Foto: Comtato / Acervo Pessoal / Divulgação |
A personagem-título de “O Diário de Amélia” (109 pág), mais recente livro da escritora e empreendedora paulista Camila Veloso, compartilha com outras jovens da mesma idade os dramas dessa fase da vida, como a escolha profissional, interesses amorosos e questões familiares. Antenada com o linguajar, as práticas e dilemas dos adolescentes dessa nova geração, a autora apresenta uma obra que funciona também como guia prático para problemas do mundo adulto e rota de fuga de ambientes tóxicos.
A obra é fruto da Aldeia Literária, negócio idealizado pela autora, que fomenta a formação de uma nova geração de escritores, utilizando a Cohort Learning Method, uma metodologia a base de mentorias e jornadas coletivas de aprendizado. Os encontros online oferecem acompanhamento do processo criativo e conversas com especialistas na área literária. Já passaram pelo processo cerca de 400 pessoas de novembro de 2023 até agora.
Por dentro do “Diário de Amélia”
Amélia é uma garota recém saída da adolescência que divide o dia a dia com amigos do cursinho pré-vestibular. O livro inicia com o relato da jovem sobre um crush, uma paixonite, por um dos rapazes desse grupo. Há, no entanto, uma série de barreiras que impedem o sonho de virar realidade. Entre elas a amiga da protagonista, que está de olho no mesmo carinha, as diferenças sociais entre ambos, Amélia é da classe média baixa, o rapaz é riquíssimo, e ainda, a prática religiosa dos pais de moça que a proíbe de namorar alguém de fora da comunidade a que pertencem.
Movida pelo desejo juvenil de dar passos para fora dessa redoma em que era mantida, a protagonista coloca-se em uma série de situações às quais não tinha sido preparada para lidar e pouco a pouco vai descobrir, com auxílio de amigos que faz nessa jornada, como enfrentar os problemas do mundo real. “É por isso que a personagem principal ouve sobre como tomar vacina de HPV no SUS, como abrir um MEI, e como sair de casa através das universidades públicas”, explica a autora.
Camila confessa que há muito da própria experiência no livro. “Nasci num lar ultraconservador e sendo artista e mulher sempre recebi uma dose extra de repressão, portanto era um instinto natural me rebelar, e trouxe muito disso para a minha arte”, revela. A escrita começou cedo, aos 11 anos, e com o intuito de transformar as dores do mundo exterior em prosa e poesia. “Escrever me dava privacidade porque as pessoas tinham preguiça de ler (descobri isso cedo) e eu podia colocar no papel o que quisesse”.
Antes de “O Diário de Amélia”, Camila publicou “Traumas de uma Grande Gostosa”, “Cartas ao Sol” e “Encontrei um Pote com Tempo Dentro”. Todos voltados para o público juvenil, publicados de forma independente e disponíveis para compra online no site Amazon. A obra mais recente conta com avaliações positivas e comentários elogiosos na loja virtual. Um dos leitores escreveu: “Nesse mundo doido que vivemos, conhecer realidades que podem estar tão próximas da gente nos permite entender que precisamos estar prontos a nos ajudar”, e completa: “Esse livro nos ajuda a ter empatia, mas pode ser um refúgio e um pequeno guia para que as pessoas consigam ver uma luz numa situação difícil”.
A autora conta que a obra demorou dois anos para ser finalizada pois era preciso encontrar o tom certo para o livro e ao mesmo cuidar dos próprios traumas relacionados às experiências vivenciadas numa educação extremamente rígida. Ainda assim, assume que escreveu uma história divertida, apesar do tema pesado. “Não queria que o livro fosse sobre ódio, mas sobre acolhimento”.
Trecho da obra “O Diário de Amélia”:
“Olho a rua, e todas aquelas pessoas andando, e vivendo seu próprio caos, e talvez a vida de todo mundo seja assim. Ou a de mais alguém, pois, se tenho o apoio de tantas mulheres, se todas elas estavam com as armaduras prontas quando precisei de ajuda, é porque não sou a única.”
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