Andressa Arce estreia com obra que destrincha relação íntima entre irmãs

Comtato / Divulgação / Acervo Pessoal


“Andressa, como todos nós e ainda bem, está condenada à linguagem. Presa, prisioneira, sentenciada: seu No dia em que não fui é uma tentativa, fortuita, de transgressão, de delinquência, de infração (...) E para contar essa história endurecida, debruça-se numa atividade escrevedora que aposta não nos grandes acontecimentos, mas na pequeneza do cotidiano. Seu livro de lançamento é a Travessia própria do Rubicão: um ponto de não retorno. Escreve para espiar, que nem criança arteira, o que está por vir."  

Jornalista e psicanalista Gabrielle Estevans, no prefácio da obra 




O que as ruínas do que poderia ter sido informam aos que ficam? Que notícias dão as sobras a quem está por vir? São perguntas que "No dia que não fui" (editora Patuá, 85 págs.), romance de estreia da sul-mato-grossense Andressa Arce (@andressarce), tenta responder. Baseado numa vivência da própria autora, o livro narra a história de uma menina e sua relação com a meia-irmã, que traçam no fio tenro da infância suas identidades, via espelhamento. Uma perdendo-se na outra até que o convívio é brutalmente interrompido por um suicídio. Com a ruptura, uma delas, a mais nova, precisa, então, refazer-se a partir dos escombros. O prefácio do livro é assinado pela jornalista e psicanalista Gabrielle Estevans.


O tom melancólico, sombrio e pesaroso que permeiam tanto as canções da artista pop Lana del Rey como os filmes da cineasta Sofia Coppola serviram de inspiração para a obra, que além de abordar as dores de um luto abrupto, por conta de suicídio, e a complexidade das relações familiares, também abrange as agruras da trajetória de vida de toda mulher. “São temas que conversam com a minha própria melancolia e com minha forma poética de enxergar o cotidiano”, explica a autora.  


Como assumido por Andressa, a obra ganhou contornos verossímeis a partir de sua própria experiência. Para a autora existia um desejo de partir de uma história pessoal para atingir uma história coletiva. "A escrita iniciou-se como uma forma de resgatar a imagem desta irmã, o que acabou desaguando para a ficcionalização", revela.


O livro é dividido em três partes: “A meia-irmã da filha única”, “A filha única sem meia-irmã” e “O punho, ainda”. Essa segmentação evidencia o arco vivenciado pela narradora. O que no início era fascínio de uma criança pela vida agitada e instigante da irmã adolescente, transforma-se em uma tentativa de sobrevivência diante daquela ausência, numa tentativa de lidar com impulsos autodestrutivos, para, por fim, encontrar a conciliação com a falta daquela que se foi.


Na última parte da obra, a protagonista, Alice, escreve uma série de cartas para a irmã, Liana. Esses textos, concisos mas repletos de significado, são uma forma de dar futuro a uma relação que não teve a possibilidade de se estender no tempo. “Foi um jeito de permitir que Alice, firmada na vida adulta, conversasse com sua irmã morta”, admite a escritora. 


Referências no pop e inspiração no clássico

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Andressa Arce nasceu em 1984 e descreve que cresceu em Campo Grande (MS) entre a beleza e a crueza das histórias da fronteira, o surrealismo pantaneiro e a realidade urbana, que se deixa pintar de vermelho pela poeira do planalto de Maracaju. É bacharel e mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Na carreira jurídica atuou como Advogada e Analista em Direito no Ministério Público da União em Ponta Porã (MS). Atualmente é Defensora Pública Federal. Por causa da função, morou em Rondônia e depois, em 2017, retornou à cidade e estado natal. 


“No dia em que não fui” marca sua estreia no mundo literário. A obra começou a ser escrita em janeiro de 2024 e ganhou corpo a partir de mentoria com a jornalista e psicanalista Gabrielle Estevans, idealizadora do projeto ESCRIterapia. Além das experiências de vida, em especial com a irmã, a autora empregou no romance referências que a atraiam da cultura pop, cinema e literatura. São influências os filmes “Eu, Christiane F.”, “Garota, Interrompida” e “As virgens suicidas”. 


Os três longa-metragens têm em comum a temática mulheres e doença mental. “Sou fascinada por esse tipo de história porque pode haver dificuldades e diagnósticos, mas essas meninas, ainda assim, são cheias de vida, têm sonhos, são brilhantes”, argumenta. 


A escritora Sylvia Plath é outra influência incontestável na trajetória da sul-matogrossense. Andressa revela que a leitura de “A redoma de vidro” de certa forma a autorizou a escrever o próprio romance. “Vi que seria possível tratar de temas ‘pesados’ de uma forma não agressiva”, esclarece. A escolha por uma prosa permeada de lirismo também a permitiu abordar os temas com delicadeza. 


A escritora ainda confidencia que o processo de composição de “No dia em que não fui” abriu nela um novo mundo, onde a criatividade reinava. “Sinto-me mais conectada com minhas profundezas; ao mesmo tempo fresca e renovada”. 


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Pedro Jucá, lança “Amanhã tardará”, publicado pelo selo Tusquets Editores (Planeta)

 

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"Pedro é um escritor talentoso, dedicado e comprometido com a literatura — quer seja como um leitor voraz, quer seja como o autor devotado e de ampla bagagem cultural que é. Com um vocabulário riquíssimo, parte de seu léxico familiar, ele tem muito a enriquecer a literatura brasileira contemporânea."

Fabiane Secches, crítica literária e escritora


“Amanhã tardará” (Editora Planeta do Brasil, 320 págs.) é o primeiro romance e segundo livro do escritor cearense Pedro Jucá, nome que ascende na literatura brasileira contemporânea. Inaugurando linha de autores nacionais do selo Tusquets, da editora Planeta, a obra traz uma profunda reflexão sobre as complexidades das relações familiares e as marcas indeléveis que a infância deixa sobre o desejo, a sexualidade e a percepção do tempo. 



Um relato arrebatador sobre as relações familiares e a condição humana 

A trama gira em torno de Marcelo, que, com a iminência da morte do pai, retorna dos Estados Unidos para a pequena e fria cidade de Ourives, onde cresceu. Lá, ele se vê forçado a confrontar o passado e as dolorosas memórias familiares, incluindo a ruptura com a irmã e as relações que moldaram sua personalidade. A tragédia arrasta a família inteira para um sofrimento profundo e nunca expurgado. Às margens desse excesso de silêncio, temas como trauma, finitude e sexualidade assombram cada personagem da trama e os encaminha para um desfecho que, de tão inevitável, só consegue ser surpreendente. Do início ao fim do livro, o leitor encara um romance de formação com aspectos psicológicos delineados e incisivos.


Em uma narrativa densa e introspectiva, mas fluida, e com influências da psicanálise, Pedro Jucá explora temas universais como o trauma, o comportamento humano e a imponência da passagem do tempo. O livro, cuidadosamente construído, promete cativar os leitores com sua abordagem sensível e profunda das cicatrizes emocionais que carregamos ao longo da vida.


Para o autor, a obra é uma história sobre os laços familiares com todas as suas complexidades, nuances, contradições, incongruências, inconsistências e descompassos. “É sobre como família é brutal”, sentencia, fazendo eco ao narrador da história, e complementa: “Sobre nosso destino sublime e infernal de carregar indeléveis, na memória e no corpo, os traços da primeira infância”. 

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“Amanhã tardará” é dividido em seis partes. Em cada uma delas, há duas linhas temporais: presente e passado.  No tempo atual, o narrador descreve o retorno a casa em Ourives, uma vila cortada pelo rio que nomeia o local. Ali reencontra a família nuclear, pai e mãe em idade avançada, lidando com enfermidades. Ao retratar os anos já vividos, retoma a própria infância e o início da juventude, incluindo nesse mote, além dos pais, a irmã – uma das personagens principais da trama – e parentes próximos. 


À medida que o enredo avança, acompanhamos o passar dos dias de uma família que, mergulhada na dor, não consegue se estruturar para lidar com os infortúnios e, cada um à sua maneira, entrega-se a um processo solitário de autodestruição. Marcelo, a lente que guia o leitor na história, descreve com crueza desconcertante os mecanismos pelos quais inflige dor a si mesmo.  


A estrutura psicológica arquitetada e as metáforas empregadas pelo escritor são destaques da obra. Com maturidade, Pedro explora os sentimentos de cada personagem, concedendo-lhes  uma diversidade emocional ampla e complexa. Pouco a pouco, o escritor vai encaixando as peças do enredo para, no fim, o leitor compreender a causa – e as consequências – dos atos do protagonista. O livro se conclui como um relato arrebatador e desconcertante da condição humana, posicionando Pedro Jucá entre um dos nomes expoentes da nova geração da literatura brasileira. 


O livro vai escrevendo a gente

Pedro Jucá nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1989. Morou na capital cearense até 2018, quando migrou para o Paraná, no sul do país. O motivo da mudança foi profissional: havia sido aprovado no concurso para Procurador do Estado, morando inicialmente em Paranaguá, no litoral, e depois em Curitiba, onde permanece até hoje, vivendo com seus três gatos: Willow, Hopper e Nimbus.


O cearense é formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC), pós-graduado em Escrita Criativa pela Universidade de Fortaleza (Unifor), e pós-graduando em Psicanálise, Arte e Literatura pelo Instituto ESPE. 


Ainda que atue profissionalmente na área jurídica, ao escolher se dedicar nos últimos anos a formações relacionadas às artes, em especial à escrita, Pedro busca explorar outros talentos. Crescido numa família de artistas, o autor acredita que suas primeiras influências vieram de quem  o rodeava quando pequeno. “Vovô escreveu livros técnicos e redigiu poemas; vovó era formada em acordeon, cantava, tocava piano; mamãe foi professora de dança a vida inteira; meus tios todos têm veia artística e, do lado do meu pai, vovó sempre leu muito”, explica.


Sua primeira publicação veio a partir da sensibilidade de sua avó. Quando Pedro fez 18 anos, ela compilou as histórias que ele escrevia quando menino num livrinho feito artesanalmente. Passadas a infância e adolescência, quando escreveu contos avulsos para premiações literárias, só retornou definitivamente ao universo literário em 2020, na época da pandemia, e considera esse o grande projeto da sua vida: se dedicar à escrita. 


E a escolha deu frutos. Na breve carreira, já foi contemplado com prêmios como o Prêmio Ideal Clube de Literatura, Prêmio Off Flip e Prêmio de Literatura UNIFOR. Do processo de isolamento nasceu o livro de contos Coisa Amor (Editora Urutau) e também os primeiros rascunhos de “Amanhã Tardará”, que levou mais de quatro anos para ser finalizado. Atualmente é agenciado pela Agência Riff e escreve crônicas para o portal Curitiba Cult.


A estreia do romance, agora em 2024, tornou-se um marco em sua carreira literária. “A obra me transformou num escritor mais maduro, com maior segurança e desenvoltura para, inclusive,  saber abrir mão de trechos, conceitos, ideias e palavras, tudo em prol do efeito final”, revela Pedro. O jovem autor ainda comenta sobre o impacto do livro em sua vida pessoal e a tomada de consciência de que uma das questões principais da obra, a respiração, tinha correlação direta com sua experiência com a ansiedade. “A gente escreve o livro, e, de alguma maneira, o livro vai escrevendo a gente também”, sentencia. 


Confira um trecho do livro (pág. 112):

“Na expectativa de quebrar o silêncio, ele se atrapalhou e me perguntou o que eu estava fazendo em Ourives. Seu rosto lívido voltou a ganhar um pouco de cor, corando de vergonha. Tratava-se, afinal, de uma resposta óbvia. Eu me virei para minha mãe e, em uma aposta cômica, disse que era porque ela tinha perdido a mão para fazer bolachas, então eu tinha vindo salvar a família daquela tragédia. Falei isso e, sem saber como levar a conversa adiante, pisquei para meu pai à maneira de um adulto que conta piadas a uma criança.
Ele se desarmou e ensaiou um começo de gargalhada entrecortada de tosse. Aquilo nos enlaçou em um pacto invisível, no qual ambos aceitamos a inversão de papéis: no passeio de carro metafórico, quem assumiria o volante seria eu - quem ocuparia o banco de trás, se aproveitando da trepidação mecânica para adormecer, seria ele. Filho de mim, meu pai seria um melhor pai do que havia sido durante toda a vida, vida que, sabíamos, logo encontraria um fim”.


Adquira “Amanhã tardará” pelo site da editora Planeta do Brasil ou via Amazon: 

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Camila Veloso fala sobre negócio que promete formar uma nova geração de escritores

Foto: Acervo Pessoal / Camila Veloso


Com abordagem colaborativa, Camila Veloso lança projeto que busca democratizar o aprendizado literário por meio do Cohort Learning Method

A escritora e empreendedora paulista Camila Veloso criou a Aldeia Literária, um curso que convida novos autores a transformarem seus rascunhos em livros completos. A iniciativa é baseada no Cohort Learning Method, uma metodologia de aprendizado colaborativo onde os participantes avançam juntos, em comunidade. O projeto oferece acompanhamento criativo, aulas online e trocas com especialistas, e já beneficiou cerca de 400 alunos desde seu lançamento em 2023.

A Aldeia Literária surgiu do desejo de Camila de compartilhar suas vivências e do anseio por uma comunidade mais unida no mercado editorial. A proposta audaciosa, inspirada em iniciativas disruptivas, visa tornar conhecimento sobre escrita criativa acessível e fomentar a escrita como prática coletiva. Além de encontros online, os participantes têm à disposição grupos no WhatsApp, onde trocam experiências e cumprem desafios semanais, incentivando o engajamento e a interação contínua. A comunidade também promove plantões de dúvidas e um sistema de gamificação que fortalece a experiência de aprendizado.

Camila Veloso, formada em Produção Editorial pela Universidade Federal de Santa Maria, passou por agências e multinacionais na área de comunicação antes de criar a Aldeia. Ela também estudou criatividade na Universidad Autónoma de Tlaxcala, no México, experiência que refinou seu olhar para o ensino da escrita. Inspirada pela própria trajetória, Camila utiliza a Aldeia para conectar pessoas de diferentes regiões e idades a concretizarem o sonho de escrever e publicar livros de qualidade. Leia a entrevista completa abaixo e conheça mais sobre o projeto Aldeia Literária.


O que é a Aldeia Literária?

A Aldeia Literária é um curso de extensão universitária baseado no Cohort Learning Method. Nesse modelo, o aprendizado se dá de forma colaborativa, e os alunos avançam juntos, em comunidade, ao longo do curso. De forma geral, nos denominamos como uma comunidade, pois esse é um diferencial dentro do mercado editorial. Então eu brinco que os alunos não fazem a Aldeia Literária, eles se tornam aldeões.
 

Quando a Aldeia foi fundada?


A Aldeia Literária nasceu em outubro de 2023, após ser demitida do meu emprego no mundo corporativo. Me vi com tempo livre e com a sensação de que essa era minha oportunidade de construir algo no mercado editorial, já que eu havia me formado em Produção Editorial. Como já era criadora de conteúdo no Instagram e TikTok, fiz vídeos convidando escritores para fazerem o Nanowrimo (um desafio mundial de escrita) comigo.

Honestamente, eu me sentia uma fracassada por saber tanto sobre técnicas de escrita e mercado editorial e ainda não ser a escritora mais famosa do mundo (risos nervosos). Por muito tempo, evitei falar sobre escrita criativa justamente por isso, principalmente durante a pandemia, quando fui para o mundo corporativo. Mas, para minha surpresa, o convite nas redes sociais foi aceito por 140 pessoas. O vídeo de convite alcançou mais de 100 mil escritores, e assim nasceu a Aldeia Literária.

Claro que, entre nós — porque as coisas não acontecem do nada —, usei toda a minha bagagem em comunicação para estruturar a Aldeia. Antes de convidar as pessoas nas redes sociais, criei o projeto gráfico, o storytelling, uma camiseta, a gamificação e o calendário de aulas. Um projeto bem-feito, assim como eu fazia para as empresas. Quando lancei o convite, já tinha a ideia da empresa pronta e o início de um modelo de negócios. Só não sabia que tanta gente realmente aceitaria participar.


O que te motivou a criar a Aldeia?

Já tinha alguns cursos gravados circulando e com uma boa aceitação na internet, mas a ideia de ser infoprodutora para sempre não me agradava muito. Eu queria ter uma empresa. A ideia da Aldeia Literária veio da vontade que sempre tive de ter amigos escritores.

Quando você é artista no fim do mundo (mais conhecido como o interior), as pessoas ao seu redor não têm visão do que é trabalhar com arte, e isso sempre me deixou muito solitária. Eu não queria que meus alunos passassem por isso, que ficassem sozinhos em casa assistindo a um curso gravado e precisassem ter a inteligência emocional de uma pessoa de 90 anos (vivida e madura, é o que quero dizer) para conseguir se motivar diariamente. Eu queria que fôssemos um grupo, um time.


Como funciona o projeto?

Temos aulas mensais ou quinzenais (depende do plano escolhido pelo aluno), ministradas no Google Meet. Ao final de cada aula, os aldeões recebem material de apoio e uma atividade no Google Classroom para desenvolver durante a semana. Para manter os escritores interagindo, temos grupos no WhatsApp, onde os aldeões podem trocar experiências e se ajudar nas metas. Os grupos são essenciais para que a metodologia de Cohort aconteça.

Também temos plantões de dúvidas, com meia hora para interação e conversa (afinal, somos uma comunidade) e uma hora para tirar dúvidas sobre escrita criativa. Há vários outros detalhes que fazem parte da organização desse projeto, mas, em resumo, é isso.




Quantos alunos já passaram pela Aldeia?

Desde a sua criação, já passaram mais de 400 alunos pela Aldeia Literária.




Quais são as atividades oferecidas na Aldeia?

Aulas, interações, gamificação, palestras e encontros em eventos.




Qual é o perfil dos alunos?

Adultos de 35 a 40 anos que sempre tiveram o sonho de escrever e publicar, mas não sabiam como; Jovens de 21 a 27 anos que acreditam que essa é a oportunidade de finalmente estudar escrita criativa; Crianças de 12 a 16 anos com o sonho de serem grandes escritores (e pais que acreditam nelas). Temos alunos de todas as regiões do Brasil.




Quando a Aldeia abrirá inscrições novamente?

Entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025.




Quais convidados já participaram da Aldeia?

Olha, muita gente legal já passou pela Aldeia Literária. Já recebemos a Karine Leôncio (Kabook TV) uma das maiores criadoras de conteúdo literário da internet, e agentes literárias como a Mari Del Chico, e a Karol Lopes da Com.Tato Literário. Ao todo, já recebemos mais de dez profissionais do mercado editorial em 2024.



Qual a importância da chancela do MEC, recentemente conquistada?

A chancela do MEC é um indicativo da qualidade e consistência do conteúdo pedagógico da Aldeia Literária, conferindo ao curso um novo status e ampliando suas oportunidades no mercado. Além disso, a inclusão de créditos para horas complementares pode agregar valor ao currículo de estudantes universitários e profissionais em busca de aprimoramento na área literária.




Qual a importância de um espaço como a Aldeia para fomentar a literatura no Brasil?


Nossa, dá para escrever um TCC inteiro sobre isso. Por algum motivo, a literatura ainda é uma arte considerada “alta demais”, o santo graal, intocável. Temos os Imortais da Academia Brasileira de Letras, como se escrever e ser artista fosse um superpoder. Além disso, não temos cursos de graduação em escrita criativa em universidades públicas ou em cada esquina, como ocorre nos Estados Unidos. Então, ou você estuda fora do Brasil, ou precisa ser um escritor genial, capaz de absorver técnica e ritmo através da leitura (além de entender o funcionamento do mercado editorial sozinho).

Isso faz com que a produção nacional de qualidade seja pequena, pois há realmente pouca gente com todo esse conhecimento. A Aldeia Literária vem para oferecer conhecimento de forma acessível, possibilitando que escritores de todas as classes e idades tenham a oportunidade de realizar o sonho de escrever e publicar livros de qualidade. Eu diria que somos um Airbnb, Uber, Waze do mercado editorial. Já estava na hora de uma iniciativa disruptiva aparecer dentro de um mercado tão antigo e tradicional.


O resultado: meus alunos me chamam de mãe. É o comentário que mais recebo: “Ai, a Camila é uma mãe”, como se eu oferecesse acolhimento intelectual. E trago muito disso para a Aldeia.

A voz incauta das feras: Bárbara Mançanares brinca com a linguagem e o mundo natural

Foto: Divulgação / Acervo Pessoal / Bárbara Mançanares


“este livro carrega uma linguagem ancestral. a língua: essa memória da palavra! nele, o mundo gira em seu próprio ritmo, alheio aos dicionários e enciclopédias, tendo como criadora a dança das plantas, dos bichos, das rochas.”

Carolina Hidalgo Castelani, escritora e psicanalista


“A voz incauta das feras” (92 págs.), terceiro livro da escritora e bordadeira Bárbara Mançanares (@bamanzanares) reúne poemas que escapam do entendimento de uma mensagem imediata e provocam quem lê a partir da linguagem e das interessantes imagens alcançadas. A obra, publicada pela Editora Patuá, conta com a orelha e o posfácio assinados pela escritora e psicanalista Carolina Hidalgo Castelani e prefácio escrito pela poeta e influenciadora literária Aline Aimée. 


Nesse livro, o mundo natural encontra as palavras fora do dicionário, subvertendo uma suposta utilidade da língua. Dessa forma, a palavra, per si, ganha força de criação. Se elas foram pensadas, proferidas ou escritas, elas passam a existir e a agir. As imagens elaboradas pela poeta são oníricas, selvagens e profundas, indo além do que parece real e cotidiano, evocando, assim, o próprio poder da linguagem. A palavra, nos versos de Bárbara, não são meras ferramentas, elas são protagonistas e se comportam como seres naturais e partes fundamentais de um universo que se expande a cada verso. Em “A voz incauta das feras”, a linguagem é criador e criatura. 


Na orelha, Carolina Hidalgo Castelani explica: “É como uma oração construída sílaba atrás de sílaba. A natureza como compositora do alfabeto que transcende o tempo. Entramos em contato, nestas páginas, com a selva indômita de nossos sonhos”.   


Já Aline Aimée, que também é mestre em Literatura Brasileira, destaca no texto de apresentação, o que, na poesia de Bárbara, permite que ela consiga o feito de embrenhar no ato de criação, misturando paisagens, sonhos e a própria palavra. Segundo ela, a desnaturalização do olhar junto, a expressividade das imagens evocadas e a sofisticação metafórica permitem que ela alcance esse efeito. “A poeta manuseia a linguagem como um tecido no bastidor: perfura, colore, desenha, revira, reforça a trama e, por vezes, desfaz, recomeça e trabalha as rebarbas”, complementa. 


Segundo a autora, esse efeito de suspensão da realidade é intencional. “Meu livro convida não a uma resposta sobre algo, mas a adentrar o enigma. Como lidamos com aquilo que nos escapa?”. 


A partir de conceitos expostos por María Negroni em “A arte do erro” (100/cabeças, 2022), Bárbara Mançanares explica que sua intenção é fugir da ideia de precisar passar uma mensagem linear. Segundo ela, “A voz incauta das feras” trabalha a constituição da palavra, do idioma, acompanha, atravessa e às vezes subverte os ciclos naturais e da natureza. “Nos poemas, a densidade das imagens é o foco, não buscando propor uma interpretação e entendimento linear, mas sim a “persistência do enigma”, complementa.


A poeta confessa que esse livro foi para ela uma grande experimentação artística. Para escrevê-lo, ela precisou aliar seus processos antigos a novas ferramentas de criação, como a escrita automática, método utilizado por escritores do movimento surrealista. Bárbara não escreve a partir de projetos pré-estabelecidos, mas sim de palavras que a mobilizam. Essa busca pelas palavras a trouxe para a obra.


“Nos últimos anos passei a perceber que essas palavras se repetem na minha escrita, criando uma espécie de território poético no qual eu mergulho. Fui criada na roça, no convívio com a terra, com o barro, com o verde, com os açudes, com o isolamento. Hoje vejo que esse território da infância, da adolescência e de parte da vida adulta influenciam os temas e as imagens presentes na minha escrita”, reflete.


Bárbara Mançanares e a escrita como algo fundante de si


Foto: Bárbara Mançanares

Bárbara Mançanares é poeta e bordadeira. Nasceu no sul de Minas Gerais e vive, atualmente, no sul da Bahia. Possui graduação em História (UFOP) e mestrado em Museologia e Patrimônio (UNIRIO). É autora do livro Maio (Quintal Edições, 2018), Cartografias do corpo que canta (Editora Patuá, 2021) e A voz incauta das feras (Editora Patuá, 2024). Seu segundo livro foi vencedor do Prêmio Nacional Mozart Pereira Soares de Literatura na categoria Poesia em 2023. Atualmente escreve seu primeiro romance com o apoio do Itaú Cultural (Edital Público Rumos 2023-2024).


Ainda no Ensino Médio, Bárbara começou a publicar seus poemas em um jornal local de Alfenas, o Jornal dos Lagos, por incentivo da professora e jornalista Patrícia de Oliveira, mas sua escrita começou ainda antes, também por incentivo de uma professora: “Me lembro de ainda na infância ter uma professora de português, chamada Maria do Carmo, que era poeta e nos incentivava a escrever também, inclusive, lançamos uma coletânea com poemas da turma nesse período”.


As responsáveis pelo primeiro grande impacto da literatura na poeta foram Adélia Prado e Clarice Lispector. “Elas inauguraram em mim o sem-nome, aquilo que nos toca e nos escapa em uma leitura.” Depois foi a vez de García Márquez, Manoel de Barros, Guimarães Rosa, Alejandra Pizarnik, Ana Martins Marques e Herberto Helder.


Já as influências diretas e indiretas que ajudaram a construir a “A voz incauta das feras” foram Alejandra Pizarnik, Ana Paula Tavares, Herberto Helder, Mónica Ojeda, Mell Renault e Al Berto.


Seus próximos projetos incluem um novo livro de poemas a ser publicado em 2025 pela Editora Toma aí um poema (TAUP) e a publicação de seu romance de estreia, escrito com o apoio do Itaú Cultural. 




Confira um poema do livro (página 80):


eu sou a que navega sobre a devastação das pedras

perceba o rio violento
a dissolução das falésias

perceba a voz distante dos penhascos

há uma extensão de cardumes sob meu casco
nossos nomes recobertos por lençóis de água e lodo

eu sou a que navega
e profana com a língua o murmúrio das nascentes




Adquira “A voz incauta das feras” via Editora Patuá: https://www.editorapatua.com.br/a-voz-incauta-das-feras-poemas-de-barbara-mancanares/p#

Rinaldo Segundo transforma emoções humanas em personagens ficcionais em novo livro

Foto: Acervo Pessoal / Rinaldo Segundo


“O país se buscava, enquanto eu me perseguia. Mas quem eu era? Embora já soubesse a resposta, percorri um longo percurso até viver a minha revelação.”

(Trecho da pág. 58)

O terceiro livro do mato-grossense Rinaldo Segundo ensaia os dilemas do viver e do sentir no livro de contos Emoções: A Grandeza Humana” (144 páginas, Editora Labrador). Natural de Várzea Grande e atualmente vivendo em Cuiabá, no Mato Grosso, Rinaldo é formado em Economia e Direito com mestrado em Desenvolvimento Sustentável pela Harvard Law School. Além disso, segue carreira profissional como promotor de Justiça atuando na área de homicídios e crimes sexuais contra crianças e adolescentes. Um trabalho intenso onde testemunha histórias que o colocam cara a cara com a dor alheia. 

Seu livro apresenta oito contos ficcionais, cada um sobre uma emoção, classificada como tal ou apropriada pela liberdade artística. São histórias permeadas também por dramas sociais, tais como crianças abrigadas, racismo, diferenças sociais e populismo jornalístico. 

“Descobri o tema das emoções ao buscar identificar as minhas próprias emoções. Convivo com a dor alheia em meu trabalho como promotor de Justiça, testemunho mães que perderam os seus filhos, crianças sexualmente abusadas e vulnerabilidades sociais”, explica o escritor. “Em alguma medida, tais dores se tornam minhas também, e convertem-se em ilusões e desilusões nos casos em que atuo.” 

Para ele, escrever ficção sobre as emoções foi uma libertação, uma vez que seu cargo representa a força estatal e por ser um homem nascido nos anos 70 cujas emoções eram “naturalmente negadas”. “Traduzir a dor alheia e a minha também em histórias realistas me tornou mais humano.”

Um mergulho na complexidade humana

Foto: Divulgação / Comtato

Na obra, o autor expõe como as emoções são capazes de domar e serem domadas. Como as emoções, mesmo que universais, só podem ser medidas e experimentadas na individualidade. Tal como uma minissérie, os capítulos são nomeados como Solidão, Alegria, Vergonha, Esperança, Medo, Raiva, Paixão e Felicidade. 

“Evidentemente, os contos têm personagens, mas eu também imaginei as emoções como protagonistas das histórias humanas. As emoções protagonizam mudanças e a própria vida das pessoas, como quando alguém tem um acesso de raiva e mata outra pessoa, ou quando no final da vida, alguém percebe ter sido feliz. Por isso, cada conto tem um título remetendo a elas”, justifica.

Em sua estreia na ficção, o autor concebe personagens ricos e com histórias pregressas que tendem a explorar suas intimidades. Alguns deles, como o protagonista de “Alegria”, demonstram ainda uma sofisticação sarcástica em suas interações. A escrita de Rinaldo traduz a natureza complexa das emoções em situações trágicas e cômicas que podem vir ou não, a acabar em redenção. Seus contos falam, sobretudo, de humanidade. 

“Tanto quanto homo sapiens, somos homo motus, seres emocionais. Podemos viver sem ter consciência delas, é verdade, mas elas estão em nossas escolhas e decisões 24 horas por dia. Às vezes, essas emoções são complexas, formadas pela união delas, e às vezes, elas se sucedem rapidamente”, comenta. 

A humanidade sempre lidou com as emoções. E um dos argumentos do livro é justamente mostrar como sem elas, qualquer sujeito se resume a um ser unidimensional. As emoções, por meio de seu portador, podem ser aprisionadas ou permitidas. 

Novos livros em vista

Rinaldo sempre escreveu contos, mas precisou sentir-se confiante para publicar as histórias presentes em “Emoções”. Aos 45 anos, o autor já publicou “Sonhando com Harvard”, em que compartilha suas memórias e conta os passos e iniciativas que o levaram a uma das melhores universidades do mundo, além da não-ficção “Desenvolvimento Sustentável da Amazônia” que, por sua vez, trata do aquecimento global e do desmatamento amazônico, discutindo um modelo de geração de riquezas e redução do desmatamento que dialoga com os desafios ecológicos globais. O livro é fruto da pesquisa de Rinaldo enquanto esteve na universidade americana. 

O autor pretende agora escrever um segundo volume de contos ficcionais. Mais uma vez, relacionado às emoções. Dessa vez, Rinaldo promete tratar de temas mais espinhosos."Quero abordar um lado humano mais esquisito e sombrio, com emoções como a tristeza, o ciúme e o desprezo”, revela. Ele também tem em mente um novo livro de memórias, dessa vez, sobre a experiência de trabalhar com crimes sexuais praticados contra crianças e adolescentes. "Pretendo expor os bastidores e os desafios daquele tipo de trabalho."

Leia um trecho de “Emoções: A Grandeza Humana” (pág. 47):

“Uma criança com um balão não imagina o gás hélio sólido. Se a matéria tem diferentes estados físicos, o ser humano também. A vergonha pode mudar a forma de alguém, de descontraído a tenso, de ereto a encurvado, de confiante a medroso. O envergonhado desvia o olhar do outro, para se desviar de si. Ao redor de seu eu, constrói muralha invisível e cumpre sentença perpétua.” 

Adquira “Emoções: A Grandeza Humana” pelo site da Editora Labrador:

https://editoralabrador.com.br/produto/emocoes-a-grandeza-humana/


O AUTOR

Rinaldo Segundo é promotor de justiça e atua, principalmente, na área de homicídios e crimes sexuais contra crianças e adolescentes, onde sente diariamente as emoções alheias refletidas em si. Formado em Economia e Direito, com mestrado em Desenvolvimento Sustentável (Harvard Law School), também é autor do recém-lançado livro de contos Emoções: A Grandeza Humana” (144 páginas, Editora Labrador). Inspirada em sua vivência profissional, a obra expõe dramas sociais da atualidade e as emoções como ponto comum na experiência humana.

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