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Entrevista: Vinicius Ariola, autor de ❝Cuatro Vientos❞



Cuatro Vientos fala de como um jovem pobre de uma cidade do Sul do Brasil fez para conhecer 14 países de diferentes culturas e ter uma maravilhosa experiência direta com Energia Eólica e as dificuldades enfrentadas nessa profissão dia a dia.

Cuatro Vientos é um livro biográfico escrito pelo autor Vinicius Ariola. A obra é uma musicalidade poética presente na história do autor em relação ao seu trabalho com energia eólica. Prolífico na arte da escrita o autor nos brinda com sua sensibilidade e genialidade expondo todo processo criativo de sua obra nesta entrevista.

Cuantro Vientos / colagem digital

Como foi a sua transformação de um jovem pobre do sul do Brasil para um viajante internacional? 

Tudo começou quando minha mãe recebeu um convite para morar na Argentina. Isso aconteceu muito rapidamente.

Quais foram os 14 países que você visitou e como essas culturas diferem da brasileira? 

Visitei França, Alemanha, Egito, África do Sul, Porto Rico, Chile, Uruguai, Argentina, Noruega, Espanha, Itália, Brasil, Reino Unido e Peru.

Você poderia compartilhar uma experiência marcante que teve em um desses países? 

Antes de começar a trabalhar com energia eólica, eu estava passando por um momento difícil. Cheguei a comer comida do lixo em Paris, pois não tinha dinheiro. Estava em um momento tão difícil que não quis pedir ajuda à minha mãe, que naquele momento estava vivendo na Argentina.

Como você se envolveu com a energia eólica? 

Conheci uma moça chamada Isabel, que me apresentou ao seu namorado. Foi assim que soube onde entregar meu currículo e tudo começou.

Quais foram algumas das dificuldades que você enfrentou na profissão de energia eólica? 

A falta de companheirismo em alguns momentos foi um desafio, porque muitas pessoas que sabiam como realizar certos tipos de trabalho não te ensinavam.

Como é um dia típico de trabalho para você? 

Nosso dia sempre começa com o DDS - Diálogo Diário de Segurança. Após isso, verificamos nossa programação de atividades.

Cuantro Vientos / Colagem Digital

Você mencionou que “viver no trecho” no Brasil é difícil. Você poderia expandir sobre isso? 

Sim, viver no trecho não é nada fácil. Existem muitas pessoas que não conseguem concluir um projeto. Isso implica, muitas vezes, ter o apoio da família. Por exemplo, se o profissional não tiver sua vida familiar bem resolvida, isso acaba acarretando vários fatores, como discussões com sua esposa, filhos, pais, etc. Estar no trecho é saber o verdadeiro motivo pelo qual estou abrindo mão de muitas coisas importantes.

Quais são algumas das coisas que você teve que renunciar para seguir essa carreira? I

inconscientemente, posso dizer que foi a família, de certa forma, mas meu foco sempre foram eles.

Como você lida com a falta de tempo com a família devido ao seu trabalho? 

Hoje em dia é um pouco mais fácil devido à tecnologia. Obviamente, estar sem a presença física, sem o calor do abraço de minha esposa e filhos é muito difícil. Mencionei a tecnologia porque antigamente só tínhamos os famosos orelhões e era com fichas. Hoje temos celulares com câmeras, isso minimiza a saudade de alguma maneira.

Como você lida com trabalhar em condições climáticas extremas? 

Conseguimos, de certa maneira, nos adaptar ao clima.

Você perdeu algum evento significativo, como o nascimento de um filho ou um aniversário, devido ao seu trabalho? 

Sim, perdi o nascimento da minha filha mais nova, pois não consegui estar no Brasil. Também não pude estar presente quando meu padrasto faleceu.

Como você equilibra a vida profissional e pessoal enquanto trabalha longe de casa? 

Graças a Deus, minha esposa é minha grande amiga e temos um ótimo diálogo. Isso facilita muito. Conversamos sobre tudo o que vamos fazer, tanto na parte familiar quanto na nossa empresa.

Como o seu trabalho impacta o sustento da sua família? 

Tudo o que tenho, primeiramente, agradeço a Deus e à energia eólica. Graças ao meu trabalho, ajudo não só a minha família, mas também outras pessoas que precisam. O meu livro “Cuatro Vientos”, na época da pandemia, quando cheguei ao Brasil, já tinha relançado o livro no Brasil. Ao me deparar com a situação de muitas pessoas na minha cidade, me deparei com uma situação muito difícil. Foi então que tivemos a ideia, junto à minha esposa Nacaiame, de comprar livros a preço de custo e vender para comprar cestas básicas para fazer doações.

O que você gostaria que as pessoas soubessem sobre a vida e o trabalho no setor de energia eólica? 

É um trabalho maravilhoso, com grande desenvolvimento diário em escala mundial. O profissional, se desejar, pode construir uma carreira na área em qualquer empresa.

Se você pudesse dar um conselho para alguém que está considerando uma carreira em energia eólica, qual seria? 

O melhor conselho é não se limitar a aprender, pois dentro dessa área o profissional pode aprender desde a parte elétrica até a mecânica, e como se tornar um líder. O limite que se coloca é, algumas vezes, o próprio profissional por estar em um setor, então ele se acomoda e fica com medo de novos desafios.

Como foi o processo de escrever este livro? Houve algum desafio específico? 

Escrever “Cuatro Vientos”, desde o início, foi um desafio, pois ele fala de mim em primeira pessoa. Começar a escrever foram dias de muito choro, onde a emoção da lembrança tomava conta em alguns momentos. Outros dias foram de êxtase, felicidade, amor e sentimento de conquista.

O que inspirou você a compartilhar sua história em forma de livro? 

Saber que muitas pessoas que vivem neste mundo, não só referente à energia eólica, mas todas as pessoas que querem vencer, são capazes de realizar seus sonhos.

Como você decidiu quais experiências incluir e quais deixar de fora do livro? 

Na verdade, foi fácil, pois tudo que naquele momento eu quis escrever, fiz com todo o coração. Não deixei muitas coisas de lado.

Houve alguma parte do livro que foi particularmente difícil de escrever? 

Sim, falar sobre a morte de Carol e o nascimento do meu filho foram difíceis. Outro momento difícil foi falar que quase morri por estar em depressão e usar drogas, e até mesmo o momento em que pensei em me suicidar.

Como você espera que os leitores se sintam depois de ler o seu livro? 

Espero que se sintam motivados em saber que uma pessoa cheia de sonhos conseguiu o que queria. Não deixei que a solidão e o desespero me vencessem, mas sabia que todos que realmente estiverem dispostos a pagar o preço conseguirão vencer. Hoje, eu me sinto um vitorioso. Vivi tudo que vivi e hoje posso dizer que Deus esteve sempre comigo e está sempre comigo. Hoje tenho passos mais firmes que antes, minha base é minha família e, graças a eles, consigo me manter firme e com foco em tudo que quero realizar.

Entrevista: João Carlos Viegas, autor de ❝O terceiro cúmplice❞

João Carlos Viegas nasceu no Rio de Janeiro, um roteirista de rádio e tevê com persistência para ser escritor. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro se formou em Letras e na Universidade Federal Fluminense, em Comunicação Social/Jornalismo. Além de O Terceiro Cúmplice, escreveu os romances O Segredo dos Nomes, Um sábado depois do fim do mundo e Segura essa, JDSalinger; com o último ganhou o prêmio Álvaro Maia de melhor romance no I Prêmios Literários Cidade de Manaus, em 2006. Também publicou Carmem Costa, uma cantora do rádio, livro sobre importante fase da música popular brasileira. Atualmente, trabalha no romance Incidente Joana D’Arc.

Hoje, o autor nos conta um pouco sobre o enredo e processo criativo de uma de suas obras mais proeminentes.



Como você descreveria a personalidade de Garret?

R.: Alguém que não se adapta à realidade e busca um universo paralelo.  Nestes tempos de metaverso, Garret é um personagem contemporâneo.


A cena inicial do livro é bastante dramática, com Garret tendo que vestir seu pai morto. Como essa cena estabelece o tom para o resto do livro?

 A morte tem sempre um ritual em todas as comunidades e religiões.  Ao vestir o pai morto, Garret dá o toque ritualístico ao livro.  Tal atitude é importante para se entender as obsessões do personagem.


Garret é descrito como um “contador de histórias fenomenal”. Você pode compartilhar mais sobre o que torna suas histórias tão cativantes?

Garret busca uma realidade paralela e tal patamar só pode ser alcançado com a criação de histórias.  Por isso, ele fala da tia que cantava óperas.  Por isso, busca na memória lembranças como o pai subindo as escadarias da Penha de joelhos para pagar promessa.  Garret é um espectador das histórias que conta, talvez, essa postura o faça um contador especial de casos. A menina com a estrela de David no tornozelo e o professor Gedeão que fala com os mortos são fundamentais para o encanto de Garret como contador de histórias.


Garret também é um “narrador não confiável”. Como isso afeta a maneira como a história é contada e como o leitor percebe os eventos?

Todo contador de história não é muito confiável.  Machado de Assis nos ensinou que “Quem conta um conto aumenta um ponto” e Fernando Pessoa classificou o poeta como um fingidor.  Acredito que Garret é por aí.


O pai de Garret teve um surto psicótico e subiu de joelhos a escadaria da Igreja da Penha. Como esse evento moldou Garret e sua visão de mundo?

Pagar promessas é um ritual que afeta a cabeça de quem testemunha esse ato de fé extrema.  Imagine um menino vendo o pai se flagelando?  Claro que essa visão fez de Garret alguém que deseja a purificação através do sacrifício e ele não se poupa porque sabe que as conquistas que almeja vão exigir flagelos.  Nem sempre físicos, mas flagelos.


O livro é descrito como tendo um “tom de comédia”. Como você equilibra os elementos de comédia com os temas mais sérios do livro?

Da mesma forma que nos equilibramos num mundo onde crianças judias, palestinas e ucranianas são massacradas em guerras estúpidas. O humor (é isso aprendi no tempo em que convivi com grandes humoristas quando fui roteirista do Chico Anysio) não é um riso inconsequente.  Pelo contrário, com humor se faz críticas contundentes.  Ditadores têm aversão ao humor porque sabem que é a forma mais eficaz de mostrar como o opressor é ridículo.  Em “O Terceiro Cúmplice”, acredito que consegui esse tom crítico através de situações de humor num enredo sério.


Como a realidade paralela inventada por Garret ajuda a escapar do cotidiano que lhe entedia?

Garret (não pronunciem “garré” porque ele não gosta) busca o equilíbrio no universo paralelo, o equilíbrio que a realidade não lhe permite. É estranho, não é? Tentativa de fugir da realidade para se equilibrar.  Mas é isso que Garret quer.  Talvez, ele seja uma Inteligência Artificial. Mas é humano.


Quais são alguns dos personagens icônicos, cenários oníricos e desfechos improváveis que os leitores podem esperar encontrar no livro?

O mendigo sem rosto, a menina com a Estrela de David no tornozelo, a vizinha Amália e o grupo que se reúne no edifício onde Garret foi morar.  Tudo e todos têm um tom de mistério que vai sendo desvendado e mais intrigante a trama do livro se torna.  Por isso, “O Terceiro Cúmplice” é um livro que dá prazer a quem lê.


Sem revelar muito, o que os leitores podem esperar do final da história? O final do livro surpreende porque não apela para a “revelação de segredos”. Naturalmente, o leitor vai entendendo o que acontece e conclui: “Ah! Então, era isso!”. Tenho certeza de que leitoras e leitores vão gostar do final porque é construído por quem lê o romance.


Como você descreveria seu estilo de escrita e como ele evoluiu ao longo de sua carreira?

Misturo tudo.  Meu estilo é a mistura de estilo.  Roteiro de rádio e tevê, palavras-cruzadas, oralidade… sou um mestiço brasileiro com um estilo de escrever buscando essa mistura. 


Quais autores ou obras literárias influenciaram seu estilo de escrita?

São muitos.  Machado de Assis e Nélida Piñon.  Oscar Wilde e Vinícius de Moraes.  JDSalinger e Cervantes.  Tantos e tantas.  Aprendi muito ouvindo rádio também.


Como você equilibra o desenvolvimento do enredo e a profundidade dos personagens em sua escrita?

Procuro criar o personagem dentro do enredo.  Sempre penso como alguém agiria envolvido em tal história.  Dessa forma, começo a pensar como se fosse o personagem naquela situação.  Aprendi isso no jornalismo e procuro trazer para a ficção.  Parece que tem dado certo.


Você pode compartilhar um pouco sobre seu processo de escrita? Por exemplo, você esboça a história completa antes de começar a escrever, ou você permite que a história se desenvolva à medida que escreve?

Primeiro, vem a história na minha cabeça.  Depois, vou adaptando as cenas, os personagens, as situações...... como meus livros não são lineares (princípio, meio e fim de forma rígida) comparo minha escrita à montagem de um jogo.  As peças vão encaixando na história e formando o livro.


Quais são alguns dos desafios que você enfrentou ao escrever este romance e como você os superou?

O maior desafio de um escritor brasileiro é escrever. O que ouvi e ainda ouço que brasileiro não lê e — quando lê — não lê escritor nacional.  Uma vez, uma idiota falou que minha escrita é carioca demais e leitor brasileiro não gosta de cariocas.  Portanto, o desafio está fora do livro: é chegar ao leitor.  Por isso, sou persistente e escrevo na tentativa de vencer os desafios.


Como a experiência de João Carlos Viegas como jornalista, roteirista e radialista influenciou sua abordagem à literatura?

 A minha experiência profissional me fez escrever de forma diversificada.  Na forma e no conteúdo, procuro produzir uma obra capaz de atingir o maior número possível de pessoas.  Com esse objetivo, misturo ficção com documentário, prosa com poesia.  A música popular brasileira também tem grande influência no que escrevo.  Acredito que devo isso à experiência em rádio e tevê.  Mas o que faço é literatura e é como escritor que eu quero ser reconhecido.

[ENTREVISTA] Debora Sapphire, autora de “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta”

Debora Sapphire fala sobre o processo de criação de seu segundo livro, bem como do seu primeiro na categoria juvenil, intitulado “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta”. A autora, também conhecida pelo romance “O Mistério da Mansão Walker”, revela detalhes sobre as novidades editoriais, futuros lançamentos, seu processo criativo e sua nova personagem.

1. Como surgiu a ideia para escrever “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta”?

A ideia de escrever “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta” surgiu a partir de um edital da Lura Editorial para uma antologia de contos de fadas que aquecem o coração. Decidi seguir caminhos diferentes para a publicação do conto e encontrei na Amazon uma forma de dar mais destaque à história.


2. Qual foi a inspiração por trás da personagem Ruby, a pequena bruxa ruiva?

A inspiração para criar Ruby veio do desejo de escrever uma personagem que a Debora adolescente ou criança gostaria de ler. Visualizei uma protagonista mirim com personalidade única para estrelar uma história cativante.


3. Como você abordou a temática do luto e da autodescoberta na história?

Abordei as temáticas de forma sensível e natural, pois são assuntos comuns na vida humana. O luto é uma experiência que todos enfrentamos em algum momento, e a autodescoberta é essencial para o crescimento e formação de um indivíduo.


4. Em sua opinião, qual é a importância de trazer personagens femininas fortes e independentes em livros infantojuvenis?

É fundamental trazer protagonistas femininas fortes e independentes na literatura infantojuvenil. Muitas vezes, os livros dessa faixa etária são escritos por homens e apresentam personagens masculinos como principais. É importante que meninas inteligentes, independentes e cheias de personalidade se vejam representadas nas histórias, independentemente da idade delas.


5. Como você equilibrou a magia e a realidade na trama do livro?

Busquei equilibrar a magia e a realidade na construção da narrativa. A ficção se apoia na realidade, mesmo sendo uma criação imaginária. Nesse sentido, trouxe influências da cultura wicca e abordei temas como violência doméstica, preconceito e diferenças culturais presentes em nossa sociedade.


6. Qual é a mensagem principal que você gostaria que os leitores tirassem de “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta”?

Embora haja uma mensagem central, acredito que cada leitor pode interpretar e tirar diferentes mensagens preciosas dessa história. No entanto, acredito que a principal seja valorizar o que já temos em vez de idealizar algo diferente, e que o autoconhecimento é fundamental para encontrar nosso lugar no mundo.


7. Como foi o processo de criação dos personagens secundários, como a raposa e o caçador?

Apesar de serem personagens secundários, a raposa desempenha um papel importante na história, sendo o espírito familiar da pequena bruxa. O processo de criação desses personagens foi tranquilo, pois ambos têm relevância na trama do conto, seja de forma direta ou indireta.


8. Quais são os desafios de escrever para o público infantojuvenil?

Escrevi o livro pensando em um público amplo, incluindo jovens e adultos. Não houve limitação em escrever apenas para o público infantojuvenil, pois desejava que a história pudesse ser apreciada por todas as idades.


9. Como você acredita que a literatura pode contribuir para o desenvolvimento das crianças e adolescentes?

Acredito que a literatura desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Essa fase é decisiva para a construção psicológica e emocional de um indivíduo, e os livros podem contribuir para a formação de caráter, além de estimular a criatividade e a imaginação.

10. Quais são as suas maiores influências literárias ao escrever um livro do gênero fantasia?

Como leitora ávida de histórias de fantasia, minhas maiores influências vêm das leituras que fiz ao longo de minha vida. Essas influências moldaram minha escrita e meu amor pelo gênero fantástico.


11. Você teve que fazer alguma pesquisa específica para escrever sobre bruxas e magia?

Confesso que criar histórias sobre bruxas e magia se tornou uma especialidade minha. Por isso, é um tema confortável para mim escrever sobre. No entanto, mesmo sendo uma parte característica das minhas histórias e trazendo essa identidade como escritora, eu sempre faço pesquisas antes de compor uma trama para construir uma narrativa verossímil.


12. Como você desenvolveu a narrativa reflexiva e acolhedora presente em “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta”?

Para desenvolver a narrativa reflexiva e acolhedora em “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta”, sem dúvida, foi preciso me colocar no lugar do leitor. Eu queria transmitir emoções e sensações ao leitor durante a leitura dessa história, e para isso, eu precisava sentir essas emoções primeiro.


13. Quais são as suas técnicas para criar um mundo de fantasia envolvente e cativante?

Olha, eu não tenho técnicas específicas para criar um mundo de fantasia envolvente e cativante. Como mencionei anteriormente, a história precisa me conquistar e cativar antes, enquanto me coloco no lugar do leitor. Uma vez que isso acontece, sei que as chances desse mundo ser capaz de envolver e cativar outros leitores são altas.


14. Você já tinha em mente que “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta” seria um livro infantojuvenil desde o início do processo de escrita?

Sim, primeiramente porque é um gênero em que eu já tinha interesse em me aventurar. Minha mãe é pedagoga e professora do ensino infantil, então eu já tinha o desejo de escrever um livro que ela pudesse usar em sala de aula. Com certeza, ainda haverá versões ilustradas e adaptação em quadrinhos do livro no futuro. Além disso, assim que surgiu a oportunidade de embarcar nesse projeto, eu não perdi tempo. E quando falo em oportunidade, também me refiro a investimento financeiro.


15. Como você lida com o feedback dos leitores, especialmente quando se trata de um livro voltado para crianças e adolescentes?

Eu procuro lidar com o feedback dos leitores das minhas obras de forma aberta, compreendendo que cada experiência de leitura é única. Gosto da frase: "cada leitor só consegue ler com os olhos que tem". A experiência de leitura, tanto positiva quanto negativa, depende exclusivamente do leitor. Meu trabalho como escritora já foi entregue e passou pelas mãos de diversos outros profissionais para oferecer um resultado de qualidade aos leitores. Geralmente, a recepção dos livros voltados para o público infantojuvenil é mais acolhedora. São os adultos arrogantes que costumam complicar as coisas em relação ao feedback (risos).


16. Quais são os seus maiores desafios ao escrever um livro para essa faixa etária?

Penso que um dos maiores desafios ao escrever um livro para essa faixa etária é manter a linguagem acessível e moderada para estimular a imaginação e a memória afetiva dos jovens leitores. Hoje em dia, é necessário ter cuidado ao abordar temas sensíveis. Também há a proposta de trazer diversidade e aprendizados ao introduzir reflexões relevantes de maneira lúdica.


17. Como você acredita que “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta” se diferencia de outros livros do mesmo gênero?

Acredito que “A Pequena Bruxa e a Raposa da Floresta” se diferencia, em primeiro lugar, por ser escrito por uma escritora que é uma bruxa de verdade. Portanto, trouxe muito da filosofia da cultura wicca para esse livro, apesar da mistura de fantasia e magia presente na história. Em segundo lugar, mesmo sendo uma obra infantojuvenil, o livro possui uma complexidade que apenas os adultos serão capazes de entender melhor. Ou seja, aqueles que lerem o livro quando crianças ou adolescentes e relerem quando adultos irão compreender muito mais coisas presentes entre as linhas dessa história. Isso se dá pela expansão do repertório do leitor.


18. Quais são seus planos futuros como autora? Podemos esperar mais histórias envolvendo a personagem Ruby?

É interessante dizer que, como escritora, costumo publicar surpresas, pois gosto de surpreender meu público com uma nova história. Apesar de meses e até anos de planejamento por trás de uma publicação, eu sou mais reservada no sentido de não revelar muito para as pessoas. No entanto, se houver novas histórias envolvendo a personagem Ruby, isso dependerá da recepção do público.

Posso revelar que ainda haverá a publicação física do meu livro de estreia do ano passado, “O Mistério da Mansão Walker”. E já estou trabalhando no segundo livro dessa duologia, que será o desfecho. Aqui, em primeira mão, revelo que essa sequência de "O Mistério da Mansão Walker" já tem título: “O Segredo de Forestland”, com lançamento previsto para 2024.


19. Que conselho você daria para jovens escritores que desejam entrar no mundo da literatura infantojuvenil?

Um conselho que eu daria para jovens escritores que desejam entrar no mundo da literatura infantojuvenil (e não só para eles), é que se eles têm uma história para contar e acreditam que ela fará diferença na vida de alguém, de um leitor ou leitora, então contem essa história da melhor maneira possível, sempre escrevendo de forma responsável.


20. Qual é a importância da literatura infantojuvenil na formação de leitores e na promoção do hábito da leitura desde a infância?

Essa é uma questão muito importante, pois, como eu já disse anteriormente, a literatura infantojuvenil é essencial na formação do caráter dos novos leitores. Incentivar a leitura de bons livros e criar o hábito de ler desde a infância é fundamental para construir uma sociedade mais empática, criativa, benevolente, bem informada, justa e tolerante.

A AUTORA

Debora Sapphire é o pseudônimo de uma influencer literária, resenhista e colunista. Bacharel em Comunicação Social. Mora no interior de SP.

Atualmente, ela fecha trabalhos de publicidade como profissional freelancer no mercado editorial. É uma jornalista entusiasta da literatura e leitora beta nas horas vagas.

Além de trazer consigo um senso crítico considerável para abordar com autoridade assuntos sociais e temas atemporais necessários a fim de levar reflexão importante aos leitores

Escritora de "O Mistério da Mansão Walker". Adora escrever sobre protagonistas complexas e em suas histórias reina o empoderamento feminino.

Aos 26 anos, já realizou diversas parcerias e entrevistas com autores nacionais ao longo dos últimos cinco anos. E segue em sua página do blog Amante da Arte da Literatura e nas redes sociais como @sapphiredebbie, divulgando autores nacionais contemporâneos em prol da valorização de toda a ampla literatura nacional. Curadora @clubeliteraturanacional.

[#LeiaNacional] Entrevista com Cris Oliveira, autora de ❝Escova de dentes❞


Com uma escrita experimental, que traz influências da poesia concreta, da poesia narrativa e do haicai japonês, "Escova de dentes” (104 pág) é o livro de estréia da bibliotecária paulistana Cris Oliveira (@cris_taiane), uma das finalistas da chamada de publicação em poesia da Editora Claraboia. Publicado pelo selo de publicação assistida da Claraboia, a Editora Paraquedas, o livro tem orelha assinada pela escritora Ana Rüsche, finalista do Prêmio Jabuti em 2019. 


Nascida em 1974 em São Paulo, capital, Cris Oliveira é formada em Biblioteconomia e Documentação pela USP e trabalha com gestão de coleções digitais e metadados na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Genebra, na Suíça, onde reside. Participou em antologias da I Jornada de Poesia Virtual e do VI Festival de Poesia de Lisboa, tem textos publicados na Ruído Manifesto, selo Off Flip e no blogue da Bibliotrónica Portuguesa da Universidade de Lisboa. 


Hoje, Cris nos conta um pouco mais sobre como se deu seu processo criativo em uma entrevista esclarecedora. Confira abaixo:

1. Escova de dentes é um livro sobre cotidiano e sobre como somos afetados por momentos, tensões e sentimentos no decorrer do dia a dia, porém, a obra não constitui um fio condutor, tornando a leitura fluida e única para cada leitor. Como optou por escrever uma obra nesta temática e com essa forma tão específica?

Sim, escrevi os poemas ao longo de quatro anos a partir de observações e reflexões feitas durante minhas perambulações e em momentos do cotidiano que envolvem desde tarefas triviais a experiências mais importantes como relações e sentimentos. Essa pergunta é muito boa porque me obriga a tentar entender a minha escrita, coisa que ainda não domestiquei, e que também não quero. Acho que a obra foi tomando um rumo sem eu me dar conta, e durante o processo surgiram perguntas, crises e muita reescrita. Encontrei poemas mais antigos que estavam na gaveta e que cabiam, e assim acho que foi nascendo o conjunto da obra, que fui descobrindo enquanto fazia. Acho que isso é o que mais gosto da escrita, a descoberta, seja fechando um poema com um verso ou uma rima, seja na revisão, na construção e reconstrução. Citando Peninha, “quando a poesia fez folia em minha vida”, o que mais me fascinava, e ainda me fascina, é a ideia da poesia nesse lugar onde tudo é possível, que nos convida a sair do costumeiro, de regras e formatos, de padrões, que nos convida a mudar o olhar. Eu acho que feras devem ser eternamente feras, e a escrita é isso pra mim, um bicho lindo, um instinto de criação que vem da natureza, de fora e de dentro da gente, que cria e recria sem parar, com a qual devemos conviver e compartilhar, não controlar. Momentos bons são momentos de harmonia com essa força, a poesia só pode ser isso, e é preciso entender menos e sentir mais. Pensar com o corpo. Esse é o lugar onde quero estar. A poesia é o portal e é o destino ao mesmo tempo. Gosto muito das provocações, do encanto poético, alguns poemas são mesmo respostas a poemas de grandes mestres, um atrevimento que é todo meu nessa experimentação que flerta com o sublime da poesia concreta, do haicai e da poesia narrativa. Talvez seja esse um fio condutor, a poesia experimental, essa forma. E, quando prestamos atenção, o ponto exato está ali, num detalhe. A palavra é o invento que faz o livro. Enfim, a poesia é tão primorosa que ela pode ser o que ela quiser, gosto de pensar que ela me dá carona. A última parte do livro, “Free soul”, é também essa afirmação. 

2. O título do livro é homônimo a um de seus poemas que exprime toda ideia central da obra. Ele foi o primeiro a ser escrito? Como optou pelo nome da obra?

Na verdade, o poema de título homônimo ao título do livro é um dos mais recentes, eu acho que foi o penúltimo poema que escrevi antes da publicação. Dar títulos a poemas não é uma tarefa fácil para mim. Eu brinco que um título pode ser um spoiler ou pode arruinar um poema, sobretudo quando limita a interpretação e condiciona a leitura. O Escova teve dois outros títulos, um pouco tristonhos. Precisei entender o que queria com minha escrita; gosto do encantamento da poesia através do humor, do jogo de palavras e de imagens. Foi relendo o “Escoliose” da Ana Frango Elétrico e o “Grapefruit” da Yoko Ono que tomei coragem de ousar, e o título veio do poema “visual arts”, e já tinha escrito o poema da epígrafe, que passou a ser epígrafe quando escolhi o título. “Hábitos atômicos” veio depois. Em espanhol tem uma palavra que eu adoro (por sua sonoridade e significado), que é “desubicado”, que é algo ou alguém fora do lugar, e a escova de dentes na geladeira é arte, é distração e é provocação para sair do piloto automático. O Escova talvez seja um livro desubicado.

3. Uma obra que aborda coragem e determinação ao mesmo passo em que somos tomados por sentimentos e aflições, um convite a encorajar-se nas questões difíceis. O caminho percorrido nas linhas tem algum motivo específico? por que decidiu falar sobre sentimentos de forma tão implícita?

Touché. Puxa, eu acho uma maravilha essa troca que a poesia proporciona, gosto de pensar que podemos ter a arte como cura porque ela é, é nosso alento, é inspiração, é nossa voz, é nossa resistência, é nossa união e identidade, individual e coletiva. Não é possível nadar no mar sem sentir a força das ondas, é meio clichê, mas a vida são esses movimentos, são momentos, a sensação que o tempo nos dá de ancorar, de não dar mais pé, de afundar, ou de boiar, esse entendimento de que é uma parceria mais do que uma luta para poder seguir nadando. Ao mesmo tempo, o poeta é um fingidor, bem disse Fernando Pessoa, os últimos anos não foram fáceis para ninguém. Quiçá na minha busca pela palavra exata, as dores sou eu e o verso são os outros. Quanto à franqueza, vou culpar a minha lua em virgem.

4. Pretende lançar outras obras dentro da mesma temática?

Eu gostaria muito de, independentemente do tema, conversar mais com o lirismo contemporâneo, que pra mim é um lirismo sem frescura, é lúcido, crítico e bem humorado, é popular e sofisticado ao mesmo tempo. Este é um desejo que surgiu quando li Marília Garcia, Alice Sant’anna, Filipa Leal e Ana Martins Marques: gosto da poesia narrativa. Talvez seja a continuação ou o contar de uma história o que me atrai como próximo desafio. Por outro lado, sempre gostei de poemas curtos. Quanto ao tema, eu ainda não sei ao certo, mas estou num ponto de inflexão na minha vida e novas reflexões não faltarão.

5. Como você se sente com as recepções que sua obra vem tendo?

Quando eu comecei a escrever eu não sabia o que queria com minha escrita e não imaginava que chegaria a publicar um livro. Eu fazia postagens de versos novos no instagram ou mostrava para pessoas mais próximas, e só quis publicar o livro quando me senti menos insegura (demorou). Pula para 2023, meu livro foi lançado em maio e tive um retorno muito caloroso da minha família e amigos num primeiro momento. Como novata, estou aprendendo os tempos do livro e me surpreendendo com o seu alcance. Gosto muito de como as leituras podem ser variadas, aprendo com cada comentário que me mandam e com as resenhas, me emociono. Adoro quando me mandam mensagens: até agora foram todas positivas. Veremos!

6. A obra possui uma divisão específica em capítulos que leva o leitor a uma abordagem metodológica em relação ao porvir, por que optou por não usar um sumário em sua obra?

Originalmente, no processo de organização do livro, quando criei as quatro partes, também criei um sumário, mas não entrou na diagramação.

7. Qual sua relação com a poesia? Por que decidiu escrever uma obra poética?

Gosto muito de contar essa história, meu contato diário com a literatura e o cancioneiro popular começou desde muito criança, eu acho que é o caso de muitos brasileiros, somos muito musicais. Digo isso porque eu acho que as rimas e as métricas da canção e como e onde ela nos toca, tudo isso foi muito importante na minha formação de poeta. Eu gostava das aulas de redação na escola, nunca abandonei a leitura, mas no mercado de trabalho só escrevia textos técnicos, e-mails e memorandos. Eu acho que meus poemas, que brotavam diariamente, surgiram num primeiro momento de uma necessidade de expressão, talvez de uma crise precoce de meia idade e de identidade, na minha condição de estrangeira morando em Genebra. Genebra é uma cidade internacional onde a gente anda de ônibus e ouve cinco ou seis línguas facilmente, é algo fascinante. Eu tinha perdido um pouco o contato com o que estava acontecendo na cena musical brasileira contemporânea antes de descobrir o programa Som a Pino da Roberta Martinelli, quem gentilmente topou assinar a quarta capa do meu livro. E quis muito que fosse assim por ela ter sido o cupido. A Roberta faz um trabalho muito lindo, ela mantém um espaço importantíssimo para artistas fora do mainstream e para nós ouvintes e amantes da música. Eu jamais tomaria conhecimento, morando longe do Brasil, de tanto repertório. Então foi mesmo um marco importante, foi quando eu passei a frequentar shows de música e voltei a escrever cada vez mais, até que decidi me matricular no curso de poesia da Universidade de Oxford. Nessa época, ainda não havia cursos à distância em língua portuguesa, muito menos de poesia.

8. Todo seu manuscrito nos leva para reflexões diárias e algumas até passageiras, qual a relação do seu emocional no ato da escrita com o resultado final da obra?

Alguns poemas que compõem o Escova de Dentes passaram por diferentes fases. Acho que sim, o emocional está presente até nesse inventar. Eu já chorei e já ri com meus próprios poemas, e ainda acontece. No início, ousava mais e era mais ingênua, e fui amadurecendo a escrita com leituras e reescrita. Nessa persistência, que durou dois anos, eu acho que consegui tirar o eu da poesia. Nos cursos discutimos a questão do distanciamento necessário para que o poema não seja sobre ou para mim mesma. Aprendi diferentes técnicas, mas não gosto de formas predefinidas e regras na hora da criação, tenho a impressão que o consciente é para reescrever, a criatividade e a loucura para criar precisam de outros recursos mentais ligados à espontaneidade e ao inconsciente, e por que não, à emoção.

9. Qual conselho daria para quem está começando seu primeiro livro?

Eu acho que participar de saraus, bate-papos de literatura, clubes do livro, cursos e oficinas, e enviar poemas para revistas e blogs independentes de literatura são excelentes oportunidades para mostrar nosso trabalho e ao mesmo tempo conhecer outros poetas e leitores de poesia. Eu uso as redes sociais e acho que funciona para ganhar seguidores e também conhecer o trabalho de outros poetas, às vezes acontece toda uma troca de dicas e de belezas. Ou seja, tirar os poemas da gaveta, revisá-los e organizá-los, circular sem medo de se expor, é um bom começo para depois publicar. Já com o manuscrito organizado, eu recomendaria fazer uma leitura beta ou crítica como parte do processo de revisão e finalização antes de mandar para as editoras. 

10. Quais são seus projetos para seus próximos livros, o que podemos esperar por aí?

Ainda não tenho projeto de livro, mas continuo escrevendo. Em maio sucumbi às tais newsletters e criei o “Poetim Frívolos Trejeitos”, um boletim poético de notícias do momento, é meu flerte com a prosa, que na verdade é um desejo de prosear com leitores. Estou começando, e aqui fica o convite para quem quiser acompanhar (vou adorar): https://crisoliveira.substack.com. Tem até uma carta pra Clarice Lispector. Além disso, meus planos até o final do ano são curtir a publicação do “Escova de dentes” e me dedicar ao estudo e prática de tradução literária.

[#LeiaNacional] Entrevista com Raquel Schaedler, autora de ❝Todos os poemas que escrevi pro amor perdido❞


Poder, entrega e superação. A obra de Raquel Schaedler tem a influência capaz de unificar o período do término e da superação de uma relação perdida por meios poéticos, de forma singela, única e com uma abordagem brilhantemente escrita. O lançamento da obra está previsto para o dia 12/05, às 20h, no Restaurante Nina, Curitiba. 

É nessa região de desterro, tateando modos de dar voz a uma perda, que se ergue este Todos os poemas que escrevi pro amor perdido de Raquel Schaedler. “Dar voz”, quero dizer, no sentido de circunscrever a ausência com o que resta daquilo que foi presença. Às vezes vem em eco, essa voz; surge “sem fundo”, tal como a própria saudade. Outras, chega com a força das preces, numa tentativa de “emancipar as palavras foragidas desde uma partida”. Há ainda horas em que nem sequer se sustém; antes vacila, entre “qualquer suspiro/grito/qualquer possibilidade/de ter vivido”.


1. Primeiramente, fale-nos um pouco sobre você.

Nasci em Curitiba, onde formei-me em cinema, pela Universidade do Paraná. Sou aluna egressa do Núcleo de Dramaturgia e Encenação do SESI-PR, a escola que abrigou a produção de minhas primeiras peças de teatro, e talvez tenha sido ali que meu caminho com a escrita profissional tenha se iniciado, ainda que eu fosse percebê-lo muito tempo depois. Dirigi minhas primeiras peças e depois de me formar mudei-me para São Paulo, onde vivi por 6 anos, trabalhando no cinema e no teatro como atriz, assistente de direção e tradutora. Foi neste período que comecei a escrever poesia mais seriamente, porque antes tinha produzido muito pouca coisa neste formato. Acabei descobrindo ser uma de minhas formas de expressão mais genuínas. Mas foi só durante a pandemia de covid-19, em 2020, que voltei para Curitiba e passei a dedicar algum tempo maior para isso, pela pertinência do momento. Assim editei “Todos Os Poemas Que Escrevi Pro Amor Perdido”, meu primeiro livro, que saiu em setembro de 2022 pela Editora Urutau.


2. Há quanto tempo você escreve, como começou?

Escrevo desde a adolescência. Comecei por volta dos 15, 16 anos. Escrevia pequenos contos, autoficções, crônicas poéticas. Depois, o cinema me levou aos roteiros para curta-metragens e, da mesma forma, o teatro me levou às dramaturgias para o palco. A poesia veio já na juventude/ início da vida adulta, quando minha escrita (assim como eu mesma) atingiu uma certa maturidade e muito mais liberdade. Mas eu fugi da escrita tanto quanto pude. Nunca desejei me tornar escritora. O ofício do escritor é muito solitário, e nunca nutri nenhuma espécie de romantização por este estilo de vida. A escrita era sempre uma etapa que eu precisava cumprir para ter em mãos o material de trabalho que desejava: uma peça para encenar, um filme para fazer. Mas com o passar dos anos, fui encontrando particular prazer na feitura do texto em si, uma espécie de atividade quase meditativa e que, quando ocorre, me proporciona uma concentração muito prazerosa e difícil de ser atingida na vida cotidiana. Sou uma pessoa muito dispersa. Além disso, apesar de não ter sido desde sempre meu maior sonho, reconheço a escrita como aquilo que faço com maior organicidade. Aí entendi que ela corria em minhas veias e me constituía assim como todos os meus outros órgãos vitais. E que eu faria isto sempre, de uma forma ou de outra. Isto sempre esteve comigo.


3. Você teria algum segredo de escrita? Algo que faça com que você se sinta inspirada/o antes de iniciar um novo livro?

No geral, planejo muito pouco. Escrever é um tanto de mistério também para mim, mas foi-se desvelando com o passar dos anos; hoje eu diria que é uma pulsão em algo domesticada. Porque posso escolher fazer com ela algumas coisas que desejo. Ainda assim, muita coisa surge da imprevisibilidade do acaso e gosto que seja assim. Para mim, a escrita, e principalmente a poesia, é uma forma de responder ao mundo. Para isso, é preciso estar viva: se me deprimo, não escrevo. Mas, quando estou viva, o mundo me move, e respondo a ele em forma de poesia. Quando vejo uma notícia triste, impactante, ou quando algo me emociona, um texto nasce dentro de mim e pede para vir ao mundo. Eu obedeço. Não ouso dizer que não, porque esta é uma palavra muito perigosa.

4. Quais foram suas principais referências na literatura, arte e/ou cinema?

Talvez o cinema tenha sido mesmo a arte primeira a me influenciar. Marcou toda a minha vida, desde a minha primeira infância. Meus filmes preferidos eram “ET”, “Em Busca do Vale Encantado” e “Benji”, que assistia repetidas vezes, a depender da fase em que me encontrava. Todos bastante narrativos, dramáticos e tocantes (risos). Na vida adulta, o cinema que seguiu me movendo mais foi sempre o cinema narrativo clássico. Eu gosto de histórias. E não à toa; fui criada para isto. Meu pai é um contador de causos e uma de nossas brincadeiras favoritas quando eu era criança era inventarmos histórias de planos infalíveis do Cebolinha contra a Mônica. Tenho isso gravado em fitas k7 até hoje. Muita gente tem para si esta ideia do talento nato, e isto é uma falácia: todas as pulsões e habilidades que trazemos em nós foram sendo gestadas ao longo de nossa história (pregressa ou não). Meus pais já escreviam poesia quando eu era criança. Meu pai é compositor e vivia exaltando textos bem escritos, letras de músicas do Chico Buarque, um grande letrista. Minha mãe é advogada e poeta e, ainda que não praticante, traz em si também a lida da palavra. Eu escrevo passivamente desde que nasci, porque o caldo das minhas relações, harmoniosas ou não, era recheado de vernáculos.

Uma das coisas que me fez querer estudar cinema foram os filmes do Wes Anderson. Aquela estética cheia de métrica, paralelismos e plasticidade é muito encantadora, mas no fundo está toda ela a serviço de uma grande narrativa clássica, que foi o que sempre me encantou. Sou apaixonada por bons roteiros, principalmente se estão falando de sentimentos, de humanidade. Outro filme que me marcou muito foi Paris, Texas. Acho que é meu filme preferido de toda a vida, até hoje. Já assisti umas dez vezes e sempre me emociono como se fosse a primeira vez. No fundo, olhando retrospectivamente, toda a minha apreciação artística delata o que vim a compreender muito recentemente, numa maturidade artística já bastante tardia: o amor é minha força motora, para todas as minhas criações e também para todas as minhas pequenas ações cotidianas. Amar é minha maior arma; sempre foi a única coisa capaz de me salvar dos piores acontecimentos e a única motivação genuína que carrego dentro de mim. O romantismo é certamente uma herança emocional que recebi de minha família, com todo seu mel e seu fel.

Até hoje, este traço do amor pelo mundo é o caminho que unifica toda minha pulsão e meu interesse, pela arte e pela vida.


5. Qual a parte mais difícil de se escrever um livro?

Editar o “Todos os Poemas” foi mais complicado do que escrevê-lo, para ser sincera. Isto porque minha poesia tem um caráter bastante confessional e, apesar do trabalho inerente de lapidá-la, de aprimorar o seu texto depois de escrita, sempre surge em mim como pulsão. Mas organizar o livro exigiu de mim uma escuta deslocada de minha própria criação, para entender quais poemas cabiam neste recorte, qual era o encadeamento mais potente para eles dentro da obra como um todo, que ritmo criava a melhor experiência para o livro. Foi um trabalho muito prazeroso de se fazer, mas também complexo. Li e reli muitas vezes, compartilhei com alguns amigos de confiança para entender se havia fluidez, como a leitura chegava a quem ainda não estava familiarizado com os poemas. Quis estruturar o livro de forma que o passeio pela experiência fosse conduzindo o leitor de forma orgânica e coesa. O livro tem a sua própria narrativa. Em alguns momentos você quer que flua livre, em outros quer criar deslocamentos, contrastes. São temperaturas que vão se complementando. Há uma evolução, uma espécie de caminho que conduz a leitura para quem gosta de perpassá-la do começo ao fim, ainda que a poesia também possa ser acessada de forma randômica e funcionar muito bem assim.


6. Qual foi seu primeiro livro, o que pensou ao iniciar sua escrita? o que te incentivou?

“Todos os Poemas” é minha primeira publicação. A ideia, especialmente do nome, veio mesmo da perda de um amor, de um fim de relacionamento. Mas o tema do livro foi se expandindo, porque só fui lançar muitos anos depois. Então, quando falo em amor, já não é mais só sobre a ideia do amor romântico, sobre relacionamentos amorosos. Acho que o livro fala muito sobre a falta e as projeções dela em nossos relacionamentos no geral. Amorosos, familiares, enfim. Tem muita coisa neste mesmo caldo. No livro há poemas que foram escritos em muitas épocas diferentes e não foram escritos para uma única pessoa; na verdade, a maioria deles não foi escrita para ninguém. São parte de minha expressão pessoal, um testemunho da minha experiência no mundo durante um certo período e refletindo sobre algumas solidões cujas arestas se tocam.


7. Tem algum personagem que você tenha criado ao qual foi difícil desapegar?

Não. Sempre tive o texto como uma espécie de roteiro não definitivo. Mesmo as poesias, vivo alterando trechos depois que já estão prontas, vivo mudando de ideia. As coisas estão vivas, todas elas. É sempre possível mudar, modificar, aprimorar. No caso da minha poesia, não há exatamente personagens. Acho que há uma persona, algo de mim. E para ser honesta, escrever é às vezes até uma forma de expurgar, de tornar datados alguns sentimentos. “Todos os Poemas Que Escrevi Pro Amor Perdido” certamente cumpriu o papel de dar como resolvidas algumas angústias com as quais eu lutava, então é bem o oposto do apego, na realidade. É escrever para seguir em frente. No caso do teatro e do cinema, todo texto é uma plataforma de onde se pode extrair milhares de obras de arte diferentes. É preciso ter o entendimento de que, ao transpor o texto do papel para a encenação, muita coisa irá mudar. Não adianta estar apegado a uma determinada frase se ela não permanece viva na boca do ator. Os personagens também não estão prontos quando se termina de escrever, eles vão viver ainda muitas vezes no corpo dos atores, nas interações entre eles, e, ainda, na mente de cada espectador. É assim também com a poesia e com os romances. O seu texto quer dizer algo muito específico para você, mas quando é lido por outras pessoas, significa outras coisas. E isso é muito bom. Da mesma forma que lido com o texto, lido com os processos todos como bastante transitórios. Percebo-os como etapas, e vivenciar isto é o suficiente para mim. É necessário saber quando a obra está satisfatória e seguir em frente para criações novas, e neste sentido também os personagens têm sua data de validade, por assim dizer. Fazem sentido naquele momento, naquele período. Estão ali para servir àquela experiência. Depois, é poder seguir em frente, o que é o maior presente proporcionado por este ofício.


8.Quais são suas principais referências literárias na hora de escrever?

Difícil dizer. Difícil dizer, de tudo que li, o que entrou em mim, e o que está saindo. Posso citar nomes que me impactaram quando entrei em contato com suas obras. Guimarães Rosa, Cortázar, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Aldous Huxley, Hermann Hesse, Matilde Campilho, Mar Becker, Drummond, Ferreira Gullar, Natassja Martin, Shakespeare, Beckett, Harold Pinter, Hilda Hilst, Milan Kundera, Jung, Bergmann. Todos muito diferentes entre si. Com certeza estou esquecendo vários outros. Mas também não sou uma leitora assim tão ávida. Hoje em dia, leio muito menos do que escrevo. E acredito que o que forma a escrita de cada um é a forma como se descobriu possível se expressar as coisas, colocá-las na mesa. Não tem a ver só com o que se leu, mas com o que se traz dentro de si – e isso é o acúmulo de todas as experiências pelas quais se passou. Acho que uma das partes mais fascinantes da escrita é que é impossível decifrar de todo de onde ela vem em cada um.

9. Você reúne notas, anotações, músicas, filmes e/ou fotografias para se inspirar durante a escrita?

Não, não como referência para me inspirar depois. O que tenho por hábito é anotar ideias que me acometem em momentos inusitados, porque se não as anotamos, corre-se o risco de perdê-las.

Às vezes, a inspiração vem em momentos que não podemos dedicar à escrita, o que é uma pena. Mas anotar nos permite eventualmente retornar a algo do âmago do momento, a posteriori. Tenho um grupo comigo mesma no WhatsApp e lá me envio tudo que me ocorre. Às vezes estou no ônibus, no metrô. Outras vezes me surgem lampejos no meio da noite, como continuações de algum sonho, ou logo ao acordar, pela manhã, ainda meio entre o sono e a vigília. Às vezes chego a vislumbrar cenas ou frases inteiras neste estado. Essas inspirações, sobretudo, se não tomar nota delas, realmente não acesso mais. Repousam sobre uma fina membrana que recobre o inconsciente e é até difícil transpô-las ao papel. Mas é sempre uma forma de resguardar uma poeira de sua essência e fazer algo com elas depois, lapidá-las de forma mais racional. Algumas vezes, se estou sozinha em casa e é madrugada, começo a anotar a ideia e acabo sentando para escrever, desenvolvendo-a, porque o texto tem também sua vontade própria e exige nossa presença. Mas essas não são necessariamente as melhores escrituras que consigo atingir. Muitas vezes lapido bastante o texto depois. É só uma das formas de parir esta fagulha inicial. A língua é toda ela escultura, artesania. Como dizia Drummond: “Penetra surdamente no reino das palavras”. Labore.


10. O que você faz para driblar a ausência de criatividade que bate e trava alguns momentos da escrita? Existe algo que você faça para impedir ou driblar estes momentos?

Quando estou embotada, se preciso, se tenho um prazo e tenho que finalizar um texto com algum propósito; sento e escrevo, e de fato, depois de algum tempo, algo acontece. Isto porque escrever é um pouco como fazer exercício físico: tonificar os músculos da escrita, e nem todo dia se está naturalmente no espírito.

Mas quando se começa, o corpo se aquece, e a mente também. Aliás, isso é uma coisa interessante de se pontuar: não se escreve só com a cabeça. Escreve-se com o corpo. Para a filosofia tradicional chinesa, é impossível separar corpo e mente (a cabeça está encaixada no corpo, não é? risos). Então, esse é um método sempre muito eficaz pra mim: se minha energia está estagnada, se estou bloqueada; saio para andar, e o milagre se mostra. A mente antes e depois de o corpo se mexer são muito distintas, e a pessoa que retorna para casa é outra; escreve e pensa muito melhor. Muitos escritores mantêm no horizonte o estereótipo do artista apaixonado que se entrega totalmente à escrita, que deixa de dormir, pula refeições, perde eventos sociais para estar de amor e à serviço das palavras: eu pessoalmente não poderia encontrar nada pior do que isto. Quanto melhor vivo, melhor escrevo, mais vida tem em mim. A escrita tem, dentro de meu cotidiano, seu lugar, seu horário. Ele pode até variar, mas não é o tempo todo, não toma conta de tudo. E quanto mais estável é essa rotina, mais se tem liberdade e se flui dentro dela. O corpo se habitua a liberar a criatividade em determinados horários e espaços. Do mesmo jeito que se habitua a ter sono à noite ou a ir ao banheiro de manhã.

Também vale dizer que o texto tem a sua própria vontade, e às vezes precisa só da oportunidade para caminhar sozinho. É como se fôssemos o cavalo do texto. Precisamos nos dispor a estar lá para que ele aconteça e possa viver. Quando digo isto, nada tem que ver com mediunidade ou psicografia, mas com o fazer em si. Um músico, depois de muito estudar, improvisa em seu instrumento sem precisar pensar. Uma pessoa que dirige há muitos anos opera o veículo de forma praticamente automática, vivendo sobressaltos apenas em momentos de emergência ou que exijam aumentada prontidão. Para escrever é a mesma coisa. Quanto mais se escreve, melhor se escreve (e reescreve). E há o tempo para que isso aconteça; da mesma forma que também o músico e o atleta se aquecem, você se senta, começa a escrever, e algum tempo depois, o texto flui. Parece mágica, mas é técnica. Prática.

Por outro lado, se não tenho um prazo e não preciso entregar nada, quando me sinto bloqueada muitas vezes simplesmente não escrevo. Deixo meu tempo se decantar até que essa pulsão retorne de forma genuína. Gosto de alternar minha rotina e tenho fases em que produzo muito e outras em que não produzo nada. Há fases em que estou muito mais mergulhada na música; outras, na escrita. Sou bastante sazonal. Mas tenho outras ocupações: sou tradutora, assistente de direção, atriz. Não vivo só de escrever. Talvez isso até faça com que eu cresça bem lentamente com a minha escrita, porque não me dedico inteiramente a ela. Se tivesse que escrever sempre, e só fizesse isto, diria: rotina, disciplina. Exercício físico.


11. A maioria dos autores possuem contatos e amigos de confiança para mostrar o progresso do seu trabalho durante o percurso da escrita. Você teria um time de “leitores beta”, para analisar seu livro antes de prosseguir com a escrita?

Não. Costumo mostrar meus textos quando já se encontram em um estado avançado de lapidação. Não tenho inseguranças em relação a isso, nem vergonha das etapas dele e nenhuma timidez em torná-lo público. Mas lapidá-lo é um processo muito prazeroso, e gosto de percorrê-lo sozinha, senti-lo totalmente meu. Mais tarde, quando o texto já possui um esqueleto, uma musculatura que se sustenta em pé, aí sim abro pra jogo. No processo de edição de uma obra, na etapa da publicação, é interessante ouvir as pontuações que um outro faz sobre a nossa escrita. Enriquece e expande nossa perspectiva. E aí é outro momento, não é mais você consigo mesmo. É a hora de o filho ir pro mundo, conquistar seus próprios caminhos; ele agora vai conversar com outras pessoas – às vezes até vai encontrar o seu público em pessoas que não são as que você esperava, as que você não o aconselhou como boas companhias.

E você quer que o livro encontre seu lugar no mundo, não é? Então isso sempre vai ser benéfico. Mesmo que seja diferente da sua projeção.

No geral, é mais comum eu compartilhar o meu processo quando estou escrevendo dramaturgia, para o teatro ou audiovisual: a costura da narrativa, o alinhavo dos eventos muitas vezes encontra uma oxigenação muito rica na interlocução com terceiros. Mas minha poesia é absolutamente confessional. Não encontro sentido em abrir processo neste caso, a não ser já numa etapa muito avançada, de refinamento de léxico ou pontuação. Porque é meu testemunho. E é também o caminho que encontrei ao longo de uma vida para tirar de dentro de mim o que não era possível comunicar a ninguém de nenhuma outra forma, e foi uma conquista encontrar a minha própria forma de fazê-lo. Escrevo para continuar viva e para que certas coisas que brotam de dentro de mim encontrem chão e sejam ditas. Então é uma troca extremamente íntima, nesse primeiro momento. É uma espécie de religião dentro da qual não gosto de trair a minha verdade (risos).


12. O que motiva você a continuar escrevendo?

O que me motiva a escrever é certamente sempre a vida, os eventos, o mundo. Interior e exterior. Muitas coisas acontecem só dentro da gente também. E sempre acreditei que não são menos reais por isso, porque a vida de cada um é a experiência de se estar aqui, com tudo o que ela abrange. Cada um de nós é seu próprio universo. Tudo o que penso e sinto, em resposta ao mundo, de alguma forma é digerido e devolvido a ele em forma de criação. Existem duas coisas na vida que me interessam: a arte e a natureza. E não posso inventar a natureza. A ela, só posso contemplar, venerar, agradecer a cada dia. Nada do que eu criar em vida jamais estará à altura do que este planeta nos deu. Trago dentro de mim de forma veemente esta convicção. A única outra coisa que encontrei que me aproxima do sagrado de forma semelhante foi a arte. Por isso me dedico a ela. No fundo, me auto diagnostico como uma romântica entediada. Preciso sentir que estou lidando com a possibilidade do milagre. Sem isso, a vida perde sua graça. Se não fosse artista, certamente seria cientista. Era esta minha outra opção. Porque meu trabalho no fundo é fazer perguntas. Enquanto as pessoas geralmente buscam ter as soluções mais fáceis para seus problemas, a mim me interessa percorrer o meu próprio caminho, mesmo que seja lento, e encontrar minha própria forma de fazê-lo. Gosto de entender como as coisas funcionam, desmontar as peças dos objetos, desvendar seus mecanismos, conhecer de que materiais são feitos. E o que é um escritor senão alguém que reescreve a realidade ao olhar para ela? Acho que inventar a roda diariamente é minha atividade favorita.

13. Que conselho você daria para quem está começando agora?

Não existem conselhos. Um conselho é uma mentira que muito provavelmente vem a trair a verdade íntima de quem o recebe. Existe o caminho de cada um, e o início de todos eles é uma mata virgem, não desmatada. Infelizmente não há facilitador para isto. É preciso empunhar a foice e abrir passagem. O ofício da escrita é uma atividade muito diversa e pessoal, e o mais importante de tudo é encontrar a própria voz, fugindo de equações prontas que busquem formatar esse fazer. E às vezes alguém que começa agora já o faz intuitivamente de forma muito mais bem resolvida e eficaz do que alguém que está há anos nutrindo vícios, acumulando frustrações. Mas uma coisa é certa: escrever é reescrever. Alguma constância e rotina fazem muito bem a quem escreve, se há o desejo de se ter uma produção que não se resuma muito sazonal. O mais importante para mim sempre foi deixar emergir de dentro de mim o que precisava ser dito, e aí encontrar também a forma dentro da qual apenas eu poderia dizê-lo. Minha busca sempre foi por estar cada vez mais perto desta verdade, nunca em competição com outros escritores.


14. Para você, qual o maior desafio para um autor/a no cenário atual? Você tem algum hábito ou rotina de escrita?

Certamente, o maior desafio é a divulgação, a pulverização do trabalho depois de pronto. O lugar que as redes sociais ocuparam em nossas vidas é gigantesco, e promover uma obra na internet é um trabalho hercúleo e em quase tudo distinto do trabalho do escritor. Um trabalho que eu, particularmente, adoraria não ter. Mas muitos de nós, especialmente escritores estreantes, não dispomos da possibilidade de terceirizar este trabalho. É exaustiva e, infelizmente, necessária esta segunda jornada, porque há muita gente produzindo no mundo, em todas as esferas, e a única forma de ter o seu trabalho lido é fazendo-o chegar a seu público. Esta é para mim a etapa mais trabalhosa.

15 Como você enxerga o cenário literário atual e a recepção dos leitores da atualidade em relação aos novos autores?

Acredito que há muita abertura. Me percebo lendo muitos autores contemporâneos e muita gente a meu redor também. Talvez isto se resuma a uma bolha consumidora de literatura, mas não sei. Esta é a parte boa do inferno da internet: como tudo, ela traz consigo sua dor e sua delícia. Antes, dificilmente teríamos acesso a produções menores que não se tornassem tão conhecidas. E tornar uma obra conhecida poderia levar uma vida inteira. Hoje, apesar de bastante trabalhoso, é possível distribuir um trabalho de forma totalmente independente e é possível também consumir o trabalho de muitos artistas totalmente diferentes ao mesmo tempo, enquanto estão vivos. Essa é uma grande beleza que percebo: cada vez mais, a competitividade fará menos sentido neste âmbito. Acho que a democratização do acesso que temos hoje através da internet veio horizontalizar essas relações e nos trazer cumplicidade para nossos caminhos pessoais. Você pode estar aqui, no Brasil, escrevendo sobre uma angústia o mais específica que seja, e em algum momento vai se deparar com alguém do outro lado do mundo escrevendo a respeito de algo muito similar. Além disto, hoje, que temos acesso a muita coisa, percebemos que a pluralidade das criações é tamanha que não faz sentido se comparar um escritor com outro. Me sinto muito acolhida pela cena atual, no sentido de me saber caminhando em paralelo a muita gente boa. Inúmeras vezes leio coisas que julgo serem profundamente elaboradas e totalmente diferentes daquilo que crio, e que jamais criarei; e fico sempre muito feliz quando descubro algum escritor contemporâneo que encontrou sua voz. Assim como o que escrevo só pode ser feito por mim, o que ele escreve, só ele pode escrever, e que bom que está sendo feito. Assim eu posso lê-lo, tê-lo como companhia, porque se alguém neste mundo exprimiu algo que sinto, ou com que me relaciono; pôde capturá-lo e dar-lhe algum nome, já me sinto, com isso, um pouco menos só. E não estar só será sempre muito melhor do que ter sido o único a pensar em alguma coisa.


16. Se pudesse indicar quatro obras literárias que te inspiraram, quais seriam?

Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa)

O lobo da Estepe (Hermann Hesse)

Jóquei (Matilde Campilho)

Todos os fogos o fogo – Júlio Cortázar


17. Que conselho você daria para quem está começando a escrita do primeiro livro?

Que não é preciso dizer tudo que se deseja em uma única obra. Acho que essa é uma das maiores ansiedades de quem nunca publicou, e é um desserviço ao trabalho, é contraproducente. Quando se trata de antologia de poesia, contos ou crônicas, é preciso fazer um recorte coerente para o livro, deixando de fora o que não se enquadra, mesmo que seja muito bom e que você goste muito. Se for dramaturgia ou romance, é preciso entender que encadeamento de eventos potencializa o que se quer transmitir com aquela história. De uma forma ou de outra, é sempre preciso estar atento e disposto a ouvir do que aquela obra precisa, e não o que se quer dizer. Criar uma obra é dar forma a uma experiência, e cada experiência terá sua própria temperatura, sua própria cor. Nem tudo cabe dentro de uma mesma obra.


18. O que esperar para o ano de 2023 em relação à sua escrita?

Em breve, lanço meu segundo livro, também pela Editora Urutau. Desta vez é uma dramaturgia pelo selo feminista Quem Dera o Sangue. Também estou trabalhando no texto para um solo teatral que é um desejo que vem permanecendo há alguns anos.

De mais, o que espero é sempre que o mundo não deixe de me mover. Enquanto isso acontecer, escreverei, cantarei, e estarei viva.

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A obra tem lançamento previsto para o dia 12/05 às 20h, no Restaurante Nina Curitiba.
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