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Resenha: Pra tudo começar na quinta-feira, de Luiz Antonio Simas e Fábio Fabato



APRESENTAÇÃO

Este é um trabalho com um recorte temático e espacial: ele versa sobre os enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro e os seus criadores. A primeira parte aborda a conexão que existe entre os enredos das agremiações e os respectivos contextos históricos em que foram apresentados. A segunda parte apresenta e analisa a biografia profissional e a contribuição dos maiores carnavalescos, criadores de enredos, para o crescimento e transformação das escolas de samba do Rio de Janeiro desde 1960, quando a influência desses personagens passa a ser decisiva (e polêmica) para os rumos da festa.

RESENHA

O livro "Pra tudo começar na quinta-feira: o enredo dos enredos", de Luiz Antonio Simas e Fábio Fabato, apresenta uma profunda e instigante análise sobre a evolução dos enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro ao longo do tempo. Os autores se debruçam sobre essa importante manifestação cultural, explorando suas conexões com os contextos históricos, sociais e políticos em que se inserem.

O trabalho se divide em duas partes principais. Na primeira, os autores abordam a relação entre os enredos das agremiações e os respectivos períodos históricos em que foram apresentados, mostrando como as escolas de samba foram influenciadas em suas escolhas temáticas pela conjuntura de determinados momentos. Ao mesmo tempo, destacam que as escolas, dotadas de notável capacidade de assimilação e transformação, acabam por influenciar essa mesma conjuntura, não sendo meras vítimas passivas do contexto ou condicionadas acriticamente por ele, mas agentes ativas da história, interferindo dinamicamente no tempo e no espaço em que estão inseridas.

Na segunda parte, os autores apresentam e analisam a biografia profissional e a contribuição dos maiores carnavalescos, criadores de enredos, para o crescimento e a transformação das escolas de samba do Rio de Janeiro a partir da década de 1960, quando a influência desses personagens passa a ser decisiva (e polêmica) para os rumos da festa.

Ao longo da obra, Simas e Fabato adotam uma abordagem interdisciplinar, transitando entre a história, a sociologia, a antropologia e os estudos culturais, o que lhes permite uma compreensão ampla e multifacetada do objeto de estudo. Sua escrita é fluida e acessível, evitando o rigor acadêmico excessivo, o que torna a leitura agradável e envolvente.

Um dos aspectos mais relevantes do livro é a forma como os autores lidam com a questão da memória. Eles reconhecem que não há uma memória objetiva, uma vez que a reconstrução de uma experiência sempre pressupõe distintas interpretações e ressignificações do que foi vivido. Dessa maneira, o mundo do samba é apresentado como um espaço ricamente povoado de relatos épicos, mitos e personagens lendários, em que mito e história, realidade e fábula, se entrelaçam constantemente.

Outro ponto forte da obra é a atenção dedicada aos carnavalescos, figuras centrais no desenvolvimento das escolas de samba. Simas e Fabato traçam um panorama histórico da ascensão desses profissionais, destacando sua importância na reconfiguração estética e temática dos desfiles. Ao mesmo tempo, evidenciam as tensões e os conflitos entre esses artistas e o poder público, bem como a maneira como eles negociaram e se adaptaram às demandas impostas pelos patrocinadores e pela indústria do entretenimento.

No que se refere aos enredos, os autores identificam duas tendências principais ao longo do tempo: a dos temas que versam sobre efemérides oficiais e personagens históricos, e a dos enredos que abordam a mitologia e a cultura afro-brasileira. Eles demonstram como essas duas vertentes se relacionam com as conjunturas políticas e sociais de determinados períodos, refletindo tanto os interesses do Estado quanto as reivindicações e a resistência das comunidades marginalizadas.

Além disso, os autores dedicam atenção especial à emergência dos enredos patrocinados nas últimas décadas, explorando as implicações dessa nova realidade para a festa. Eles argumentam que essa tendência tem levado à padronização e à uniformização dos desfiles, com as escolas sendo encaradas como potenciais veículos de propaganda de massas e indução ao consumo.

Em suma, "Pra tudo começar na quinta-feira" se configura como uma obra fundamental para a compreensão do carnaval carioca e de sua importância como manifestação cultural e política. Ao articular de forma brilhante a relação entre os enredos e os contextos históricos, sociais e econômicos, os autores contribuem significativamente para o avanço dos estudos sobre essa celebração tão rica e complexa.

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