. 

Mascaro demonstra que a forma jurídica, derivada da forma mercadoria, revela-se fundamental para a compreensão da articulação entre determinação e acaso na constituição das relações sociais capitalistas. Ao analisar a transição entre os modos de produção, o autor evidencia como o encontro e o aleatório assumem papel decisivo, contrapondo-se a qualquer teleologia ou motor intrínseco da história. Nesse sentido, a forma política estatal e a forma de subjetividade jurídica, embora derivadas da forma mercadoria, guardam particularidades próprias e se relacionam apenas de modo secundário, rompendo com a tradição liberal ou juspositivista que concebe o Estado e o direito como mutuamente constitutivos.

Essa leitura de ascaro dialoga diretamente com os debates da derivação do Estado, cujo expoente mais importante é Joachim Hirsch, bem como com a tradição do marxismo jurídico, representada por Evguiéni Pachukanis. Ao situar a forma jurídica como chave para a compreensão da ideologia e da subjetividade no capitalismo, o autor estabelece um paralelo profícuo entre o horizonte althusseriano e as reflexões de Bernard Edelman e Nicole-Edith Thévenin sobre a materialidade da ideologia jurídica.

Desse modo, Mascaro argumenta que a relação entre encontro e forma pode ser mais bem pensada nos campos econômico e político a partir da perspectiva da forma de subjetividade jurídica. Como esta é derivada da forma mercadoria, que por sua vez determina também uma forma política estatal, a investigação sobre encontro e forma poderá revelar entrecruzamentos e concretudes históricas incontornáveis para a análise da sociabilidade capitalista.

No segundo capítulo, intitulado "Um ou dois materialismos aleatórios?", Vittorio Morfino realiza um minucioso exame da trajetória de sua própria interpretação sobre o "materialismo aleatório" de Althusser, desde a organização da coletânea "Sul materialismo aleatorio" até seus escritos mais recentes. O autor identifica a presença de duas tendências distintas nos textos althusserianos dos anos 1980: uma de inspiração lucreciana, proveniente dos anos 1960, e outra de caráter escatológico ou messiânico, que emerge na segunda metade dessa década.

Morfino demonstra como Althusser introduz, já nos anos 1960, conceitos como encontro, conjunção e ausência determinada, com o objetivo de superar os impasses da teoria da causalidade estrutural e da noção de gênese. Essa reelaboração teórica, articulada com referências a autores como Maquiavel, Espinosa e Darwin, teria prosseguido nos escritos da década seguinte, embora tensionada por uma tendência messiânica que enfatiza o primado do vazio e a transformação das margens em centro.

Ao analisar essa transição, Morfino estabelece um paralelo com a distinção proposta por Ingo Elbe entre o "velho" e o "novo" marxismo. Assim como Althusser representaria, para Elbe, a passagem do "marxismo ocidental" para o "novo marxismo", seus escritos dos anos 1980 evidenciariam uma reelaboração da teoria da causalidade estrutural, com a introdução de novos conceitos que buscam pensar a constituição das formas sociais a partir do encontro e do aleatório.

Nesse sentido, a hipótese interpretativa sugerida por Morfino, que propõe uma periodização mais precisa dos textos althusserianos dos anos 1980, identificando uma predominância da tendência lucreciana em 1982 e da tendência escatológica em 1985-1986, revela-se um interessante ponto de partida para futuras investigações sobre a última fase do pensamento de Althusser.

Ao final, a obra "Althusser e o materialismo aleatório" oferece uma leitura aprofundada e rigorosa sobre a última fase do pensamento de Althusser, destacando sua relevância para a compreensão do capitalismo e da política contemporânea. As análises de Mascaro e Morfino evidenciam a riqueza teórica desses escritos, bem como sua capacidade de iluminar questões centrais do marxismo e do direito.

Nesse sentido, a obra se insere em um movimento mais amplo de resgate e atualização do legado althusseriano, que vem ganhando força nas últimas décadas, com trabalhos como os de Ingo Elbe, Márcio Bilharinho Naves, Celso Naoto Kashiura Júnior e Stefano Pippa. Trata-se de um esforço coletivo de repensar o marxismo a partir das contribuições de Althusser, em diálogo com os desafios teóricos e políticos do presente.

Assim, "Althusser e o materialismo aleatório" se apresenta como uma importante referência para aqueles interessados em compreender as nuances do pensamento de Althusser, bem como sua relevância para a análise crítica da sociabilidade capitalista e das formas de subjetivação que lhe são inerentes. A articulação entre encontro, forma e direito, desenvolvida por Mascaro, e a identificação das tendências lucreciana e escatológica nos escritos dos anos 1980, proposta por Morfino, constituem aportes significativos para o aprofundamento dos estudos sobre a última fase da obra deste influente filósofo marxista.

Resenha: Castelo: a marcha para a ditadura, de Lira Neto

APRESENTAÇÃO

Primeiro presidente da ditadura instaurada em 1964, Humberto de Alencar Castello Branco é um personagem-chave da história do Brasil contemporâneo. Seu curto mandato ainda hoje enseja reavaliações e revisionismos. Exercendo com habilidade e discrição o poder quase absoluto, Castello lançou as bases do regime de força que atormentou o país durante duas décadas. Ora visto como monstruoso e implacável, ora como tolerante e sensato, o estrategista do golpe civil-militar continua a levantar polêmicas, mas, contraditoriamente, sua trajetória tem sido pouco estudada. Em sua primeira grande biografia, agora em nova edição, Lira Neto apresenta uma visão abrangente e equilibrada sobre o homem, o militar e o político, munido da mais completa documentação já reunida sobre Castello. O autor da aclamada trilogia Getúlio investiga em profundidade a vida e as lutas do general franzino que, sem disparar um tiro, derrotou inimigos e aliados na guerra sem quartel pelo poder máximo da República.

RESENHA

"Castelo: a marcha para a ditadura", de Lira Neto, é uma biografia detalhada do general Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro presidente do regime militar que governou o Brasil a partir de 1964. A obra traça um retrato minucioso da trajetória de Castello Branco, desde sua infância no Nordeste até sua ascensão ao poder durante o golpe de 1964. O livro se destaca por sua riqueza documental e por revelar os bastidores da conspiração que levou à derrubada do governo democrático de João Goulart.

O primeiro capítulo da obra narra a infância e juventude de Castello Branco, destacando sua origem humilde e a influência de sua família marcada pela tradição militar. Nascido no Ceará em 1897, o jovem Castello enfrentou dificuldades desde cedo, sendo alvo de chacota devido à sua aparência física pouco atraente. No entanto, ele se destacou por sua dedicação aos estudos, especialmente após ingressar no Colégio Militar de Porto Alegre, onde desenvolveu uma personalidade reservada e disciplinada.

O livro descreve a ascensão de Castello Branco na carreira militar, sua participação na Escola Militar de Realengo e seu desempenho durante a Segunda Guerra Mundial, quando integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Nesse período, Castello Branco se consolidou como um oficial rigoroso e legalista, distanciando-se dos movimentos tenentistas que agitavam os quartéis nas décadas de 1920 e 1930.

O ponto alto da narrativa é a descrição detalhada da conspiração que levou ao golpe de 1964 e à ascensão de Castello Branco à presidência da República. O autor revela os bastidores dessa articulação, destacando o papel de Castello Branco como um dos principais articuladores do movimento, apesar de sua imagem pública de militar legalista. A obra também analisa a atuação de outros personagens-chave, como os generais Góis Monteiro e Ernesto Geisel, e a influência dos Estados Unidos nesse processo.

"Castelo: a marcha para a ditadura" se destaca como uma obra de fôlego que contribui significativamente para a compreensão do golpe de 1964 e do período da ditadura militar no Brasil. Através da minuciosa investigação de Lira Neto, o leitor tem acesso a uma narrativa densa e reveladora sobre os bastidores da conspiração que levou Castello Branco ao poder. A obra se torna, assim, leitura obrigatória para aqueles que buscam entender as origens e a consolidação do regime autoritário instaurado no país a partir de 1964.

Em suma, "Castelo: a marcha para a ditadura" é uma obra fundamental para o estudo da história política brasileira do século XX. Ao traçar a trajetória de Humberto de Alencar Castello Branco, Lira Neto desvenda os meandros da conspiração que desembocou no golpe de 1964 e na instauração da ditadura militar no Brasil. A riqueza documental e a abordagem minuciosa do autor conferem à obra um caráter incontornável para aqueles interessados em compreender esse período sombrio da história nacional.

Resenha: Vence-demanda: Educação e Descolonização, De Luiz Rufino

APRESENTAÇÃO

A educação como ferramenta de insubordinação contra o assombro colonial, como instrumento de transgressão das hierarquias do poder. Este pode ser um breve resumo do que Luiz Rufino apresenta nesta coletânea de artigos sobre educação e descolonização. Pensada não para gerar conformidade, mas divergência, a educação é a força que possibilita o processo de descolonização. A partir dessas premissas Rufino levanta discussões relevantes e atuais sobre o processo educacional, além de apontar caminhos.

Nos sete artigos que compõe a obra, o autor traz para o centro do debate a descolonização como tarefa da educação, fala da importância da “desaprendizagem”, da educação como prática da liberdade, realiza o encontro entre Exu e Paulo Freire, fala da gira descolonial como uma contínua batalha do colonizado na tentativa de deslocar a ordem vigente, da escola do sonho, aquela que deve ser habitada pelo conflito, pelo questionamento e finaliza lembrando que brincadeira é coisa séria.

RESENHA

O livro "Vence-demanda: Educação e Descolonização" de Luiz Rufino se configura como uma importante contribuição para os debates acerca da relação entre educação e descolonização no contexto brasileiro. Rufino, professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), constrói nesta obra uma elaborada reflexão sobre o papel da educação como ferramenta de enfrentamento do legado colonial.

A obra se estrutura em sete capítulos que articulam diferentes perspectivas teóricas e experiências práticas na construção de uma visão da educação como "radical da vida" e "prática de liberdade". Ao longo do texto, Rufino dialoga com autores como Frantz Fanon, Paulo Freire, bell hooks e Ailton Krenak, estabelecendo um diálogo profícuo entre distintas matrizes de pensamento.

O primeiro capítulo, "Qual é a tarefa da educação?", apresenta uma crítica contundente à concepção hegemônica de educação, entendida como mera preparação para o mundo ou acesso a uma agenda curricular vigente. Rufino argumenta que a educação não pode se limitar à conformidade e a devaneios universalistas, devendo, ao contrário, ser compreendida como um "radical vivo" que possibilita o enfrentamento dos ditames da agenda colonial.

Nesse sentido, a principal tarefa da educação é a descolonização, entendida como um processo de luta e libertação da dominação de modos de existir, conceber e praticar o mundo. Trata-se de uma ação tática que desautoriza o ser e o saber que se quer único, confrontando as dimensões de poder do projeto colonial.

O capítulo "Desaprender do cânone" aprofunda essa discussão, ressaltando a necessidade de uma "desaprendizagem" que problematize e interrogue o que se coloca como o único saber possível ou como saber maior em relação a outros modos. Essa desaprendizagem é compreendida como um ato político e poético diante daquilo que se veste como única verdade, confrontando o cânone e a política de esquecimento promovida pelo colonialismo.

O terceiro capítulo, "Descolonizar é um ato educativo", articula a noção de descolonização com a dimensão da cura, compreendendo-a como um enfrentamento da guerra colonial que não se limita ao campo bélico, mas se estende às esferas cognitiva, espiritual e existencial. Nesse sentido, a educação emerge como um "radical educativo" que possibilita a recuperação de sonhos, a ampliação de subjetividades e a reativação de memórias e saberes subalternizados.

Essa perspectiva é aprofundada no capítulo "Exu e Paulo Freire", no qual Rufino estabelece um diálogo entre a cosmogonia de Exu e o pensamento de Paulo Freire, compreendendo a educação como um campo de batalha em que se disputa a descolonização. Nesse jogo, Exu é entendido como um princípio explicativo de mundo que confronta a lógica colonial, enquanto Freire é lido como um "caboclo" que, em sua práxis educativa, mobiliza energias transgressoras.

Os últimos três capítulos do livro se dedicam à reflexão sobre o papel da escola nesse processo de descolonização. Em "A escola dos sonhos", Rufino argumenta que a escola, apesar de suas limitações, deve ser compreendida como um tempo e espaço de disputa por experimentações e pela defesa de um mundo plural.

Nessa perspectiva, a "escola palmeira" é apresentada como uma metáfora para uma educação que valoriza a diversidade de saberes, a capacidade de fazer perguntas e a liberdade do corpo em sua experimentação do mundo. Trata-se de uma escola "mais que humana", que reconhece a agência de outros seres e práticas de conhecimento não hegemônicas.

O capítulo "Guerrilha brincante" aprofunda essa discussão, ressaltando a importância da brincadeira e do jogo como dimensões fundamentais de uma educação descolonizadora. Rufino argumenta que a brincadeira, entendida como "libertação da regulação" imposta pelo modelo colonial, constitui uma estratégia de remontagem das esferas de memória, cognição, cultura e comunidade.

Por fim, o livro se encerra com o capítulo "A gira descolonial", no qual Rufino retoma a noção de "gira" como uma metáfora para a descolonização entendida como uma "batalha e cura" que convoca as presenças subalternas a partir de seus saberes e tecnologias ancestrais. Nesse sentido, a descolonização não se resume a um giro epistemológico, mas demanda uma "gira" que mobilize múltiplas dimensões da existência.

Em síntese, "Vence-demanda: Educação e Descolonização" se configura como uma obra fundamental para se pensar a educação como um campo de disputa política e poética, em que se reivindicam outras formas de ser, saber e estar no mundo. Ao articular distintas matrizes teóricas e experiências práticas, Rufino apresenta uma proposta de educação como "radical da vida" e "prática de liberdade", capaz de confrontar o legado colonial e construir caminhos de descolonização.

Resenha:Flores de Alvenaria, de Sérgio Vaz



APRESENTAÇÃO

Como poeta e morador da periferia, Sérgio Vaz sabe, como ninguém, transmitir a alma das ruas. Em  Flores de alvenaria  o autor nos lança nas calçadas do subúrbio e descortina um universo muitas vezes invisível por meio de textos, ora em verso, ora em prosa, sobre os mais variados temas: educação, negritude, liberdade, sexo, empatia.

Com apresentação do cantor e compositorChico César , a obra traz diálogos, relembra a situação da periferia em outras épocas e conta com poemas que costumam ser declamados na Cooperifa , evento criado pelo poeta que transformou um bar de Taboão da Serra em um evento cultural.

RESENHA

A obra "Flores de Alvenaria" do poeta Sérgio Vaz é uma importante contribuição para a literatura brasileira contemporânea, principalmente no que diz respeito à poesia produzida nas periferias urbanas. Vaz, que é um dos principais expoentes do movimento cultural da Periferia de São Paulo, apresenta neste livro uma coletânea de poemas, crônicas e textos que revelam a riqueza e a diversidade da produção literária emergente das comunidades marginalizadas. 

Ao longo desta resenha, buscaremos analisar os principais aspectos formais e temáticos da obra, bem como sua relevância no contexto sociocultural em que está inserida. Para tanto, dividiremos a discussão em três eixos principais: 1) A construção poética e a linguagem utilizada por Vaz; 2) As temáticas abordadas e sua relação com a realidade da periferia; 3) O papel da obra como manifestação cultural e política de resistência.

Um dos aspectos mais notáveis da obra de Sérgio Vaz é sua construção poética singular, marcada por uma linguagem que rompe com os padrões convencionais da poesia canônica. Ao longo de "Flores de Alvenaria", o autor emprega uma dicção coloquial, permeada por gírias, expressões populares e ritmos próprios da oralidade. Essa opção estética não se dá de forma aleatória, mas reflete uma clara intencionalidade do poeta em dar voz a uma perspectiva marginal, que se distancia das normas cultas da língua.

Nesse sentido, a obra de Vaz pode ser compreendida como uma espécie de "deglutição" dos cânones literários, em que a tradição é reelaborada a partir de uma ótica periférica. Tal estratégia se revela, por exemplo, na maneira como o autor reinterpreta clássicos da literatura brasileira, como os poemas de Castro Alves e as canções de Cartola, ressignificando-os em chave contemporânea e popular.

Além disso, a construção formal dos poemas também se destaca pela experimentação com diferentes gêneros e estruturas, transitando entre versos livres, prosa poética, letras de música e até mesmo a dramaticidade de diálogos. Essa heterogeneidade formal reflete a própria diversidade da expressão artística da periferia, que não se limita a modelos pré-estabelecidos.

Outro aspecto central da obra de Sérgio Vaz diz respeito às temáticas abordadas, que se encontram profundamente enraizadas na realidade da periferia urbana. Temas como a violência, a desigualdade social, o racismo, a precariedade das condições de vida e a luta pela sobrevivência permeiam grande parte dos textos, revelando um olhar atento e engajado do poeta em relação aos problemas que afetam diretamente as comunidades marginalizadas.

Nesse sentido, a obra de Vaz pode ser compreendida como uma espécie de "crônica poética" da vida nas periferias, em que a linguagem artística se torna um meio de denúncia e de reivindicação de direitos. Ao retratar o cotidiano de privações, lutas e resistências, o autor confere visibilidade a uma realidade muitas vezes invisibilizada ou distorcida nos discursos hegemônicos.

Além disso, a obra também se destaca pela representação de experiências e subjetividades que desafiam os estereótipos comumente associados à periferia. Personagens como o "poeta das ruas", a "Maria fodida" e o "vira-lata" são construídos com profundidade psicológica, revelando a complexidade das vivências individuais e coletivas nesse contexto.

Ao analisarmos a obra de Sérgio Vaz sob uma perspectiva mais ampla, é possível compreendê-la também como uma importante manifestação cultural e política de resistência. Inserida no contexto do movimento cultural da Periferia de São Paulo, "Flores de Alvenaria" se configura como uma expressão artística que busca afirmar a voz e a agência das comunidades marginalizadas.

Nesse sentido, a própria trajetória de Vaz como poeta e agitador cultural, fundador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), é emblemática. Sua atuação na organização de saraus, eventos literários e ações comunitárias demonstra um claro engajamento em prol da democratização do acesso à cultura e da valorização das manifestações artísticas periféricas.

Além disso, a obra em si se apresenta como uma forma de resistência simbólica, na medida em que subverte os cânones literários e dá visibilidade a narrativas e perspectivas historicamente silenciadas. Ao reclamar o direito de dizer a sua própria história, Vaz e outros autores periféricos contribuem para a construção de uma nova hegemonia cultural, pautada na diversidade e no protagonismo das vozes marginais.

Em síntese, a obra "Flores de Alvenaria" de Sérgio Vaz se destaca pela sua relevância no contexto da literatura brasileira contemporânea, especialmente no que diz respeito à poesia produzida nas periferias urbanas. Através de uma linguagem singular, marcada pela oralidade e pela experimentação formal, o autor aborda temáticas intimamente ligadas à realidade das comunidades marginalizadas, conferindo visibilidade a experiências e subjetividades historicamente invisibilizadas.

Além disso, a obra de Vaz pode ser compreendida como uma manifestação cultural e política de resistência, na medida em que se insere em um movimento mais amplo de afirmação da voz e da agência das periferias. Nesse sentido, a trajetória do poeta e sua atuação como organizador de eventos literários e ações comunitárias também se revelam como importantes elementos de análise.

Portanto, a leitura e a análise de "Flores de Alvenaria" nos permitem não apenas apreciar a riqueza estética da produção literária periférica, mas também compreender sua relevância enquanto ferramenta de transformação social e cultural. Trata-se, assim, de uma obra fundamental para o entendimento da complexidade e da diversidade da literatura brasileira contemporânea.

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